Por que uma idéia de dois mil e quinhentos anos atrás pareceria hoje mais relevante do que nunca? Como os ensinamentos do Buda podem nos ajudar a resolver muitos problemas do mundo



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Um dia antes de sair de Bodh Gaya, Shantum levou nosso grupo para as cavernas Mahakala, onde Siddhartha tinha meditado -semanas? meses? anos? - enquanto maltratava seu corpo antes de chegar à figueira religiosa. (Em sânscrito, Mahakala é uma divindade violenta que protege os praticantes em sua jornada para a iluminação, um demônio poderoso que conquistou até os maiores deuses através de um benefício especial do deus supremo Brahma. Ele foi subjugado pelos bodhisattvas Manjushri e Avalo-kiteshvara e passou a dedicar seus poderes a serviço do dharma.)

Andamos pelo leito quase todo seco do rio Neranjara num dia muito quente, depois em fila indiana pelas trilhas que separavam as plantações de arroz que se espalhavam ao longo do horizonte nevoento. Siddhartha teria caminhado por ali também, provavelmente ignorando a beleza rústica enquanto lutava contra a fome, a sede e qualquer prazer. Era difícil aceitar que aquele lugar continua o mesmo visual, cultural e economicamente há 2.500 anos. Tendo crescido no subúrbio de Nova Jersey no final da década de 1950 e início da de 1960, achava aquele conceito incrível. Estava acostumado com a paisagem de novos prédios e centros comerciais que se modificavam toda vez que passeava com a minha bicicleta Schwínn pelo bairro.

Caminhando por aquela região agrícola extremamente pobre com aquele grupo — as mulheres protegiam a pele clara com chapéus de abas largas de Neiman Marcus, os homens empunhavam suas câmeras Nikon -, eu podia jurar que haveria uma placa de néon pendendo sobre as nossas cabeças piscando "Americanos ricos aqui!". Para mim parecíamos tão conspícuos quanto uma fila de Rockettes dançando pelos campos de arroz. Fiquei mais para trás do grupo, como se isso pudesse ocultar a minha filiação com eles, mas não adiantou. Os indianos corriam para nós como moscas em bosta de búfalos. "Baksheesh, sahib!", gemiam, esticando as mãos agressivamente, com as palmas viradas para cima, na nossa cara, aquela mudra — gestos simbólicos associados aos budas — conhecida universalmente como o sinal de pedintes de rua.



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Esses norte-americanos nunca haviam visto nada parecido e ficaram profundamente afetados. Seus corações caridosos sangraram. Eles se sentiram culpados daquela disparidade entre o quanto eles tinham e quão pouco tinham aquelas pessoas. Eu tinha viajado pelos países do Terceiro Mundo - especialmente a índia, onde a insistência e a persistência dos mendigos não tinha igual -, por isso sabia como criar um muro de indiferença aparente, quase hostilidade, sem deixar que aquilo me afetasse muito, apesar de a pontada de culpa atingir até mesmo os mais duros corações de pedra. Quando chegamos à colina que levava às cavernas, algumas mulheres já tinham estabelecido relações quase familiares com crianças que nunca esmoreciam em seus apelos por dinheiro, prendedores de cabelo, balas, lenços, qualquer coisa.

Chegamos então às duas pequenas cavernas. Sentamos formando um semicírculo do lado de fora de uma, e Shantum contou histórias sobre o que tinha acontecido ali. Sentei ao lado dele, com meu gravador apoiado no braço, a melhor maneira de captar sua voz em meio ao barulho dos cânticos dos peregrinos à nossa volta. Procurei ficar sentado ali da forma mais discreta possível, sem chamar atenção e sem distrair os outros da experiência espiritual pela qual tinham pago regiamente. Já tinham me dito que eles debateram a minha participação na excursão. Se poderiam se sentir inibidos de falar livremente, sabendo que poderiam ser citados na revista? Se eu dominaria a situação com minhas perguntas constantes? Por experiência própria sei que as pessoas têm problemas com a abordagem da mídia e costumam evitar isso. Querem a publicidade; não querem a publicidade. Querem a notoriedade, mas não querem ser retratadas de outra forma qualquer, senão sob uma luz elogiosa. E há também o fato de que se alguém vai ser citado, que sejam elas. Tudo se resume ao... surpresa, surpresa... ego. Apenas uma pessoa se aproximou de mim e disse que em nenhuma circunstância queria ser entrevistada ou citada.

Depois, em pequenos grupos, sentamos dentro da caverna. Lá fora há lembranças da modernidade, alguma infra-estrutura de cimento, os degraus para as cavernas, o templo dos tibetanos, lojas de chá e de lembranças por perto. Mas lá dentro... bem, uma coisa

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