Silvia Maria de Araújo · Maria Aparecida Bridi · Benilde Lenzi Motim


Conheça os bastidores da ocupação das escolas de SP



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Conheça os bastidores da ocupação das escolas de SP

Uma rotina de aprendizado, discussão política e atividades culturais faz parte

dos bastidores da ocupação das escolas por estudantes da rede pública por

mais   de   um   mês   em   São   Paulo.   O   projeto   de   reorganização   das   escolas,

apresentado   pelo   governo   do   estado,   sucumbiu   diante   do   protesto   de

estudantes.  Eles ocuparam unidades de  ensino  contra  o  fechamento de 94

escolas.   Além   de   conseguirem   mostrar   força   política   com   a   suspensão   do

projeto, os estudantes vivenciaram uma experiência singular. [...]

Para   a   estudante   do   Ensino   Médio   Eloiza   Oliveira,   que   participou   das

ocupações, o conhecimento adquirido durante o tempo de convívio nas escolas

foi muito além do aprendizado cotidiano. "A gente teve muito mais atividade

cultural do que o ano inteiro de aula. Tivemos teatro e oficinas. Eu acho que,

além   da   luta   pela   educação   de   qualidade,   uma   luta   pela   adequação   da

educação", disse.


CONHEÇA os bastidores da ocupação das escolas de SP. EBC, 14 dez. 2015.

Disponível   em:   

reportagem-traz-bastidores-da-ocupacao-das-escolas-em-sp-assista>.   Acesso

em: 20 dez. 2015.

LEGENDA:   A   Escola   Estadual   Diadema,   na   cidade   homônima,   na   região

metropolitana de São Paulo (SP), uma das unidades ocupadas por estudantes

durante os protestos realizados em 2015.

FONTE: Erick Florio/Futura Press

As  notícias  acima  exemplificam  a  reação,  em  2015,  de  jovens  das  escolas

públicas estaduais de São Paulo a uma proposta do governo de reorganizar as

escolas por ciclo de ensino. Eles se sentiram prejudicados porque não foram

consultados   a   respeito   do   processo   que   resultaria,   entre   outras   coisas,   no

fechamento de escolas. O movimento organizado por estudantes do Ensino

Médio realizou diversas manifestações e ocupou as escolas, substituindo as

aulas   regulares   por   atividades   extracurriculares   e   aulas   abertas,   a   fim   de

pressionar   para   que   a   proposta   não   se   concretizasse.   Esse   pode   ser

considerado um exemplo de ação política em prol de direitos da juventude.

Do   ponto   de   vista   sociológico,   portanto,   conflitos   de   diversas   ordens

vivenciados pela juventude refletem as contradições presentes na vida pública

das   sociedades.   Por   ser   uma   força   social,   a   juventude   tem   o   potencial   de

abraçar causas que lhe chamam a atenção e com as quais se identifica, como

as de muitos movimentos sociais evidenciados no Capítulo 9.



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Também à juventude se atribui a condição de ser precursora da contracultura,

fenômeno   contemporâneo   que   congrega   manifestações   de   grupos   que

questionam e rejeitam valores e práticas de uma cultura dominante. Exemplo

marcante de mobilização nesse sentido foram as manifestações estudantis de

maio de 1968, na França, que deflagraram uma série de protestos e revoltas.

Surgido em reação à política educacional do governo francês, o movimento

acabou questionando todas as demais esferas da ordem instituída na época.

LEGENDA: Estudantes entoam cantos de protesto durante manifestação em

Paris, França, em maio de 1968.




FONTE: Reg Lancaster/Daily Express/Hulton Archive/Getty Images

De fato, o Maio francês significará uma crítica radical à fusão do indivíduo na

totalidade, quer seja esta entendida como partido ou Estado. [...] De onde a luta

contra o "individualismo pequeno-burguês", a negação dos direitos individuais e

a ética da abnegação e do sacrifício.

Em 1968 - essa "segunda Revolução Francesa" - constitui-se um princípio de

realidade   outro,   diferente   do   industrial-produtivista,   no   qual   o   poder  [...]  do

capital   impõe   formas   determinadas   de   pensar   e   agir.   Em   1968,   o   próprio

movimento   de   jovens   operários   e   estudantes   praticou   a   espontaneidade

consciente e criadora. Não se considerou o sistema de partidos ou grupos de

pressão   a   qualquer   nível;   não   se   participou   nem   do   sistema   nem   de   seus

métodos. Desde o início o movimento não tem dirigentes, nem hierarquia, nem

disciplina partidária ou outra; ele contesta os profissionais da contestação, viola

as regras do jogo que as oposições dominam.  [...]  Com a crítica ao mundo

burocratizado   e   desencantado,   colocou   como   lema   a   verdade   triunfante   do

desejo.

MATOS,   Olgária   C.   F.  Paris   1968:  as   barricadas   do   desejo.   São   Paulo:

Brasiliense, 1981. p. 12-13.

Apesar de sua repercussão - que chegou ao Brasil, influenciando jovens que

contestavam o regime militar então vigente -, o movimento de maio de 1968 foi

efêmero, sufocado pela repressão aos protestos. Movimentos contraculturais

posteriores trouxeram novos métodos para garantir sua longevidade, criando

uma identidade forte no campo da expressão e, de modo geral, evitando partir

para um enfrentamento físico e direto às instituições. Exemplos disso são os

movimentos  punk  e  hip-hop, formados a partir da segunda metade dos anos

1970.

O   movimento  punk  desenvolveu-se   nos   Estados   Unidos   e   na   Inglaterra,



contrapondo-se não só a um tipo de cultura dominante, mas também à ideia de

não violência e ao otimismo hippie, outro movimento de contracultura, surgido

alguns anos antes. Os jovens  punks  acreditavam que o sistema estava, em

geral, errado, e era preciso não depender dele. O enfrentamento a tudo o que

era   visto   como   estabelecido   aparecia   também   na   imagem,   com   cortes   de



cabelo como o moicano, tatuagens e piercings. O mote "faça você mesmo" se

expressava na música, com letras sucintas e impactantes acompanhadas de

melodia   e   harmonia   extremamente   simples,   que   poderiam   ser   tocadas   e

cantadas por qualquer um.

No Brasil, esse movimento chegou por meio de jovens da periferia das grandes

cidades, sobretudo São Paulo e Brasília, tornando-se também uma forma de

expressão   e   luta   contra   a   ditadura   militar,   que   ainda   vigorava   no   país   na

década de 1970 e na primeira metade da década de 1980.



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LEGENDA:  A banda punk Inocentes,  durante o festival Começo  do Fim  do

Mundo, realizado em 1982 em São Paulo (SP).

FONTE: Cícero de O. Neto/Folhapress

LEGENDA: Jovens punks participam de parada em memória de Sid Vicious

(1957-1979),   baixista   do   grupo   Sex   Pistols,   em   Londres,   capital   do   Reino

Unido, em 1979.

FONTE: Janette Beckman/Getty Images

Enquanto ao  punk  aderiam principalmente jovens brancos de classe média e

média baixa, formava-se na mesma época, entre jovens afrodescendentes nos

Estados   Unidos,   o  hip-hop.   O   movimento  hip-hop  fundava-se   no  rap  como

expressão musical, no break como dança e no grafite como expressão visual.

Sentindo-se   excluídos   da   cidade,   discriminados   e   pouco   representados,   os

membros desse movimento tinham, por meio dessas expressões artísticas, o

objetivo de se apropriar da cidade: o rap pode ser feito em qualquer espaço e

frequentemente era feito nas ruas; o break é uma dança de rua; o grafite é uma

marca de existência e visibilidade em meio a uma cidade que marginaliza e

exclui os jovens negros e de baixa renda.

No Brasil, o hip-hop ganhou força nos anos 1980, sobretudo na cidade de São

Paulo. Enquanto nos Estados Unidos o  rap  foi em grande parte incorporado

pela indústria cultural a partir do final dos anos 1990, até hoje o rap  nacional

mantém-se associado às letras de protesto  e à denúncia  de desigualdades

sociais, tendo dificuldades de inserção nos meios de comunicação de massa.



O ato de reagir às condições dadas faz da juventude uma potencial pioneira de

qualquer mudança social.

LEGENDA:   Jovem   faz   grafite   no   viaduto   Santa   Tereza,   em   Belo   Horizonte

(MG). Foto de 2012.

FONTE: Casa Fora do Eixo Minas/Creative Commons

LEGENDA: Reunião do grupo de street dance Sob Humanos em Brasília (DF).

Foto de 2011.

FONTE: Daniel Ferreira/CB/D.A Press




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