Silvia Maria de Araújo · Maria Aparecida Bridi · Benilde Lenzi Motim



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Encontro com cientistas sociais

Durkheim dá exemplos de como os sistemas educacionais expressam os valores dominantes nas sociedades de cada época. Leia e reflita sobre a afirmação destacada no trecho.



Nas cidades antigas, a educação conduzia o indivíduo a subordinar-se cegamente à coletividade. Hoje, esforça-se em fazer dele personalidade autônoma. Em Atenas, procurava-se formar espíritos delicados, prudentes, embebidos da graça e harmonia, capazes de apreciar o belo e os prazeres da pura especulação. Em Roma, a educação tornava as crianças homens de ação apaixonados pela glória militar, indiferentes às letras e às artes. Na Idade Média, ela era cristã, antes de tudo, enquanto na Renascença toma caráter mais leigo, mais literário. Nos dias de hoje [final do século XIX, início do XX], a ciência tende a ocupar o lugar da arte no processo de educação.

Glossário:



leigo: nesse contexto, relativo à esfera secular, ao meio civil, não religioso.

Fim do glossário.

DURKHEIM, Émile. A educação como processo socializador. Apud PEREIRA, Luiz; FORACCHI, Marialice (Org.). Educaçãoe sociedade. 6ª ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1973. p. 36.

Fim do complemento.

Embora os valores educacionais sejam diferentes em cada sociedade, como depreendemos do pensamento de Durkheim, é possível identificar algumas características em comum:

· a educação é um processo socializador por definição;

· cada sociedade organizada politicamente elabora, em cada época, sua própria sistematização da educação, direcionada a diferentes segmentos da população;

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· a educação implica, geralmente, a ação de adultos sobre as gerações mais novas, transmitindo-lhes conhecimentos e comportamentos compatíveis com os valores sociais estabelecidos. Nesse processo interativo e de aprendizagem estão presentes também resistências e adaptações por parte dos envolvidos;

· a mediação de conhecimentos pelo processo educativo objetiva desenvolver as capacidades cognitivas do ser humano;

· educação e escola tendem a se entrelaçar, embora a educação aconteça também na família, no trabalho e em outros ambientes de socialização.

FONTE: Joe Penney/Reuters/Latinstock

FONTE: Raquel Pacheco/Acervo da fotógrafa

LEGENDA DAS FOTOS: À esquerda, adolescentes durante aula em escola em Bamako, capital do Mali, em 2013. Na foto à direita, de 2012, crianças participam de assembleia na Escola da Ponte, em São Tomé de Negrelos, Portugal, na qual todos os alunos avaliam e planejam as atividades escolares. A educação é um fenômeno múltiplo.

Processo social que permite a inserção dos indivíduos na sociedade, a educação apresenta as características propostas por Durkheim para identificar um fato social, estudadas no Capítulo 1: generalidade, coercitividade e exterioridade. Para ele, a educação "cria um homem novo", torna a pessoa membro da sociedade, compartilhando dos valores, sentimentos, comportamentos próprios de uma cultura comum. Nesse sentido, a educação apresenta generalidade, pois existe para a coletividade como um todo. Na medida em que as maneiras de agir e sentir próprias de uma sociedade, suas normas e regras sociais são impostas pelo processo educativo, moldando as consciências individuais, a coercitividade também está presente na educação. Como os valores de uma sociedade não dependem de uma pessoa que os manifeste ou que com eles necessariamente esteja de acordo, a educação expressa essa exterioridade em relação às consciências individuais.

Mesmo na figura da instituição escola, na atualidade, reconhecemos traços dos fatos sociais de Durkheim. Ela é externa ao indivíduo: é uma realidade objetiva, um espaço físico e social para que aconteça a educação na sociedade. É geral: espera-se que todos os membros de uma sociedade passem por ela em algum momento de suas vidas. Há normas sociais e leis com a finalidade de incentivar e até mesmo coagir as famílias a colocar seus filhos na escola. No caso do Brasil, desde 2016 a obrigatoriedade vale para crianças e jovens entre 4 e 17 anos.

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Boxe complementar:



A educação na história

O ato de educar sempre existiu em sociedades humanas. Entre outras finalidades, trata-se da transmissão de conhecimento e cultura acumulados por um grupo ou sociedade a seus membros, visando à formação do ser humano. Ao longo do tempo, os diversos sistemas educacionais existentes extrapolaram a esfera doméstica e se expandiram para outras instituições, em especial a escola. Na Grécia antiga (notadamente Atenas), o modelo mais próximo do que hoje conhecemos por escola servia inicialmente apenas às classes dominantes ou a grupos específicos, como os indivíduos livres, do sexo masculino, que não executassem trabalhos braçais. Durante a Idade Média, ela praticamente se restringiu ao clero católico.

Somente após a Revolução Industrial, com o desenvolvimento do capitalismo, o fim do absolutismo e a formação do Estado laico, a escolarização foi estendida à maioria da população das grandes cidades europeias. Isso se deu tendo em vista a necessidade de formar mão de obra para as diversas funções da produção nas indústrias e para atender os ideais de cidadania inspirados no Iluminismo.

No século XX, as transformações culturais e políticas e a maior aproximação entre as nações contribuíram para ampliar a escolarização, seja pela alfabetização, seja pela expansão do Ensino Médio e Superior para preparar mão de obra qualificada, técnica e especializada e promover formação humana. Nesse sentido, uma das principais questões para as Ciências Sociais, diante da complexidade da sociedade moderna, é indagar se a escola tem ou não conseguido promover inclusão social e justiça.

LEGENDA: Miniatura persa do século XV que ilustra o poema narrativo Laila e Majnun, em que um jovem se apaixona perdidamente por uma colega de escola. Na época, as sociedades islâmicas eram das poucas que ofereciam um sistema educacional aberto a todas as classes sociais.

FONTE: Album/akg-images/British Library/Latinstock

Fim do complemento.

A escola como espaço de socialização

Na virada para o século XXI, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) convidou o filósofo e sociólogo francês Edgar Morin (1921-) a responder se a escola na sociedade contemporânea tem conseguido promover a inclusão e a justiça sociais. Morin identificou problemas nos sistemas educacionais que denotam um descompasso da educação atual em relação às rápidas mudanças dos últimos 50 anos e ao papel social que deveria cumprir.

As condições da vida moderna introduziram novas funções à escola, no mundo e no Brasil: cuidar das crianças enquanto os pais trabalham, oferecer conhecimentos antes aprendidos somente no interior da família (por exemplo, noções de higiene para as crianças mais novas e de orientação sexual para os adolescentes), fornecer merenda, desenvolver habilidades técnicas anteriormente não requeridas, entre outras. Para o educador brasileiro Demerval Saviani (1943-), é possível identificar certa hipertrofia da escola, processo em que ela adquire papéis sociais que antes não desempenhava. Na origem desta mudança no desempenho da escola está uma combinação de fatores sociais, a partir de meados do século XX, como a maior presença da mulher no mercado de trabalho, o tempo de trabalho que se expandiu com a informática, a mercantilização da educação, a vida mais urbanizada e os novos compromissos de trabalho por parte dos membros da família.

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LEGENDA: Aula de arte em projeto no Centro Educacional Unificado (CEU) da Vila Curuçá, bairro de São Paulo, em 2009. Esses centros educacionais são equipamentos públicos abertos à comunidade, com teatro, cinema, quadras poliesportivas, creche, escola de Ensino Fundamental, escola de Educação Infantil, telecentro, biblioteca, piscinas e refeitórios.

FONTE: Paulo Liebert/Agência Estado

LEGENDA: Sala de aula com crianças Guarani, na aldeia Tekoá Porã, em Salto do Jacuí (RS). Foto de 2015.

FONTE: Gerson Gerloff/Pulsar Imagens

Um dos grandes desafios da instituição escolar como espaço fundamental da educação é o de propiciar condições para que os educandos compreendam e discutam a complexidade da nossa sociedade. Cientistas sociais, pedagogos e outros profissionais das mais diversas áreas de atuação, atentos às mudanças sociais em curso, chamam o momento que vivemos de sociedade do conhecimento e consideram um dos maiores desafios da educação no século XXI fazer com que crianças e jovens "aprendam a aprender", ou seja, saibam buscar o conhecimento.

Ainda que ensinar conhecimentos e práticas seja tarefa da escola, Morin indaga se sabemos o que realmente significa conhecimento. Lembra que não se trata de uma simples fotografia do que vemos, ouvimos e experimentamos, mas de uma percepção da realidade que se transforma dentro de nós. Por isso, o conhecimento é sempre uma tradução e reconstrução, um imprinting cultural, no sentido de exigências da família, da escola, do ambiente, recebidas e processadas por nós.

Glossário:



imprinting cultural: expressão originada do inglês que significa algo que foi cunhado, uma marca cultural de valores, princípios e normas sociais que nos são transmitidas e ficam gravadas na forma de aprendizado. Aplica-se a normas econômicas, uso da língua, comportamento político, hábitos culturais, entre outros campos.

Fim do glossário.

LEGENDA: Charge produzida pelo cartunista Bill Watterson (1958-) em que é possível ver a personagem Calvin refletindo sobre as várias formas de conhecimento.

FONTE: ©1988 Bill Watterson/Dist. By Atlantic Syndication/Universal Uclick

A escola é a expressão concreta de um sistema simbólico que tem na educação um bem. O seu objetivo é transmitir o conhecimento de determinada sociedade e produzir novos conhecimentos.

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Diante das mudanças sociais aceleradas nos últimos decênios, Morin reafirma a necessidade de uma educação propositiva, capaz de entender o ser humano como sujeito que age, modifica sua história e é por ela modificado, além de apenas receber formação e informação. À escola cabe também desenvolver nosso autoconhecimento, ou seja, voltar o olhar para nosso interior, ensinar a compreender uns aos outros, pensar o ser humano e a sociedade de maneira coletiva.



Pausa para refletir

Leiam este texto de Morin e, depois, em duplas ou grupos, debatam as questões abaixo.



Ensinar àqueles que irão se defrontar com o mundo onde tudo passa pelo conhecimento, pela informação veiculada em jornais, livros, manuais escolares, internet é algo de fundamental importância. É necessário também ensinar que o conhecimento comporta sempre riscos de erros e ilusões, e tentar mostrar quais são suas raízes e causas.

MORIN, Edgar. A propósito dos sete saberes. In: ALMEIDA, Maria da Conceição de; CARVALHO, Edgard de Assis (Org.). Educação e complexidade: os sete saberes e outros ensaios. São Paulo: Cortez, 2002. p. 83.

LEGENDA: Alunos usam computadores em escola técnica em Londrina (PR). Foto de 2015.

FONTE: Ernesto Reghran/Pulsar Imagens



1. Que tipos de "conhecimento" e informações estão no seu dia a dia? Por que meios vocês os obtêm?

2. Esses conhecimentos e informações estão presentes também no cotidiano escolar? De que forma?

3. Se as novas tecnologias da informação e comunicação estiverem a serviço da educação, elas podem mudar o conhecimento e o modo como nos relacionamos com ele?

As Ciências Sociais e a educação

A educação é mais um dos objetos de estudo das Ciências Sociais, que a compreendem como um processo social com repercussão na História. Isso significa que a educação é algo em constante transformação, apresentando-se como um fenômeno com diferentes características conforme o contexto histórico-social.

Para Durkheim, o processo de educação pode ser definido como a ação que as gerações adultas exercem sobre as gerações ainda não preparadas para a vida social. O objetivo da educação é, portanto, desenvolver nos educandos certos estados físicos, intelectuais e morais desejados pelo meio social do qual a criança e o jovem provêm.

Nessa concepção, que reconhece um processo envolvendo as gerações em convívio, há a perspectiva de integração do educando ao sistema de normas e valores sociais, que molda o seu eu individual ao eu social. Para Durkheim, a educação se reveste da responsabilidade pela socialização, um processo de contínua introdução de padrões culturais ao indivíduo que implica o aprendizado de papéis sociais. O conjunto de papéis sociais forma um sistema institucionalizado de expectativas denominado sistema social pelo sociólogo estadunidense Talcott Parsons (1902-1979).



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Os sujeitos individuais ou coletivos nessas posições e nesses papéis sociais interagem mediante ações e atividades de natureza específica (econômica, política, educativa, religiosa, entre outras), reguladas por normas que limitam o confronto de uns com os outros e regem a vida organizada. Nesse aspecto, a educação exerce uma forma de controle social.

De acordo com outros pensadores, a educação molda o ser humano para determinada sociedade. Sociólogos como o húngaro Karl Mannheim (1893-1947) consideram que o processo educacional supõe interação, interinfluências, resistências, adaptações e inovações. Mannheim analisa a educação como uma técnica social, ou seja, um agrupamento de métodos para influenciar o comportamento dos indivíduos, a fim de enquadrá-los aos padrões da sociedade. As pessoas seriam educadas para se ajustar aos padrões dominantes presentes na fábrica, no escritório, no exército, na escola, na família e em outras esferas institucionais, o que constituiria um processo de controle social.

Controle social é uma forma de pressão que uma sociedade (um grupo ou uma unidade social) exerce para que seus membros sigam as normas sociais. Ele ocorre quer por constrangimento (sanções legais, punições, reprovações, entre outras ações), quer por persuasão (mediante propaganda, recompensas, elogios). No entanto, a educação não seria algo aceito passivamente, um conteúdo que flui do educador para o educando. Diferentemente de Durkheim, Mannheim considera a educação capaz de alterar a ordem estabelecida, por se adequar às transformações pelas quais passa a sociedade. Informações, ideias e valores veiculados estimulariam a assimilação e aceitação dos padrões comportamentais vigentes e também os modificariam, graças ao fato de a juventude não estar ainda comprometida com os valores dominantes.

LEGENDA: Estudantes universitários protestam por mais verbas para o ensino público no Rio de Janeiro (RJ). Foto de 2012.

FONTE: Márcio Babski/Futura Press

Boxe complementar:

Intelectuais leem o mundo social

O relato e as considerações do filósofo e pedagogo Mario Sergio Cortella (1954-) provocam-nos a respeito da importância do conhecimento como construção social:



Certa vez, quando tinha 15 anos de idade e estava na 1ª série do 2º grau, meu professor de Matemática ensinava a fórmula para o cálculo da raiz do delta; de repente, decidi fazer-lhe uma pergunta inconveniente e pragmática: "Professor, para que serve isso?" Ele deu uma resposta da qual nunca mais me esqueci e que, quando abracei a carreira docente, serviu-me como sinal de alerta: "Um dia você vai saber!".

Ora, a partir daquele instante e, como qualquer adolescente, tomei uma sábia decisão: se um dia iria saber, pensei ser melhor esperar esse dia chegar e... me desinteressei pelo assunto; claro que decorei a fórmula (até hoje a sei de cabeça) e, ignorantemente, passei de ano. Não esperava que o professor fizesse uma longa explanação sobre a utilidade daquele saber; desejava, apenas, uma mínima informação que conectasse aquela abstração matemática com o mundo vivo. [...]

Reafirmemos uma questão básica: se o Conhecimento é relativo à história e à sociedade, ele não é neutro; [...] o Conhecimento é também político, isto é, articula-se com as relações de poder. [...] Dessa forma, é preciso que recoloquemos o problema de seu sentido social concreto.

CORTELLA, Mario Sergio. A escola e o conhecimento: fundamentos epistemológicos e políticos. 6ª ed. São Paulo: Cortez, 2002. p. 116-117 e 127.

· Você concorda com a tese do autor? Com que tipo de conhecimento você pensa que a escola tem o compromisso?

Fim do complemento.



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Educação para o presente

Em nossa sociedade cheia de ambivalências e contradições, o conhecimento científico tem ocasionado mudanças, fazendo avançar a tecnologia. Também se alteram a organização social e a econômica diante de novos interesses e valores. A ambivalência seria uma característica do mundo contemporâneo, segundo o sociólogo polonês Zygmunt Bauman (1925-), para quem vivemos na "modernidade líquida". Nela, vivemos o oposto da segurança, da confiança, da estabilidade que ele vê em épocas anteriores. O próprio Bauman dá exemplos de "liquefação" nos hábitos culturais, ao mostrar a quebra de padrões de comunicação e coordenação das instituições que serviam de referência para as ações dos indivíduos e das coletividades humanas, como a família, a classe, a escola, o bairro. O que se apresentava "sólido", "seguro", orientador de ações individuais e coletivas, foi afetado pela dispersão, pela inconsistência, pela liberação de "ações -escolhas possíveis". Em outras palavras:

[...] os poderes que liquefazem passaram do "sistema" para a "sociedade", da "política" para as "políticas da vida" - ou desceram do nível "macro" para o nível "micro" do convívio social.

BAUMAN, Zygmunt. Modernidade líquida. Rio de Janeiro: Zahar, 2001. p. 14.

FONTE: Filipe Rocha/Arquivo da editora

A tecnologia é um conhecimento específico altamente desenvolvido que se articula, na sociedade capitalista, com os processos educacionais. Na sociedade moderna, o aperfeiçoamento tecnológico não se limita às máquinas e aos equipamentos: relaciona-se também com o conjunto das ideias sobre a sociedade e o conhecimento.

A produção que se automatiza torna-se autorregulável e, em tese, libera o ser humano para a esfera do não trabalho. As máquinas, que antes realizavam funções básicas, agora realizam operações complexas, múltiplas, amplas e por tempo prolongado. No entanto, aquele que domina e controla esse processo continua sendo o ser humano.

Neste mundo novo, a sobrevivência econômica está ligada, como jamais esteve, à competência da mão de obra e até dos consumidores - portanto, de populações inteiras. A educação fundamental - quer dizer, o ensino universalizado e eficaz do idioma, da matemática, das ciências - virou condição prevalente do desenvolvimento econômico.

RIBEIRO, Sérgio. Construir o saber. In: Veja 25 anos: reflexões para o futuro. São Paulo: Abril, 1993. p. 208.

Consideradas as novas configurações da competição econômica no capitalismo atual, o domínio da tecnologia define tanto a posição dos países no mercado internacional como a dos indivíduos no interior das sociedades. Dessa forma, cresce a pressão sobre a escola no sentido de redefinir seus conteúdos para integrar os alunos às novidades tecnológicas.

O filósofo e sociólogo alemão Jürgen Habermas (1929-) vê nesse momento da sociedade moderna a instrumentalização da técnica e da ciência. Por meio da ideologia, de modo sutil, o progresso técnico-científico é posto a serviço do sistema - ou seja, do dinheiro e do poder - e acima das demais questões.

LEGENDA: Público participa de feira de robótica em João Pessoa (PB). Foto de 2014.

FONTE: João Medeiros/Fotoarena/Folhapress



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A forma privada da valorização do capital e a existência de uma chave de distribuição das compensações sociais [...] permanecem, como tais, fora de discussão. O que aparece então como variável independente é um progresso quase autônomo da ciência e da técnica, do qual depende, de fato, a mais importante variável singular do sistema, a saber, o crescimento econômico. Resulta daí uma perspectiva na qual o desenvolvimento do sistema social parece ser determinado pela lógica do progresso técnico-científico.

HABERMAS, Jürgen. Técnica e ciência enquanto "ideologia". In: Textos escolhidos (Benjamin, Horkheimer, Adorno, Habermas). São Paulo: Abril Cultural, 1975, p. 303-333, 321.

Por esse ponto de vista, uma educação que apenas atualizasse as competências e os conhecimentos técnicos, sem problematizá-los de forma crítica, perpetuaria um modelo controlador de sociedade. Habermas propõe que a educação não seja apenas uma maneira de dar ao ser humano acesso ao conhecimento mas também de formar o indivíduo para reelaborar esse conhecimento no sentido da emancipação e da transformação social.

Debate

Formem grupos e discutam brevemente os temas propostos, anotando as diferentes opiniões.



1. Como o conteúdo das disciplinas estudadas estabelece relação entre elas e sua vida?

2. Quais são os problemas cotidianos enfrentados por alunos e professores na sua escola?

3. Que problemas apresenta a educação pública brasileira, de maneira geral? O que fazer para superá-los?

4. A escola pode colaborar para a diminuição da desigualdade social no Brasil? De que maneira?

· Ao término da discussão, cada grupo redigirá um texto com o tema "Nossas perspectivas a respeito da escola". Os textos deverão ser lidos para o restante da turma.

Além dos portões da escola

Na escola, os padrões hegemônicos da sociedade repassados por professores e seus gestores interagem com saberes e vivências trazidos pelos estudantes. Nesse ambiente, a sociabilidade se desenvolve de diversas formas: transmissão sistemática de conhecimentos, reivindicações, amizades, normas escolares, relacionamentos, manifestações políticas, grupos de estudo, eventos acadêmicos e culturais, etc.

LEGENDA: Seminário de boas práticas do Pacto pela Educação em Pernambuco, realizado em escola de Camaragibe (PE), em 2015.

FONTE: Ademar Filho/Futura Press



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A escola tem uma dinâmica própria, fruto do conjunto de tensões presentes na relação professor-aluno e na relação Estado-indivíduo, na medida em que recebe influências do contexto social. A escola configura-se como um espaço de interação entre os diversos agentes sociais, um lugar de passagem de conhecimento e conteúdos disciplinares, resultando na convivência de comportamentos e valores sociais distintos. Valendo-se de bases democráticas, a instituição escolar pode promover a participação de alunos e professores em sua gestão.



Debate

Com base nos estudos deste capítulo, organizem-se na turma para realizar um debate com convidados: professores, alunos e gestores da escola. O seu professor ou professora de Sociologia irá problematizar sociologicamente as condições da participação democrática na escola. Dividam-se em dois grupos e preparem-se para questionar e argumentar com os convidados. Para organizar os argumentos, vocês vão produzir previamente um texto reconhecendo ou não as ideias do psicólogo estadunidense e precursor da psicologia existencial humanista, Carl Rogers (1902-1987). Rogers afirmou em uma entrevista concedida ao jornal Le Monde, em 1979:



Poucas pessoas compreendem que o que eu falo significa transformação completa da maioria das instituições atuais. Se levarmos verdadeiramente a sério a ideia de que cada indivíduo pode ter um papel na tomada de decisões, isso transformaria completamente os conceitos de educação, de negócios, de governo. Veja, por exemplo, as escolas tradicionais atuais: elas são completamente autoritárias. As decisões são tomadas na cúpula pelo diretor e pelos professores. Os alunos não têm nada a dizer. Se - é essa a ideia que defendemos - os alunos participassem das decisões, junto com os professores e a administração, cada um detendo seu próprio poder, e não sendo governados, isso criaria um tipo de instituição educativa completamente diferente.

LE MONDE. Frédéric Gaussen entrevista Carl Rogers. Paris, 23 dez. 1979.

Uma das discussões que as Ciências Sociais travam atualmente é sobre a relação entre o espaço escolar e seu entorno físico e cultural, ou seja, a estreita ligação entre o sistema educacional e o contexto social. A escola não está isolada de outros grupos sociais, como a comunidade que a rodeia e a sustenta. A comunidade repercute na organização escolar e faz o processo educacional se diferenciar em função de fatores demográficos, sociais, culturais, econômicos, políticos e ecológicos, os quais interferem no desempenho e funcionalidade da escola de muitas formas.

LEGENDA: Curso de manejo agroflorestal em Pindamonhangaba (SP), em 2016.

FONTE: Lucas Lacaz Ruiz/Futura Press


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