História Universal da Destruição dos Livros Das Tábuas Sumérias à Guerra do Iraque Fernando Báez



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Os profetas bibliófagos
Os raros casos de bibliofagia (isto é, de "livros comidos") mais famosos estão descritos no Antigo e no Novo Testamento. Ezequiel disse que Deus lhe apresentou um papiro e ordenou:

"Abre bem tua boca e come o que te vou dar." Olhei então e eis que uma mão se estendia para mim e nela havia um livro em forma de rolo. E o livro desenrolou-se diante de mim e vi que a escrita cobria ambos os lados; e o que nele estava escrito eram lamentações, gemidos, ais.

E disse-me: "Homem, come este rolo e depois vai falar aos filhos de Israel." Abri a boca e Ele fez-me comer o rolo. E disse-me: "Homem, alimenta teu ventre e enche tuas entranhas com este rolo que te estou dando." Comi-o e eis que na minha boca parecia doce como mel. (2,8 e 3,1-4).

No Apocalipse de João de Patmos se retoma essa idéia de engolir uma obra:

[...] Então a voz que ouvi do céu falou-me de novo e disse: "Vai, e toma o pequeno livro aberto da mão do anjo que está em pé sobre o mar e a terra." Fui eu, pois, ter com o anjo, dizendo-lhe que me desse o pequeno livro. E ele me disse: "Toma, e devora; ele te será amargo nas entranhas, mas te será, na boca, doce como mel." E tomei o pequeno livro da mão do anjo, e comi-o! E ele era, na minha boca, doce como o mel; mas depois de o ter comido, amargou-me nas entranhas. Então me foi dito: "Urge que ainda profetizes de novo a numerosas nações, povos, línguas e reis [...]." (10,8-11)
Sem dúvida, o sabor doce e amargo deve se referir ao conteúdo, belo na superfície e forte no interior. Engolir o livro garantia a transferência de propriedades, a transmissão de conhecimentos. Em vez de lê-lo, o bibliófago recebe diretamente o ensinamento e fica capacitado a falar várias línguas ou se expressar de forma mais segura.

Por volta de 130 d.C., Artemidoro escreveu sobre os sonhos e em seu catálogo mencionou aqueles em que se comem livros: "[...] Sonhar que come um livro é bom para pessoas instruídas, para sofistas e para todos aqueles que ganham a vida dissertando sobre livros [...]."

Muitos povos eram antropófagos para obter poderes sobrenaturais. Se assumiam as propriedades divinas de um livro, acreditando-se ser ele parte de Deus, não nos deve parecer estranha a ambição de devorá-lo. Gérard Haddad afirmou que "comendo o Livro de seu grupo de origem, cada pessoa sofre uma profunda metamorfose. Pela identificação amorosa com seu grupo, com a inscrição numa genealogia que ela implica, recebe aptidão futura para engendrar, para se converter por sua vez em homem e pai nesse grupo


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