CAPÍTULO 13
Em busca da pureza
Jacob Frank
A vida de Yacov ben Judah Leib Frankovitch foi como a de qualquer fanático: sem sossego, sem segurança, imodesta. Do pai, além das dívidas clássicas e de uma altivez histérica, herdou um fervor fora do comum pelo movimento messiânico judaico de Sabbatai Tsevi, místico que afirmava ser capaz de ter relações sexuais com virgens "sem deflorá-las" e erudito que propôs destruir rolos da Tora para provocar o surgimento de uma nova era. "Há que destruir", advertia. "Tudo voltará a ser novo. O proibido é o bem." Esmagou com os pés os tefilim, pequenos cubos de couro contendo quatro trechos do Pentateuco que são enrolados no braço esquerdo e na cabeça enquanto se reza. O movimento ganhou adeptos em diferentes regiões da Europa e da África, do Iêmen até Amsterdam, fossem asquenazes ou sefarditas. Foi um fenômeno inesperado em que multidões inteiras aguardaram a vinda do messias e dos antigos profetas.
Yacov estava convencido de que era a reencarnação de Sabbatai Tsevi e de Baruch Russo, outro messias, e, em 1751, com uma viagem pelo meio da Turquia, fez-se chamar Jacob Frank. Detestava, por motivos obscuros, certas etimologias judaicas e, por doutrina, os livros. Em 1755 reuniu discípulos a quem denominou frankistas e os obrigou a queimar livros. Em 1756 foi condenado por heresia, mas não desanimou. Nada mais cruel do que um ignorante com carisma.
Em 1757, depois de vencer os rabinos num debate, percorreu casa por casa e destruiu em praça pública centenas de exemplares do Talmude, o que rendeu à sua seita o nome de antitalmudista. Com cínica humildade, costumava recordar aos seguidores seu caráter de messias e o valor oral de sua doutrina. "Eu sou a palavra, eu sou o filho, eu sou", dizia. Inventou uma trindade em que havia um verdadeiro Deus, alheio a tudo, um Deus encarnado e uma mulher. Ele se considerava esse Deus encarnado. A especulação sobre a lei o exaltava e em seus sonhos acreditava ter descoberto os sinais dos novos princípios de uma mistura de cristianismo e judaísmo.
Em determinada época obrigava os seguidores a usar sandálias fabricadas com rolos de pergaminho onde estavam escritos os textos da Tora. Criou uma ordem com 12 apóstolos e 12 concubinas, todos santos, piedosos e implacáveis, defensores do sexo mais violento. Em 1760 foi detido e encarcerado pelas autoridades de Varsóvia e depois expulso.
Segundo a lenda, morreu em Offenbach e pediu, no leito de morte, a destruição de todos os livros. "Queimem tudo", suplicou. "Aquilo que é verdadeiro morre comigo." Como curiosidade, vale a pena comentar que dizia que o rosto de Deus se ampliara com os traços do seu.
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