História Universal da Destruição dos Livros Das Tábuas Sumérias à Guerra do Iraque Fernando Báez



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As lutas religiosas inglesas
Segundo Ernest A. Savage, na primeira metade do século XVI centenas de milhares de manuscritos já haviam desaparecido na Inglaterra. A perseguição a um livro e seu autor corresponde quase sempre à temerosa debilidade questionada. De título longo e conteúdo curto, The discovery of a gaping gulfwhere into England is likely to be swallowed by another french marriage (1579) foi queimado na cozinha do Stationers Hall. O autor, John Stubbs, perdeu a mão direita por se opor ao casamento da rainha Elizabeth e o duque de Anjou, mas algumas testemunhas não esqueceram seu gesto de levantar a mão esquerda para gritar: "Deus salve a rainha!"

Em 27 de junho de 1659, o breve tratado Iconoclasta, um ataque do poeta John Milton à hipocrisia religiosa, foi queimado. Um ano mais tarde foi destruído outro livro seu: Pro populo anglicano defensio (1652).

A intolerância puritana provocou um lamentável incidente em 1664. Benjamin Keach, um sacerdote batista, publicou quinhentos exemplares de The child instructor. Trata-se de um inocente manual carente de qualquer teologia, mas que alarmou o pouco risonho Thomas Disney, que mandou colocar o autor no pelourinho, em Ailsbury, com um papel na cabeça com a inscrição: "Por escrever, imprimir e publicar um livro cismático." E ainda por cima toda a edição foi queimada.

A queima de exemplares da impecável Collection of speeches, de sir Edward Dering, em 1642, provocou reações entre políticos e religiosos ingleses. Depois de vários desencontros, os grupos se enfrentaram. Uns eram de tendência whig e os outros eram tories. Daniel Defoe, nessa época apenas um escritor em busca de fama, decidiu redigir um texto engenhoso intitulado The shortest way with the dissenters (1702), no qual se fazia passar por um clérigo respeitável que de maneira satírica se atrevia a sugerir argumentos absurdos contra os opositores. A popularidade do texto o levou ao cárcere em maio de 1703.

A exaltação por essa mesma luta levou Henry Sacheverell a editar um violento panfleto intitulado Theperils of false brethren, em 1709. Em 27 de março daquele ano seus escritos foram queimados, e os censores não se esqueceram de destruir um decreto de julho de 1683 que fora reimpresso com a finalidade de divulgar o texto de Sacheverell.

Em 1683, alguns eruditos da Universidade de Oxford, inconformados com as teses sobre o Estado de Thomas Hobbes, condenaram dois livros dele: De Cive e Leviathan. De Leviathan, dedicado a fazer da religião um instrumento governamental de controle para manter a paz num Estado, foi dito que merecia o fogo e alguns fanáticos o queimaram numa pequena fogueira pública.

Um livro satírico de Laurence Sterne, A political romance, foi queimado em 1759 por determinação eclesiástica. Em 1779, o carrasco queimou um livro de John Hely-Hutchinson intitulado The commercial restrain of Ireland considered (1779), cuja essência consistia numa denúncia contra a coroa britânica.


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