Sam bourne o código dos justos


SETE TERÇA-FEIRA, 10H21, ESTADO DE WASHINGTON



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SETE
TERÇA-FEIRA, 10H21, ESTADO DE WASHINGTON
E eu vos mostrei, Jesus Cristo éaluzeo caminho.

Vimos um mila­gre hoje...
A rádio cristã, junto com a música country, era algo com que se podia contar sempre: mesmo nos lugares mais remotos, onde não havia ou­tras estações, sempre seria privilegiado com a palavra do Evangelho, transmitida pelos ares. Nos desfiladeiros montanhosos do estado de Washington não era diferente.

Will percebeu que se aproximava do local da enchente. As estradas foram ficando engarrafadas e logo ele começou a ver as luzes das equi­pes de emergência piscando. Depois, aquilo que mais comprovava tudo, a frota de caminhões brancos munidos de antenas: a TV local, confir­mação de que chegara ao local da matéria.

Grudou num fotógrafo que parecia saber o que fazia. Pelo menos, tinha todo o equipamento certo. Não apenas o colete oficial de fotógrafo, com bolsos suficientes para guardar as posses de uma família, mas botas de canos altos até as coxas, calça impermeável, meias e luvas para frio polar que pareciam desenhadas sob medida pela Nasa.

Will avançou atrás dele chapinhando na água gelada da enchente, consciente do frio que lhe subia pelas pernas das calças. Pouco depois, pegaram carona num bote inflável da polícia e foram transportados de casa em casa, todas submersas. Viu uma mulher içada para a seguran­ça trazendo seu bem mais valioso: seu gato. Outro homem soluçava, em pé, diante da fachada de sua loja, vendo o investimento de toda uma vida levado pela água como folhas na sarjeta.

Algumas horas depois, Will estava de volta ao carro alugado, encharcado e curvado sobre o teclado. "A população da região Noroeste está acostumada ao gênio instável da natureza — mas essa última mu­dança de humor a deixou abalada", começou, antes de relatar os infor­túnios individuais. Duas citações do corpo de oficiais e uma bela frase conclusiva sobre a inconstância do clima, proferida pelo homem que perdera a papelaria, e Will pôs o ponto final.

Assim que voltou ao quarto de hotel, telefonou para Beth. Ela já se deitara e falava então sobre seu dia; ele lhe contou toda a história de sua encharcada jornada pelas terras inundadas. Os dois estavam exaustos demais para recomeçar a conversa que nunca haviam realmente concluído.

Ele passou os olhos pelos noticiários locais: imagens das enchentes de Snohomish; reconheceu alguns rostos. Comoveu-se com o repórter que fazia a tomada ao vivo: isso significava que ele continuava lá.

"A seguir, mais detalhes sobre o assassinato de Pat Baxter. Após essas mensagens."

Will voltou para o computador, prestando pouca atenção às pala­vras que saíam da TV.
A vítima, 55 anos, encontrada morta e sozinha em sua cabana... a polí­cia suspeita de arrombamento... muito estrago, mas nada roubado... Baxter vinha sendo mantido sob vigilância durante anos... foi conside­rado suspeito no caso do Unabomber... não tem família nem parentes...
Will virou-se. Uma palavra saltara. Procurou "Unabomber" no Google e obteve um curso de atualização instantâneo sobre o bizarro caso que ludibriara o FBI por duas décadas. Alguém enviara bombas pelo correio para endereços empresariais na Costa Leste, deixando uma trilha de pistas obscuras. Por fim, o culpado distribuíra um "manifes­to", um tratado quase acadêmico, que parecia ser obra de um homem solitário com uma profunda aversão por tecnologia. Também parecia nutrir esse mesmo e profundo sentimento pelo governo. Havia uma ma­téria no site do Seattle Times que acabara de ser postada.
Aquele sentimento colocava o Unabomber em sintonia com todo um movimento da década de 1990, do qual o falecido Pat Baxter foi uma peça confiável. Pois essa era a época das milícias armadas — america­nos que se armavam contra o que julgavam que fosse uma iminente cha­cina pelo governo dos EUA. Acabaram se espalhando por todos os Estados Unidos, mas começaram no Noroeste americano.
Will pesquisou o arquivo on-line do New York Times. Impressiona­ram-no as primeiras matérias que apareceram: muito favoráveis, des­crevendo os homens da milícia como "soldados de fim de semana", estudantes gordos, muito altos, extravasando sua raiva com empáfia em jogos de guerra. Mas logo o tom mudou.

O impasse de 1992 em Ruby Ridge, onde um branco perdeu mu­lher e filho num tiroteio com agentes federais, como o cerco em Waco, Texas, um ano depois, revelava um mundo do qual a maioria dos ame­ricanos — e certamente aqueles nas redações em Nova York — jamais ouvira falar. Viam Washington como o centro de uma nova e obscura ordem mundial, personificada pelas odiadas Nações Unidas, determinadas a escravizar pessoas livres em toda parte. De que outro modo explicar os misteriosos helicópteros pretos pairando sobre as áreas ru­rais do país? Que outro sentido poderia haver nos números no verso das placas de sinalização rodoviárias; seriam coordenadas codificadas que ajudariam um dia o exército dos EUA a arrebanhar os concidadãos para campos de concentração?

Quanto mais lia, mais fascinado Will ficava. Aqueles guerreiros ci­vis acreditavam nas mais loucas teorias — sobre maçonaria, o Banco Central Americano, mensagens codificadas nas notas de dólar, ligações misteriosas com bancos europeus. Alguns deles tinham tanta certeza de que os burocratas cruéis e violentamente opressivos do governo federal estavam a fim de pegá-los que haviam se retirado para as monta­nhas, escondendo-se em cabanas nos mais remotos lugares de Idaho ou nas florestas de Montana. Haviam rompido as ligações com o go­verno de todas as formas: não tinham carteira de motorista e recusa­vam-se a assinar qualquer documento oficial. Alguns se desligaram, literalmente, da rede elétrica — gerando sua própria energia, em vez de viver do sistema elétrico nacional.

E não queriam cooperar. No segundo aniversário da conflagração em Waco, o prédio federal Alfred P. Murrah, na cidade de Oklahoma, despedaçou-se, transformando-se em poeira, depois da explosão de um poderoso carro-bomba, matando 169 pessoas. Constatou-se que os cul­pados não eram extremistas islâmicos, mas rapazes americanos típicos, com aversão ao seu próprio governo.

O Seattle Times tinha uma imagem de arquivo de Baxter numa ma­nifestação em Montana, em 1994. Só que parecia mais uma feira comer­cial, com estandes onde os expositores mostravam suas mercadorias. Baxter foi fotografado tomando conta de uma barraca que vendia re­feições instantâneas no estilo militar. Aparentemente, atuava no ramo de comidas desidratadas, barracas portáteis e coisas do gênero: artigos de sobrevivência que manteriam o americano amante da liberdade ali­mentado e abrigado durante o confronto que se aproximava. No remoto mundo do movimento antigovernamental, Baxter era, senão uma cele­bridade, um membro atuante.
Ele foi um grande patriota, e sua morte é um terrível golpe para todos os que amam a liberdade — disse Bob Hill, um auto-intitulado coman­dante da milícia de Montana.


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