Naufrágios célebres
Seria despropositado pretender que todos os casos de destruição de volumes possam ser citados neste livro (há milhares de incidentes que não foram documentados), porém mais absurdo seria crer possível conhecer em detalhe todos os livros desaparecidos em naufrágios. No entanto, consegui reunir algumas informações.
Vários exemplares da Bíblia polyglotta (ou Biblia Regia), preparada por Árias Montano de 1569 a 1573, em oito volumes, perderam-se num naufrágio quando eram transportados para a Espanha. Segundo Benjamin D’Israel, em 1700 uma tempestade fez naufragar um navio com os manuscritos orientais de Heer Hudde, rico burgomestre de Middleburgh.
O engenhoso e satírico livreiro John Dunton contou como perdeu centenas de livros durante sua viagem de barco a Boston, onde abriu uma livraria. Depois de sua publicação, em 1707, o livro Poema tograi quase desapareceu para sempre quando naufragou o navio em que eram transportados os textos. O extraordinário Rituel du diocese de Quebec (1703) desapareceu, uma vez editado, num naufrágio. Enviados ao famoso conde Romanoff, quase todos os exemplares de Leonis diaconi caloensis historia scriptoresque alii ad res byzantina pertinentes (1819) desapareceram com o afundamento do navio.
Em 1873, o escritor e músico venezuelano Felipe Larrazábal, arruinado, corrigia, no navio Ville du Havre, o manuscrito de uma de suas principais compilações sobre a vida e obra de Simón Bolívar. De vez em quando, lia alguns dos livros escolhidos para a viagem ou revisava alguns de seus três mil documentos. Não pôde terminar o trabalho, porque uma tempestade afundou o navio, causando a morte do autor e o desaparecimento de seu manuscrito e de outros papéis.
Misteriosa simetria relaciona Larrazábal ao poeta colombiano José Asunción Silva: o barco Amerique em que Assunción regressava à Colômbia, depois de cumprir missão diplomática em Caracas, encalhou num banco de areia e, embora tenha sobrevivido, perdeu muitos de seus livros e os manuscritos originais de obras como Cuentos negros, Las almas muertas e Poemas de la carne.
No mítico Titanic viajavam 2.227 pessoas e, com seu afundamento no Atlântico, em 1912, depois de se chocar com um iceberg, restaram 705 sobreviventes. A biblioteca do navio e todos os livros dos passageiros foram destruídos.
A lista de naufrágios é bastante extensa, e, portanto, também a perda de livros. Não foram poucos os iates que possuíam bibliotecas bem completas que repousam no fundo mar depois de diversos acidentes raras vezes divulgados.
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