História Universal da Destruição dos Livros Das Tábuas Sumérias à Guerra do Iraque Fernando Báez


A destruição do templo de Artemisa



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A destruição do templo de Artemisa
O mundo antigo foi um mundo de prodígios e maravilhas, mas a tradição arquitetônica helenística consagrou apenas sete monumentos. Um deles foi o templo de Artemisa na cidade de Éfeso, conhecido universalmente como templo de Diana, cuja construção começou com Creso, rei da Lídia, por volta de 550 a.C., e foi concluída, segundo Plínio, anos depois. O interessante de sua história é que cerca de 356 a.C., ano do nascimento de Alexandre Magno, um desconhecido chamado Eróstrato, segundo os cronistas, incendiou o templo para entrar na história e seu nome foi proibido.

Até aqui tudo foi divulgado, mas esse incêndio também queimou o único manuscrito original da obra completa do filósofo Heráclito de Éfeso, que acreditava protegê-lo depositando-o no templo onde costumava passar o tempo brincando com as crianças. Laércio disse: "[...] Como obra considerada sua está o denso Sobre a natureza, dividido em três discursos, um sobre o universo, outro sobre política e [outro sobre] teologia. Ele depositou este livro no templo de Artemisa [...]."

Houve dois bons motivos para que ele o depositasse no templo:

1. O estilo do livro podia ter origem na imitação deliberada das profecias délficas e esse detalhe, mais do que provável considerando que Heráclito era sacerdote em Éfeso, supunha sua inclusão num lugar adequado ao objetivo da revelação do logos.

2. Artemisa nasceu em Delos, era irmã de Apoio, filha de Leto e Zeus, conservou-se sempre virgem, e não é ilógico raciocinar que um pensador tão exigente como Heráclito a considerasse símbolo de seu próprio pensamento. Seguindo um costume oriental, nascido na Suméria e continuado no Egito, depositou seu livro num templo porque sentia que assim como o templo revela a verdade da deusa, seu livro era um mapa para alcançar uma verdade alheia às multidões. O fogo "sempre vivo" de sua doutrina é o fogo do interior do templo. Ocorre-me, por exemplo, que das dezenas de formas idealizadas para ler e entender seus fragmentos, uma delas, poucas vezes utilizada, é a de aceitar a existência de palavras e expressões absolutamente alusivas ao culto de Artemisa. Num fragmento ele se refere ao arco, objeto com que a deusa ia armada: "O arco tem por nome vida, e por obra morte.

A tendência a aceitar os fatos históricos sem discuti-los nos privou de uma teoria que explique como Eróstrato incendiou o maior templo da Antigüidade (80 x 130m), construído com materiais não-combustíveis, como o mármore. Na minha opinião, Eróstrato começou seu incêndio no interior do templo, na área dos registros escritos, onde estava o livro de Heráclito e onde repousavam diferentes objetos de madeira. Só assim não é absurdo pensar na derrubada do templo.

Um dos fragmentos de Heráclito anunciou: "Quando chegar, o fogo julgará todas as coisas e condenará todos." É irônico que seu manuscrito tenha sido destruído por uma irreverente devoção a esse aforismo apocalíptico.


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