O espiritismo e algumas religiões mediúnicas: candomblé e umbanda



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2. ESPIRITISMO

No início da segunda metade do século XIX o pedagogo francês Hippolyte León Denizard Rivail publicou em Paris “O Livro dos Espíritos” [Le Livre des Esprits], em 18 de Abril de 1857, livro que contém os princípios da filosofia espírita. Com o lançamento desse livro, surgia o espiritismo. Esse termo [espiritismo] era usado pela primeira vez, na história, ou seja, foi criado por Allan Kardec. Antes disso, usavam-se termos como espiritualismo e neo-espiritualismo e, embora os chamados “fatos espíritas” sempre tenham existido, eram interpretados das mais diversas maneiras.


Para se designarem coisas novas são precisos termos novos.

Assim o exige a clareza da linguagem, para evitar a confusão inerente à variedade de sentidos das mesmas palavras. Os vocábulos espiritual, espiritualista, espiritualismo têm acepção bem definida.

Dar-lhes outra, para aplicá-los à doutrina dos Espíritos, fora multiplicar as causas já numerosas de anfibologia. Com efeito, o espiritualismo é o oposto do materialismo. Quem quer que acredite haver em si alguma coisa mais do que matéria, é espiritualista. Não se segue daí, porém, que creia na existência dos Espíritos ou em suas comunicações com o mundo visível. Em vez das palavras espiritual, espiritualismo, empregamos, para indicar a crença a que vimos de referir-nos, os termos espírita e espiritismo, cuja forma lembra a origem e o sentido radical e que, por isso mesmo, apresentam a vantagem de ser perfeitamente inteligíveis, deixando ao vocábulo espiritualismo a acepção que lhe é própria. (KARDEC, [1857] 1997, p.13, grifo nosso).
Podemos dizer que Allan Kardec considera as religiões afrobrasileiras como religiões espiritualistas. Para ele, o espiritismo também é uma religião espiritualista, no entanto, as demais religiões espiritualistas não são espíritas.

O espiritismo surgiu, segundo os espíritas, por meio de estudos de uma série de fenômenos que eram, em sua maioria, provenientes ou derivantes das então chamadas “sessões de mesas girantes, ou dançantes”. Um fenômeno marcante no século XIX que assolou os Estados Unidos e a Europa, servindo de brincadeiras de salão, quando as mesas “dançavam”, “escreviam”, “batiam o pé” e “até falavam”.


Essas sessões consistiriam em reuniões de um grupo de pessoas que se uniam à volta de uma mesa que – depois de orações, evocações, ou qualquer ritual do gênero conduzido pelos participantes – parecia ganhar vida e “bailava” sobre as cabeças dos presentes. Tal bailado, descrevem alguns autores que se dedicaram ao assunto3, parecia se efetuar sem nenhum apoio ou mecanismo que as controlasse, supostamente contrariando as leis da gravidade. Essas mesas, ainda segundo os relatos4, geralmente executavam ordens dadas pelos presentes como “fique sobre tal perna” ou “dê tantas voltas” ou “coloque-se sobre tal pessoa”. Averiguou-se assim uma suposta “inteligência” das mesas, o que teria levado aos participantes desses eventos a uma busca por aprimorar a comunicação com elas. Estabelecer-se-ia um código batidas/letras, onde, depois de questionada, a “mesa” era orientada a responder, batendo com uma das pernas tantas vezes no chão fosse necessário para atingir uma letra, em uma espécie de código Morse, e desta maneira responderiam às perguntas dos presentes. Foi nesse momento, quando começou toda uma tentativa de “comunicação” em que se buscaria saber o que ou quem estava por trás de tais fenômenos, que as divertidas sessões das mesas dançantes da burguesia de salão parisiense atrairiam uma maior atenção de estudiosos intrigados, entre eles, o ainda pacato e respeitado pedagogo lionês Denizard Rivail, futuramente, Allan Kardec. (FERNANDES, 2008, p.9,10).
Portanto, das brincadeiras de salão, apareceu o pesquisador Hypollyte León Denizard Rivail (Allan Kardec). Ele foi convidado para assistir a uma dessas sessões, pois disseram-lhe que, além da mesa “mover-se”, ela também “falava”.

Em 1854, o pedagogo francês, Hippolyte León Denizard Rivail, reconhecendo as manifestações das mesas girantes como fenômenos inteligentes e verificando a inexistência de causas materiais em tais manifestações, inicia, em Paris, um intenso estudo dos fenômenos espirituais, culminando na publicação de seis obras – cinco das quais compõem a codificação básica da Doutrina Espírita5 – e diversos artigos de sua autoria publicados na Revista Espírita6, todos assinados sob o pseudônimo de Allan Kardec7, nome sob o qual se tornaria mais conhecido. Kardec dedica-se a esses estudos, intensamente, até sua morte, em 1869. Auto-considerado como ciência, filosofia e religião, o Espiritismo pretende se inscrever nessas três diferentes tradições de pensamento. (ALBUQUERQUE, 2009, p.17,18).


Ao pretender se inscrever em três áreas do conhecimento (ciência, filosofia e religião), assim Kardec ([1859] 2007, p.54,55) define o Espiritismo:
O espiritismo é, ao mesmo tempo, uma ciência de observação e uma doutrina filosófica. Como ciência prática ele consiste nas relações que se estabelecem entre nós e os espíritos; como filosofia, compreende todas as conseqüências morais que dimanam dessas mesmas relações.
O “O Livro dos Espíritos” foi o primeiro livro codificado por Allan Kardec. Ele é um livro de perguntas e respostas, onde Kardec formulou uma série de questões que foram respondidas pelos espíritos dos mortos (desencarnados); este livro contém os princípios da filosofia espírita. “O Livro dos Médiuns’ explica a parte científica do espiritismo, e “O Evangelho Segundo o Espiritismo” trata das questões morais ou religiosas.
Para os espíritas, esses três aspectos (ciência, filosofia e religião) estariam principalmente representados em três, dos cinco livros da chamada codificação kardequiana, marcando diferentes momentos de inscrição do pensamento espírita. O primeiro deles, O Livro dos Espíritos, introduz toda a fundamentação filosófico-doutrinária do Espiritismo. O segundo, O Livro dos Médiuns, explica os fenômenos espirituais e sua relação com o mundo corporal, e fundamenta a prática para o exercício adequado da mediunidade. Com o terceiro livro, O Evangelho Segundo o Espiritismo, o Espiritismo re-analisa as passagens da vida e os ensinamentos de Jesus.

(ALBUQUERQUE, 2009, p.18,19).


Pela pesquisa que fizemos descobrimos que os espíritas acreditam na existência de um único Deus, na imortalidade da alma, na comunicabilidade dos espíritos dos mortos (desencarnados); com os vivos (encarnados), na pluralidade das existências ou reencarnações e na pluralidade de mundos habitados.
[...] Apesar de se haver fundamentado no fenômeno de ordem mediúnica, vulgarmente chamado de “além túmulo”, o Espiritismo é a DOUTRINA ESPÍRITA, cuja base experimental ou científica está, precisamente, nos fatos, nas provas já confirmadas; o fenômeno, por si só, não é o Espiritismo, é a demonstração da sobrevivência da alma ou da comunicação entre vivos e mortos, em qualquer parte, dentro ou fora da seara espírita. O Espiritismo define o fenômeno, adota o método experimental, separa o que é animismo e o que é comunicação ou manifestação de espírito desencarnado, metodiza o desenvolvimento da mediunidade e, por fim, estabelece conclusões lógicas. [...] (AMORIM, 1989, pág.80, grifo nosso).

Para falar das práticas espíritas vamos recorrer ao folheto “Espiritismo, uma nova era para a Humanidade”, que faz parte da campanha de divulgação do Espiritismo, promovida pela FEB (Federação Espírita Brasileira) e pelo Conselho Espírita Internacional (CEI), instituições8 que representam o Movimento Espírita, do qual transcrevemos:


PRÁTICA ESPÍRITA

  • Toda a prática espírita é gratuita, como orienta o princípio moral do Evangelho: “Daí de graça o que de graça recebestes”.

  • A prática espírita é realizada com simplicidade, sem nenhum culto exterior, dentro do princípio cristão de que Deus deve ser adorado em espírito e verdade.

  • O Espiritismo não tem sacerdotes e não adota e nem usa em suas reuniões e em suas práticas: altares, imagens, andores, velas, procissões, sacramentos, concessões de indulgência, paramentos, bebidas alcoólicas ou alucinógenas, incenso, fumo, talismãs, amuletos, horóscopo, cartomancia, pirâmides, cristais ou quaisquer outros objetos, rituais ou forma de culto exterior.

  • O Espiritismo não impõe os seus princípios. Convida os interessados com conhecê-lo a submeterem os seus ensinos ao crivo da razão, antes de aceitá-los.

  • A mediunidade, que permite a comunicação dos Espíritos com os homens, é uma faculdade que muitas pessoas trazem consigo ao nascer, independentemente da religião ou da diretriz doutrinária de vida que adotem.

  • Prática mediúnica espírita só é aquela que é exercida com base nos princípios da Doutrina Espírita e dentro da moral cristã.

  • O Espiritismo respeita todas as religiões e doutrinas, valoriza todos os esforços para a prática do bem e trabalha pela confraternização e pela paz entre todos os povos e entre todos os homens, independentemente de sua raça, cor, nacionalidade, crença, nível cultural ou social. Reconhece, ainda, que “o verdadeiro homem de bem é o que cumpre a lei de justiça, de amor e de caridade, na sua maior pureza”. (FEDERAÇÃO ESPÍRITA BRASILEIRA, 1996).

Allan Kardec faz uma separação entre o espiritismo e as religiões mediúnicas. Destacamos aqui alguns excertos que demonstram seu pensamento nessas questões:


O Espiritismo não aceita, pois, todos os fatos reputados maravilhosos ou sobrenaturais; longe disso, demonstra a impossibilidade de um grande número deles e o ridículo de certas crenças que constituem, propriamente falando, a superstição. (KARDEC, [1861] 1993c, p. 23).
[...] O Espiritismo não tem mistérios, nem teorias secretas; tudo nele deve ser dito claramente, a fim de que cada um possa julgá-lo com conhecimento de causa; [...]. (Id., [1861] 1993b, p.10).
[...] O médium, numa palavra, deve evitar tudo o que poderia transformá-lo em um agente de consulta, o que, aos olhos de muita gente, é sinônimo de ledor de sorte. (Id., [1861] 1993c, p. 319-320).
Os Espíritos vêm vos instruir e vos guiar no caminho do bem, e não no das honrarias e da fortuna, ou para servir às vossas paixões mesquinhas. Se não lhes pedisse nada de fútil ou que esteja fora das suas atribuições, não se daria nenhuma presa aos Espíritos enganadores; de onde deveis concluir que aquele que é mistificado, não tem senão o que merece. O papel dos Espíritos não é o de vos esclarecer sobre as coisas desse mundo, mas o de vos guiar com segurança no que vos pode ser útil para o outro. Quando vos falam das coisas desse mundo, é porque julgam necessário, mas não a vosso pedido. Se vedes nos Espíritos os substitutos dos adivinhadores e dos feiticeiros, então é certo que sereis enganados. (Id, [1861] 1993c, p. 373).
O que teria se tornado esta doutrina, se ela não tivesse usado de toda a sua influência para frustrar e desacreditar as manobras da exploração? Ter-se-iam visto os charlatães pupularem de todas as partes, fazendo uma mistura sacrílega do que há de mais sagrado; o respeito dos mortos, com a arte pretensiosa dos feiticeiros, adivinhos, tiradores de cartas, ledores de boa sorte, suprindo pela fraude aos Espíritos, quando estes não vêm. Logo ter-se-iam visto as manifestações levadas nos teatros de feiras, unidas nos torneios de escamoteação: os gabinetes de consultas espíritas publicamente ostentados, e revendidos, como agências de empregos, segundo a importância da clientela, como se a faculdade medianímica pudesse se transmitir à maneira de um fundo de comércio.

Por seu silêncio, que teria sido uma aprovação tácita, a doutrina se teria tornado solidária, dizemos mais: cúmplice desse abuso. Então, a crítica teria tido sorte, porque ela teria podido com direito implicar a doutrina que, por sua tolerância, teria assumido a responsabilidade do ridículo, e, conseqüentemente, da justa reprovação derramada sobre os abusos, talvez tivesse ela tido mais de um século antes de se levantar desse fracasso. Seria preciso não compreender o caráter do Espiritismo, e ainda menos seus verdadeiros interesses, para crer que tais auxiliares possam ser úteis à sua propagação, e sejam próprios para fazê-lo considerar como uma coisa santa e respeitável. (Id., [1869] 2001b, p. 42-43).


Pires (1979, p.44) explica que o espírito Emmanuel9 conceituou as religiões mediúnicas como “mediunismo” de expressão primitiva (no sentido de ser mais próximo das origens): “A expressão mediunismo, criada por Emmanuel designa as formas primitivas de Mediunidade, que fundamentam as crenças e religiões primitivas”. Ou seja, as religiões mediúnicas representam um encontro ou “mistura” de religiões, um verdadeiro sincretismo religioso.
Essas práticas sincréticas, onde predomina a mentalidade primitiva, são o contrário das práticas espíritas, que se resume na prece e na meditação, no passe (imposição das mãos, do Evangelho) e na doutrinação caridosa dos espíritos sofredores ou vingativos. Os que chamam isso de Espiritismo o fazem de má fé ou por ignorância. Por sinal que encontramos nesse capítulo10 a ignorância ilustrada de sociólogos, antropólogos, psicólogos e médicos, que usam em seus trabalhos e pesquisas a palavra Espiritismo para designar as manifestações do animismo primitivo e do mediunismo selvagem. Devemos sempre repelir esse abastardamento da palavra que Kardec criou como nome genérico de uma doutrina científica e filosófica oriunda do ensino dos Espíritos Superiores. O Espiritismo é unicamente a doutrina que está nas obras de Kardec e dos que continuaram o trabalho do Mestre, sem trair os seus princípios básicos. (Ibid, p.47, grifo nosso).
Pela pesquisa que fizemos, descobrimos que no espiritismo não é comum o uso dos termos “mesa branca”, “baixo espiritismo”, “alto espiritismo”, termos que teriam surgido para diferenciar o espiritismo das religiões afrobrasileiras. O mesmo ocorre com “espírita kardecista”, “kardecismo” que, segundo os espíritas, dão a impressão de existir o “espírita de candomblé” e o “espírita umbandista”, por exemplo.
A Doutrina Espírita ou o Espiritismo tem por principio as relações do mundo material com os Espíritos ou seres do mundo invisível. Os adeptos do Espiritismo serão os espíritas, ou, se quiserem, os espiritistas. (KARDEC, [1859] 2001a, p.13).
Os espíritas rejeitam a denominação “espírita” das religiões afrobrasileiras, para eles, o termo espiritismo foi criado por Allan Kardec e serve unicamente para designar os espíritas, ou seguidores do espiritismo.
Respeitamos, no Umbandismo, uma grande legião de companheiros muito consideráveis, consagrados à caridade que Jesus nos legou; grandes expositores da mediunidade que auxilia, alivia o próximo e credores do nosso maior carinho, conquanto estejamos vinculados aos princípios codificados por Allan Kardec, de nossa parte.” (Fragmento de depoimento de Francisco Cândido Xavier apud SÁ JUNIOR, 2004, p. 43, grifo do autor).

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