A perseguição aos textos budistas
O período de destruição de livros iniciado por Shi Huandi não cessou nos anos seguintes. Por volta de 99 a.C., o cronista Sima Qian, chamado o Heródoto oriental por sinólogos europeus, não descreveu corretamente a magnificência, o poder e a legitimidade do imperador ao se referir às lutas contra os invasores hsiung-un, e essa falta de delicadeza de sua parte, talvez a timidez de certos adjetivos, custou-lhe um julgamento que culminou com sua castração e a queima do material. Hoje se lê seu texto Shiji de maneira incompleta.
A introdução do budismo na China foi acidentada. Os neo-confucianos repeliram o budismo por considerá-lo não-substancial, por sua teoria da renúncia e do vazio. Assim como no passado os confucianos foram perseguidos pelos membros da escola legalista, eles combateram e provocaram o desprestígio do budismo. Em todo caso, o Mahayana, ou Grande Veículo, conseguiu se impor a partir do século I d.C. depois da adaptação de expressões como sangha, ou comunidade de monges, e a revisão das relações de família e da iluminação. A possibilidade de qualquer pessoa poder ser um Budhisattva, ou Salvador, se propagou no espírito popular. Durante esse processo, não foram poucas as vezes em que os textos budistas sofreram confisco e destruição. As perseguições a monges e livros ocorreram quase desde o princípio e se acirraram de 446 a 452, em 574 e ainda Wuzong, em 845, mandou arrasar 4.600 templos e dezenas de escritos.
Na chamada Rota da Seda, na China, descobriu-se, em 1900, uma série de grutas no setor sul de Dunhuang, em Mogao,227 um oásis em meio ao terrível deserto de Gobi, e em seu interior foram encontrados milhares de textos sagrados do budismo, muitos em bom estado, mas outros em fragmentos, pertencentes aos séculos V ao XI. Ao que parece, as grutas começaram a ser pintadas e utilizadas desde 366, quando o bonzo Yuezun escavou, depois de uma visão, a primeira gruta. Ao longo de 1.500 anos, desde os Dezesseis Reinos até a dinastia Yuan, manteve-se esse espírito que levou à idéia da Cova dos Cânones Budistas, uma espécie de biblioteca onde foram guardados cinqüenta mil manuscritos e obras artísticas. Com esse depósito de livros sagrados se pretendeu proteger uma cultura de qualquer possibilidade de censura. O número de grutas do setor sul ultrapassou quinhentas. Nas 243 grutas do setor norte havia livros de sutras em oito idiomas: chinês, tibetano, uigur, sânscrito, xixia, basba, uigur-mongol e sírio. Entre outros, apareceu o misterioso livro Ouro quebrado e alguns fragmentos do livro Sutras originais, de Ksitigarbha, o único exemplar existente.
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