CAPÍTULO 5
Outras antigas bibliotecas gregas destruídas
A biblioteca de Pérgamo
Quase à sombra, ferozmente ignorada, a história da biblioteca de Pérgamo é, apesar de seu misterioso desaparecimento, um marco tão fascinante quanto a biblioteca de Alexandria, de que foi rival. Segundo Estrabão, foi fundada pelo rei Eumênio no século II a.C., com a intenção de provocar os monarcas de Alexandria. Vitrúvio, num comentário menos polêmico, disse que "os monarcas atálidas, estimulados por seu grande amor pela filologia, estabeleceram uma magnífica biblioteca pública em Pérgamo".
Ao longo dos anos, Eumênio chegou a reunir duzentos ou trezentos mil volumes copiados em pergaminho, material mais flexível, menos perecível. O uso do pergaminho se deveu, como disse Lido, à negativa de Ptolomeu V de exportar mais papiro, com a finalidade de aniquilar a fonte de trabalho dos bibliotecários de Pérgamo. Plínio confirmou esse dado ao dizer: "Depois, com a rivalidade de Ptolomeu e Eumênio por causa das bibliotecas, quando Ptolomeu suprimiu a exportação de papiro, e ainda de acordo com Varrão (Marcus Terentius Varro), os livros de couro de carneiro foram inventados em Pérgamo; e a partir daí o uso desse material se tornou tão comum que veio a ser o instrumento da imortalidade do homem [...]."
Galeno descobriu muitas falsificações na biblioteca. Ao que parece, a pressa por ter uma das coleções mais valiosas do mundo promoveu deslizes filológicos. Um dos casos mais graves foi o falso achado de um discurso desconhecido de Demóstenes. Na realidade, era apenas um texto pouco divulgado, mas já editado em Alexandria. Laércio contou que os bibliotecários às vezes censuravam os livros e expurgavam passagens que lhes pareciam inconvenientes.
Com Crates de Maios na qualidade de diretor dessa biblioteca se impôs uma diretriz filosófica, com predomínio da doutrina estóica. Privilegiou-se o exercício das conjeturas alegóricas homéricas e a prática etimológica, com a finalidade de estabelecer domínios gramaticais inéditos para reforçar teses epistemológicas. Um exemplo do tipo de investigação realizada por Crates pode ser o seguinte: enquanto várias gerações consideraram a descrição feita por Homero do escudo de Aquiles como mera interpolação posterior (o Escólio de Aristônico, hoje disponível, mencionou a atetese de Zenódoto), Crates justificou a passagem ao propor uma leitura em que as dez partes do escudo correspondiam exatamente aos dez círculos celestiais, o que fez de Homero o pai da astronomia.
Antígono de Caristo, por volta do século III a.C., trabalhou na biblioteca e se distinguiu como biógrafo e historiador. À diferença de muitos de seus contemporâneos, Antígono viajou e buscou testemunhos sobre obras arquitetônicas, lendas e personagens. O helenista Wilamowitz considerou-o gênio e percebeu em todos os seus livros o afã pela amenidade e pelo espanto.
Esse esforço foi refreado pelas ações bélicas na Ásia Menor. Acredita-se que Marco Antônio, depois da destruição de Pérgamo, tenha enviado os pergaminhos (cerca de duzentos mil) à sua amada Cleópatra com o objetivo de doá-los ao Serapeum de Alexandria (era sua maneira de se desculpar pela queima de 47 a.C.). Infelizmente, essa informação, proporcionada por Plutarco, tem por única fonte um escritor desconhecido, chamado Calvísio.
De qualquer maneira, a rivalidade acabou em arremedo, mero esgar. Já não importa se os livros acabaram nas prateleiras da biblioteca de Alexandria ou foram destruídos em Pérgamo: todos desapareceram e a biblioteca é hoje um monte de ruínas.
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