História Revisada pelas Revisoras da Romances Sobrenaturais



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Uma vez no jardim, os dois seguiram devagar por um caminho de pedra, parando ocasionalmente para sentir a fragrância das rosas, ou para observar pássaros saltitando na fonte que havia no centro. Espalhados aqui e ali, havia bancos de pedra dispostos entre as àrvores e flores.

Allegra respiou fundo.

— Oh, Hamish, com pouco esforço, este poderia ser um lugar encantador.

— Era o lugar favorito de minha mãe no castelo. Ás vezes acho que me lembro de como me sentava com ela aqui algumas tardes, esperando que meu pai retornasse do vilarejo.

— É bom ter essas lembranças agradáveis, não?

— Sim. — O menino soltou um suspiro desejoso. — Eu gostaria de me lembrar de mais coisas.

Allegra escolheu um banco de pedra debaixo de uma árvore antiga com galhos frondosos propiciando sombra.

— Vamos nos sentar aqui um pouco e desfrutar a vista. — Enquanto ambos se sentavam no banco, notou a palidez no rosto do menino. — Está ficando cansado?

— Sim, milady. Preciso de um momento para recobrar o fôlego.

Ela meneou a cabeça num gesto compreensivo.

— O tempo que você passou acamado deixou-o um tanto fraco. Mas quanto mais caminhar... e quando começar a brincar novamente... mais forte você ficará.

— Espero que sim. — Hamish ergueu os pés até o banco e descansou o queixo sobre os joelhos. — Fico me perguntando de qual árvore eu caí.

— Voce não se lembra?

Ele sacudiu a cabeça.

— Não, de nada. O que aconteceu voltará a minha lembrança?

— Sim. — Ela o abraçou pelos ombros. — Você tem que dar tempo ao tempo, querido. Em breve, as lembranças voltarão, você verá.

Ambos notaram Merrick se aproximando pelo caminho, seguido dos primos.

Merrick franziu o cenho e obrigou-se a não olhar fixamente para Allegra, a não notar como estava adorável, os cabelos esvoaçando sob a brisa, as faces coradas pelo sol. Tivera a noite mais longa de sua vida, pensando na sensação de tê-la em seus braços, de beijá-la com todo seu ardor. Horas depois, ainda podia lhe sentir a doçura dos lábios. Fora uma tortura pensar nela, peguntando-se o tempo todo se Allegra lhe dedicara algum de seus pensamentos.

— Quando a sra. MacDonald me disse que você estava no jardim, fiquei preocupado, filho. — Desviou, então, o olhar do menino para Allegra. — Não sei ao certo se meu filho deveria vir aqui tão depressa.

— Sim — assentiu Mordred. — Todos sabem o que aconteceu na última vez em que ele tentou fazer uma caminhada pelo jardim.

Hamish levantou os olhos, protegendo-os do sol com a mão em concha.

— O que aconteceu?

Antes que alguém pudesse detê-lo, Mordred ajoelhou-se diante do garoto.

— Você teve uma espécie de desmaio no jardim, garoto. Aconteceu quando você estava fazendo uma caminhada com a sra.MacDonald.

— Um desmaio? — Hamish franziu o cenho, confuso. — Parece haver muitas coisas que eu não consigo lembrar.

— Não importa. — Aborrecido, Merrick empurrou de leve o primo para o lado e passou a mão pelos cabelos do filho da maneira como a governanta costumava fazer. — A sua curandeira fez você se recuperar disso.

Mordred levantou-se e dirigiu a Allegra seu sorriso mais charmoso.

— Você é uma mulher surpreendente. Aqueles truques que fez no salão ontem à noite para entreter os convidados do meu primo foram dos mais interessantes.

Hamish virou a cabeça para fitá-la com evidente supresa.

— Foram truques, curandeira?

— Não foram truques, querido. — O tom de Allegra gelou quando se virou para Mordred. — Mas parece que você se divertiu bastante.

— Oh, sem dúvida. — Ele segurou a mão de Hamish. — Uma vez que você está aqui para respirar um pouco de ar fresco, por que não fazemos uma caminhada, priminho?

O menino lanou um olhar incerto a Allegra.

— A curandeira prometeu ficar do meu lado. Você virá conosco?

Ela conseguiu abrir um sorriso, apesar da raiva que Mordred lhe despertara.

— É claro que sim. Desde que você prometa me avisar quando estiver ficando cansado.

Levantando-se do banco, seguiu atrás de Merrick e Mordred, que mantinha Hamish entre ambos. Embora Desmond caminhasse a seu lado feito um gigante, não proferiu uma palavra, enquanto seguiam por um caminho de pedra que conduzia até uma parte mais densa do jardim.

Avistando melissa, Allegra parou para colher uma quantidade generosa da erva, colocando-a em sua cesta.

— Está panejando fazer uma poção? — Mordred observou-a enquanto ela endireitava as costas e alisava as saias antes de tornar a se reunir ao grupo no caminho.

— Talvez.

Merrick indicou a cesta.

— E para que serve essa erva?

— É calmante. É excelente para ser tomada em forma de chá. E combinada com umas duas ou três outras ervas que ainda pretendo colher, é ótima para se usada trançada em torno do pulso.

Ele soltou um riso ao lhe observar os pulsos.

— Vejo que você não precisa disso.

— Não preciso de nada para me acalmar. Mas achei que as ervas talvez aliviem um pouco a sra. MacDonald de seus nervos.

— Entendo. Você pretende cura a todos no Castelo de Berkshire, milady?

— Não recusarei ajuda a ninguém que peça.

— É mesmo? — Modred parou para observá-la. — E se eu pedisse uma poção para que uma certa dama fique particularmente...interessada por mim, você poderia fornecer algo assim?

Allegra fez uma pausa para acrescentar folhas de lavanda e ramos de manjerona a sua cesta.

— Não sei nada sobre assuntos do coração.

— Quer dizer que não havia uma leva de mancebos batendo à sua porta no Reino Místico?

Ela parou para inalar a fragrância de uma rosa e, então, ajoelhou-se para acrescentar um pouco de hortelã às suas ervas.

— Nenhum.

O menino virou-se para observá-la com ar de adoração.

— Ninguém a não ser a família de Allegra vive lá.

Mordred arqueou uma sobrancelha.

— É uma pena você ter sido mantida em tamanho isolamento, milady. Isso explica por que você parece tão distanciada das coisas desse mundo. — Avaliou-a com um olhar calculado antes de se virar para o primo com um sorriso significativo. — Mas tenho certeza de que encontrará um homem disposto a ensiná-la como usar seu arsenal feminino.

Allegra apanhou vários ramos de delicados rosmaninhos.

— Eu prefiro muito mais a sinceridade.

Mordred riu.

— A sinceridade não faz parte do jogo de um amante.

Allegra arqueou uma sobrancelha fina.

— Você considera o amor um jogo?

— Exatamente. O amor exige que uma pessoa perca seu coração. E quanto ao meu, nunca foi tocado. Desse modo, como poderá ser perdido?

— Já ouvi o bastante dessa conversa tola. — O tom brusco de Merrick fez com que o riso morresse nos lábios do primo.

Vendo-lhe o semblante carregado, Mordred deu um passo atrás.

— Sim. Eu havia me esquecido sobre seu senso de honra, primo. Desmond e eu iremos até o vilarejo. Temos alguns assuntos a resolver. — Deu um tapinha gentil na cabeça de Hamish e surpreendeu Allegra pegando-lhe a mão e levando-a aos lábios. — Agradeço-lhe pelo prazer de sua companhia, milady. Foi bastante agradável. Espero podermos tornar a fazer isso em breve. — Com um sorriso malicioso, acrescentou: — Talvez eu possa lhe mostrar o restante dos jardins antes de jantarmos logo mais à noite.

Antes que ela pudesse recusar, o homem se afastou.

Merrick acompanhou-o com o olhar. Quando tornou a se virar, tinha os olhos azuis tempestuosos.

— Eu não fazia ideia de que você e meu primo tinham se tornado tão bons amigos. — Ergueu o filho nos braços. — Já é tempo de você voltar ao castelo, Hamish. A cozinheira tem canja e biscoitos à sua espera.

— E quanto a Allegra?

O menino estendeu a mão na direção dela, mas Merrick afastou-se.

— A cesta dela ainda está pela metade. Tenho certeza que há outras coisas que ela prefira fazer em vez de ficar olhando você comer.

— Eu não me importo... — As palavras de Allegra dispersaram-se, enquanto Merrick se afastava abruptamente, carregando o filho nos braços.

Em poucos minutos, havia desaparecido no interior do castelo, deixando-a sozinha no jardim.

Enquanto andava por entre os caminhos preenchendo sua cesta, ela se perguntou a respeito do comportamento intrigante de Merrick. Na noite anterior, ele se mostrara tão terno que a fizera começar a se perguntar se julgara mal o homem. Naquele dia, ele se comportava mais uma vez como o bruto arrogante que invadira seu reino e a tirara do seio de sua famíia.

Homens, pensou ela, enquanto deixava o jardim e começava a atravessar o campo. Sua vida no Reino Místico tinha sido tão mais simples sem eles.

— Cerveja, milorde? — A governanta parou ao lado de Merrick, que estava parado diante da lareira no salão principal olhando para as chamas com a circunspecto.

— Sim. Obrigado. — Ele aceitou a grande caneca e olhou ao redor. — Onde estão meu filho e a curandeira?

— Ambos descerão daqui a pouco. A dama quis que o menino tomasse um pouco de chá antes do jantar.

— Chá? — Merrick franziu o cenho, aborrecido—. Outra poção?

— Sim, milorde. Mas o menino não pareceu se importar. Disse que o chá estava bom.

— Um chá feito de mato. — Ele baixou o olhar até a diminuta mulher. — Será que todos nós perdemos o juízo?

— A exemplo de milorde, eu também me apressei a julgar. Mas ouvi dos criados que o único assunto das conversas no vilarejo é a dama que pode curar seus males. A garganta de Tavish sarou, depois de ter tomado um chá feito com tomilho. As dores de cabeça de Logan desapareceram por completo desde que a jovem colocou as mãos sobre ele. Há dezenas de outras pessoas suplicando para que ela cure suas enfermidades.

Merrick soltou um suspiro de exasperação

— Tudo isso a distrai de seu propósito aqui. Eu não me importo com ninguém exceto com o pequeno Hamish.

A sra.MacDonald sacudiu a cabeça.

— Não está dizendo isso do fundo do seu coração, milorde.

Diante do olhar atravessado que recebeu, ela corou.

— Oh, eu sei que milorde arriscou a própria vida para trazê-la até aqui a fim de curar seu filho. Mas não acredito que seja tão indiferente em relação a todas as outras pessoas como afirma ser.

Ele deu de ombros e esvaziou a caneca.

Enquanto a governanta erguia um cântaro para tornar a preenchê-a, Merrick perguntou:

— O que é isso que está usando amarrado em torno de seu pulso, sra.MacDonald?

O rubor dela acentuou-se

— É uma combinação de melissa e algumas outras ervas, milorde. A curandeira disse que isso me acalmaria.

— E acalma?

A mulher devolveu-lhe a caneca e começou a atravessar o salão.

— Apenas comecei a usá-lo agora, milorde. Veremos o que isto trará amanhã. — Levantando os olhos, seu semblante se iluminou. — Ah. Aí vêm o menino e a curandeira agora. — Por entre dentes, resmungou: — Você deixou milorde esperando, minha jovem. Nós sabemos que ele prefere jantar logo ao anoitecer.

— Sim. Obrigada, sra. MacDonald.

— Quer que eu lhe sirva um pouco de cerveja antes de eu ir?

— Não há necessidade, senhora. Eu mesma me servirei. — Allegra seguiu Hamish ao longo do salão. — Boa noite, milorde.

Ele cumprimentou-a com um rápido gesto de cabeça. Ela parecia tão bonita quanto uma das rosas do jardim, num vestido cor-de-rosa, com cabelos de fogo descendo-lhe pelas costas numa cascata de cachos entrelaçados com fitas.

— Allegra disse que o ar fresco me deixou com uma cor saudável no rosto, pai. — Hamish puxou a manga da túnica do pai para chamar-lhe a atenção. — O que você acha?

Merrick desviou seu olhar da mulher fascinante para concentrar a atenção no filho.

— Acredito que ela está certa. Você parece tão saudável quanto um guerreiro.

— Pareço?

— Sim. Acho que seu passeio pode ter sido bom para você

Allegra encheu uma caneca com cerveja e tornou a virar-se.

— Então, talvez milorde se reúna a nós amanhã quando formos de carroça até o vilarejo.

O semblante de Merrick tornou a ficar carregado.

— Você acha que isso é prudente?

— Hamish estava se queixando de que não vê seus amigos há um longo tempo. Fiquei pensando que, se eles o virem e compreenderem que Hamish se recuperou de sua queda, talvez possam ser persuadidos a visitar o castelo e brincar com ele.

— Eu não o deixarei subir em árvores — declarou Merrick num tom obstinado.

O menino arregalou os olhos.

— Você quer dizer nunca mais?

— Exato. É o que quero dizer garoto. Vejo o que lhe aconteceu da última vez. Acha que eu o deixaria correr tal risco novamente?

— Não pode estar falando sério, milorde?

Merrick depositou sua cerveja com força na mesa, fazendo com que a cerveja vertesse pela borda.

— Eu sempre falo sério, mulher, e desta vez não foi diferente. Amo meu filho demais para tornar a vê-lo enfermo outra vez. Eu o proíbo de correr com as crianças do vilarejo e de subir em árvores, ou de ir até a floresta, onde algum mal pode lhe acontecer.

— Então, você preferiria mantê-lo aqui, escondido neste castelo pelo resto da vida, do que correr risco de vê-lo ferido.

— Se eu tiver que fazê-lo. E quem iria me impedir? Sou o senhor de Berkshire. Minha palavra é lei — declarou ele com arrogância. — Não deixarei que uma... — Estiver prestes a chamá-la de feiticeira novamente, mas conteve-se a tempo. — Que uma mulher de língua afiada me diga o que é certo, ou errado para o meu filho.

Hamish alternou um olhar entre pai e a curandeira, confuso com a súbita explosão de raiva entre ambos.

Quando a governanta retornou depressa ao salão para anunciar que o jantar seria servido, notou a expressão furiosa nos olhos do lorde e bateu em rápida retirada.

Minutos depois, quando os criados entraram carregando bandejas de comida, Merrick segurou uma cadeira com ar tenso à mesa para Allegra, para que se sentasse à sua direita e Hamish à sua esquerda. Depois que ambos se sentaram, ele ocupou seu lugar à cabeceira da mesa, a expressão circunspecta.

Allegra começou a comer com hesitação, pouco à vontade com a maneira como Merrick a observava.

— Gostaria de pão fresco, milady?

Allegra aceitou uma fatia de uma criada.

— Deseja mais carneiro, milorde?

Merrick recusou, deixando a criada boquiaberta. O lorde jamais recusava um segundo pedaço de carne.

— Mais cerveja, milorde? — A sra MacDonald inspecionava tudo com nervosismo.

— Sim. — Quando a governanta lhe preencheu a caneca apenas até a metade, ele lançou-lhe um olhar atravessado até que ela acabou de completá-la obedientemente com a cerveja.

Hamish lançou-lhe um olhar

— Já terminei meu jantar,pai. Posso comer um biscoito agora, coberto com mel?

— Sim, pode. Nos seus aposentos.

— Mas eu...

— Nos seus aposentos, garoto. Agora.

Enquanto o menino se levantava depressa da mesa, Allegra fez o mesmo.

Merrick segurou-lhe o pulso de imediato.

— Você ficará.

Ela lançou um olhar ao menino.

— Mas Hamish...

— A sra. MacDonald o levará até os aposentos dele. — Merrick lançou um olhar autoritário à governanta.

Sem uma palavra, a frágil mulher pegou a mão do menino e conduziu-o do salão, ordenando que os criados se retirassem enquanto o fazia.

Quando ficaram a sós, Merrick recostou-se na cadeira, bebericando cerveja e observando Allegra com prescutadores olhos azuis.

— Como foi seu passeio no jardim com meu primo? — indagou num tom neutro que destoava da expressão sombria em seu rosto.

— Eu recusei o gentil convite dele. Eu queria tempo para preparar um chá para Hamish. O menino é, afinal, a razão para eu estar aqui.

Diante das palavras, ele se empenhou para não deixar transparecer sua satisfação. Tornou a recostar-se e a estudá-la.

— Você vê falha no meu desejo de manter meu filho a salvo.

— Não, não vejo. Não em seu desejo de mantê-lo a salvo, ao menos. Apenas em seus métodos — explicou ela, os olhos verdes francos. — Você está disposto a fechá-lo numa redoma, pensando que pode manter o mundo do lado de fora. Mas tudo o que fará será impedi-lo de tornar-se o homem que ele mais admira.

— E quem seria esse?

— Você, é claro.

Merrick baixou o olhar para a caneca a fim de ocultar seu contentamento.

— Você acha que me elogiando pode amenizar o golpe? Não sou um homem a ser admirado. Sou um guerreiro que matou homens no campo de batalha. Um marido que não conseugiu manter sua esposa a salvo. Um pai que fugiu de seu único filho, ausentando-se em vez de enfrentar a difícil tarefa de criá-lo sozinho.

Allegra estudou-o, surpresa em ouvi-lo admitindo aquelas coisas.

— Você usa um julgamento duro demais consigo mesmo, milorde. Pude observar como os outros o consideram.

Ele ergueu os olhos.

— E de que maneira é?

— As pessoas enaltecem sua coragem no campo de batalha. Dizem que mais de uma vez se colocou entre um companheiro ferido e a espada de um adversário. E quanto a seu filho, pude observar você com ele. Você é bom, paciente e afetuoso.

— E, em sua opnião, superprotetor.

Ela soltou um suspiro.

— Talvez um pouco.

— Diga-me uma coisa. — Merrick pousou a caneca na mesa e estudou-a atentamente. — Você diz que colocarmos aqueles que amamos numa redoma para sua própria proteção é errado?

Allegra assentiu.

— Sim, foi o que eu disse. Acredito que, com a superproteção, acabemos tornando uma pessoa insegura, vunerável, despreparada para enfrentar a vida.

Um ar triunfante passou pelos olhos azuis dele.

— Então, como você explica o fato de que, em nome do amor, você e suas irmãs foram levadas para uma terra isolada, distante daqueles que talvez pudessem lhes querer qualquer mal?

Por um minuto, Allegra ficou aturdida demais para falar. Enfim encontrando a voz, levantou-se abruptamente da mesa.

— Não é a mesma coisa.

— Não? — Enquanto ela começava a se afastar, ele segurou-a bruscamente pelo braço e virou-a para que o encarasse. — Eu pensei, em princípio, que você estivesse meramente fingindo inocência. Mas seus beijos foram prova em contrário. Você é uma mulher, Allegra Drummond. Com os sentimentos de uma mulher. E, ainda assim, não tem a menor defesa contra eles, porque foi protegida demais.

— Está vendo coisa que não existem — retrucou ela, erguendo o queixo delicado. — Não tenho sentimentos por você, Merrick MacAndrew. Portanto, não preciso de defesa alguma.

A voz dele soou perigosamente suave.

— Gostaria que eu lhe provasse que está enganada, milady?

Allegra desvencilhou-se da mão em seu braço e recuou, os olhos arregalados, temerosos.

— Eu o proíbo de me tocar, de me beijar, da maneira como fez ontem à noite.

— Você proíbe? Proíbe? — Num acesso de raiva, Merrick levantou-se e puxou-a para seus braços. Inclinando a cabeça, tomou-lhe os lábios com um beijo impetuoso, punitivo.

De imediato, a paixão explodiu entre eles, com toda a força avassaladora e fúria de uma tempestade, aquecendo o sangue de ambos, deixando a pele em brasa. Nenhum dos dois teria ficado surpreso em ver relâmpagos dançando ao longo do teto, ou ouvir trovões ecoando pelos corredores. A sensação era a de que o castelo inteiro, aquela fortificação inabalável, estremecia por causa do encontro impactante de ambos.

Allegra queria lutar contra aquele homem. Mas no instante em que os lábios cálidos dele se apossaram dos seus, a fraqueza e a vulnerabilidade voltaram a tomá-la, fazendo-a sucumbir, deixando-a trêmula de desejo inesperado.

Como era possível que os lábios de um homem fossem tão incrivelmente habilidosos? Bastava um simples toque para fazê-la sentir um calor intenso e, depois, um estranho frio,para deixá-la dominada por emoções tão confusas e conflitantes, a pobre mente rodopiando.

Merrick continuou beijando-a até que ela sentiu o coração batendo alucinadamente no peito, os joelhos moles naquela mescla contraditória de sensações, tomando-a por um lado com uma lânguidez que lhe roubava a vontade e, por outro, com uma euforia que beirava a excitação e a fazia sentir-se mais viva do que nunca. Ela temia a qualquer momento que seu corpo explodisse em chamas.

Um gemido escapou de seus lábios, o que o fez erguer a cabeça imediatamente. Por um momento, ele lutou para se recobrar, como se estivesse tentando despertar de uma espécie de transe.

Seus olhos azuis tinham um brilho ardente, fixo e assustador em sua intensidade.

— Deixe-me.

— Mas eu...

— Deixe-me, mulher. Agora.

As pernas dela estavam tão trêmulas que temia cair enquanto caminhava um tanto cambaleante na direção da porta.

— Allegra.

Ao ouvir-lhe o timbre profundo da voz, ela se virou para fitá-lo

— Antes de se deitar esta noite, coloque a tranca na porta de seus aposentos.

— Sim. — Embora ela não entendesse a razão para aquela súbita agressividade, retirou-se rapidamente sem mais uma palavra.

Allegra despertou de um sono profundo com a desconcertante sensação de que havia alguém no outro lado de sua porta. Sentou-se depressa, os olhos arregalados de medo, enquanto a maçaneta girava. A tranca suportou e, embora a porta se movesse o bastante para agitar as faíscas na lareira, permaneceu firmemente fechada.

Descendo da cama em silêncio, ela adiantou-se até a porta e ouviu o som abafado de passos voltando pelo corredor.

Estremecendo, atravessou o quarto e atirou um pedaço de lenha nas brasas, observando enquanto as chamas começavam a consumir a madeira. Cruzando os braços em torno de si, perguntou-se quem poderia desejar entrar em seu quarto enquanto ela dormia e por que motivo. Poderia ter sido uma criada, querendo reavivar o fogo. Ou poderia ter sido outro alguém, com uma intenção mais sinistra...

Allegra sabia que tinha muitos inimigos naquele lugar. Na verdade, temia não ter um único amigo.

Tornou a deitar-se sob as mantas de peles e ficou atenta aos sons da noite. Quanto mais depressa ajudasse o pequeno Hamish a recuperar suas lembranças, mais depressa poderia retornar à segurança do Reino Místico. Naquela finalidade, iria concentrar todas as suas energias. Pois, se não deixasse aquele lugar em breve, não temia apenas por seu coração, mas também por sua vida.

CAPÍTULO11

— Milorde. — A governanta adentrou os aposentos de Merrick, torcendo as mãos. — Tenho que lhe falar.

Ele se recusou a levantar os olhos dos registros do castelo, que haviam consumido boa parte de sua energia ao longo dos dias anteriores. Havia se fechado durante a maior parte do dia em seus aposentos, mantendo-se frio e distante com todos.

O que houve, sra. MacDonald?

— É a curandeira. Ela está no jardim, cavando a tera.

— Sim? E qual é o problema?

A mulher pareceu perplexa.

— Ora, não é certo, milorde. Ela está fazendo o serviço de uma criada.

— Se é da escolha dela, que assim seja.

— Há mais uma coisa, milorde — disse a mulher hesitante.

Merrick soltou um suspiro de impaciência

— Diga logo. Sra. MacDonald.

— Ela levou o menino e o colocou para trabalhar a seu lado também. As mãozinhas e os joelhos dele estão imundos. Os dois estão escarafunchando a terra feito... feito... bárbaros.

Merrick levantou-se abruptamente da grande mesa e passou pela governanta depressa com um suspiro de impaciência.

— Irei até lá ver o que está acontecendo.

Ele encaminhou-se até o jardim, mas não viu ninguém ao redor. Quando já estava pensndo em voltar ao interior do castelo, ouviu risos. Usando o som para se orientar, seguiu por um caminho do jardim, até que chegou a um trecho de terra situado logo além, num campo coberto de flores silvestres. O solo fora habilmente revolvido, e pequenas mudas de plantas tinham sido distribuidas ao longo de carreiras ordenadas. Ao final de uma carreira, viu Allegra e Hamish ajoelhados lado a lado.


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