Sam bourne o código dos justos


TREZE SEXTA-FEIRA, 14H14, BROOKLYN



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TREZE
SEXTA-FEIRA, 14H14, BROOKLYN
— Só pode ser um blefe.

  • Pai, você já repetiu isso três vezes. Mas diga, o que acha que devemos fazer? Oferecer dinheiro mesmo assim? Que diabos deve­mos fazer?

  • Will, eu não o culpo de forma alguma, mas acho que você preci­sa se acalmar. Se quisermos ter a Beth de volta, precisamos pensar com o máximo de clareza possível.

O "se" calou-o na hora.

Estavam no apartamento de Will e Beth. Nenhum sinal de arrom­bamento; tudo como ele vira pela última vez. Só que agora um frio parecia emanar das paredes e do teto: a ausência de Beth.

— Vamos examinar a fundo tudo o que sabemos. Sabemos que a primeira exigência deles é que a polícia não seja envolvida: disse­ram isso na primeira mensagem. Também sabemos que eles dizem não se tratar de dinheiro. Mas se não se trata de resgate, por que mais teriam tanta preocupação em manter a polícia fora do caso? Devem estar blefando. Vamos pensar sobre seu endereço de e-mail. Quantas pessoas o conhecem?

— Todo mundo! É o mesmo padrão para todo o pessoal do Times. Qualquer um poderia descobri-lo.

Tocou um telefone; Will saltou para o dele, apertando freneticamente os botões, mas o telefone continuou tocando. Com toda a calma, o pai respondeu ao seu próprio telefone. Nada a ver com o caso, articulou si­lenciosamente, desaparecendo em outro aposento para uma conversa sussurrada.

O pai provava não ser de muita serventia nesse caso. A ajuda que oferecia não era lá muito máscula, mais prática que emocional, e mes­mo assim não chegava a lugar algum. De repente Will se deu conta de como sentia falta da mãe. Desde que conhecera Beth, esse sentimento tornara-se cada vez mais raro: a mulher era agora sua confidente. Mas por muito tempo esse papel fora da mãe.

Na Inglaterra, haviam sido uma equipe, unidos pelo que ele agora subitamente via como a solidão dos dois. Na versão da história da mãe, pelo menos, ambos tinham sido abandonados pelo pai, que deixara os dois se virarem sozinhos. Sabia que existiam versões alternativas, não que o pai demonstrasse demasiada pressa em contar a dele. O destino do casamento de seus pais era um eterno quebra-cabeça para Will Monroe. Nunca tivera completa certeza do que acontecera.

Uma versão dizia que o Sr. Monroe preferira a carreira à família; o excesso de trabalho arruinara o jovem casamento. Outra teoria cita­va a geografia: a mulher desesperada para voltar para a Inglaterra, o marido decidido a seguir carreira na Justiça dos EUA e recusando-se a deixar o país. A avó materna de Will, uma senhora de Hampshire, de cabelos grisalhos e com uma expressão severa que assustou o me­nino quando a viu pela primeira vez, e por vários anos depois, certa vez falara com tristeza da "outra grande paixão" na vida do pai. Quan­do tinha idade suficiente para querer saber mais, a avó deu de om­bros. Até hoje ele não sabia se essa "grande paixão" era outra mulher ou a lei.

As lembranças do próprio Will pouca ajuda ofereciam; ele mal ti­nha 7 anos quando os pais começaram a afastar-se um do outro. Lem­brava o clima, a tristeza que se abatera após a saída tempestuosa do pai, batendo a porta com força. Ou o choque de encontrar a mãe, de rosto vermelho e rouca depois de outra violenta discussão. Uma vez acordara e ouvira o pai implorando:

— Eu só quero fazer o que é certo.

Will levantara-se da cama nas pontas dos pés para encontrar um lugar onde pudesse observá-los sem ser visto. Não conseguiu enten­der as palavras que diziam, mas sentiu sua força. Foi naquele momento, ouvindo a mãe britânica e o pai americano a todo volume, que o meni­no de 7 anos desenvolveu uma teoria: sua mamãe e seu papai não po­diam amar um ao outro, pois tinham vozes diferentes.

Assim que chegaram de volta à Inglaterra, a mãe deu-lhe poucas pistas quanto ao que os levara para lá. Até mesmo trazer o assunto à baila transformava-a numa mulher bombástica, ressentida, que ele mal reconhecia e de quem não gostava. Ela resmungava que o marido se tornara "um homem diferente, totalmente diferente". Lembrava-se de um Natal, a mãe falando de um jeito que o assustara; ele não devia ter mais de 13 anos. O detalhe apagara-se agora, mas uma palavra ainda ressoava aos seus ouvidos. Era tudo culpa "dele", ela não parava de dizer; "ele" mudara tudo. A entonação deixava claro que esse "ele" era uma terceira parte, não seu pai, mas o filho nunca conseguiu saber quem era. A mãe vinha se comportando como uma paranóica, delirando nas ruas. Will ficou aliviado quando a tempestade passou e não teve coragem suficiente para voltar a falar no assunto.

Os amigos e a avó, aliás, apressaram-se a analisar o retorno de Will aos Estados Unidos após Oxford como uma resposta a tudo isso. Esta­va "preferindo" o pai à mãe, disseram alguns. Ele tentava reconciliar os dois à maneira de vários filhos do divórcio, pondo-se a si mesmo como uma ponte; esta era outra explicação muito estimada. Se aceitas­se qualquer teoria, o que não fez, teria sido a jornalística: Will Monroe Jr. foi para os Estados Unidos conseguir a verdadeira história que mol­dara o começo de sua vida.

Mas se fora esse o propósito de sua viagem americana, ele fracas­sara. Sabia pouco mais agora do que quando chegou, aos 22 anos. Co­nhecia melhor o pai, era verdade. Respeitava-o; era um advogado imensamente realizado, agora juiz, e parecia em essência um homem decente. Mas quanto ao grande mistério, Will não tivera grandes intui­ções. Haviam falado sobre o divórcio, claro, durante duas noites de lua cheia na varanda da casa de verão do pai em Sag Harbor. Mas não hou­vera nenhum lampejo de revelação.

— Talvez seja essa a revelação — disse Beth uma noite, quando ele retornou após uma dessas conversas de pai para filho.

Passavam um feriado prolongado do Dia do Trabalho com o pai e sua "amiga", Linda. Deitada na cama, Beth lia, à sua espera.

— Qual é a revelação?

— De que não há nenhum grande mistério. Esta é a revelação. Eram duas pessoas cujo casamento não deu certo. Isso acontece. Acontece muito. Não passa disso.

— Mas e quanto àquilo que minha mãe diz? E que minha avó dizia?


  • Talvez elas precisassem ter uma grande explicação. Talvez aju­dasse achar que alguma outra mulher o roubou...

  • Não necessariamente outra mulher — resmungou Will. — A frase foi "a outra grande paixão". Poderia ser qualquer coisa.

  • Tudo bem. O que eu quero dizer é que entendo por que uma mulher rejeitada e uma mãe muito amorosa precisam inventar uma ex­plicação maior para a partida de um marido. Do contrário, é uma rejeição, não é?

Ela ainda não era sua mulher então, apenas a namorada que ele conhecera nas "últimas semanas em Columbia. Ele freqüentava a fa­culdade de jornalismo; ela era interna do Hospital Presbiteriano de Nova York; haviam se conhecido num jogo de beisebol no parque, num fim de semana do Memorial Day, homenagem aos soldados mortos na guerra. (Ele deixara o recado na secretária eletrônica dela naquela mesma noite.) Aqueles primeiros meses estavam banhados num per­manente brilho dourado em sua mente. Sabia que a lembrança às ve­zes pregava truques assim, mas convencera-se de que o brilho era um fenômeno genuíno, externamente verificável. Os dois tinham se conhe­cido em maio, quando Nova York estava no meio de uma gloriosa pri­mavera. Os dias pareciam iluminados por âmbar; cada passeio que davam cintilava ao sol. Não eram apenas suas imaginações apaixonadas; tinha fotografias que comprovavam isso.

Will percebeu que sorria. Esse devaneio marcava a primeira vez que pensava em Beth, e não em Beth desaparecida. Motivo pelo qual lembrava agora, com o sobressalto de um homem que acorda e per­cebe que, sim, sua perna foi amputada, e não, não foi tudo um so­nho terrível.

O pai voltara para a sala e falava em entrar em contato com o pro­vedor da internet, mas Will não ouvia. Para ele, bastava. O pai não es­tava pensando direito: assim que dessem um passo como esse, corriam o risco de alertar a polícia. O provedor certamente iria dar uma olhada nos e-mails dos seqüestradores e sentir-se obrigado a notificar as auto­ridades.


  • Pai, eu preciso de algum tempo para descansar — disse, conduzindo-o delicadamente para a porta. — Preciso de algum tempo sozinho.

  • Will, está tudo muito bem, mas não tenho certeza de que des­canso seja um luxo que você possa permitir-se. Precisa usar cada mi­nuto...

O Sr. Monroe calou-se. Viu que o filho não estava disposto a nego­ciar; o olhar frio de Will ordenava que o pai saísse, apesar das palavras educadas que lhe saíam da boca.

Quando a porta se fechou, Will deu um profundo suspiro, desabou numa poltrona e fitou os pés. Não se deixou ficar assim mais que trinta segundos, antes de respirar profundamente, alongar as costas e prepa­rar-se para a próxima ação. Apesar do que acabara de dizer, não ia descansar nem ficar sozinho. Sabia exatamente o que tinha de fazer.



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