Meu mundo por Você Sara Howard



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Capítulo 3
— O que é isso? — Emma perguntou na manhã seguinte, apontando para o prato repleto a sua frente.

— Apresento-lhe o Big Sky, nosso café da manhã especial — Cal abaixou o garfo com uma porção de ovos fritos que levava à boca — Este é o verdadeiro desjejum dos fazendeiros do condado de Wyoming. Café, ovos com bacon, torradas e carne picada com batatas.

— Carne com batatas, no café da manhã?

— Sim. Nada como começar o dia bem alimentado, não acha?

Emma forçou um sorriso, meneando a cabeça em um falso sinal de aprovação. Seu café da manhã habitual costumava ser uma fatia de torrada com queijo cremoso e uma boa xícara de café. Mas Cal, que fora bater à porta de seu quarto exatamente às oito horas da manhã, havia insistido que ela experimentasse o genuíno desjejum do condado antes de mostrar a cidade. Enquanto ela se esforçava para comer, agradeceu à sorte por ter algo com que se ocupar. Ao menos, a farta refeição seria a desculpa perfeita para não encará-lo.

A festa de boas vindas em sua homenagem na noite anterior fora adorável. Depois da festa, ele a levara para apanhar seu carro e a acompanhara ao motel, despedindo-se com um aperto de mão formal. Emma fora para a cama e, apesar do cansaço, não conse­guira adormecer. Bastava fechar os olhos para que a imagem dele preenchesse seu pensamento.

Dançar com Cal depois do jantar a fizera experimentar o fascí­nio dos bailes de debutantes que sempre imaginara quando era adolescente e que nunca tivera a chance de conhecer. E a sorte não a abandonara quando, por volta das dez horas, Caroline e seu marido levaram Bertie para casa. Depois daquilo, os convidados ha­viam se animado com a música e qualquer promessa de discurso fora esquecida. Infelizmente, Cal não esquecera a promessa de mostrar a cidade. Emma olhou para cima quando sentiu alguém tocá-la de leve no braço.

— Bom dia.

Emma voltou-se para o homem alto que se sentara à mesa ao lado da deles, vestido de acordo com o típico estilo do velho oeste.

— Hal Murphy — Cal apresentou-o enquanto tocava a aba do chapéu para cumprimentá-lo — A família de Hal foi uma das primeiras da região, no início do século.

— Bom dia, Senhor — Emma cumprimentou com um sorriso.

Ele ergueu de leve o chapéu e fez uma inclinação de cabeça respeitosa.

— Quais são as novas, Hal? — Cal perguntou antes de levar uma torrada à boca.

— Ainda estou esperando por Edith — Ele acendeu um cigarro e abriu um jornal, sem se voltar para eles.

— Ele está se referindo à garçonete? — Emma sussurrou.

— Não. Ele está falando de uma de suas éguas que está para dar à luz a qualquer momento.

— Oh.

Emma não tinha muito dizer sobre aquele assunto. Tudo que sabia a respeito de cavalos baseava-se no que vira em filmes, assim como tudo o mais que parecia ser usual e corriqueiro no condado. Sentia-se como um peixe fora d'água e dizia a si mesma que ainda não tivera tempo de registrar o fato de que chegara ao vilarejo de Amity, Wyoming, no dia anterior. Mas a verdade que insistia em ecoar em sua cabeça era que o homem sentado a sua frente era o responsável por seu desconforto. Cal Worth tinha o poder de capturar sua atenção, fazendo-a se sentir frágil e vulnerável.



Naquela manhã, acordara em meio a um sonho em que Cal era um caubói com um estetoscópio pendurado no pescoço e girava com ela em uma pista de danças. Mal acabara de conhecê-lo e ele já invadira seus sonhos.

Emma balançou a cabeça com vigor, tentando fazer com que a ridícula imagem desaparecesse, e deteve-se ao perceber que Cal a fitava intensamente. Constrangida, ela se pôs a devorar uma tor­rada, determinando-se a ignorá-lo. Certo, não queria ser rude a ponto de rejeitar a generosa oferta de ser acompanhada a todos os pontos turísticos, mas isso não significava que tinha de se submeter ao que ele planejara. A difícil tarefa de passar juntos os dias se­guintes serviria para provar a si mesma que era uma profissional eficiente e poderia desempenhar seu papel mesmo ao lado de um homem que considerava indesejável a presença de uma nova-ior­quina na adorada cidade em que nascera e fora criado.

Ele conse­guia ser mais autoritário e mal humorado que Rusty. Além de ser infinitamente mais atraente e de seu coração perder um compasso e flutuar como um pássaro cada vez que ele a tocava.

— Alguma coisa errada, Senhorita Darby?

Só então Emma percebeu que segurava a xícara de café no ar, e se apressou a dar um grande gole, sentindo-se ridícula.

— Emma, por favor — corrigiu ela, tentando se recompor — Já que vamos passar juntos a semana, podemos dispensar as for­malidades.

Ela depositou a xícara sobre a mesa, ignorando o brilho diver­tido nos olhos castanhos.

— E, respondendo a sua pergunta, não há nada errado comigo. Estava apenas pensando sobre tudo que quero fazer ainda hoje. Talvez pudéssemos começar com um passeio pelas imediações da cidade. Gostaria de ver todos os lugares de interesse histórico. Creio que poderemos encontrar o típico e genuíno clima do velho oeste.

— Como quiser. Mas devo adiantar que nada de tão pitoresco me vem à mente em Amity — E Cal fez um gesto para que a garçonete trouxesse a conta.

Era óbvio que ele não estava disposto a revelar qualquer aspecto pitoresco, pensou ela com ironia.

Cal não estava feliz com sua presença e, menos ainda, com sua intenção. Ela não podia acreditar que o pequeno vilarejo não guardasse relíquias da cultura do velho oeste, como um sallon de portas duplas, por exemplo. Mas aquilo não importava. Sua tática seria ignorá-lo até que ele se cansasse e a deixasse trabalhar em paz. E se insistisse em fazer comentários inoportunos, bastava não dar ouvidos. E seria exatamente o que faria a partir daquele exato momento, decidiu ela enquanto o observava se levantar e caminhar até o balcão para pagar a conta. Não seria um caubói mal humorado que a faria desistir de seus projetos concluiu, dedicando-se a repassar mentalmente a lista de equipamentos e itens de sua maleta de trabalho.

— Está pronta para o grande tour? — ele indagou em tom de provocação ao voltar para a mesa.

— Lembre-se de que não viajei de Nova York a Amity para fazer turismo — retorquiu ela com rispidez — Estou trabalhando, e tenho muito a fazer hoje.

— E por isso que estou aqui — E ele sorriu com afetação, fazendo um gesto amplo indicando que ela saísse.

Emma voltou os olhos para o céu, lembrando a si mesma de que teria de ser gentil, ao menos diante de tantas testemunhas.

— Aproveite o passeio, Senhorita — disse Hal por sobre o om­bro enquanto saíam — Tome conta dela, Cal.

Ela sorriu e despediu-se com um aceno, enquanto Cal grunhia alguma coisa ininteligível como resposta. Por volta das onze e meia, Emma estava convencida de que Frank McCarty se esquecera de mencionar muitos detalhes ao con­versarem por telefone, semanas atrás. Ele ficara tão excitado com a possibilidade de Amity ser o cenário de um filme que não revelara a completa reestruturação, que o vilarejo sofrerá desde que fora palco de duelos e ataques indígenas.

Ela se surpreendeu com a arquitetura arrojada e moderna do novo prédio da Prefeitura. A Biblioteca Pública Municipal oferecia acesso gratuito e coletivo à internet, e os restaurantes e fastfood espalhavam-se pelo centro da cidade. Em lugar algum conseguiu encontrar a menor referência a John Wayne, como imaginara.

— Aqui já foi um vilarejo típico do velho oeste, Senhorita — explicou o Senhor Chapman, dono de um armazém que acabara de ser reformado.

Emma meneou a cabeça, tentando esconder a decepção.

— Não somos contra o progresso em Amity. Temos todas as conveniências modernas, não é mesmo, Cal?

Ela voltou-se para ele, que se recostara no balcão e mantinha os braços cruzados, sem dizer uma só palavra.

— E uma pena... — Emma levou a mão à boca, arrependida pelo comentário impulsivo — Quero dizer, é uma pena que eu não... Bem...

Como explicar àquele velho Senhor que ela precisava de um lugar onde o progresso não tivesse chegado?

— O que a Senhorita Darby está tentando dizer é que o progresso pode ser bom para nós, mas não é o que Hollywood tem em mente.

— Senhor Chapman, por favor, entenda — ela interrompeu fuzi­lando Cal com os olhos — Acho que os moradores só têm a ganhar se Amity for uma comunidade próspera. Embora o Doutor Worth tenha sido um tanto rude, receio que disse a verdade. Quando vim para cá, esperava que Amity fosse um pouco mais parecida com o que imagino do velho oeste. Honestamente, não esperava que o progresso já houvesse chegado até aqui. Sinto muito se eu o desapontei.

— Não se preocupe Senhorita — E ele tocou-a de leve no ombro ao perceber que ela ficara ainda mais despontada — Só acho uma pena que meu armazém não vá aparecer em seu filme.

— Eu também — disse Emma com sinceridade.

Ao saírem, Cal limpou a garganta e diminuiu o passo.

— Ouça, sei que você não quer que eu mostre Amity como ela é, e sim como quer que ela seja para que combine com seus propósitos, mas muitas pessoas ficarão desapontadas quando des­cobrirem que sua cidade natal não atingiu os padrões de Hollywood. Portanto, gostaria que refletisse melhor se vale realmente a pena prosseguir, antes de causar maiores decepções.

— Quer saber? — Emma deteve-se e colocou as mãos na cin­tura — Não me importo com o que você pensa! Não estou aqui para agradar ou desapontar as pessoas, Doutor Worth. Aliás, foi seu tio quem aprovou minha vinda, semanas atrás.

— Cal, por favor — corrigiu ele, imitando-a — Creio que po­demos dispensar as formalidades. E você pode estar certa a respeito de tio Frank. Não duvido que ele tenha exagerado ao descrever o vilarejo. Mas talvez tudo pudesse ser diferente se você tivesse sido mais cuidadosa em conhecer melhor nossa realidade e não viesse para cá com tantas expectativas.

Emma teve de admitir que ele tinha razão, mas guardou sua opinião para si.

— Eu achei que houvesse chance de encontrar a locação perfeita para o filme e não havia alternativa a não ser vir para cá e conferir — retrucou sem demonstrar sua irritação — Além disso, nem todas as pessoas de Amity são rudes e antipáticas como você.

Para sua surpresa, Cal inclinou a cabeça para trás e riu com vontade.

— Você tem razão, Emma. Meu cavalheirismo fica terrivel­mente comprometido quando me sinto ameaçado — ele disse, con­tendo o riso — Mas o que me espanta é que uma típica nova-ior­quina não esteja acostumada a tanta hostilidade.

— Eu não nasci em Nova York, mas não estou disposta falar nisso agora.

—Então, permita-me mostrar que também posso ser um gentleman e aceite meu convite almoçar em um dos famosos restaurantes cinco estrelas de Amity — sugeriu ele em tom conciliador — Quero que você experimente nossa famosa costeleta grelhada com batatas.

— Se eu continuar comendo assim, vou precisar de um assento extra no vôo de volta para casa! — ela disse com bom humor — Vocês não costumam comer salada por aqui?

— Sim, você poderá pedir a tradicional salada mista — E ele a fitou com um sorriso que a fez desmanchar — Isso quer dizer que você aceita uma trégua?

— Sim — respondeu ela, enquanto ele abria a porta do restau­rante Mamma Sweet, a dois quarteirões do armazém.

Ao menos, tentaria manter a trégua durante o almoço. Termi­naria seu trabalho nos próximos dias, em breve estaria de volta a Nova York e ficaria livre de Cal Worth para sempre.

— Qual é o prato do dia, Jolene? — Cal perguntou acomodando-se na mesa para dois no confortável restaurante.

— O mesmo de sempre, Cal — a garçonete respondeu com um sorriso amigável — O cardápio é o mesmo que você conhece desde que tinha seis anos de idade.

— Não fale assim, Jô — Cal disse com uma piscadela de cum­plicidade — Temos de impressionar nossa convidada.

Ele costumava comer naquele restaurante mais de uma vez por semana durante anos e não podia imaginar aquele lugar sem Jolene. Ela era a garçonete efetiva desde que ele começara a freqüentar o restaurante com seus pais.

— Por favor, eu gostaria de tomar um refrigerante diet, sem limão.

— Pois não, Senhorita Darby. Chá gelado para você, Doutor?

— Sim, como sempre.

— Você costuma vir sempre aqui? — Emma perguntou obser­vando a garçonete se afastar.

— Sim. Um homem precisa comer bem.

— Então você deve ser do tipo de homem que não gosta de cozinhar, não é?

— Esse é um pré-requisito para ser guia turístico?

Emma corou e abaixou os olhos, fingindo estar interessada no cardápio.

— Como Médico, tenho de ter um aspecto saudável para esti­mular a confiança de meus pacientes — ele comentou, pensando para si que ela ficava ainda mais bonita quando corava — E, em geral, cozinhar bem é um atributo feminino.

— Nem sempre. Eu mesma não sou boa cozinheira. Tyson, meu ex-namorado, era um verdadeiro chef.

Cal sorriu, ignorando o incômodo de imaginá-la nos braços de outro homem. Não admitia a súbita atração que sentia por aquela mulher e desejava apenas que ela fosse embora daquela cidade o mais rápido possível, antes que não pudesse mais resistir ao impulso de beijá-la.

—Ele era ótimo cozinheiro, mas, em compensação, era a pessoa mais entediante que já conheci — ela confidenciou com um sorriso tímido — Quando saíamos para comer fora, não falava em outra coisa a não ser sobre a comida. Criticava todos os pratos e expli­cava detalhadamente a forma ideal de prepará-los. Desde que ter­minamos, o McDonald's virou meu restaurante favorito.

Cal forçou um sorriso, furioso consigo próprio por estar com ciúme. Ele respirou fundo e tentou focalizar a atenção no cardápio.

Os próximos dias seriam uma verdadeira tortura, pensou com des­gosto. Talvez estivesse apenas muito carente, justificou para si. Afinal, nem se lembrava da última vez em que jantara com uma mulher atraente e interessante.

— O que você sugere? — Emma perguntou, mantendo os olhos do cardápio.

— Sobre o quê? — indagou surpreso pelos olhos ver­des cravados sobre si.

— Sobre o que devo pedir — E ela sorriu, revelando os dentes brancos e perfeitos.

— Oh, o pedido — Cal apanhou o cardápio e se pôs a ler, como se fosse a primeira vez que o via — O que aconteceu com a sua salada?

— Mudei de idéia. Porque você não pede um hambúrguer e uma porção de batata frita para mim enquanto vou ao banheiro?

— Claro. Já terá chegado quando você voltar.

Ele observou-a enquanto caminhava, os cabelos dourados se agitando em um movimento suave e gracioso. Começava a se ar­repender do plano que havia elaborado na noite anterior, quando julgara ser uma boa idéia acompanhar todos os passos de Emma para convencê-la de que Amity não era a locação ideal para o filme. Ao tentar evitar que sua adorada cidade fosse tomada pelo elenco de Hollywood, corria o risco de ter seu coração invadido por uma paixão.

— Ela já se cansou de você?

Cal levou um sobressalto ao perceber que Jolene estava parada ao seu lado com um sorriso cúmplice no rosto.

— Não, ela está no toalete. Traga dois hambúrgueres e batata frita.

— Claro Doutor. Ela contou alguma coisa sobre o filme? Os fregueses estão fazendo apostas sobre quem vai aparecer, e muitos dizem que eu serei convidada.

Cal voltou os olhos para o teto e meneou a cabeça em negativa. Jolene e o restante da população do vilarejo estavam se divertindo com a idéia de se tornarem famosos, sem pensar nas conseqüências. Seria possível que ninguém, além dele próprio, tinha o mínimo de bom senso? Por sorte, sua mãe mudara-se para a Flórida e agia como se nunca tivesse ouvido falar de Amity. Se ela estivesse lá, seria a primeira a abrir os braços para Hollywood. Ela sempre considerara o vilarejo uma província antiquada e retrógrada, enquanto ele jul­gava que não poderia ter lugar melhor no mundo. Observou Emma retornando do banheiro e não conteve o sorriso ao vê-la acenar para uma garotinha.

— Quem é ela? — Emma perguntou ao sentar-se diante dele.

— Meggy Larkin, filha de Jodie e Paul.

— Ela é adorável! — E Emma mandou um beijo com a ponta dos dedos — Vocês se conhecem bem?

— Claro. Meggy teve uma infecção de garganta na semana passada.

— Eu não estava me referindo ao aspecto clínico — Emma comentou sem conter uma risada.

— Oh, sim! Ela e meu irmão estudaram juntos.

— Puxa, você conhece todos por aqui, não é?

— São as vantagens de se morar em uma cidade pequena. Aque­la jovem perto da caixa registradora é Clarissa Schober — disse ele, apontando discretamente para uma moça tímida, com óculos de grossas lentes — Ela almoça aqui todos os dias e sempre pede a mesma coisa. Melissa Ebersol, a garota que está sentada na mesa ao lado, é casada com Mark Prentice. O casal de mãos dadas é Emily Peck e Rob Millhauser, que se casam no próximo mês. E a mulher que está com eles é Shirley Grey, professora aposentada de inglês. Marylin Booth, na mesa ao lado, é mãe de Jack, um de meus melhores amigos. Do outro lado, temos Charlotte Lopes, secretária de tio Frank.

— Certo, já basta! — A risada de Emma soou como melodia para o ouvido dele — Você realmente conhece a cidade toda! Não precisa me dizer o número da identidade e seguro social de cada um deles!

Cal riu com vontade e ia dizer alguma coisa quando Jolene chegou com a refeição.

— Dois hambúrgueres e batatas fritas — anunciou ela com um sorriso, colocando os sanduíches sobre a mesa — Bom apetite. Chamem se precisarem.

Emma só falou dez minutos mais tarde, depois de devorar seu sanduíche.

— Estava uma delícia!

— Você tem de admitir que isso é muito melhor do que uma salada, mesmo que entupa nossas artérias — ele comentou com um suspiro de satisfação.

— Você deveria ser o primeiro a dar o exemplo e pedir uma refeição mais saudável!

— Posso ser Médico, mas ainda tenho paladar — ele disse em tom bem humorado — Por favor, não conte para meus pacientes.

— Meus lábios estão selados.

— Bem, mas nada a impede de me falar mais a seu respeito. Você ainda não me disse onde passou sua adolescência.

— Não há muito que dizer sobre isso. Minha adolescência não foi nada convencional.

— Não me diga! Você cresceu em um circo? Não!

Ela riu, e Cal percebeu que qualquer gesto ou expressão que aquela mulher fizesse se transformava em algo único e adorável.

— Não é nada interessante. Eu cresci por aí.

— O que você que dizer?

— Bem, minha mãe foi embora quando eu tinha seis anos e meu pai era, ou melhor, ele é musicista. Ele sempre fez parte de bandas do tipo que toca em bares e casamentos. Então, costumá­vamos nos mudar com freqüência, porque papai sempre procurava novas oportunidades.

— E em quantos lugares você já morou?

Na verdade, não consigo me lembrar mais. Algumas vezes ficávamos em uma cidade apenas por um mês. Quando eu tinha dez anos, ele gravou um disco e ficamos em Newport por um ano e seis meses. Creio que foi a estada mais longa de minha ado­lescência.

Cal ouvia com atenção, sem conseguir imaginar como alguém poderia crescer sem ter raízes. Talvez Emma não se sentisse se­gura, e a sua aparência autossuficiente e independente não passasse de uma máscara.

— E o que você achou disso tudo?

— Não sei dizer. Eu era muito nova quando mamãe nos deixou, e meu pai fez o melhor que pode. Ele sempre amou a música e tudo que queria fazer era tocar. Estar no palco era como um sonho para ele. Talvez se dedicar à música tenha sido a única forma de superar a rejeição.

Ela fez uma pausa e Cal percebeu que tocara em um assunto delicado. Então, de súbito, ela sorriu.

— O curioso é que meu pai só descobriu que sua verdadeira paixão era a música depois que mamãe o abandonou. No momento, ele está tocando em uma banda chamada Dogs há três anos, e são efetivos em um pequeno bar na Califórnia.

— Parece interessante — Cal comentou com simpatia — Acho que agora entendo.

— O quê?

— A razão por você ter escolhido trabalhar na produção de filmes. Afinal, sair em busca de locações ideais parece satisfazer o desejo infantil de encontrar o lar que você não conseguiu ter.

Emma prendeu a respiração. Cal era a primeira pessoa que a fazia entender a razão de ter escolhido aquele tipo de trabalho.

— Você estudou psicanálise? — indagou refazendo-se do impacto da descoberta.

— Não é preciso. Depois de tudo que você disse, a constatação parece óbvia, não acha?

— Acho que você tem razão. E que eu nunca havia pensado nisso dessa forma — Ela se calou por alguns instantes, mergu­lhada em profundas reflexões — Sabe, sempre desejei trabalhar no cinema. Amo os filmes da mesma forma como meu pai ama a música.

Emma sorveu lentamente um gole do refrigerante antes de pros­seguir,

— Achei fascinante a festa de ontem à noite. Nunca tive chance de viver em uma cidade pequena como esta, onde todos trabalham juntos por algum objetivo comum. Posso entender por que você ama este lugar. Tudo aqui é exatamente o que eu sempre imaginei em um lar.

Cal a fitou surpreso. Não conseguia imaginá-la vivendo ali, longe das facilidades de uma cidade grande.

— Estou honrado que você tenha a chance de conhecer Amity, Senhorita Darby — ele disse, quebrando o silêncio.

Para Emma Darby, tudo aquilo não passava de uma aventura, pensou ele com uma ponta de tristeza.

Em breve, ela iria embora e as ruas silenciosas e os campos cultivados não passariam de uma lembrança.

Porém, depois que os executivos de Hollywood chegassem e transformasse seu pequeno Paraíso em uma ilha de fascínio e glamour, ela não estaria lá para viver as conseqüências.

O problema era que aquela mulher era irresistível! Cal admitiu, inquietando-se na cadeira. E, mesmo que o sossego e a tranqüili­dade de Amity estivessem com os dias contados, estava disposto a ajudá-la a encontrar a locação ideal para o filme apenas para estar ao lado dela por mais tempo.



Capítulo 4
Passava das duas horas da tarde quando saíram do restaurante, e Emma se deteve para procurar os óculos escuros na bolsa, sem perceber que Cal continuava caminhando pela calçada.

— Ei, você não se esqueceu de nada? — gritou ela, pensando para si que sua sina era correr atrás daquele homem.

— Desculpe — Ele parou e se voltou — Estava distraído com meus pensamentos.

Emma não respondeu, mas ficou intrigada com o que ele deveria estar pensando. Quando descrevera sua infância, o humor de Cal havia mudado. O brilho de provocação nos olhos castanhos havia subitamente desaparecido, dando lugar a uma expressão séria e interessada.

Ela alcançou-o, suspirando fundo. Talvez estivesse apenas exa­gerando. Não queria se preocupar com o que Cal pensava sobre sua infância, sua vida, seu trabalho ou qualquer coisa que dissesse respeito a ela.

— Onde está o Mustang? — indagou acomodando-se no assento da picape.

— Deixei na garagem. A caminhonete é mais adequada para rodar em estradas esburacadas.

— Oh. Então, isso quer dizer que vamos sair da cidade — Emma resmungou, voltando-se para ele — E para onde exatamente você está me levando? Ainda preciso explorar melhor o vilarejo, e há muitos.

— Você terá muitos dias para isso — foi a resposta seca en­quanto ele girava a chave na ignição — Achei que seria uma boa idéia mostrar as imediações de Amity.

Cal seguiu para o norte e tomou a estrada quatrocentos e de­zesseis, cantarolando uma canção em voz baixa.

— O ar daqui é maravilhoso! — Emma colocou a cabeça para fora da janela, deixando o vento esvoaçar seus cabelos — E in­crível respirar este ar tão puro. Você não imagina como é o cheiro do metrô.

— Realmente, não faço a menor idéia. Como é?

— Eu não ousaria descrevê-lo. Nova York está impregnada de odores, e na maioria das vezes, não são nada agradáveis. Para mim, está sendo uma experiência maravilhosa sentir a ausência de chei­ros — ela terminou com uma risada — Adoro Nova York, mas meu nariz prefere Wyoming.

Cal riu diante do comentário espirituoso, observando-a de sos­laio. Ela possuía o perfil mais adorável que ele já vira, e os cabelos agitando-se ao vento emprestavam-lhe uma encantadora aura de magia. Refreando violentamente o impulso de estacionar a caminhonete e fazer amor com ela ali mesmo, ele se esforçou para prestar atenção na estrada.

Alheia às emoções do homem ao seu lado, Emma perdeu os olhos no cenário pitoresco a sua frente, imaginando a tomada perfeita para o filme. A amplidão do céu aberto dava a sensação de estar em outro planeta. A estrada linear cortava os campos de terra avermelhada, e o céu mais parecia uma cortina azul perdendo-se no horizonte. De quando em quando, um pequeno grupo de casas isoladas quebrava a monotonia da paisagem. O silêncio era que­brado apenas por bandos de pássaros cortando o céu. Emma não podia se imaginar vivendo ali, onde o vizinho mais próximo ficava a quilômetros de distância.

— Diferente, não é?

— O quê? — Ela voltou-se para Cal, que sorria discretamente.

— Eu estou encantada com a paisagem. Há muito espaço e tão poucas pessoas para fazer uso dele.

— O que você quer dizer com "fazer uso"? — Ele voltou o rosto, erguendo as sobrancelhas.

— Oh, é apenas uma figura de linguagem — Emma explicou com firmeza ao perceber que poderia ser mal interpretada — Não foi uma crítica.

— Claro — ele disse em tom afetado — Sei que você quis dizer que, em Wyoming, a terra não é bem aproveitada. Suponho que, para você, somente em Nova York os moradores saibam tirar vantagem da terra, não é?

— Não é nada disso! — ela quase gritou, contendo a fúria — Você está distorcendo minhas palavras. Fiz um simples comentá­rio sobre este lugar, que é muito mais bonito do que imaginei.

— Então, imaginou que o condado de Wyoming fosse uma aberração?

Emma sentiu o sangue ferver em suas veias. Porém, não estava disposta a discutir. Sabia que estava pisando em terreno delicado ao mencionar qualquer coisa sobre a amada terra natal dele, e a menor insinuação que sugerisse uma crítica poderia ofendê-lo.

— Há algo que eu possa dizer que não o ofenda? — indagou por fim, tentando se acalmar — Ouça, eu estudei Geografia no colégio para saber que não deveria esperar por uma paisagem verdejante, prédios ou pessoas. Acontece que o contraste de Amity com Nova York é gritante.

— Oh. Por um momento, cheguei a pensar que você houvesse sugerido que aproveitamos mal a terra.

Emma não retrucou, mesmo percebendo o tom de ironia implí­cito no comentário.

— As pessoas vivem em Wyoming exatamente porque gostam da tranqüilidade e do espaço — Ele manteve os olhos fixos na estrada, mas não pode evitar a carga de emoção que transparecia em suas palavras — Aqui é o tipo de lugar onde nada muda ra­pidamente, onde a família significa mais do que qualquer outra coisa e os vizinhos se conhecem e sabem que podem contar uns com os outros. E mesmo que alguém se julgue dono da terra, na verdade sabe que ela tem suas próprias regras. Não é fácil viver aqui, especialmente para quem depende da colheita. Sei que é um estilo de vida que tende a desaparecer, mas farei o que for possível para manter as tradições. Entende o que quero dizer?

— Sim.

Emma voltou-se para admirar a paisagem. O que poderia dizer diante daquela declaração passional? Cal deixara claro que não pretendia promover mudanças no vilarejo, e ela sabia que se en­contrasse a locação perfeita para o filme, Amity nunca mais seria a mesma. Porém, sua vida e seu futuro estavam em jogo, e não seriam as ameaças veladas de um homem que ela conhecera há poucas horas que a fariam desistir!



Por volta das cinco horas da tarde, haviam percorrido quase todo o perímetro do condado, visitando pequenos vilarejos e al­gumas fazendas, sem encontrarem nada que pudesse satisfazer aos propósitos de Emma.

Cal parou em um posto de gasolina na estrada para Cody, e ela se apressou a procurar um toalete enquanto ele detinha-se no bal­cão para comprar refrigerantes.

— Para aonde vamos agora? — indagou depois de voltar do único banheiro que o posto oferecia.

— Gostaria de mostrar apenas mais um lugar, mas estaremos na cidade a tempo para jantar.

Ele seguiu pela estrada estreita e esburacada, afastando-se cada vez mais da pequena cidade.

— Agora entendo porque você não saiu com o Mustang — Emma comentou, enquanto a picape seguia aos trancos.

Cal limitou-se a sorrir, sem se importar em desviar dos buracos da estrada.

— Não entendo nada de carros, mas essa estrada não deve se nada boa para a suspensão da picape — ela comentou depois de passarem por um buraco que a fez pular do banco.

— Esta é a razão por ter comprado a caminhonete. Divertido, não é?

— Oh, muito! — ela respondeu, apertando no colo a maleta com a câmera fotográfica — Estou me sentindo em um verdadeiro rali!

— E uma pena que a diversão tenha terminado. Já chegamos — E ele desligou o veículo, apontando pela janela — O que você acha?

Emma vislumbrou o campo para além da cerca de arame e avis­tou ao longe um pequeno bosque.

— Bem, um pouco de verde certamente me faz sentir em casa.

— Não me refiro ao bosque — Ele abriu a porta e saltou do carro — Venha. Você não tem medo de cobras, não é?

Emma arregalou os, relutante em descer.

— Vamos, garota de Manhattan!

Emma não teve alternativa a não ser segui-lo, tentando ser o mais cautelosa possível e sem desgrudar os olhos do chão.

— Está vendo?— ele anunciou, apontando para além das copas das árvores.

Ela deteve-se e avistou uma casa que deveria ter cem anos de existência, com o telhado parcialmente destruído. Ao lado dela, havia um enorme celeiro de madeira desgastado pelo tempo. O sol do entardecer emprestava uma luz dourada ao cenário perfeito de um cartão postal. Ou para a tomada de um filme.

— Oh, é maravilhoso! De quem é este lugar?

— Este é o velho rancho da família Callan — ele disse, colo­cando as mãos nos ombros dela e fazendo-a sentir um arrepio percorrer sua espinha — Seria perfeito para o filme, não acha?

— Perfeito! — ela murmurou com ar sonhador — Ele está abandonado?

— Sim. O último membro da família foi embora na década de setenta e a casa está vazia desde então. Na verdade, aconteceu uma tragédia aqui. A caçula da família, Molly, morreu em uma queda do telhado quando brincava com o irmão.

Cal estendeu a mão para descerem um barranco que dava acesso ao jardim da frente.

— Há muitos anos eu não venho para cá — ele comentou, detendo-se no jardim tomado pelo mato.

— Você costuma vir aqui?

— Sim, quando eu estava na universidade. Olhe ao redor, Emma — Cal fez fazendo um gesto amplo em direção a casa — Um velho casarão abandonado, isolado dos vizinhos. Era o lugar de encontro preferido dos universitários.

— Humm. Você se refere àquelas festas em que todos termi­navam na delegacia?

— Exatamente! — Ele riu com vontade, mas Emma percebeu um brilho de nostalgia nos olhos castanhos — Na verdade, essa havia se tornado nossa rotina. E Caroline sempre estava presente em tais ocasiões.

— É mesmo? E o que seus pais diziam?

— Perdi meu pai quando eu tinha doze anos, e mamãe... — Cal suspirou, resignado — Bem, ela nunca gostou de Amity. Depois de ficar viúva, passava a maior parte do tempo na Califórnia. Na verdade, quem cuidou de mim durante toda minha adolescência foi tio Frank.

Emma meneou a cabeça, refletindo para si que havia ao menos um aspecto em comum entre eles, a ausência da mãe, embora ela não pudesse se queixar de seu pai.

— Tio Frank era o xerife naquela ocasião, e costumava mandar seu assistente para acabar com nossa festa. E o mais engraçado era que Beau tinha a mesma idade que nós! — Ele riu e puxou-a pela mão — Vamos, venha ver de perto.

De súbito, Emma formou a imagem do rapaz que ele fora. Re­belde, independente e aventureiro e, na certa, deveria ter sempre uma garota ao seu lado. Tal pensamento provocou-lhe um incom­preensível incômodo, mas reprimiu a sensação, negando-se a ad­mitir que pudesse estar com ciúme.

Ao chegarem à casa, ele subiu os degraus da varanda, acenando para que ela o seguisse.

— Este lugar é seguro?

— Não tema, garota de Manhattan — provocou — Não vou deixar o bicho papão comer você.

— Muito engraçado — ironizou ela, subindo os degraus com cuidado enquanto ele abria a porta da frente.

— Parece que a casa não está tão abandonada assim — Cal apontou para as cinzas na lareira, latas de cerveja vazias e pontas de cigarro.

A um canto da sala permaneciam os vestígios do que pareceria ter sido um banquete.

Emma olhou ao redor, admirada com a beleza da arquitetura do casarão. Era uma genuína construção da época vitoriana, exa­tamente o que procurava para ambientar o filme. Um bom trabalho de restauração e limpeza bastava para transformá-la em um magnífico imóvel. Ela seguiu Cal para a cozinha, espirrando com a nuvem de pó que subia do assoalho a cada passo que dava. A pintura das paredes estava descascada em diversos pontos e cor­tinas de teia de aranha pendiam do teto.

Ela fechou os olhos e, por um segundo, imaginou as vozes de crianças correndo pela escada, o som de uma risada cozinha, o aroma apetitoso de um guisado fumegante para o jantar.

— Emma?

Ela se voltou e deparou-se com os olhos castanhos fitando-a profundamente.



— Eu estava imaginando como teria sido esta casa quando era um lar — Ela entrou na cozinha vazia e olhou ao redor — Crian­ças brincando na escada, a mãe preparando o jantar, o pai sentado na cadeira de balanço ao lado da lareira, com um cachorro dormindo no tapete a seus pés. Deve ter sido maravilhoso!

Cal hesitou por alguns segundos e então aproximou um passo. As costas de Emma, um raio de luz vindo da janela quebrada re­fletia-se nos olhos aveludados, mas havia algo profundo e miste­rioso no brilho daquele olhar. O silêncio que os envolvia parecia transportá-los para um lugar mágico, distante do mundo.

— Deve ter sido maravilhoso — a voz grave e profunda preen­cheu o silêncio — E poderá ser novamente.

Emma percebeu que não estava respirando. Ele estava tão perto que podia aspirar ao hálito doce e quente. De súbito, um calafrio a percorreu ao tomar consciência de que estavam sozinhos.

Ao sentir as mãos de Cal em seus ombros, puxando-a para mais perto, a única reação que conseguiu esboçar foi inclinar a cabeça e entreabrir os lábios. No instante seguinte, sua boca foi capturada com sofreguidão, com uma urgência que não podia mais ser adiada.

Naquele momento, Emma soube que encontrara seu lar. Dei­xando-se envolver pelo contato quente do corpo poderoso, ela sen­tiu que havia nascido para aquele homem. Ao deslizar as mãos pelos músculos firmes das costas largas, pareceu-lhe que não havia nada mais natural a fazer. De súbito, aquele era o único lugar onde ela queria estar.

A língua experiente contornava seus lábios, com a necessidade imperiosa de possuir a boca sedenta pelo beijo.

Emma não protes­tou quando os botões de sua blusa foram abertos por dedos ávidos.

Seu cérebro tentava desesperadamente pensar de forma lógica, mas seu corpo reagia como se tivesse vida própria. Nunca se sentira hipnotizada daquela forma. O desejo selvagem que a invadiu eli­minou o último vestígio de razão, e não se importaria nem mesmo se um urso furioso invadisse a casa.

— Emma — Cal murmurou, acariciando com gentileza os seios arredondados.

Ela abriu os olhos, confusa com a explosão de desejo que per­correu seu corpo, fazendo com que sua sensualidade transbordasse.

— Cal? Você está aí?

O inesperado chamado vindo da sala transportou-os de volta à realidade. Cal afastou-se de súbito, como se tivesse levado um choque, enquanto ela se pôs a abotoar freneticamente a blusa.

— Cal? Sou eu, Beau.

— Beau, o que você está fazendo aqui?

Ofegante, Cal passou os dedos pelos cabelos, tentando se re­compor.

— Estamos tentando encontrá-lo a tarde toda — a voz profunda ecoou da sala — Walter Bucley está na ambulância a caminho do hospital. Os paramédicos acham que ele teve um enfarte.

— Oh, não! — Ele seguiu para a sala com passos rápidos — Esqueci meu bipe no consultório!

— Sinto interrompê-lo, mas falei com Frank e ele pediu que eu o encontrasse. Via picape na estrada e imaginei que você tivesse vindo para cá.

Um jovem alto, com o rosto corado, sorriu timidamente para Emma ao vê-la entrar.

— Desculpe por atrapalhar, Senhorita Darby.

— Você não está atrapalhando nada — ela assegurou esten­dendo a mão para cumprimentá-lo.

— Beau é Delegado em Amity — Cal anunciou.

Ela percebeu que ambos a fitavam e deu uma risada nervosa.

— Bem, suponho que temos de ir embora o mais rápido possí­vel, não é?

— É verdade — Cal tocou sugestivamente no ombro de Beau.

— Vamos sair em um minuto.

— Oh, sim! — o Delegado exclamou com um sorriso cúmplice.

— Espero por vocês lá fora.

— Emma, eu sinto muito — Cal disse assim que Beau fechou a porta atrás de si.

Ele se calou, e permaneceram olhando um para outro em silên­cio, enquanto ela tentava controlar o impulso irresistível de tocá-lo mais uma vez. Porém, no instante seguinte, seu cérebro pareceu voltar à vida, e uma dúvida cruel a assaltou.

Ele teria se desculpado por beijá-la, ou por terem sido interrompidos?

Porém, não pode pensar a respeito, pois mãos firmes tocaram seus ombros enquanto os lábios macios pousaram um beijo em sua testa.

— Emma tenho de ir, mas gostaria de vê-la mais tarde. Sinto muito pela interrupção e, acredite, eu não a trouxe aqui com se­gundas intenções. Não totalmente, ao menos.

Emma riu, e a tensão dos últimos minutos se evaporou.

— Talvez eu precise ficar com Walter e não possa vê-la hoje à noite, mas ligarei amanhã logo pela manhã.

Ele indicou a porta com um gesto e saíram em silêncio.

— Por favor, Beau, leve a Senhorita Darby para a cidade e diga a Frank que ligarei mais tarde.

A caminhonete sumiu na poeira da estrada enquanto a noite caía, e só então Emma percebeu que havia deixado a maleta com a câmera e seu equipamento de trabalho no banco de passageiros.

Beau insistiu em oferecer o jantar, uma farta refeição com costeletas, milho assado e salada de batatas.

— Cortesia do posto policial, Senhorita Darby — disse ele com um sorriso orgulhoso, observando enquanto ela comia.

— Emma, por favor — ela disse, fitando o rosto jovial e sim­pático do oficial a sua frente — Vamos deixar as formalidades de lado, Beau.

— Está bem, Emma. Gostaria de tomar mais um copo de cerveja?

— Claro — respondeu ela, estendendo o copo para que ele o enchesse.

A refeição estava mesmo deliciosa, ou teria sido o beijo de Cal que aguçara todos os seus sentidos? Ela pensou com um sorriso secreto enquanto servia-se de mais uma espiga de milho.

Beau era um rapaz simpático e descontraído, e ela se divertiu ao ouvi-lo contar alguns fatos recentes sobre a cidade.

— Obrigada pelo jantar, Beau — ela agradeceu quando ele estacionou o carro diante do motel, minutos mais tarde.

— Foi um prazer, Senhorita Dar... Quero dizer, Emma. Sabe, Cal é um de meus melhores amigos. Nós nos conhecemos bem o bas­tante para sabermos o que o outro está sentindo sem precisarmos trocar uma só palavra.

Ela entendeu a mensagem implícita e sorriu. Era óbvio que ele havia percebido o que acontecera no casarão.

— Espero que possa ser sua amiga também, Beau — ela disse ao sair do carro, despedindo-se com um aceno.

Ao entrar em seu quarto, Emma sentou-se na cama e cruzou as pernas em posição de lótus. Ainda podia sentir a doçura dos lábios de Cal, e sabia que aquele beijo permaneceria vivido em sua lem­brança por toda a eternidade.

Claro, não seria um simples beijo que a faria ficar eternamente apaixonada por aquele homem! Afinal, era uma mulher crescida, e um relacionamento com Cal seria impossível. Ele amava aquela cidade e ela voltaria para Nova York em quatro dias. Mas nada a impedia de usufruir a companhia dele nos dias que restavam.

Emma caiu sobre a pilha de travesseiros e abriu os braços, con­tendo o impulso de gritar de alegria.

Tudo parecia estar dando certo. Emma exultou ao pensar que encontrara locação ideal para o filme. A velha casa era fascinante, e pretendia voltar no dia seguinte para tirar mais fotografias. Não tivera chance de conhecê-la melhor, mas estava quase certa de que ficaria perfeita depois de ser restaurada. Além disso, o espaço ex­terno e o celeiro eram perfeitos. Com um bom investimento, seriam suficientes para abrigar os trailers e equipamentos. Não seria difícil construir outros sets com um sallon, um armazém e até mesmo uma cadeia, como nos filmes de faroeste.

Emma apanhou o telefone, ansiosa para compartilhar as novi­dades com alguém. Ela olhou para o relógio no pulso. Passava das oito e meia, o que significava que eram dez e meia da noite em Manhattan, muito tarde para ligar para Rusty. Porém, na Califór­nia, era apenas sete e meia, e seu pai provavelmente ainda não saíra para trabalhar. Discou o número do apartamento do pai e, depois de um longo tempo de espera, ouviu a voz melodiosa do outro lado da linha.

— Papai?


— É minha Emma? Como vai, doçura?

— Estou ótima!

— Onde você está?

— Em Amity, um pequeno vilarejo no condado de Wyoming, perto da fronteira de Montana. Estou pesquisando locações para um filme.

— E?

— E o quê, papai?



— Já encontrou um caubói?

— Papai, estou aqui há apenas um dia! — Ela riu e meneou a cabeça.

Não importava o que dissesse seu pai sempre parecia adivinhar seu pensamento.

— Conheço esse tom de voz, querida. Você sempre fala assim quando conhece alguém interessante.

— Você ouviu quando eu disse que estava aqui pesquisando locações?

— Ninguém conhece melhor uma mulher do que seu próprio pai, Em. E então, como ele é?

Ela hesitou por segundo e então se pôs a falar, descrevendo todos os detalhes do que acontecera desde o momento em que encontrara Cal na estrada até a insistência dele em mostrar a cidade, omitindo apenas o beijo que havia trocado no casarão antigo.

Ao desligar, ela agradeceu secretamente por seu pai ter sido discreto o bastante para não mencionar nada, mesmo tendo certeza de que ele percebera sua excitação ao falar de Cal.

Depois de um banho relaxante, Emma se deitou e ligou a tele­visão, percorrendo os canais aleatoriamente sem conseguir fixar a atenção. Estava tão feliz que se sentia flutuar, e adormeceu com um sorriso nos lábios, imaginando como seria o próximo encontro com o homem de seus sonhos.


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