Salman Rushdie diante do fundamentalismo
Em 26 de setembro de 1988, a editora Viking Penguin, não sem reservas, publicou Os versos satânicos, um romance satírico do escritor anglo-indiano Salman Rushdie, nascido em Bombaim em 1º. de junho de 1947. Como é natural, e quase previsível, no âmbito literário da língua inglesa as críticas iniciais afirmaram que o autor não sabia escrever e, quando sabia, o tema não era bom. Apesar de tudo, obteve o Whitebread Award. O tema do livro é uma sátira contra Maomé e os tabus do islamismo.
As reações dos muçulmanos não tardaram. Um ministro da Índia, mesmo sem conhecer o conteúdo do livro, condenou-o por blasfêmia. Uma semana depois, milhares de fotocópias com as passagens consideradas mais ofensivas começaram a circular nos centros de estudos islâmicos. O objetivo era despertar indignação, e de fato despertou, pois em 8 de outubro os jornais sauditas acusaram Rushdie de instigar o repúdio ao Islã.
Em janeiro de 1989, a televisão inglesa mostrou imagens de vários grupos de eruditos árabes queimando exemplares de Os versos satânicos nas ruas de Bradford, no ambíguo West Yorkshire. No Irã, houve saques e ataques ao Centro de Cultura Americana, em Islamabad. A cadeia de incidentes se estendeu por todo o planeta e em poucas semanas o autor recebeu ameaças de morte e ataques diretos dos fanáticos quando saía à rua. Em Caxemira, houve sessenta feridos e um morto num protesto contra o romance.
Mas esses atos eram apenas o início de uma perseguição sem precedentes. O aiatolá Khomeini, líder dos iranianos, apareceu em público em 14 de fevereiro de 1989 e comunicou que decidira acabar com a irreverência de Rushdie com uma fatwa:
Anuncio a todos os devotos muçulmanos do mundo que o autor do livro intitulado Os versos satânicos, composto, impresso e publicado em aberta oposição ao Islã, ao Profeta e ao Corão, e tudo que se relaciona com esta publicação, estão condenados à morte.
Faço um chamamento a todos os devotos muçulmanos para executá-los o mais rapidamente possível [...]. A vontade de Deus é que quem (os encontre e aniquile) se for assassinado em sua tentativa seja considerado um mártir [...].
O escritor V. S. Naipaul comentou, com humor negro e visceral, que o decreto de Khomeini parecia uma forma extremada de fazer crítica literária. Ofereceu-se um milhão de dólares a quem matasse Rushdie. Em 1993, o editor norueguês William Nygaard foi atacado por se atrever a publicar o livro de Rushdie, e em 1997 a recompensa por sua cabeça aumentou para dois milhões.
Inesperadamente, iniciou-se uma queima maciça de livros de Rushdie por todos os lugares. Algumas livrarias foram saqueadas e destruídas. E esses ataques não cessaram. Em 12 de fevereiro de 1999, um grupo de muçulmanos queimou fotos, livros e imagens de Rushdie na índia. Na mesquita de Jama Masjid, na capital do país, mais de cem ativistas gritaram contra ele, e não faltou quem pedisse sua eliminação pelas mãos de algum santo.
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