Jack Higgins a águia Pousou Tradução de Ruy Jungmann



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Corcoran chegou ao terraço um momento depois, de revólver na mão. Embaixo, no jardim rebaixado, rangers surgiram correndo da escuridão, pararam e formaram um semicírculo. Steiner jazia à luz da janela aberta, com a Cruz de Cavaleiro à garganta e a Mauser ainda firme na mão direita.

— Estranho — disse o primeiro-ministro. — Com o dedo no gatilho, ele hesitou. Por quê?

— Talvez sua metade americana estivesse falando, senhor — disse Harry Kane.

O primeiro-ministro pronunciou a palavra final:

— Digam o que disserem, ele foi um admirável soldado e um homem valente. Cuide dele, major. — Deu as costas ao grupo e voltou para dentro do edifício.

Vinte

Passara-se quase um ano desde o dia em que eu fizera a espantosa descoberta no adro de St. Mary and All the Saints quando voltei a Studley Constable, desta vez atendendo a um convite pessoal do Padre Philip Vereker. Fui recebido por um jovem padre com sotaque irlandês.



Encontrei Vereker sentado em sua espreguiçadeira de vime, em frente a um imenso fogo no escritório, com uma manta sobre os joelhos. Eu jamais vira um homem tão moribundo. A pele parecia haver-se encolhido em sua face, pondo à mostra cada osso. Os olhos brilhavam de dor.

— Foi bondade sua vir aqui. -

— Sinto muito ver que o senhor está doente — disse eu.

— Tenho câncer no estômago. Nada que se possa fazer. O bispo foi muito bondoso em permitir que eu terminasse aqui os meus dias e em providenciar para que o Padre Damian ajudasse nos deveres da paróquia, mas não foi por isso que pedi que viesse aqui. Ouvi dizer que o senhor passou um ano muito ocupado.

— Não compreendo — respondi. — Quando estive aqui antes, o senhor não quis dizer uma única palavra. Na verdade, expulsou-me.

— É realmente muito simples. Durante anos conheci apenas uma parte da história. Subitamente, descobri que sinto uma curiosidade insaciável de saber o resto, antes que seja tarde demais.

Assim, contei-lhe o que sabia, pois não parecia haver, na verdade, motivo para não fazê-lo. Quando terminei, as sombras caíam sobre a relva do lado de fora e o aposenteo encontrava-se mergulhado em semi-escuridão.

— Notável — disse ele. — Como, em nome de Deus, descobriu o senhor tudo isso?

— Não em fontes oficiais, pode acreditar. Simplesmente conversando com pessoas ainda vivas e que se mostraram dispostas a falar. O maior golpe de sorte foi o privilégio de ler um diário muito detalhado mantido pelo responsável pela organização de toda a missão, o Coronel Max Radl. Sua viúva vive ainda na Bavária. O que eu gostaria de saber é o que aconteceu aqui depois.

— Foi baixada uma cortina da mais absoluta segurança. Todos os aldeões envolvidos foram entrevistados pelo pessoal da segurança e da contra-espionagem. Foi invocada a Lei de Segredos Oficiais. Não que fosse realmente necessário. Esta gente aqui é peculiar. Reunidos na adversidade, hostis aos estranhos, como o senhor viu. Consideram o que houve como negócio deles, e de ninguém mais.

— Mas houve Seymour.

— Exatamente. Soube que ele morreu em fevereiro passado.

— Não.

— Vinha bêbado de Holt, certa noite, ao volante de um caminhão. O veículo saiu da estrada da costa, mergulhou no pântano e ele se afogou.



— O que lhe aconteceu depois daquele caso?

— Foi, sem maior estardalhaço, considerado oficialmente insano. Passou dezesseis anos internado antes de conseguir a liberdade, ao serem relaxadas as leis sobre saúde mental.

— Mas como as pessoas podiam tolerá-lo por aqui?

— Ele era aparentado com pelo menos metade das famílias do distrito. A mulher de George Wílde, Betty, era irmã dele.

— Meus Deus! — exclamei. — Eu não sabia disso.

— Em certo sentido, o silêncio de anos foi também uma espécie de proteção para Seymour.

— Há outra possibilidade — sugeri. — A de que seu gesto terrível naquela noite tenha sido considerado uma mancha sobre todos eles. Algo que era preferível ocultar.

— Isso, também,

— E a sepultura?

— Os engenheiros militares encarregados de limpar a aldeia e reparar os danos colocaram os corpos em uma vala comum no adro da igreja. Sem lousa, naturalmente, e recebemos ordens para deixá-la assim.

— Mas o senhor pensou de maneira diferente.

— Não apenas eu. Todos nós. A propaganda de guerra foi uma coisa perniciosa naquela ocasião, conquanto necessária. Todos os filmes que víamos, todos os livros que líamos, todos os jornais descreviam o soldado alemão como um bárbaro implacável e selvagem, mas aqueles homens não eram assim. Graham Wilde está vivo hoje, Susan Turner casou e tem três filhos porque um dos homens de Steiner sacrificou a vida para salvá-los. E na igreja, lembre-se, ele deixou que os prisioneiros saíssem.

— Assim, decidiram fazer-lhes um monumento secreto?

— Exatamente. Foi coisa muito fácil de fazer. O Ted Turner era um pedreiro de monumentos aposentado. A lousa foi posta no lugar, abençoada por mim em uma cerimônia privada e, em seguida, oculta do observador casual, como o senhor sabe. Aquele homem, Preston, está lá, também, mas não foi incluído no monumento.

— E vocês todos concordaram com isso?

Aflorou aos lábios do padre um dos seus raros e gélidos sorrisos:

— Como uma espécie de penitência pessoal, se quiser. Dançar sobre a sua sepultura foi a expressão que Steiner usou e ele tinha razão. Eu o odiei naquele dia. Poderia tê-lo morto com minhas próprias mãos.

— Por quê? — perguntei. — Porque foi uma bala alemã que o aleijou?

— Foi o que pretextei até o dia em que me pus de joelhos e pedi a Deus que me ajudasse a enfrentar a verdade.

— Joanna Grey? — perguntei, suavemente.

A face dele encontrava-se em total escuridão. Não consegui ver-lhe a expressão.

— Estou mais acostumado a ouvir confissões do que a fazê-las, mas o senhor tem razão. Eu-adorava Joanna Grey. Não, é claro, de um modo sexual tolo e superficial qualquer. Para mim, ela era a mulher mais maravilhosa que jamais conhecera. Não posso nem começar a descrever o choque que senti quando descobri seu verdadeiro papel.

— Assim, num certo sentido, o senhor pôs a culpa em Steiner?

— Acho que foi essa a psicologia do caso. — Suspirou. — Faz tanto tempo! Que idade tinha o senhor em 1943? Doze, treze anos? Pode lembrar-se do que era a vida naquela época?

— Não, realmente. . . não da maneira como o senhor se refere.

— O povo estava cansado porque parecia que a guerra estava se prolongando para sempre. Pode possivelmente imaginar o terrível golpe no moral nacional se a história de Steiner e seus soldados e do que aconteceu aqui fosse divulgada? Que pára-quedistas alemães conseguiram descer na Inglaterra e por um triz não seqüestraram o. próprio primeiro-ministro?.

— E por muito pouco não foi puxado o gatilho para arrancar-lhe a cabeça com uma bala?

Ele concordou com um aceno.

— O senhor tenciona ainda publicar a história?

— Não vejo por que não.

— Ela não aconteceu, como o senhor sabe. Não há mais lousa tumular, e quem poderá afirmar que tenha existido? O senhor descobriu um único documento oficial que possa confirmá-la?

— Não, realmente — respondi, alegremente —, mas conversei com um bocado de pessoas e, juntas, elas me contaram o que resultou numa historia muito convincente.

— Poderia ter sido — ele sorriu de leve —, se o senhor não houvesse ignorado um ponto muito importante.

— E qual seria ele?

— Leia qualquer um dessa dúzia de livros de história sobre a última guerra e verifique o que Winston Churchill fazia naquele fim de semana em questão. Mas talvez isso seja simples demais, óbvio demais.

— Muito bem — concordei. — Diga-me.

— Preparando-se para viajar no navio real Renown para a conferência de Teerã. A caminho, parou na Argélia onde concedeu aos generais Eisenhower e Alexander versões especiais da fita da África do norte, e chegou a Malta, segundo me lembro, no dia 17 de novembro.

Caiu um súbito e profundo silêncio.

— Quem era ele? — perguntei.

— O nome dele era George Howard Foster, conhecido profissionalmente como o Grande Foster.

— E a profissão?

— O teatro, Sr. Higgins. Foster era um artista de variedades, um imitador. A guerra foi sua salvação.

— Como aconteceu isso? . _

— Ele não apenas fazia uma imitação mais do que passável do primeiro-ministro. Parecia-se mesmo com ele. Depois de Dunquerque, começou a fazer papéis especiais, uma espécie de grande final do show. Nada mais tenho a oferecer a não ser sangue, suor e lágrimas. Nós lutaremos nas praias. . . As platéias adoravam.isso.

— E o pessoal da contra-espionagem recrutou-o?

— Para ocasiões especiais. Se tencionamos que o primeiro-ministro faça uma viagem por mar no auge do perigo submarino, é conveniente que ele apareça em público em outros locais. — Sorriu. — Ele fez o papel de sua vida naquela noite. Todos acreditaram nele, naturalmente. Somente Corcoran sabia a verdade.

— Muito bem — disse eu. — Onde se encontra Foster agora?

— Morreu, juntamente com cento e oito pessoas, quando uma bomba voadora caiu sobre um pequeno teatro em Islington, em fevereiro de 1944. Como o senhor vê, seu trabalho foi em vão. Aquele caso jamais aconteceu. É melhor para todos os interessados.

Um acesso de tosse sacudiu-o e dilacerou-lhe o corpo. A porta foi aberta e entrou uma freira. Inclinou-se sobre ele. O padre murmurou:

— Sinto muito, mas a tarde foi muito longa. Acho que devo repousar agora. Muito obrigado por ter vindo e preenchido os claros.

Recomeçou a tossir e saí o mais rápido possível, escoltado polidamente até a porta pelo jovem Padre Damian. Ao pé dos degraus, entreguei-lhe meu cartão.

— Se ele piorar. . . — Hesitei. — Entende o quero dizer? Eu gostaria de receber notícias suas.

Acendi um cigarro e encostei-me à parede de pedra do adro da igreja, junto ao portão coberto. Eu verificaria os fatos, naturalmente, mas Vereker contara a verdade, sem dúvida alguma. Mas isso mudaria realmente alguma coisa? Ergui os olhos para o terraço onde Steiner estivera naquela longínqua tarde para um confronto com Harry Kane; pensei nele no terraço da Meltham House, e na sua última e fatal hesitação. E mesmo que ele houvesse puxado aquele gatilho, ainda teria sido por nada.

Estamos diante de uma ironia, como teria dito Devlin. Pude quase ouvir-lhe o riso. Bem, em última análise, nada do que eu pudesse dizer seria melhor que as palavras de um homem que desempenhara tão bem seu papel naquela noite fatal.



Digam o que disserem, ele foi um admirável soldado e um homem valente. Que termine aqui. Virei-me e afastei-me dali, sob a chuva.
F I M



1 Exército Republicano Irlandês, em inglês Irish Republican Army (N. do E.)

2 Interjeição irlandesa que significa “por Deus!”. (N. do E.)

3 Em irlandês, “mocinha”. (N. do E.)

4 denominação pejorativa para designar os soldados alemães. (N. do E.)

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