Nos passos de uma vida
Nos passos de Uma vida Pelo espírito Marcione Ortencio
Valdison Silvério Barbosa
Goiânia abril de 2006
Nos passos de Uma vida Pelo espírito Marcione Ortencio
Valdison Silvério Barbosa
Goiânia abril de 2006
Índice: Agradecimentos e dedicatórias-------------05
Prefacio-----------------------------------------------06
Prólogo------------------------------------------------07
Capitulo I---------------------------------------------10
Capitulo II--------------------------------------------22
Capitulo III-------------------------------------------47
Capitulo IV-------------------------------------------61
Capitulo V -------------------------------------------88
Capitulo VI -------------------------------------------107
Capitulo VII------------------------------------------130
Capitulo VIII-----------------------------------------150
Capitulo------------------------------------------------162
Epílogo--------------------------------------------------168
Agradecimentos e dedicações
Agradeço a Deus, em primeiro lugar, aos amigos espirituais, aos nossos guias de umbanda, em proporcionar esta alegria, de ser o instrumento de trabalho nas mãos da espiritualidade.
Aos amigos que direta ou indiretamente contribuíram muito para a realização deste sonho de trabalho.
Muitíssimo abrigado
As amigas: Juvelcy Rocha e Natalina, que não mediram esforços para corrigirem os textos, capitulo por capitulo.
Dedico
Este livro, ao Sr João Antonio, que me incentivou a dar prosseguimento nas palavras ditadas pelos nossos irmãos da vida no além.
Aos filhos:
Wendel e Wander, e há Luciane companheira de jornada.
Obrigado a todos.
Valdison
Prefacio
PROLOGO
N
asci numa noite de impetuosa tempestade, lá no recanto pobre da vila esquecida pelo progresso. Meu choro saiu forte ecoando entre os casebres de pau a - piques e taipas, papai teve duas surpresas: a vida e a morte vistas de tão perto aumentando seu drama. Pois sozinhos, eu e ele, naquele momento seus pensamentos se desconectaram, o fazendo perder a razão.
Dois seres que buscariam seus ideais nas jornadas do destino, precisando acreditar na existência de uma lei maior que rege este universo. Da euforia a dor ele foi transportado à realidade em fração de segundos, moço pobre e sem recursos, precisando labutar para o sustento.
Meu pai abstraiu-se de mim, num gesto de desespero, deixando-me em todo aquele pranto doido, aos cuidados de uma desconhecida parteira. Saiu para o mundo das chuvas, sumindo na escuridão da noite. Posso afirmar que ambos encontramos no nosso destino, e agora depois de tantas eras posso transpor a imortalidade da alma e vos ditar os nossos desdizes.
É preciso acreditar e acreditamos em tudo que nos cerca, porém com a imaturidade do espírito, com uma fragilidade ímpar. Quando aquela noite caiu, não sabia que meus caminhos já estavam traçados por um engenheiro chamado Jesus.
Passou o tempo e um dia floriu nos jardins do céu um belo sol, eu já menina moça sem juízo, com os olhos empoeirados pelo pó do sertão, naquela época se valia pelo que se tinha não pelo que se era, foram apartados meu pai, minha mãe, e eu que desde então morava com aquela parteira, tratada como uma serviçal.
Meus caprichos foram negados, conheci manias que jamais pensei existirem, confortos ignorados, há mais das vezes só tinha os campos para correr, as matas para eu esconder, os rios onde banhar, meu mundo era um sonho sem limites.
Porém com as dores dos meus sofrimentos sendo uma fraca, joguei toda uma encarnação fora, no dia em que me atirei naquele abismo. Perambulei por anos em uma região umbralina, castigando minhas próprias lembranças, envergonhada e massacrada, sofrendo na pele os dias restantes que deveria passar na carne. Depois de várias décadas no umbral, fui resgatada e recolhida com a graça de Deus. Após inúmeras súplicas, novamente estudei, preparei-me para uma nova roupagem na carne.
E esta, é uma de minhas encarnações, morre-se o corpo limitado, mas a alma com a graça do altíssimo fica feita a voz bela do cantor a cantar seus versos, o tempo, o estudo, a doutrina e a perseverança, a partir de novas intervenções terrenas.
Amém meu Deus, obrigado por mais esta chance oh! Pai.
Marcione Ortencio.
CAPITULO I
E
u reencarnei num povoado singelo, de pessoas simples, algumas de corações puros, e outras nem tanto. São tantos indivíduos arraigados na ira e, no rancor, busquei me confortar junto a uma família modesta que me acolhera, e que deveria me dar suportes necessários para juntos cumprir nossos objetivos numa reencarnação de provas e expiações.
Marta, mulher humilde, de bons modos, olhos cheios de esperanças me acolheu por mãe. Láurico, meu pai lavrador, mãos calejadas não tinha muito tempo para religião, mais dedicou amor. Plínio, Sâmara foram meus irmãos. Plínio um garoto tão lindo quanto sonhador e Sâmara muda e surda, onde todos diziam ser a cruz que mamãe carregaria por toda sua vida, sendo o calvário infinito do seu destino.
Mamãe sorria e falava.
- Filhos é toda benção de Deus!
Tinha a esperança de ser alguém um dia na vida, quem sabe mudar o destino dos meus, mas não foi bem isso aconteceu.
Ao completar quinze anos, na minha formosa idade juvenil de esmero sonhos, estes que foram roubados pelo filho do prefeito da cidade mais próxima que se engraçou por mim, começaram me cortejar e na ilusão me vi envolvida por ele. Menina, moça brejeira e ele rapaz estudado da cidade grande não foi difícil para ele me convencer.
Conversa fácil, me namorou, com todo seu galanteio, quando dei por mim já estava em seus braços iludida pelo o amor primário. Assim fui me fazendo prematuramente mulher às escondidas, ninguém sabia do nosso romance, foram tantos os encontros até que engravidei, e solicitando ajuda ao doutorzinho recém-formado ele me disse:
- Só vejo uma saída para este nosso problema.
- Qual? Indaguei com desespero no olhar.
- Faço em você um aborto e tudo se resolve.
- Não! Nunca. Gritei - Isso jamais.
Começamos uma discussão ferrenha e acalorada, no meio das trocas de ofensas ele então me esbofeteou jogando-me no chão dizendo atrocidades mil a meu respeito. Humilhou-me, falando que não poderia aparecer na casa dele com uma moça pobre como namorada e ainda por cima se dizendo grávida, quem garantia também que o filho era dele. Desesperada sai correndo para longe daquele monstro insensível, com meus sonhos despedaçados, envergonhada e ultrajada sem uma mão que me amparasse, desolada e agora o que fazer grávida? Só e, no mundo sem esperança – pensei.
O medo me fez entrar em pânico. Como contar a meus pais o ocorrido comigo sabendo que eles de nada entenderiam, assim como o filho do prefeito eles me achariam uma sem vergonha, pois me entreguei ao primeiro homem, adentrei as matas onde fiquei andando em círculos, a noite veio e com ela a escuridão, também a fome, frio e a solidão. Mesmo com temor não pude mais fugir e tive que voltar para casa com o coração açoitado, o corpo dolorido e cansada carregando no ventre um ser indefeso, uma simples criaturinha, o filho da imprudência, que dependeria de mim para todo o sempre.
Cheguei à casa cabisbaixa de moral ferida e sem auto-estima, onde todos me esperavam preocupados, desnorteados e aflitos como o meu sumiço o dia inteiro.
- Arre menina! Quer pregar de vez a tampa do meu caixão? – disse mamãe.
- A onde você tava minha irmã? Quase que pego a filobe e vou atrás de você.
- Andava por aí – falei e desabei a chorar, todos se achegaram perto de mim menos papai, que ao contrário dos outros parecia que já sabia o que havia acontecido.
Mamãe aos berros me balançou me pedindo explicações, sem nada dizer, corri para o quarto, todos me seguiram menos papai, que prostado no mesmo lugar calado apenas me olhando. Criando coragem falei em soluços, pranto e dor que estava grávida e também quem era o pai da criança, relatei tudo o que tinha acontecido comigo. Todos me olharam com espanto e sentaram para não cair menos papai, que da onde estava apenas vi o lugar vazio e a velha espingarda que Plínio tinha a mania de chamar de filobe. Só ficou a marca na parede, ouvimos meu pai montar seu cavalo e sair em disparada rumo à cidade, Plínio foi ao encalço de papai, Sâmara sem nada entender logo foi dormir, mamãe e eu, ficamos de vigília a noite inteira a espera dos acontecimentos e nada.
Só de manhãzinha com o cantar dos galos que Plínio chegou num pranto dizendo:
- Deu-se a desgraça! Papai matou o filho do prefeito e, está preso e o prefeito diz que vai acabar com a raça dele.
Mamãe não suportando o baque desmaiou nos meus braços, nós a acudimos e, a notícia se alastrou por todo o povoado, alguns vizinhos mais desinformados vieram me questionar, até o pároco veio se inteirar dos fatos, mas, fechei em mim não me expondo, aguardando aos novos acontecimentos.
A dor por se só, transforma o homem cego enrustido nos seus mecanismos de raciocínio, fecha sua boca, a razão grita alto, a voz que vem do fundo do seu coração arrastando qualquer individuo, aos prantos, nas vertiginosas doloridas de autopunição em um nível de degradação moral.
E foi assim que a dor e o desespero renderam de assalto o coração de papai, movido pelo sentimento de lamentação, ira e incerteza falseando uma proteção no que estava se passando com um de seus filhos, ele sempre questionava se estava agindo certo ou não? Deixando a cabo do destino as soluções dos problemas dos outros.
Há alguns dias, amigos de serviço na lida da roça o avisaram do meu possível envolvimento com o filho do prefeito.
- Láurico, sua filha vai se perder com o doutorzinho.
- Que nada homem, ela é por de mais segura de seus atos. – respondia ele.
- Tenho deveras confiança nela. Confirmava.
- Mais e nele sô? Retrucava o peão.
- Não, ela não vai, na conversa mole desse jeito não.
Assim correram os dias até chegar o dia daquela tragédia, papai já havia tomado conhecimento do meu envolvimento amoroso, pois um dia ele ficou a espreita nos vigiando, observando nossos impensados atos e quase não suportava ver sua filha ainda jovem se perder nos braços de um conquistador barato, metido e rico. Deixou que passasse o tempo e que chegasse à hora de conversar comigo, porém o dia destinado para o nosso diálogo foi justamente aquele, fatídico dia do meu sumiço e que desenrolou as tragédias minhas e de papai.
Neste dia, ele trabalhou o tempo todo angustiado, coração oprimindo, como se fosse desabar num pranto infinito, arrastava a enxada sob o sol escaldante do sertão, não comeu direito, quase não bebeu água, Plínio preocupado nada falou, nada perguntou, arrastou-se para casa e, me esperou e quando dei o ar da minha graça nada me disse apenas ouviu.
Quando soube do infortúnio, uma onda negra em forma de nuvem acinzentada o cercou minando seus pensamentos, explodindo em sua alma o pedido de vingança e honra a qual deveria lavar com sangue e assim, planejou, julgou sendo um juiz implacável e também executou, sendo o algoz carrasco daquele que molestou a inocência e o ventre da filha querida com juras de amor e fugindo da responsabilidade. Papai após ter matado o infeliz e vendo o cair por terra, montou em seu cavalo e correu para a delegacia, queria ele mesmo se entregar e, na casa do delegado se fez anunciar:
- Seu doutor! Seu doutor delegado acorde que venho lhe dizer...
- Quem é a esta hora?
- Sou eu, Láurico.
O delegado sorriu e espantou-se com meu pai atirando-lhe nos pés a velha espingarda.
- Láurico, que isso homem?
- Livrei a terra de mais um canalha e venho me entregar, fiz a justiça e quero o mesmo para mim.
- Quem você matou?
- O doutorzinho de meia tigela.
- O filho do prefeito?
- Ele mesmo.
- Como se deu isso cabra?
- Abusou de filha honesta, embuchou e não casou, casa com o capeta.
- Láurico! É um homem digno, mas se é assim que quer tereis que cumprir a lei.
- Que se faça a sua autoridade.
Nesse interior a sombra cinzenta que se formara sobre a cabeça de papai foi se transfigurando tomando a forma e nesta Metarmofose um espectro se fez, desmanchando em gargalhadas sinistras soltando grito de alegria e papai foi preso.
Mamãe, nos dias que se transcorreram as fatalidades se trancou numa depressão, não comia, nem bebia desleixou-se com seus afazeres e até consigo mesmo, dando vazão aos sentimentos mórbidos que se refrescavam com brandura somente quando visitava papai, saindo da visita, nada mais mudava seu humor.
Travou uma batalha interior perdendo-se em meio aos seus pensamentos, arrastava-se numa melancolia sem fim, a baixa vibração a fez amolecer-se padecendo cada dia a olhos visto, aquela mulher vistosa, formosa. Mesmo com o castigo da roça não tirava sua beleza, sua vaidade de se arrumar. Mas tudo isso sumiu, mamãe se resumia em perambular arraigada num pranto condoído.
Não me culpava, mas também não falava comigo e eu muitas vezes tentei convencê-la que tudo acabaria bem e ela respondia irritada:
- Acabar bem com seu pai carregando nas costa um crime – resmungava ainda.
- Com um prefeito endinheirado, de boa conversa, influente e querendo vingança! Mamãe também não perdia a oportunidade de me alfinetar.
- Ainda por cima você, carregando no bucho um filho que não vai se quer conhecer o pai e, quando souber que ele morreu pelas próprias mãos do avô, será o fim.
- Não minha filha isso é uma tragédia, tenho vergonha de tudo, até o padre que aqui veio e fazia freqüência na nossa casa virou à cara pra mim, não quer nem me ouvir em confissão. – ela finalizou:
- Isso é acabar bem?
Eu era sabedora que causara aquela infelicidade aos meus e que não teria argumentos para tentar jogar sobre ela e arrancá-la do túnel funesto da desilusão, minha cabeça variava entre a dor e culpa, martirizava-me vendo o definhar de mamãe.
E os dias foram vencidos pelas semanas que perderam forças para os meses, mamãe já não tinha mais esperanças que papai fosse solto, pois o advogado, junto com a influência do prefeito, pediu sua transferência para o presídio estadual reduzindo suas chances de liberdade simplesmente a nenhuma.
Com a distância de papai, mamãe adoeceu ainda mais, passou a delirar e a ver vultos pela casa, falava que ouvia sinistras acusações e gargalhadas, o que mais me doía na alma era saber que ela não me queria a seu lado. Só aceitava Plínio e Sâmara, fui excluída por ela não podendo nem passar em sua frente, com tamanho sofrimento, fez com que meu irmão se afastasse de mim.
Ele coitado desdobrava toda a sua atenção entre o roçado e aos cuidados de mamãe, nessa desenvoltura se tornou a vida de Marta minha genitora, um mundo de drama e autopiedade, sem forças para se reerguer.
A depressão quando abraça o coração do ser humano gruda nas suas entranhas não soltando, arrasta o mais celebre dos homens ao lamaçal da sua própria incapacidade de lutar tornando-se um alvo fácil aos artículos engenheiros da maldade, tanto do mundo de cá quanto do mundo de lá que sem vigília e oração não há segurança tão pouco uma viga para sustentar os alicerces da desdita solidão.
Com o desenvolvimento da dor e do sofrimento de minha mãe e o abandono sentimental a qual eu vinha sofrendo meus dias se foram num mar de solidão, meu filho crescendo no ventre como uma semente já enraizada, e nos meus momentos de tormenta juro que tentei por diversas vezes encontrar várias maneiras de me ver livre dele e das acusações.
Meu pai se perdendo em desilusão nos confins de uma cela fria, meu irmão não falando mais comigo, somente Sâmara muda e surda me entendia, rasgada na alma e no coração tomei uma atitude, arrumei minhas coisas.
Era preciso mudar o rumo da minha vida, então com o coração partido anoiteci e não amanheci em meu lar, trilhei pela mata sem caminho perambulei durante dias sentindo o frio da noite vazia, o calor do sol ardente acompanhando a dor da minha desventura.
Que passou pela minha cabeça feito um filme lances e relances como flash que não conseguia esquecer, “como a paixão e a desilusão andam unidas uma esperando a falha da outra para poder assumir o seu posto” pensei.
Naquele instante senti pela primeira vez ódio pelo causador do meu infortúnio, as lágrimas banharam meu rosto e, sem ação deitei-me no chão, queria morrer de frio, fome, solidão revolta e desespero, tudo fluía em meu cérebro, esqueci que carregava um ser que não tinha culpa nenhuma do que fiz.
Supliquei intensamente o meu fim parecendo que os céus atendiam meu pedido, fui perdendo minhas forças, tentei levantar, mas minhas pernas fraquejaram, então desmaiei ali caída no meio do nada jogada pra ninguém.
Não vi a noite chegar nem quanto tempo eu fiquei ali, só fui dar conta de mim no outro amanhecer quando fui despertada por um cantar longínquo de galo, sentindo um cheiro gostoso de café torrado misturado com bolo até então não tinha percebido que estava num leito rústico feito de madeira. Estava limpa com roupas pelas quais não me lembrava de ter vestido.
Meu coração disparou de tamanha dúvida e medo, de repente eu olhei na porta vi uma linda cortina de contas de lágrimas me separando do outro ambiente. A janela estava entreaberta e entrava um lindo raio de sol, vi também que o dia estava belo quis naquele momento chorar embevecida, mas me contive, pois me dei conta que um senhor de idade avançada adentrava o recinto.
Meio que acanhado dono de um sorriso maroto, olho miúdo com uma voz suave me questionou.
- Acordou minha “fia”?
Somente balancei a cabeça afirmando que sim com receio.
- Num tem nada que “suncê” temer, sou amigo
- Onde estou? – Perguntei tímida.
- No meio do mato, bem longe “si fia” de onde “ocê” tava.
- O que aconteceu comigo?
- Num sei dizer antes “ducê” chegar aqui, depois de te encontrar quase que morta lá no trieiro.
- Eu passei muito mal ontem?
-?! Bom “se fia” se ontem “ocê” passou mal eu num sei não, só sei que faz mais de uma semana que eu te achei na matinha e só agora vejo “ocê” acordar.
Abismada fiquei a buscar na minha mente, mas de nada me lembrava, me vendo calada, o bom velhinho que me olhava em silencio, descontraído me questionou:
- “Ocê” tá com fome? Tem aqui um pedaço de bolo de fubá, uma caneca de café quente, sirva-se a vontade.
Não esperei ele repetir, avancei no prato e comi feito uma desvalida saciando uma fome de dias, olhei pra ele que me retribuindo um sorriso satisfeito sem nada dizer.
Começava ali a amnésia na minha vida nova.
CAPITULO II
O
s dias engoliram o tempo e logo meu filho nasceu com a ajuda do bom velhinho que me amparou, tinha esquecido tudo não sabia quem era, nem de onde tinha vindo, comecei ajudá-lo em suas funções diárias na sua pequena plantação.
Eu ali no meio da matinha com um filho no colo sem saber a procedência do pai. Comecei viver assim, na simplicidade, humilde tentei reviver os últimos acontecimentos de minha vida mais nada vinha claramente e as idéias desatinavam minha mente. Também fui vendo com o passar dos dias que aquele velhinho recebia em sua tapera muitas pessoas singelas, meigas e puras.
Eram senhoras negras, crianças desdentadas, mulheres choronas sem escolaridade e ele atendia a todas sem distinção de credo ou cor e ainda achava tempo de me tratar tal qual a uma filha e meu filho de netinho querido. Belarmino este era seu nome, conhecido na região como curandeiro e profundo conhecedor das ervas, orientava a todos e eu fui me fascinando com sua sabedoria e confiança no trato daqueles infelizes que o procurava seja com uma ferida aberta ou um aconselhamento que acalantava a dor do coração. Ele sempre se prontificava a atender sem queixumes ate que num certo dia presenciei uma cena que me chocou.
Estava sentada amamentando Dudu quando chegou esbaforido um capataz montado num cavalo negro de pura raça vindo de uma fazendo próxima gritando.
- Belarmino! Belarmino! Apeando do seu alazão.
- Sim? Veio o bom velho saindo de dentro da tapera.
- O Coronel quer lhe ver.
- Mo de que?
- Uma de suas filhas esta doente precisando de remédio seu.
- Num vou não e diga ao Coronel prefeito num sou a favor desses seus fins.
- Ora bode velho quem te disse que é para um fim?
- A sabedoria dos homens está em seus atos e nas suas ações, principalmente saber ouvir a voz que vem do alto em forma de intuição – respondeu ele sem se titubear.
- Velho bruxo saiba que o Coronel não gosta de ouvir não como resposta e que ele vai ficar muito dos contrariado em saber que um velhote o desagradou.
- O meu não, é para o seu próprio bem, se eu fizer um troço desses estou contrariando as leis de amor a qual me propus exercer nesta terra de meu Deus.
- Mais tu não sabes o que é ou sabe?
- Sei que o avaro do coração do homem traído pelo próprio sentimento que o condena à soberba distinção, mesmo que para ele as leis da terra estejam toda vinculada em suas mãos. Não sabe ele que o seu coração de dureza pode cobrir-lhe os fatos e como sempre afundá-lo mais ainda no lamaçal da cegueira e da desilusão.
- Não é matando um problema hoje do homem que amanhã seja ele qual for retornará com mais ímpeto cobrando a reedificação novamente.
Ele falava com uma sabedoria incomum nem parecia ser aquele humilde e bom velhinho e ele continuou o sermão num fio de voz com palavras certeiras.
- Sabe filho, sou apenas um velho que assumi no presente desta vida uma escolha de amar sem fim ao meu próximo, e não vou submeter aos caprichos de um pai orgulhoso e vaidoso que não consegue aceitar que sua filha siga o caminho a qual escolheu o de amar.
- Agora se ele quer arcar com as responsabilidades perante as leis de Deus, que ele faça sem os meus meios e sim com os seus próprios fins.
O capataz ouvindo as últimas palavras do meu amigo montou em seu cavalo falou um ou dois desaforos e sumiu na poeira a fora.
Curiosa quis saber do que se tratava Belarmino olhou-me nos olhos e disse.
- Vamos tomar um gole de café e te conto tudo minha “fia”.
Acomodamos, ele num toco eu numa cadeira, vi sua serenidade cortando o fumo para colocar numa pitimba tomou um gole do café começou a dizer.
- Sabe fia o coração do homem é propenso ao orgulho e isto leva o ser humano à vaidade, pense “ocê” fia numa moça que nasceu há quinze anos, possa hoje estar vivendo um de seus maiores dramas na sua vida, menina nova, moça ingênua cheia de sonhos. Enamora-se por um serviçal da casa grande e do namoro nasceu uma forte paixão, daí para o amor é um pulo, maravilhada com tudo, nos seus devaneios de meiguice juvenil, se entregou ao pobre mancebo, seu pai Coronel autoritário quis matar o jovem. Mas fez bem pior, expulsou-o de sua fazenda sem direito a nada, junto com seus pais velhinhos. - Uma baforada no cachimbo e mais um bocado de café ele refletia na situação quando atalhei seus pensamentos.
- Mas isso era normal de acontecer – falei displicente.
- Sim, pois o pior “fia” ou o melhor porque um filho nunca é coisa ruim, a pobre regateira emprenhou e o Coronel quer que eu por tudo nesta vida use meus conhecimentos para fazer com que ela perca a criaturinha inocente filho da imprudência.
- Sem com isso ter que levá-la a cidade grande ter com os homens de branco e não passar por este vexame.
- E o senhor?
- Não “fia” não faço esse oficio não. – O que sei e aprendi foi para fazer o bem e para o amor, para matar isso nunca! – Completou.
- Neste dia aprendi mais uma lição com Belarmino e falei emocionada que daquela hora em diante se fosse de sua vontade, aprenderia com ele este amor e a receitá-lo para quem fosse o doente. Nascia em mim uma nova religião.
Aprendendo com amor e dedicação os ensinamentos junto com o bom velhinho, pude realizar inúmeras caridades em prol dos mais necessitados, abracei a causa de amor e crescimento sem fim.
Ao lado do Belarmino eu aprendi o nome e o significado de cada erva, cada essência retirada das raízes, que a rica e bondosa mãe natureza nos presenteava todos os dias. Estes lindos e maravilhosos dias eram infestados de grande júbilo, parecia que eu remoçava em cada criança amparada e sorridente, em cada doença curada. Eram senhoras auxiliadas com amor e porque não? Bem orientadas.
Belarmino era zeloso, caprichoso e com carinho ajudava a todos usando de sua sabedoria, que também direcionava a mim, me ensinando com devotamento e amor era sim, uma transmissão de ensinamentos parecendo um anjo de Deus enviado para a terra para curar.
Seus medicamentos eram receitados para todos os fins. Os meses foram transformados em anos e o caso da filha do Coronel de há tempos havíamos esquecido.
Em uma noite estrelada sentada ao lado do bom ancião em meio à conversação notei que ele foi mudando a voz gradativamente ficando que meio pastosa porem firmes e com estas palavras mostrou-me um novo horizonte a seguir.
- Boa menina já esta aqui deveras de tempo, num é filha? – Chegou momento de nós levarmos o remédio espiritual para as almas que vem aqui em busca de medicamento material.
- Nós seremos a luz na escuridão nos olhos cegos, e nas letras dos analfabetos que só sabem render graças ao Grande com a boca e não com o coração. Levaremos a candeia longe, onde a barca da esperança te carregara, lá onde existe o joio em meio ao trigo você apartará, assim como o bem do mal, abraçará o benigno e amarás o maligno, muitas provas virão para tentar te desvirtuar do caminho rumo às esferas da dignidade moral e do bem.
- Minha filha seu tempo chegou. Chegou à hora de bendizer o nome do filho de Deus a voz do vosso coração, ergas tuas mãos e nunca meça esforços para acariciar um doente seja qual for sua enfermidade. Não se preocupe, estamos todos ao seu lado e quando este cavalo aqui despertar recomende para que ele abra todas as noites de sexta-feira um culto, a qual filha, você lerá as benesses do evangelho do Cristo e dará a vazão da doutrina do amor Universal.
Fiquei atordoada e sem saber o que havia se passado sentindo no ambiente um simples perfume no ar um misto de rosas do campo com folhas do mato. Belarmino voltou do transe e com sua sapiência me explicou.
- Olha fia os nossos irmãos do lado de lá a muito queriam esta oportunidade de vos falar, mais eu achando prematura à hora continha pedindo mais tempo para te preparar. Ele falava, mas eu aturdida não assimilava nada do ouvia, pois não sabia e nem entendia aquele transe.
Entendendo minha perplexidade o bom samaritano me olhou nos olhos e sorriu dizendo.
- Ta confusa num é? Também pudera, mais faz o seguinte: já é tarde vamos deitar e amanhã de manhã pego no meu baú uns livros e umas anotações que lá tem e com certeza vão nos ajudar entender o que se passou hoje.
- Vamos dormir que amanhã será um novo dia.
Belarmino no outro dia cedo me esperou no quintal com uns pacotes de baixo dos braços, fumando seu cachimbo, com uma caneca fumegante de café, meu filho Dudu já corria pelo terreiro serelepe alimentando as criações.
- Bão dia fia!
- Bom dia seu Belarmino.
- Se sente aqui vamos prosar um pouquinho.
- Tudo bem.
- Certa vez - começou ele falando. Passou por aqui um homem estudado bem apessoado, não entendi bem naqueles dias o porquê dele ter vindo pra estas bandas, só depois de ontem pude compreender.
Chegou aqui com poucas roupas uma capanga e estes livros que não sabia o que estava escrito, pois não sei ler, mas do marcante foi ele mesmo contar sua história. Foi um rico barão do café mandou e desmandou e em muitos povoados, com sua tirania desmoralizou inúmeras mulheres escravas, pagando caro pelo seu bel prazer. Desfrutando de virgens, senhoras, e damas casadas desconhecendo a palavra sentimento, desvalido de fé maquinou a sentença de morte de tantos infelizes que se opunham a seu caminho. Ainda moço ousou contra a vida de seu pai, sepultou o irmão mais novo, tudo por uma herança vultosa, completou sua audácia contra os mandamentos de Deus, tornando-se um homem mais vil e ainda sem escrúpulo.
Sua ganância, seu orgulho e sua vaidade mutilaram de tal maneira que seu organismo já regurgitava pelos poros os sinais de sua maldade. O coração mais parecia uma rocha que um músculo sua linfa corria pelas veias misturadas ao álcool maltratando sua cadeia circulatória. O infeliz não conhecendo o sepulcro a qual se afundava mais, porém fia um dia um raio, um vulto, há! Aquela visão o acabrunhou com tamanha violência que de falastrão emudeceu, a língua parecia pregada no céu da boca os pés afundados no chão sem caminho a seguir, as pernas tremiam e endureceram por ver aquela assombração.
Seu pai dos mortos se fez aparecer e com uma cara desfalecida mais ativa em suas atividades mentais lembrando os espectros que as vovozinhas contavam para fazer dormirem os netinhos. O barão assustado, incrédulo passou a ouvir a voz do seu falecido pai.
- Filho desperte para as necessidades da vida mova seus pés em direção do bem, chega de suplantar dor e magoa no coração dos seus semelhantes. Seu dinheiro sua posição não te reconforta a alma, puramente te dão prazer mesquinho e temporário, chegará um dia, no tempo futuro que, prestará contas de todas as leviandades e atrocidades cometidas contra seu irmão. Recomponha-se no tempo perdido enquanto é tempo, caminhos podem ser mudados em vida, depois da morte pode ser tarde para se redimir com todos.
A cada palavra de seu genitor o Barão nada dizia apenas refletia, achando-se atormentado na sua sanidade ignorou todos os avisou e continuou sua descida e sua queda foi tamanha que começou a ver e ouvir seus algozes, tantos infelizes comungando com ele a escravidão do ódio. Virando um joguete nas mãos de vingativos e imprudentes inimigos.
Proprietários das fazendas vizinhas começaram a espalhar pelas redondezas que ele enlouquecera e perdeu o domínio do seu juízo caiu no ridículo de começou a falar sozinho, duelava contra monstros que somente ele via, por várias vezes foi pego pelos escravos e empregados atentando contra a própria vida. Mas como na divina providência quando o infeliz tem na sua estrada uma missão a ser executada neste mundo e com a plantação feita chega a hora da colheita. E os propósitos de Deus para o ser humano é cercado de perfeição, pois ele tudo sabe e ninguém dele nada esconde.
Numa noite de loucuras o Barão foi amarrado e como ele devia tudo e todos, moral e materialmente muitos quiseram matá-lo. Os escravos e os capatazes planejaram sua morte o tumulto famigerado ouvia-se no quintal próximo a casa grande, o barão gritava e mandava matar o que ele já havia matado. No meio dos negros e dos empregados o senhor do mato, de carabina na mão, já fazia a mira um pandemônio, uma gritaria todos diziam em alto brado.
- MATA! MATA!
No zum, zum se ouve um grito e também um silencio.
Um preto velho veio caminhando lento com um pequeno pedaço de bambu se firmando nele feito uma bengala, cada passo pausadamente pés um após outro, cachimbo na boca soltando a fumaça pelo ar, um velhinho de envergadura imponente. Olhos miúdos carregando nas costa o peso de eras e eras de trabalho forçado na lavoura, sua cabeça alva feito uma flor de algodão, de peito aberto sem se amedrontar.
Pai Joaquim se abeirou do Barão amarrado, suspirou profundamente, deu mais uma tragada no cachimbo, olhando o infeliz atado de pés e mão, encheu os olhos de água disse pausadamente:
- A quem vos suncêis querem enganar? Não é por que não vêem, num quer dizer que não esteja aqui à perturbação enlouquecendo o sinhozinho, que apesar dos maus-tratos praticados contra seus subalternos, não esteja sujeito a piedade.
- Todo aquele que pune será punido. Todo aquele que amar também será amado, as coisas na vida tem sempre as idas e voltas, feito a cobra venenosa mal matada se enrola, não percebendo o tamanho da tocaia, ver o rabo de uma suposta inimiga e da o bote com fúria fatal. E só com seu falecimento percebera que a fora atingida pelo próprio veneno.
- Algoz de se mesmo o pobre diabo não se apieda de ninguém, o sinhozinho Barão ta hoje mordendo o próprio rabo e agonizando com seu próprio veneno. Matá-lo é jogar ele num abismo, sem dar uma chance de reparar os erros que cometeu, seus caminhos foram traçados e todos agora querem vingança, mas vingar de que e de quem?
- O ciclo é vicioso meus filhos todos somos cobradores e cobrados, antes sermos cobrados do que sermos cobradores. Antes amar do que odiar, antes perdoar do que vingar.
- Venho por intermédio de zambi, nosso Pai maior, interceder pela vida do Barão, assim como Jesus cristo deu uma nova chance à rapariga, peço a todos, deixem que eu, este nego véio já cansado da lida, carregar ou pelo menos tentar carregar este fardo e com humildade e devoção abraçar esta alma não como carrasco e sim como um irmão.
O nego véio pôs o cachimbo na boca firmou na sua bengala e ficou esperando a reação dos presentes, como ninguém se manifestou pediu que carregassem o Barão para sua casinha lá no alto da colina. Chegando lá se travou uma luta entre o céu e o inferno se assim podermos dizer, pai Joaquim usando de sua sabedoria, no tratado com o outro mundo, foi dialogando com cada de seus algozes até restar um, o mais revoltado seu irmão que fora assassinado pelo Barão na disputa pela herança.
- Não o deixarei nunca, jamais o perdoarei. – dizia ele.
- Ocê se fio tem de entender que este fio também tem que seguir o seu caminho que nem vós suncê.
- Ele cortou o meu caminho ao meio por isso não o deixarei.
- Assunta o estado dele fio, que aparência ele tem?
O predador escravo da vingança pôde perceber a sua vitima, num estado de zumbi, olheiras profundas um morto vivo ambulante alucinado preso ainda a matéria digno de dó e piedade. Seu aspecto não escondera de ninguém sua insanidade.
- Ah! Ah! Quero que ele morra e passe logo para o lado de cá para acertamos nossas contas.
- Porém deixe-me mostrar uma situação, pai Joaquim fumava sua pitimba e em pensamento batia bico com o obsessor.
- Fio suncê não se lembra, mas vou te refrescar as idéias te lembrando...
Há muitos e muitos anos os dois nasceram em terras diferentes um do outro, ricos e donos de muitas posses formou-se uma amizade entre os dois de farras, folias, de dores e de alegrias quando na idade já madura apaixonaram-se pela mesma moça e ela na sua invigilancia também enamorou pelos dois mancebos. Atiçando a rivalidade entre dos dois, e Ocê fio se achando preterido atentou contra a vida de seu melhor amigo para ficar com a donzela de seu coração, mais ela amando os dois não soube definir os sentimentos e acabou por suicidar-se e também ocê não suportando a dor se matou.
Reencontrando os três fizeram planos futuros para uma nova existência carnal. Agora estão aqui neste drama e se suncê olhar para o lado reconhecera alguém.
Encabulado o espírito virou-se e viu sue pai chorando copiosamente e fixando bem os olhos ele atentou direito e percebeu uma metamorfose o pai transformando-se na baronesa tão amada e ambos se abraçaram e juntos derramaram o pranto da solidariedade. Pai Joaquim calmo baforando a pitimba ouvindo a baronesa falar:
- Meu querido e amigo pai Joaquim cuide do Barão por mim coloque-o no caminho do bem assim digo.
“Feliz do mancebo que desperta angariando no fundo da alma
Seu tesouro veio com o propósito de amparar
Sorrindo com o coração abraçando ao irmão que se desprende
Do lentoso sono e a prioridade são de esclarecer
A necessidade é de aprender
A verdade não tem que ser a nossa, sim a de Deus.
Do que adiantaria os sentimentos quando estes estão
Sopitado na epiderme
Amanha será um depois outro e se atingirmos
Um só coração o dele próprio estaremos satisfeitos
Este coração seja de se mesmo a voz que tentara aprendera
E se esclarecera e quem sabe na humildade, na simplicidade
Sem orgulho tão pouco sem vaidade atingir os seus
“Que Deus nos ilumine.”
“Baronesa de M...”
Então o Barão, por vários dias, onde os amigos espirituais usando de fechos de luzes banhavam seu espírito com a sublimação do bem, desperta e diante de pai Joaquim o Barão chorou arrependido dos atos que cometera, envergonhado quis mudar o rumo de sua vida. Seguir outro caminho, colocando em prática algo de produtivo, não sabendo por onde começar e foi ouvindo as orientações de pai Joaquim.
- Redimi meu fio na estrada do bem, enunciar, dizer-se arrependido é bonito, mais daí arregaçar as mangas e começar a fazer é que ta o problema. Seus passos sempre serão seguidos por seus inimigos, mas se buscar a direção da perfeição será rodeado pelos anjos da guarda, vós mecê é um médium, um cavalo um intercâmbio dos espíritos é os olhos dos mortos, és o ouvido dos que sussurram promessas e pedidos.
- Busque meu fio aprender tudo sobre esta bandeira que nasce para acalentar os humildes, para abraçar os fracos e fortalecerdes nas lidas dos inimagináveis caminhos, há um manuscrito por um famoso pesquisador, vá e aprende, passe aos outros tudo que puder.
O Barão naquele dia nasceu de novo e se propôs a buscar esta doutrina e repassar os caminhos dos mortos. E junto com pai Joaquim viajou para Paris traçou planos e buscou no evangelho segundo o espiritismo algumas respostas para sua vida e quando ele voltou na suas terras, totalmente curado de sua insanidade, sua demência tornou-se um pilar para seu reerguimento.
Numa manhã o Barão reuniu todos os escravos e empregados dando-lhes alforria e dividiram todas as terras e seus bens em parte iguais a toda as famílias de escravos e empregados. Muitos pensaram ser mais uma loucura do Barão e foi, pois ele seguiu “a parábola que o jovem rico não seguiu” desfez de tudo que era seu e somente pegou seus livros e suas anotações e saiu com poucas roupas, peregrinado pelos sertões ate chegar nestas barragens. Pregou as novas do Cristo e as promessas de uma nova filosofia, uma ciência que trataria com os mortos.
Renunciou a todos e amparou os que lhe chegaram, ele escutava com paciência passaram-se muitos anos ele morando aqui comigo ate que numa noite conversávamos tranqüilos fia e pai Joaquim por meu intermédio manifestou e lhe previu.
- Fio tô orgulhoso de Ocê, nego veio de há muito passou pro lado de cá deixando o sublime cativeiro da carne, mais nego véio, vem dizer que chegará o dia em que a crença dos escravos será vista, também com os olhos dos brancos. Será um misto de ritual indígena com africanismo, com um batuque de tambor, com dança onde nós simples negos serão respeitados, dos índios será ouvida toda a sabedoria das matas, das folhas do campo, na fortaleza das águas das cachoeiras, nas curas pelas raízes, nas fumaças da queima das ervas. Na claridade do lume direcionando os irmãos menos esclarecidos perdidos na escuridão da ignorância.
- Chegará o tempo de a nossa religião ser respeitada, pois será um sincretismo vindo dos católicos, dos kardecistas, será uma das maravilhas do mundo no templo da natureza.
- O Barão foi tomando nota de tudo e hoje sou eu que lhe entrego as suas anotações e pesquisas, todos os livros de seus estudos. E do jeito que chegou misterioso misteriosamente o Barão se foi. Estava extasiada, fascinada com o que havia escutado de Belarmino e com todas aquelas informações nas mãos prometi aprender e repassar adiante tudo que ali continha. Era pra mim um novo recomeço, nas benesses do pai desvendei os mistérios do amor com aquela historia de renúncia de amor próprio. Naquele instante mágico senti vontade de render graças ao nosso senhor Jesus Cristo e nas anotações do Barão me deparei com um grande aprendizado abrindo em uma página qualquer de um puído diário lia-se uma reflexão.
“Premiado seja o filho do homem que aprende com a dor renunciar seus objetos de prazeres, o mundo não é de todo errado mais devemos buscar a sintonia com o altíssimo para não sucumbirmos nas valas da soberba e da ingratidão que nos assola constantemente, meus mentores nada sorriem com nossas falhas irmãos amados.
Porem nossos prantos é glorificado com as nossas redenções que não permitem ignorar os mansos, acudir os encolerizados e termos piedade para aqueles que rastejam sem misericórdia.
Pobres seres que da ambição nasceu a discórdia, que do seu orgulho morreu na vaidade que do ódio viste de perto o latrocínio de sua alma.
Amor palavra dita em todas as rodas seja na alta ou na baixa sociedade, ate ser esquecida na noite, bendita ate a separação, maldita ate achares os meados da miséria culminante, nada de novo quinquilharias sem razão, serão eternos e a dor só saciara quando os corações compreenderem a palavra perdão.
Perdoa meu Deus, aqueles que choram o pranto de arrependimento, meus amores são as vidas que carrego em meu pretérito imperfeito, refugio-me no meu espelho dos meus olhos um dia sem noite. Aliviarei meus algozes suplicando perdão pelas minhas falhas e subimos para o altíssimo Deus.
“Minha oratória só terá fim quando meus inimigos forem meus amigos e meus amigos irmãos, minhas rezas serão ouvidas com a graça de nosso mentor e organizador do universo Deus o Grande”
“Barão de M...”
Passado os dias minhas leituras foram expandindo meus conhecimentos, quanto mais lia os livros do Barão e suas anotações, deparava-me com deveras conclusões, descobri que no mundo nada é por acaso e sim por uma causa. Não existe esta de coincidência passei a crer na providencia divina em noites e dia de observaçoeos via que meu filho crescia e em mim nascendo muitas duvidas, tendo medo de desvendá-las.
Como prometido passei a reger todas as noites de sexta-feira uma espécie de missa onde rezávamos e tínhamos a presença de pessoas de todas as bandas, durante as missas Belarmino dava instruções com uma voz rouca, pastosa e firme eu sabia que ele estava num transes segundo pelo que li. Era a piscofonia em ação.
Foram muitos anos desse jeito, Dudu contava já com quinze anos, meus caminhos de há muito estavam esquecidos e, escondidos em algum lugar do meu passado e que um dia teria que reencontrá-lo. Para recomeçar uma nova caminhada que eu não sabia onde parou e em que tempo ficou.
Certa noite de sexta-feira Belarmino o bom velhinho encontrava-se debilitado na saúde e não foi até o quintal onde fazíamos as nossas orações, nesta noite um homem me chamou a atenção que quase não conseguia ler as anotações do Barão, tão pouco o evangelho que abrindo ao acaso nos deu a seguinte lição: desigualdade de riquezas.
“A desigualdade de riquezas é um dos problemas que inutilmente se procura resolver, desde que se considere apenas a vida atual.” A primeira questão que se apresenta é esta: Porque não são igualmente ricos todos os homens? Não são por uma razão muito simples: “Por não serem igualmente inteligentes ativos e laboriosos para adquirirem, nem sábios e previdentes para conservar.” E, aliás, ponto matematicamente demonstrado que a riqueza repartida com igualdade a cada um daria uma parcela mínima e insuficiente; que supondo efetuando esta repartição, o equilíbrio em pouco tempo estaria desfeito pela diversidade dos conceitos e das aptidões; que supondo a possível e durável tendo cada um somente com o que viver, o resultado seria o aniquilamento de todos os grandes trabalhos, que concorrem para o progresso e para o bem estar, da humanidade; que admitindo desse ela a cada um o necessário já não haveria o orgulho que impele os homens as grandes descobertas e empreendimentos úteis.
Deus a concentra em certos pontos e daí se expande em quantidade suficiente de acordo com as necessidades. Terminei a leitura e o homem não tirava os olhos de mim então comecei a dissertar sobre o tema da noite: - Pai como tua sabedoria é magnânima pondo em mãos sabias os seus tesouros e suas riquezas não este tesouro material, a qual homens matam e morrem por ele. Mas a divina riqueza da alma, ponha em nossas mãos a sabedoria de termos o livre arbítrio para desvendarmos qual caminho seguir.
Então pra que oh pai! Buscarmos por uma riqueza inútil, questionar sua sapiência em querer esta divisão igual de bens? Que nós oh pai bondoso não temos ainda a capacidade de administrar nem o pouco que nos é chegado, então por que sofrermos com estas conjecturas que nos assola a alma e maltrata os pensamentos. Concluí minha dissertação e o homem ainda me olhava, encabulada com ele me analisando comecei a ficar impressionada a cada olhada eu via nele um traço familiar. Ele me sorria eu também meio que inexpressiva tentava sorrir, me abstraindo daquele ambiente de pânico que se formulava, fechei os olhos suspirei fundo aquele ar puro da noite, o perfume das ramagens que insuflavam meus pulmões me impulsionaram a fazer uma espontânea prece de redenção às graças do divino mestre.
- Reconheço meu pai que sem ti sou frágil folha seca largada ao vento sem direção, sem sua inspiração sou uma chuva morna que tem seu o coração marcado pelos desdizes da vida.
- Reconheço pai amado, que sem ti sou uma esperança morta dentro de um peito ferido pela solidão do desespero. Oh! Crueldade sem fim sou eu indigna com as incertezas dos meus desvios de conduta moral.
- Reconheço senhor que sem ti, sou nada e sendo nada para onde irei? Mas com você oh pai eu chegarei ao meu destino o meu coração e força no senhor, sem ti eu não tenho caminho, não tenho silêncio nem tenho frieza de pensamentos.
- Reconheço que sem ti sou tudo isso, porém contigo em meu coração sou folha verde firme na arvore da vida, nos jardins do infinito sou tua meu amabilíssimo mestre.
- Senhor tu és a mais pura perfeição, abraçando a causa do homem em um novo ideal, somos meu pai contigo fortaleza, sem medos, sem rancores, sem egoísmo, sem inveja e reclames de nós mesmo. A vida nossa de cada dia se levada em conta os martírios de cristo nada sofremos, nada choramos nada sentimos de dor e desespero.
- Nos desperta pai para amar, sorrir, servir sendo uma folha para aquele que busca uma sombra para descansar. Nascemos sim para sermos tudo isto, um tudo no esplendor galáctico abraçando e servindo, amando e amparando todos em nome de Te meu pai.
- Pois neste momento recorro aos bons espíritos para o reconhecimento de efeito e causa. Reconheço oh pai sem ti nada sou, mas contigo sou a força chamada amor. Assim seja!
Terminado a prece alguns dos presentes vieram ter comigo palavras de esclarecimentos, agradecimentos e despedidas. E intrigantemente o homem continuava sentado no mesmo lugar desde quando chegou apenas sorrindo notei de relance que de seus olhos brotavam duas perolas cristalinas em contas de lágrimas. Esvaziado o recinto restando apenas o estranho eu aproximando-me dele fui cumprimentando.
- Boa noite moço.
O desconhecido olhou-me no fundo dos olhos analisou-me por inteira como se eu fosse à única e última pessoa do mundo, num misto de pranto e alegria ele foi sorrindo e chorando. Sem entender nada fiquei observando aquele clima nostálgico, por fim ele quebrou o pranto e o silencio.
- No meu desespero e na minha dor, ouvi falar numa mulher que transportava aos corações dos infelizes confortos, sabedoria e amor. E como a vida dá voltas eu querendo esquecer meus problemas e fui encontrar na pessoa de minha irmã a benção de Deus que faltava na minha jornada tivesse este desfecho.
A palavra irmã caiu feito uma bomba que detonou mil e umas recordações minha cabeça girou rodopiei e caí desfalecida e, num impacto lembrei-me de todo o meu passado até aquele momento. As cenas brotavam em minha mente cada uma lance a lance, meu pai, minha mãe, minha irmã. Senhor quem fui, quem era o pai de meu filho, todos os personagens da minha tortuosa vida ressurgiu ali, naquele homem se dizendo e apresentando como meu irmão.
CAPITULO III
J
á dentro de casa e recuperada do susto, eu, Dudu e Belarmino ouvíamos atentamente as palavras de Plínio.
- Naquela noite que você saiu Sâmara sem explicação começou a chorar, mamãe a gargalhar, eu naquela casa já estava enlouquecendo, papai no presídio, você desaparecida sem saber por onde procurá-la entrei em estado de pânico a vida me jogava nas costas uma responsabilidade para qual não estava preparado.
- Nossa casa se tornou um manicômio eu com duas mulheres, uma chorando outra gargalhando, o padre, várias vezes foi lá, rezava, rezávamos e nada, você sumida e eu tendo que trabalhar dobrado e dar atenção em casa. A comida ia se esvaindo começaram a chegar donativos mais nada supria as nossas necessidades, Sâmara não comia vivia só num pranto sem fim. Mamãe eloqüente dizendo coisas desconexas as freiras da paróquia fizeram terços, missas e rezas sem fim e nada do quadro melhorar, por fim todos foram se afastando, deixando-me só novamente, os donativos caíram por menores somas os auxílios.
- Já não conseguia arranjar emprego, pois quando começava trabalhar tinha que largar tudo e socorrer em casa.
Meu irmão tomou um fôlego e continuo seu relato.
- E assim foram-se os anos passei a ir menos ao presídio, papai foi condenado há vários anos de cadeia, o prefeito começou a me perseguir querendo acabar comigo, também impediu que todos me ajudassem. Com muito custo consegui uma colocação para Sâmara em uma casa para excepcionais, mamãe está em um manicômio, assim minha vida resumiu-se em trabalhar para restabelecer, tive que buscar trabalho fora da nossa região, pois ali perto nada conseguia.
- Amparado por um casal de velhinhos que me deram guarida, me apresentaram ao Coronel e ao capataz dizendo ser um filho de seus filhos sumidos há muito dias, comecei a trabalhar no roçado vivendo modestamente consumindo noites e noites sem dormir pensando nos meus e principalmente em você que saiu grávida e sem nenhuma proteção. Os dias foram seguindo sem muitas movimentações, os velhinhos a cada dia se orgulhavam de mim e eu fazia o possível para não decepcioná-los, mas como toda perfeição da vida uma hora vem à imperfeição e, os nossos corações nos pregam peças do tão mal ou bem fadado amor.
- Conheci Dorinha a filha do Coronel, menina moça com corpo de mulher, uma formosura cabelos aloirados no meio das costas, os olhos de um anil tão fugaz como o azul do mar. Meu coração não resistiu à tamanha beleza feita à mão de Deus, aquela moça era a obra prima do destino, senti-me correspondido também por ela em cada olhar, cada sorriso torçado, cada gesto e em cada palavra. Os bons velhos tentaram me alertar.
- Plínio cuidado com os folguedos do coração a sociedade é orgulhosa e implacável se ponha filho no seu lugar, moço pobre com filha de gente rica é um desastre para o mancebo. – E eu retrucava:
- Que isso não seria um bestial em me apaixonar-me pela filha do patrão. - Mal sabiam eles que no meu peito o amor consumia feito soda o meu coração, suspirava o perfume das rosas do campo e imaginava o aroma de Dorinha. Banhava nas águas do rio e me deliciava com a brisa que me abraçava e atados aos manifestos da natureza onde pintava uma tela a qual Dorinha era a musa inspiradora da minha vida.
- Não suportando esta situação decidi atender aquela paixão ardente que me queimava os poros, feito raios de sol. Certa manhã eu notei quando o Coronel e sua esposa foram à cidade programar sua posse, pois acabara de ser eleito a prefeito da cidade. Aproveitei a oportunidade de aproximar de minha razão pra viver, fiquei a espreita e quando a vi, sozinha cheguei dizendo.
- Bom dia sinhazinha!
- Bom dia!
- Queria um dedo de prosa com a moça.
- Não sei se devo papai não está, mamãe também, alguém pode não entender.
- Dê-me apenas uns minutos – Com o coração descompassado implorei.
- Tudo bem. Seja, porém breve sim. Nesta hora minha cabeça chacoalhou lá dentro os meus pensamentos lembrei-me de uma velha poesia que você falava sem delongas recitei com determinação:
Hoje os caminhos findaram a estrada de minha vida
Minhas buscas seguiram na jornada incessante a querida
Feito lua e sol, um céu estrelado reconheço nos teus olhos o brilhar
De duas jóias atreladas a um sorriso num belo sussurrar
Movimento meus pés na direção deste fim que não mereço
Mais o aflito do meu peito, o coração sugere apesar dos avessos o começo
Começo de um olhar
Começo de um sorriso
Começo de um falar
Começo de um castigo
Que começa a me castigar
Fazendo meu sorriso sofrido
Fazendo meu dizer silenciar nas baladas do meu sonho deste
Que comecei ate sonhar que sonhou com as brumas do amor
Com a fogueira do calor, com doce mel dos teus lábios
Assim sonhei sonhando
Com o nosso amor
Com o nosso calor
Com o nosso sabor
Desafiando os sábios dos sábios a te amar como te amo
Minha própria vida.
- Silenciando minha voz naquele instante mágico vi nos seus olhos o pranto da paixão, se afastando de mim correu para casa grande, mas sabendo nós, que nosso amor estava selado para sempre. Ah minha irmã meus dias se tornaram uma espera angustiada passou algumas semanas após nosso primeiro diálogo, comecei a inquietar-me não mais a via. Mas o coração do pobre apaixonado o faz sonhador, o fazendo ver miragens irreais numa odisséia ornamentada por um imaginário oásis, para o romântico não existe noite sem luar tão pouco dia sem sol, tudo é magnífico não existe dor que não se cure nem mal que sempre dure.
- Vivia suspirando no roçado o bom velhinho que me amparou notara minhas mudanças, mas nada dizia, a velha caridosa senhora que substituíra a nossa mãe, cansou de me alertar.
- Mas a cegueira da paixão não deixa guias, nem bengalas para inconstantes cegos, num fim de tarde um moleque veio até a mim, trazendo um envelope e me entregando, até hoje sinto minhas mãos tremerem com o perfume do papel com a seguinte mensagem:
Mexeste com a intimidade do meu coração, com suas palavras abalou as bases da minha certeza, me sinto incerta se deve ou não atender as batidas descompassadas deste meu irrequieto coração.
No crepúsculo dos dias imagino ainda sua voz em meus ouvidos sussurrando sua paixão, minhas noites tornaram-se insones, sonhando acordada com seus trejeitos sem jeitos de um galã.
Embrutecido pela rústica labuta no eito do roçado, rendo-me aos seus encantos encontre-me amanhã de tardinha no rechaço do riacho, onde se faz a cachoeirinha, estarei lá com toda minha motivação e paixão.
Dorinha...
- Abracei a carta como se fosse um tesouro precioso, meu, tão somente meu quanto à minha vida, a noite avançou no tempo como uma tartaruga os segundo levavam horas para vencerem os minutos, os ponteiros do relógio não se moviam. A madrugada e não dormi, sentei na cama e reli varias vezes sentindo aquele perfume e os raios do sol não chegavam e quando chegou já me pegou no roçado meus companheiros acompanhavam minha indisfarçável alegria.
- A tarde rendeu o dia e banhei o mais rápido possível e fui ter com Dorinha. Chegando à cachoeirinha ela estava lá incorporando aquela tela viva da natureza, num lindo vestido com um quebra sol da mesma cor, com um sorriso e um olhar assustada, mas decidida e tão apaixonada como eu, não houve uma só palavra. O som dos nossos corações gritava mais alto que o desejo. Corri até seus braços e ela me abraçou, nossos lábios finalmente se conheceram num beijo. Nosso amor explodiu vulcanicamente com uma fúria adormecida há eras.
- Ficamos ali vendo a lua banhar nas águas do ribeirão ao som da cachoeira juramos amor eterno, combinamos de uma vez por semana nos encontrarmos naquele recanto tão nosso. Assim fizemos até fazermos amor, ah o amor de dois corpos cientes do que desejam. Diz uma lenda:
- “Quando Deus fez o amor partiu ele em dois pedaços uma metade deu ao homem e a outra entregou a mulher, e os jogaram no mundo longe um do outro para que este amor se torne um ímã. E magneticamente os une um dia”.
- Ficamos tantas vezes que imprevidentes em nossos atos de amor que Dorinha engravidou-se e a bamba estirou por toda a fazenda e chamado a justificar-me com o Coronel fomos francos nas palavras.
- Que besteira é esta que foi fazer homem?
- Sim senhor Coronel amo Dorinha, quero repará-la com meu amor, casamos e tudo ficara bem.
- Pensa que vou cometer uma loucura desta, nunca uma filha minha casara com um serviçal boçal, um ninguém.
- Não sou um boçal Coronel.
- É pobre – Gritou o Coronel – E a pobreza me dá muito nojo, os pobres só servem para serem a escoria do mundo, pois se não houvesse pobres não teriam serviços, são duas raças que só existem para servir aos ricos, os pobres e os negros escravos, que infelizmente alguns querem libertar. Há! Mas a pobreza, esta vai estar sempre sob nossas botas e temos que pisoteá-los colocando os paupérrimos em seus devidos lugares.
- Não é bem assim não – tentei inutilmente argumentar.
- Você, filho da miséria deveria escolher melhor a quem iludir, pegando uma menina que não sabe nada da vida. – Eu devia mandar matá-lo só não faço – continuou ele enfurecido, porque miseráveis que são não perpetuariam longe de minhas terras, você e este dois velhinhos imundos, que o trouxeram para minhas propriedades, e você verme maldito manchou a honra de minha filha. Sumam de minhas terras junto com os seus pais.
- Meus olhos buscaram os de meus protetores que em vão tentava no desespero justificar, mas ambos, uma vez mais me amparam e me abraçando disseram em lagrimas:
- Vamos filho te avisamos sobre o orgulho e o preconceito, principalmente sobre a riqueza. Os pobres desfavorecidos sempre saem perdendo.
- Não é justo...
- Justiça meu rapaz somente cabe a Deus fazer, quem sabe o que fizemos um dia para merecermos hoje este reflexo de rejeição.
Na manhã seguinte saímos da fazenda destino incerto e não sabido, pude avistar Dorinha num último aceno na janela de seu quarto mandando-me um beijo de adeus.
- Caminhamos por dias e fui vendo um a um dos bons velhinhos sucumbindo aos castigos do tempo. Pois já envelhecidos não suportaram uma marcha ao descaso, primeiro foi Vitoriana minha madrasta chorei muito sua morte e João do Norte meu querido padrasto logo de dor e desgosto faleceu também em meus braços, aquilo pra mim foi o fim do mundo, que destino este meu de viver só, sem ninguém parece que tenho uma maldição. Todos que amo, não podem usufruir deste amor.
- Desesperado enterrei João do Norte ao lado de Vitoriana e segui o meu calvário, chegando num povoado logo comecei a trabalhar com um Mercadante conhecedor de uma doutrinação diferente. Que ensinava a ver a vida de uma forma diferente, e de entender os desígnios de Deus, este Mercadante mostrou-me que o perdão acima de tudo nos da forças, para eximir do coração a dor e a revolta, a mágoa também é uma farpa que nos machuca a alma. Numa de nossas paragens na estrada encontramos um caixeiro que contou a história de uma mulher que pregava a língua desta doutrina de maneira mais hostil.
- Meu amigo e, patrão não pode ficar, mas fez questão que eu ficasse e viesse até aqui para ver e ouvir a sua pregação. Não imaginando que encontraria minha irmã neste lugar e mais ainda que ela fosse esta missionária.
Abismada ouvia tudo aquilo como um sonho, olhei para Belarmino que fumava seu cachimbo no canto da boca notei-lhe um sorriso maroto, naquele resto de noite ninguém dormiu, pois fique refletindo na minha historia contada por Plínio e por mim esquecida.
Descoberto o meu passado nasceu dentro de mim uma ancia por justiça, não esta justiça cega e arcaica que insanos e insensatos pregam por ai. Senti que era hora de lutar com a sabedoria divina a qual Cristo no ensinou, amar a todos os inimigos, que drama consumia toda a minha família cada um com seus deslizes cada um sendo vencidos pelos seus demônios caindo nos seus obstáculos e eu omissa a isto quantos sofrimentos meus atos causaram. Senti-me responsabilizada por todos de papai a mamãe.
Os dias transcorreram e um Mercadante chegou onde morávamos em busca de meu irmão, um jovem senhor com cabelos grisalhos sorriso espontâneo, coração bondoso, e um profundo estudioso da doutrina dos espíritos dizendo-se de férias ficou hospedado no quarto que improvisamos para Plínio, Dudu se afeiçoou a ele, Tivas Neto e eu trocamos vários diálogos.
- Queria lhe conhecer melhor. – Disse ele
- Olha um dia chegará o momento certo de nos conhecer melhor, por hora quero apenas arquitetar um plano para amparar todos os meus parentes que auxiliei a quedar.
- Que isso mulher, você é um anjo e anjos não tem pecados.
- Depois que ouvir minha história verá que todos os anjos têm um demônio decaído no passado.
- Porque não tenta me contar, insistiu ele. Cedendo a sua insistência achei confiança naquele homem que chegou do desconhecido querendo me conhecer. Suspirei fundo e tomando coragem contei pra ele toda minha vida que ouvi de Plínio dizer, sofrimentos que cada vez que contava deflorava em meu âmago a certeza que fora eu a culpada.
Tivas Neto me ouvia, pensava sem se distrair de uma vírgula do meu relato, enxugou o meu pranto quando chorei, sorriu comigo quando sorri senti-me uma menina que encontra uma pilastra pra se apoiar e me apoiei. Ficamos assim horas e horas eu falando e ele me ouvindo quedou-se a noite e veio à madrugada, fomos dormir.
E a manhã se fez radiante com um sol lindo, os pássaros cantando a poesia chamada vida. Plínio conversava animadamente com Tivas e Belarmino enquanto Dudu tratava das criações. Quando cheguei perto deles me ofereceram café, Belarmino sorriu, Plínio olhou-me nos olhos e Tivas tomou a palavra.
- Resolvemos abraçar sua causa e buscar amparar todos aqueles que necessitam de amparo.
- Uai mais já fazemos isso. – respondi sem entender.
- O que queremos dizer minha amiga é que vamos lutar para a libertação de sua consciência, para que você não se martirize para sempre e possa viver sorrindo junto com os seus.
Sentindo o coração pulsar mais forte, chorei de emoção e nos abraçamos decididos que selaríamos um pacto e com a ajuda de Deus e dos bons espíritos estaríamos lutando por todos.
Dostları ilə paylaş: |