Tempos modernos tempos de sociologia helena bomeny



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. Acesso em: maio 2016.

TEXTO 2

É claro que uma pessoa pode não se preocupar com a Política e os políticos. Trata-se de uma escolha pessoal perfeitamente respeitável. Mas, quando se age assim, deve-se ter consciência das implicações, pois se trata de uma atitude de passividade que sempre favorece a quem, em dado momento, está numa situação de mando dentro da sociedade. [...]

RIBEIRO, João Ubaldo. 3. ed. Política: quem manda, por que manda, como manda. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1998. p. 16.
Página 145

[ícone] ATIVIDADE INTERDISCIPLINAR

OLHARES SOBRE A SOCIEDADE

1. Leia o texto a seguir.

DELICADEZAS

Já fomos a três festas de rua desde que chegamos aqui. Uma numa praça ao lado de uma Igreja Ortodoxa Armênia, na Segunda Avenida. Outra ao longo da Terceira Avenida, entre as ruas 14 e 34, vinte quadras de estandes com comidas de todos os tipos, jogos e pequenos palcos para apresentações musicais por amadores. E inventamos de ir num sábado à noite à festa de San Gennaro, na Little Italy. Acabamos não vendo nada, porque a multidão era tamanha que nossa única preocupação era não perder as crianças.

A festa de San Gennaro, santo padroeiro da colônia italiana, é a mais antiga da cidade. Lá você encontra os italianos fazendo na calçada o que eles fazem melhor do que ninguém, comida e barulho.

Pretendemos voltar antes que a festa acabe. Alguns pedaços de pizza e calzones vistos de passagem, enquanto a turba nos carregava, nos chamam de volta. Na festa dos armênios, havia estandes de comida grega e até filipina. A música ia da valsa ao jazz, passando por danças folclóricas armênias e polonesas.

Na Terceira Avenida, a mistura era maior ainda e jovens porto-riquenhos dançavam salsa em frente a estandes de comida chinesa sob o olhar de senhoras italianas sentadas em cadeiras no meio-fio. Na festa dos armênios, o padre, às vezes, saía da igreja e dava uma volta na praça para ver como estavam se comportando seus paroquianos. Quer dizer, precisei vir a Nova York para redescobrir a quermesse.

O Tom Jobim dizia que Nova York é a cidade das grosserias e das delicadezas. Referia-se aos groceries e às delicatessens. Grocery stores são simplesmente armazéns que vendem tudo. Delicatessens vendem tudo e mais alguma coisa. Sanduíches prontos, por exemplo, entre eles monstros como os hero sandwiches – feitos com pão de um metro e cheios de divina porcaria –, e coisas tradicionalmente judias, como o sanduíche de pastrami com pão de centeio. O pastrami é um tipo de carne em conserva, ou curtida, ou coisa parecida. Delicioso. Não sei de onde vem a palavra delicatessen, mas uma tradução bem poderia ser “quebra-galho”. Recorremos à delicatessen aqui perto de casa para tudo, até para troco para o ônibus, que só aceita a quantia da passagem contada. As delicatessen costumavam ser todas de judeus, mas isso faz tempo. Essa aqui perto é de uma família de origem misteriosa. Não descobrimos ainda se são hindus ou latino-americanos, e a pronúncia não ajuda. Um dia teremos a revelação: vieram da Paraíba. Tudo é possível em Nova York.

As fronteiras entre Chinatown e Little Italy são difusas.

Os dois bairros se misturam e em certas ruas letreiros em chinês e fachadas de coisas como Luigi’s ou a loja maçônica Filhos da Itália se intercalam. Os chineses estão se expandindo. Só os italianos pobres ainda moram na Little Italy. Mas a convivência é pacífica. Em mais de um estande da festa de San Gennaro, além dos pedaços de pizza, havia espetinhos de porco caramelado.

Na Segunda Avenida tem um restaurante que, para mim, define Nova York e sua bendita promiscuidade. “Goldberg’s Pizzeria”.

Delicadezas. In: Traçando New York, de Luis Fernando Verissimo, Artes e ofícios, Porto Alegre © by Luis Fernando Verissimo.

A crônica de Luis Fernando Verissimo nos oferece uma descrição de três atividades culturais de que o cronista participou em Nova York (EUA). De nenhuma das três festas ele diz: “os americanos se comportam assim ou assim...”. Menciona porto-riquenhos, italianos, judeus e armênios – estrangeiros como ele próprio.

a) O que você sabe da sociedade norte-americana que explica essa “aglomeração” de identidades étnicas diferentes na mesma cidade? (Se desejar, leia o verbete etnia/raça na seção Conceitos sociológicos, ao final do livro.)

b) Esse convívio entre várias etnias, para Tocqueville, era uma característica da democracia norte-americana que às vezes funcionava positivamente, às vezes negativamente. O que você sabe a respeito disso?
Página 146

[ícone] ATIVIDADE INTERDISCIPLINAR

EXERCITANDO A IMAGINAÇÃO SOCIOLÓGICA
TEMA DE REDAÇÃO DA FUVEST (2011)

TEXTO 1

A ciência mais imperativa e predominante sobre tudo é a ciência política, pois esta determina quais são as demais ciências que devem ser estudadas na pólis. Nessa medida, a ciência política inclui a finalidade das demais, e, então, essa finalidade deve ser o bem do homem.

Aristóteles. Adaptado.

TEXTO 2

O termo “idiota” aparece em comentários indignados, cada vez mais frequentes no Brasil, como “política é coisa de idiota”. O que podemos constatar é que acabou se invertendo o conceito original de idiota, pois a palavra idiótes, em grego, significa aquele que só vive a vida privada, que recusa a política, que diz não à política.

Talvez devêssemos retomar esse conceito de idiota como aquele que vive fechado dentro de si e só se interessa pela vida no âmbito pessoal. Sua expressão generalizada é: “Não me meto em política”.

Cortella, M. S.; Ribeiro, R. J. Política: para não ser idiota. Adaptado.



TEXTO 3

FILHOS DA ÉPOCA

Somos filhos da época


e a época é política.

Todas as tuas, nossas, vossas coisas


diurnas e noturnas,
são coisas políticas.

Querendo ou não querendo,


teus genes têm um passado político,
tua pele, um matiz político,
teus olhos, um aspecto político.

O que você diz tem ressonância,


o que silencia tem um eco
de um jeito ou de outro, político.
[...]

SZYMBORSKA, Wislawa. Poemas.



TEXTO 4

As instituições políticas vigentes (por exemplo, partidos políticos, parlamentos, governos) vivem hoje um processo de abandono ou diminuição do seu papel de criadoras de agenda de questões e opções relevantes e, também, do seu papel de propositoras de doutrinas. O que não significa que se amplia a liberdade de opção individual. Significa apenas que essas funções estão sendo decididamente transferidas das instituições políticas (isto é, eleitas e, em princípio, controladas) para forças essencialmente não políticas, primordialmente as do mercado financeiro e do consumo. A agenda de opções mais importantes dificilmente pode ser construída politicamente nas atuais condições. Assim esvaziada, a política perde interesse.

BAUMAN, Zygmunt. Em busca da política. Adaptado.
Página 147

TEXTO 5

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Adão Iturrusgarai/Folhapress

os textos aqui reproduzidos falam de política, seja para enfatizar sua necessidade, seja para indicar suas limitações e impasses no mundo atual. reflita sobre esses textos e redija uma dissertação em prosa, na qual você discutará as ideias neles apresentadas e argumentará de modo a deixar claro seu ponto de vista sobre o tema “Participação política: indispensável ou superada?”.
Página 148

10 As muitas faces do poder



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United Artist

A Garota e suas irmãs prestes a serem levadas para um orfanato, em cena do filme Tempos modernos.

Em cena: A garota órfã

Há uma personagem de Tempos modernos que até agora não foi apresentada: uma adolescente descalça, vestida pobremente, que aparece pela primeira vez roubando bananas no cais e distribuindo-as entre outras crianças pobres. O entretítulo explica: “A Garota – uma menina do cais que se recusa a passar fome”. E a ação começa: descobertas pelo dono da carga de bananas, as crianças e a Garota fogem em disparada. Ela chega ofegante a uma casa pobre onde estão duas meninas menores, e somos informados, sempre pelo entretítulo, de que as três são irmãs e órfãs de mãe. Dali a pouco chega o pai, deprimido porque não consegue emprego. A Garota distribui as bananas, e todos comem alegremente.

Na segunda sequência, enquanto a garota e as irmãs pegam pedaços de madeira no cais, certamente para usá-los como lenha, trabalhadores desempregados protestam em uma rua próxima. Ouvem-se tiros, a Garota se aproxima e vê o pai morto, caído no chão. Sem mãe nem pai, as meninas passarão, então, à responsabilidade do Estado. Dois homens engravatados e um policial vão à casinha das órfãs, examinam papéis e encaminham as duas pequenas para um abrigo de menores. Enquanto isso, mais uma vez, a Garota escapa.


Página 149

Apresentando Michel Foucault

O pensador que convidamos para assistir a essas cenas, embora não fosse um sociólogo, marcou o campo das Ciências Sociais com reflexões sobre a relação entre verdade e poder. Seu nome é Michel Foucault.

Para entender a complicada relação entre verdade e poder, Foucault realizou pesquisas sobre temas variados. Um dos pontos em que mais se deteve foi a questão da disciplina. Como homens e mulheres aprendem a se comportar? O que acontece quando não se comportam de acordo com o previsto? Em que tipo de justificativas baseiam-se as regras de compor- tamento? Em que lugares os ensinamentos sobre o que é socialmente aceitável e não aceitável são transmitidos? Por que e por quem eles são cobrados? Para responder a questões como essas, Foucault investigou a origem e o desenvolvimento de várias instituições de controle social, entre elas os abrigos, como aquele para onde as pequenas órfãs de Tempos modernos foram enviadas, e as prisões, como aquela de onde Carlitos não queria sair. Seguiremos, portanto, com Michel Foucault, numa visita por algumas instituições de controle e poder.

Michel Foucault

(Poitiers, França, 15 de outubro de 1926 – Paris, França, 26 de junho de 1984)

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Friedrich/IF/Glow Images

Michel Foucault, c. 1969.

Michel Foucault foi um filósofo, historiador, crítico e ativista político francês que desenvolveu uma teoria e um método de pesquisa próprios, caracterizados por aproximar a História da Filosofia. Seus trabalhos abordam temas diversos, como poder, conhecimento, discurso, sexualidade, loucura.

Foucault foi influenciado pela Filosofia da Ciência francesa, pela Psicologia e pelo Estruturalismo. Já sua atuação política foi determinada, sobretudo, pela desilusão com o comunismo e pelo Movimento de Maio de 1968 na França. Sua experiência pessoal com tratamento psiquiátrico motivou-o a estudar a loucura. Interessava-se pela relação entre poder, conhecimento científico e discurso, e pelas práticas a eles associadas na definição da loucura e no tratamento destinado àqueles classificados como “loucos”.

Suas ideias inspiraram tanto críticas quanto apoios fervorosos e influenciaram diversas áreas, como Arte, Filosofia, História, Sociologia, Antropologia e muitas outras. Entre suas obras destacam-se História da loucura na Idade Clássica (1961), As palavras e as coisas (1966), Arqueologia do saber (1969), Vigiar e punir (1975), Microfísica do poder (1979) e ainda o projeto inacabado História da sexualidade, composto de A vontade de saber (1976), O uso dos prazeres (1984) e O cuidado de si (1984).

Curar e adestrar, vigiar e punir

Nos capítulos anteriores, vimos como as transformações trazidas pela Revolução Industrial e pela Revolução Francesa possibilitaram o surgimento de novos hábitos e valores, novas estruturas de pensamento e práticas sociais. Michel Foucault também se voltou para esse momento de profunda transformação, em que as instituições sociais do Antigo Regime cederam lugar a sistemas de organização inéditos. Seu interesse se voltou, sobretudo, para as condições responsáveis pelo surgimento de novos saberes – ciências como Biologia, Economia Política, Psiquiatria e a própria Sociologia – e novos dispositivos disciplinares. A influência progressiva desses novos saberes e a multiplicação desses dispositivos por toda a sociedade levaram, segundo ele, à consolidação de um modelo peculiar de organização social: as “sociedades disciplinares” dos séculos XIX e XX.

A emergência desse novo formato de arranjo social, com suas lógicas de controle e penalização, constitui o tema central de uma das obras mais conhecidas de Foucault, que tem o sugestivo título Vigiar e punir: nascimento da prisão. Nesse livro, ele nos mostra como, a partir dos séculos XVII e XVIII, houve o que chama de um “desbloqueio tecnológico da produtividade do poder”. Esse desbloqueio teria resultado no estabelecimento de procedimentos de controle ao mesmo tempo muito mais eficazes e menos dispendiosos. E isso ocorreu não apenas nas prisões mas também em várias outras instituições nas quais a vigilância dos indivíduos é constante e necessária.
Página 150

Obviamente, já havia mecanismos de disciplina e controle muito antes do surgimento de saberes como a Economia ou a Sociologia. Durante o Antigo Regime, lembra-nos Foucault, havia critérios para identificar os indivíduos que eram capazes de se submeter às normas – os “normais” – e os que, incapazes de respeitá-las, deveriam receber como castigo a exclusão da vida em sociedade.

Nesse grupo dos que eram afastados do convívio com os outros, estavam aqueles considerados “loucos”, “maus”, “doentes” ou “monstros” – qualquer um, portanto, que apresentasse “desvios de conduta”, quer por causa de sua demência, de sua índole, de sua moléstia, quer de sua aparência. Durante a Idade Média, os que fossem considerados “dementes” eram confinados na chamada nau dos insensatos. Todos os criminosos eram condenados à pena de morte, quaisquer tipos de “deformados” eram recolhidos aos mosteiros, e os que sofriam de males físicos eram levados a hospitais que na verdade eram “depósitos de doentes”.

Foucault lembra também que foi a partir do século XVIII que se iniciou um processo de organização e classificação científica dos indivíduos, que veio a garantir uma nova forma de disciplinar e controlar a sociedade. Cada “anormalidade” passou a ser identificada em seus mínimos detalhes por um saber específico e a ser encaixada em um complexo quadro de “patologias sociais”.

Estamos tão acostumados a depender desses saberes especializados e a conviver com os espaços que lhes são próprios que muitas vezes nos esquecemos de que nem sempre eles existiram. O nascimento da Medicina Clínica e a criação do hospital tal como o conhecemos, por exemplo, são fenômenos historicamente recentes. Foucault toma como exemplo o projeto de criação de hospitais que apareceu na França em fins do século XVIII, em que pela primeira vez foram expostas regras minuciosas de separação dos vários tipos de doentes. O médico – e não mais qualquer “curandeiro” – passou a ser o responsável por essa nova “máquina de curar”, que lembrava muito pouco aquele “depósito de doentes” medieval.

Nau dos insensatos

A alegoria, ou representação figurativa, da “nau dos insensatos” surgiu no final da Idade Média e teve uma de suas mais famosas expressões artísticas no quadro, de mesmo nome, de Hieronymus Bosch (de 1490), que nele faz uma profunda crítica aos costumes da época, denunciando a fragilidade dos princípios religiosos e a devassidão presente em todos os grupos sociais, inclusive no clero.

Michel Foucault inspirou-se nessa imagem para escrever a introdução de sua História da loucura. Assim como as naus dos insensatos da Idade Média, navios que deslizavam pelos rios e mares com uma carga de loucos e sem rumo definido, o saber psiquiátrico desenvolvido no século XIX seria um mecanismo radical de exclusão, cuja maior expressão seria os manicômios. A alegoria da nau foi tomada por ele como símbolo de uma cultura – a ocidental – marcada pela não aceitação no corpo social daqueles considerados loucos. Se no início da Renascença a nau dos insensatos fazia parte do imaginário coletivo, para Foucault isso expressava o crescente fascínio pela questão da loucura, que, a partir do século XV, passou a ganhar cada vez mais espaço entre as preocupações humanas.



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Museu do Louvre, Paris

Hieronymus Bosch. Nau dos insensatos, c.1490. Óleo sobre madeira, 58 cm × 33 cm.

Se a Medicina clássica trabalhava com o conceito vago de “saúde” e procurava “eliminar a doença”, a Medicina Clínica passou a ter como foco o corpo do doente e como objetivo trazer esse corpo “de volta ao normal”. Surgiram então expressões como “temperatura normal”, “pulsação normal”, “altura e pesos normais”. Esse padrão de normalidade passou a ser um parâmetro para toda a sociedade – é claro que há componentes culturais que determinam variações nesse padrão –, e a Medicina ganhou uma dimensão política de controle. Hoje, mais do que nunca, vivemos em função de ter o corpo “normal”, de acordo com todos os padrões, índices e prescrições que a Medicina estabelece. Muitas vezes estamos nos sentindo bem e vamos ao médico para um simples exame de rotina. O médico nos examina e diz que há algo errado, algo “que não está normal”. Saímos da consulta com uma lista de remédios que supostamente farão nosso corpo voltar à normalidade.


Página 151

Também nos é apresentada uma longa lista de coisas que podemos ou não fazer e de alimentos que podemos ou não ingerir. É certo que nem sempre obedecemos a tudo que nos diz o médico. No entanto, ao fim e ao cabo, acreditamos que a Medicina, como ciência, tem o poder de curar porque tem o poder de saber mais coisas sobre nosso corpo do que nós mesmos.

Um novo olhar sobre a loucura

No livro História da loucura, de 1961, Foucault nos convida a questionar as noções tradicionais de sanidade e loucura. Ele defende que a doença mental não existe como uma realidade em si mesma, dizendo que só é considerada doença – ou loucura – o conjunto de práticas legitimadas e reconhecidas como tal dentro de uma sociedade. No Brasil, uma das pessoas mais importantes na crítica ao discurso científico tradicional sobre a loucura foi a psiquiatra Nise da Silveira. Nascida em Maceió, Alagoas, em 1905, Nise ingressou na Faculdade de Medicina de Salvador em 1921, sendo a única mulher de sua turma, bem como uma das primeiras médicas do Brasil. Em 1933, passou no concurso público para o Hospital Pedro II, no Rio de Janeiro. Por discordar dos tratamentos tradicionais, foi transferida para a Seção de Terapia Ocupacional, na qual revolucionou o tratamento clínico dos pacientes ao criar ateliês de pintura e modelagem. Defendendo o fim de tratamentos tradicionais, como o eletrochoque, o uso de drogas e o confinamento clínico, Nise da Silveira revolucionou a maneira de tratar os doentes mentais utilizando técnicas artísticas – pintura e desenho – como terapia. Ela faleceu em 1999, aos 93 anos.



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Alexandre Campbell/Folhapress

Nise da Silveira, 1995.

A ideia de uma educação que não está a cargo dos pais, e sim do Estado, que é oferecida a todos os cidadãos, que tem um conteúdo comum e necessita do espaço da escola também é fruto das transformações de que fala Foucault. Não por coincidência, a escola organizada de acordo com parâmetros pedagógicos é uma invenção do fim do século XVIII e início do XIX. Acreditamos que a escola tem o poder de ensinar porque tem o poder de saber quais são os comportamentos desejáveis, quais são os conteúdos imprescindíveis e qual é a didática adequada.



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Acervo Escola de Ensino Superior de Lyon, França

Orientações aos alunos sobre a postura corporal: escola francesa de Port-Mahon. Litografia de Hippolyte Lecomte, 1818.

Para Foucault, a escola é uma das “instituições de sequestro”, como o hospital, o quartel e a prisão. “São aquelas instituições que retiram compulsoriamente os indivíduos do espaço familiar ou social mais amplo e os internam, durante um período longo, para moldar suas condutas, disciplinar seus comportamentos, formatar aquilo que pensam [...]”. Com o advento da Idade Moderna, tais instituições deixam de ser lugares de suplício, com castigos corporais, para se tornarem locais de criação de “corpos dóceis”. A docilização do corpo tem uma vantagem social e política sobre o suplício, porque este enfraquece ou destrói os recursos vitais. Já a docilização torna os corpos produtivos.

FERRARI, Márcio. Michel Foucault: um crítico da instituição escolar. Nova Escola. Disponível em:


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