Silvia Maria de Araújo · Maria Aparecida Bridi · Benilde Lenzi Motim



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práxis:  palavra   de   origem   grega   que   significa   'ação   prática'.   Para   Marx,

significa o próprio movimento da história, as ações reais dos indivíduos que

procuram vencer as contradições da sociedade capitalista.

Fim do glossário.



266

As classes sociais são tema recorrente de discussão nas teorias sociológicas,

que destacam diversos conceitos de classes, como estudado no Capítulo 2.

Classes   sociais   são   agrupamentos   que   se   relacionam   cotidianamente,

produzindo e reproduzindo a estrutura social. As classes referem-se a grupos

sociais que se diferenciam conforme: a posição econômica que ocupam na




produção; a posse de riquezas; a escolha da profissão; os estilos de vida; o

acesso   ao   consumo.   Vale   ressaltar   que   as   classes   sociais   são

complementares, no sentido de que uma não existe sem a outra. No âmbito de

cada uma das classes existe a noção de pertencimento, a defesa de interesses

comuns   na   sociedade.   Mas,   como   analisa   o   historiador   britânico   Edward

Thompson (1924-1993), a classe não se define apenas em termos econômicos.

Ela é construída na experiência entre homens e mulheres, ou seja, na História.

É uma formação social e cultural que não pode ser definida de modo abstrato,

mas em termos das relações entre as classes. Só na sociedade capitalista as

diferenciações   sociais   assumem   a   "forma"   de   classe,   pelo   fato   de   que   o

pertencimento a uma classe é determinado pela propriedade (ou controle) dos

meios   de   produção   ou   pela   exclusão   dessa   propriedade   ou   controle.   Essa

condição concreta e subjetiva, ao mesmo tempo, de estar e perceber a sua

posição na estrutura social gera o fenômeno da consciência de classe, quando

há identidade e defesa dos interesses comuns.

FONTE: Filipe Rocha/Arquivo da editora

Desse   modo,   congregando   interesses   na   forma   de   reivindicações,   os

movimentos   se   estruturam   para   enfrentar   os   problemas   comuns   a

determinadas   classes   sociais   e   promover   a   ação   política.   Contextos   de

vulnerabilidade reúnem os ingredientes básicos para a eclosão de movimentos

que   visam   à   transformação   social.   Um   dos   problemas   mais   graves   e

comumente   abordados   pelos   diversos   movimentos   sociais,   no   Brasil   e   no

mundo,   é   o   da   pobreza,   como   vimos   em   outros   capítulos,   que   assume

configurações distintas de acordo com a época e a sociedade, conforme o grau

de desigualdade socioeconômica e a escassez ou não de recursos.

LEGENDA: Litografia produzida em 1919 pelo artista gráfico El Lissitzky para

os   bolcheviques,   que   instalariam,   no   lugar   do   antigo   Império   Russo,   um

governo de inspiração marxista: a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas

(URSS).   Com   elementos   visuais,   o   cartaz   de   propaganda   mostra   a   união

popular (representada pela cunha vermelha) rompendo a resistência da elite

russa (círculo branco).

FONTE: Michael Nicholson/Corbis/Latinstock




267

Nos   anos   1990,   no   Brasil,   como   vimos   no   Capítulo   8,   o  sociólogo   Betinho

liderou um movimento que desembocou em uma grande campanha nacional

denominada Ação da Cidadania contra a Fome, a Miséria e pela Vida, com o

intuito de combater a fome no país. A campanha resultou de um movimento em

prol da cidadania e pelo direito ao alimento em uma época de grande arrocho

salarial, de desemprego e carência de políticas sociais.

Os movimentos sociais não apenas combatem insuficiências e problemas que

atingem   amplos   segmentos   populacionais,   como   a   falta   de   condições   para

garantir a subsistência ou a discriminação. Eles também se voltam às novas

questões que se apresentam: a precarização do trabalho e a perda de direitos

conquistados, a redução de amparo social do Estado, a falta de moradia digna,

entre   outros   fatores   que   conduzem   a   diversas   formas   de   exclusão   social,

provocada pelas disparidades presentes na sociedade capitalista.

LEGENDA: Morador atravessa ponte improvisada sobre um córrego poluído

em área do Complexo da Maré, no Rio de Janeiro (RJ), em 2014.

FONTE: Mario Tama/Getty Images

LEGENDA:   Área   de   moradias   precárias,   à   margem   de   canal   poluído,   em

Antananarivo, capital de Madagascar, em 2013.

FONTE: Thomas Mukoya/Reuters/Latinstock

Por   essa   razão,   a  pobreza  deve   ser   compreendida   como   um   fenômeno

complexo, relacionado à falta de bens e de oportunidades sociais. A exclusão

social não se refere mais somente à dificuldade de sobrevivência alimentar,

mas também à falta de condições para ter uma "vida digna", com acesso à

educação, à moradia, ao trabalho, à renda, à comunicação, ao transporte, à

informação.   A   satisfação   dessas   e   outras   condições   permite   às   pessoas

participarem   e   usufruírem   de   bens   e   serviços   oferecidos   pela   sociedade   e

serem reconhecidas como portadoras de direitos.

Pobreza e exclusão social são resultados concretos das desigualdades que

fazem surgir os movimentos sociais.




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