O paraíso é aqui



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CAPÍTULO IV

O sr. Llew Williams, dono e presidente da BTQ8 juntamente com alguns sócios minoritários, morava em uma mansão incrivelmente suntuosa, em Riverside, conhecido recanto de milionários.

As ruas próximas à mansão haviam sido interditadas pura abrigar os carros dos convidados menos ilustres. Ga­briel nem se deu ao trabalho de procurar uma vaga, indo direto para os portões de ferro da mansão, onde foi logo reconhecido e cumprimentado por um segurança.

— Então é um dos favoritos do patrão? — brincou Clara. — Não sei se isso é muita vantagem — salientou Gabriel. Acabam exigindo que você seja perfeito nos momentos em que, no máximo, você conseguiria ser aceitável.

Assim que saíram do carro, Gabriel segurou a mão dela, mas Clara a soltou com gentileza.

— Ouça, Gabriel. Não quero que fique me tratando como se eu fosse uma garotinha precisando de proteção. É muita gentileza sua se preocupar comigo, mas eu sei me cuidar.

— Tudo bem. Mas estarei por perto se precisar.

Clara sorriu para ele.

— Posso saber por que toda essa preocupação? — perguntou. Não vai demorar muito para Freeman notar sua presença — explicou Gabriel, segurando-a pelo cotovelo e conduzindo-a em direção à entrada.

— Meu Deus, e pensar que o sujeito já teve três esposas! Está mais do que evidente que ele quer ter uma quarta.

— Pode ser, mas você não tem com o que se preocupar. Com todas as notícias escandalosas que já li a respeito dele; nos jornais, tenho certeza de que ele não é o meu tipo.

Gabriel sorriu.

— Clara, acho melhor você manter um tom de voz baixo. Por aqui, até as paredes têm ouvidos.

— Oh, sinto muito. — Ela deu de ombros. — Bem, nin­guém é perfeito.

— Eu sei. Estou apenas lhe pedindo para ser cuidadosa. Duas das esposas de Freeman tinham cabelos avermelhados.

Foi a vez de Clara rir.

— Mantê-los dessa cor deve ter custado uma boa soma em dinheiro. Tudo bem, Gabriel. Depois de saber esse de­talhe, terei mesmo de tomar cuidado.

— Não dê atenção às investidas dele. Tenho certeza de que ele vai querer flertar com você.

De fato, foi exatamente o que aconteceu.

Assim que os dois entraram no salão principal, Tara Wil­liams se afastou de um grupo e veio sorrindo de encontro a Gabriel. Ficando na ponta dos pés, beijou-o no rosto.

— Gabriel, você está irresistível! Papai me disse para levá-lo até ele assim que você chegasse. E também... — Ela olhou para o lado. — Clara, é esse seu nome?

Era evidente que Tara sabia o nome dela. O rosto de Clara era muito conhecido na televisão.

— Sim. Sou Clara Cavanagh, srta. Williams. — Ela sorriu. — Agradeço por haver sido convidada para a festa.

— Papai gosta de ser generoso com os empregados de vez em quando.

O comentário, nem um pouco delicado, foi feito com um sorriso. Pelo visto, Tara achava que por ser filha de um milionário podia dizer e fazer tudo que lhe vinha à mente

A moça não perdeu tempo em segurar Gabriel pelo braço com um ar de possessividade que seria cômico se não fosse trágico. Mesmo assim, Clara não se importou quando ele demonstrou que iria se afastar com seu acompanhante deixá-la sozinha.

— Com licença, sim, Clara? — disse Tara, com outro de seus sorrisos falsos. — Mandarei um amigo vir lhe fazer companhia. O nome dele é Gregory Pendleton. Quero saber as novidades que Gabriel deve ter para me contar.

A maneira como Gabriel olhou para a moça pareceu irônica, segundo Clara notou. Seriam verdadeiros ou não os rumores que andavam circulando pela empresa, de que os dois tinham um caso? Teve a impressão de que Gabriel estava prestes a convidá-la para acompanhá-los, quando o sr. Llew se aproxi­mou deles. Ele tinha cabelos grisalhos, era alto, elegante e pareceu satisfeito ao ver a filha de braço dado com Gabriel.

Segundo Clara sabia, a sra. Williams havia saído de casa na época em que Tara era uma adolescente de quatorze anos. Não agüentara a pressão de ter uma filha cheia de vontades, e que se tornara a pessoa mais importante na vida de seu marido.

— Gabriel, que bom vê-lo por aqui — ele o cumprimentou, abraçando-o de lado. — Quero que conheça Christopher.

Gabriel pareceu surpreso.

— Eu o conheci em Washington, quando fui realizar um trabalho por lá, sr. Llew. Mas não sei se ele se lembrará de mim.

— Ele se lembra, sim — confirmou o pai de Tara. — Você não escreveu coisas muito gentis a respeito dele na época. Ah, Clara Cavanagh. — Sorriu para ela. — Está encantadora. Venha conosco, Cristopher adora um rosto bonito.

— Claro que você é muito mais do que um mero rosto bonito — sussurrou Gabriel, em um tom que apenas ela pudesse ouvir.

Seguiram o sr. Llew por entre as pessoas, que iam abrindo caminho naturalmente quando ele se aproximava, feito um Moisés dos dias modernos. Christopher Freeman se encon­trava a um canto do salão, em meio a um grupo de pessoas que pareciam encantadas com a presença dele. Freeman era um homem muito elegante, com cabelos ligeiramente grisalhos e perscrutadores olhos acinzentados.

A morena glamourosa que se encontrava ao lado dele olhou para Clara com um ar de hostilidade que a deixou confusa. Porém, ela logo descobriria o motivo. Depois das apresentações, Gabriel e Clara foram convidados a participar do grupo.

— Tente apenas parecer inteligente, minha cara — sussurrou a morena, dirigindo-se a Clara com um sorriso mais amigável, provavelmente por pensar que ela e Gabriel formavam um casal.

A conversa incluiu política mundial, algumas piadas e muita fofoca. Demorou mais de meia hora para Gabriel conseguir; se afastar do grupo diplomaticamente e levar Clara consigo.

— Meu Deus, ele não mudou nem um pouco — resmungou Gabriel.

— Ele foi muito gentil com você.

— E mais ainda com você — salientou ele.

—- Pelo menos ele pareceu gostar dos assuntos que você abordou. Segundo notei, a maioria das pessoas fica apenas boquiaberta quando ele está por perto. Deve ter sido uma experiência diferente ter alguém como você por perto.

Gabriel não hesitara em fazer algumas críticas às opiniões de Freeman sobre certos assuntos. Falara com muita polidez, claro, mas não deixara de expressar suas opiniões. Clara con­cordara com as opiniões de Gabriel. O mundo de Christopher Freeman se resumia apenas a dinheiro. Nada mais.

Ao longo da noite, Clara flagrou o bilionário a seu lado al­gumas vezes. Não deixava de ser lisonjeiro sob um certo aspecto, mas, a certa altura, ela começou a se sentir pouco à vontade com a maneira como ele insistia em olhar para seus lábios.

Gabriel também deve ter notado porque chamou-a de lado assim que teve oportunidade. Foram para o terraço, tomar um pouco de ar fresco.

— Talvez seja melhor ficar a meu lado durante o restante da noite, Clara.

— Isso combina mais com o estilo de Tara — ela ironizou;

— Não estou brincando.

"Fique calma", ela pensou consigo. "Ele é seu chefe, por mais que você deteste isso."

— Gabriel, está completamente enganado, se pensa que estou interessada em Freeman.

— O problema é que ele está interessado em você.

— Já disse que sei me cuidar.

— Não foi o que pareceu — replicou ele. — Freeman tem um ego do tamanho do cofre que guarda o dinheiro dele no banco. Portanto, você logo vai perceber que ele não aceitará a idéia de que você não está interessada nele.

— Mesmo tendo idade suficiente para ser meu pai?

— Clara. — Ele suspirou. — Isso não me tranqüiliza nem um pouco. Homens com a fortuna de Freeman geral­mente conseguem tudo o que querem. E ele nunca escondeu que quanto mais jovens forem suas namoradas, melhor.

Clara percebeu que ele tinha razão. Por isso, usou um tom mais ameno. .

— Gabriel, pare de tentar me proteger, sim? Está exa­gerando e isso não é do seu feitio.

— Tomara que você esteja certa.

Gabriel olhou-a com a mesma perspectiva que Freeman estava tendo. Clara era linda, jovem e desejável. Só que, no seu caso, sabia manter um limite de aproximação. Não tinha essa mesma certeza a respeito de Freeman.

— Estou ouvindo uma espécie de voz desde que chegamos — confessou a ela. — É estranho, mas ela parece estar me dando conselhos. Conheço Freeman, e sei que ele é muito ardiloso e que pode iludir alguém sem experiência como você.

— Sem experiência? — repetiu Clara, indignada. Estaria ele sugerindo que ela não sabia lidar com questões sentimentais?

— Acho que entendeu o que eu quis dizer.

— Não, não entendi. Explique melhor — pediu ela, cruzando os braços e fingindo interesse.

— Clara, não quero discutir com você no meio de uma festa, está bem?

Sorriu ao notar o brilho de desafio nos olhos dela.

— Tudo bem. Afinal, veio como meu chefe, e não como usou protetor. Pelo visto, só você ainda não percebeu isso. Não preciso que fique me vigiando feito um falcão.



Precisa sim! Vamos conseguir protegê-la, ou não me cha­mo Titus!

Gabriel franziu o cenho. Lá estava a voz lhe falando mais uma vez. Devia estar trabalhando demais ultimamente.

— O que foi, Gabriel? Tudo bem com você?

— Não sei. É aquela voz novamente.

Clara arqueou as sobrancelhas. Também andava ouvindo vozes de vez em quando.

— E o que ela disse? — perguntou a ele.

— Não sei direito. Parece que falou um nome. Algo como Tinni... Tinnitus...

— Gabriel. — Clara pareceu preocupada e tocou o braço dele.

— Estou bem. Vamos voltar para dentro. O jantar já vai ser servido e precisamos estudar uma estratégia para mantê-la longe de Freeman.

Entretanto, assim que Tara viu Gabriel, acabou dando um jeito de afastá-lo de Clara. Freeman não perdeu tempo em se aproximar, com seu ar de predador. Dessa vez, porém, ele pareceu mudar de tática, pois foi muito gentil e impessoal durante todo o tempo.

Do outro lado do salão, Tara parecia estar conseguindo manter Gabriel "preso" por algum tempo. Levara-o até um grupo pequeno de jornalistas estrangeiros e não soltou o braço dele nem um por instante.

Gabriel, por sua vez, ficava cada vez mais convencido de que estava detestando aquela festa. Todas as vezes em que saía de perto de Clara e que arriscava um olhar na direção dela, encontrava Freeman tentando "fisgá-la".

Contudo, Clara parecia estar gostando da conversa. Deus, e mesmo depois de tudo que dissera a ela sobre Freeman? Não era possível! Tentou se acalmar, dizendo a si mesmo que Clara deveria estar à procura de uma nova matéria para o jornal Freeman, por outro lado, parecia ter um interesse bem diferente.

Por que não a leva para casa?, a voz sussurrou em seu ouvido.

— Não sei se ela vai aceitar — respondeu.

— Algum problema, filho? — perguntou um senhor idoso, próximo a ele.

Gabriel se espantou. Não acreditava que houvesse res­pondido em voz alta!

— Não foi nada. Eu estava falando comigo mesmo.

O velho sorriu.

— Ah, eu faço isso o tempo todo.

Gabriel forçou um sorriso em resposta. "Só que o senhor já deve ter oitenta anos, e eu estou com trinta!", pensou.

Continuou intrigado com aquela história. Quem estava falando em seu ouvido? Se é que havia alguém fazendo isso. Bem, seria melhor não questionar muito, senão acabaria tendo de admitir para si mesmo que estava ficando maluco.

Olhou para o relógio. Já passava da meia-noite, mais do que hora de partir.

Freeman e Clara levantaram a vista quando ele se aproximou.

— Posso interromper a conversa por um instante?

Clara não gostou nem um pouco do brilho daquele olhar.

— Já estou de partida, Clara — avisou Gabriel. — Se quiser voltar comigo, é melhor me acompanhar.

Sabendo que não lhe restaria escolha, ela forçou um sor­riso para Freeman.

— Peguei carona com Gabriel e preciso voltar com ele — explicou.

— Não quer ficar mais? — indagou o bilionário. —- Será um prazer levá-la até em casa depois. Minha limusine estará a disposição.

Clara ficou muito ciente de que o brilho nos olhos de Gabriel se tornou ainda mais perigoso.

— Obrigada pela gentileza, mas preciso mesmo ir agora. foi bom conversar com você. Boa noite. — Ela estendeu a mão para ele.

— Quero vê-la de novo — confessou Freeman.

— Nós a mantemos muito ocupada na BTQ8 — interveio Gabriel.

— Bem, não sei se será possível... — respondeu Clara, Cingindo ignorar o comentário de Gabriel.

— Posso ir visitar a estação de televisão enquanto estou por aqui — sugeriu Freeman.

— Seria um prazer, Freeman — respondeu Gabriel, for­çando um sorriso. — Mas já vou avisando que não sei se teremos uma data tranqüila na agenda da empresa.

— Aposto que poderão encontrar alguma data se decidi­rem gravar uma entrevista minha feita por Clara.

— Com certeza teríamos um aumento na audiência — afirmou Clara.

Christopher Freeman andava sendo um dos empresários mais difíceis de se entrevistar.

— Então está combinado — disse ele, sorrindo para Gabriel.

— Estou mais do que satisfeito com a proposta — Ga­briel mentiu. — Ligarei na segunda-feira para acertarmos os detalhes.

— Oh, eu insisto em levar vocês dois para almoçar — convidou Freeman, ciente de que não se livraria de Gabriel tão facilmente.

— Otimo — respondeu ele.

— Não acredito que vou entrevistar Christopher Free­man! — exclamou Clara, assim que os dois saíram da man­são, vinte minutos depois.

Tara os havia alcançado antes de conseguirem sair e, literalmente, "segurara" Gabriel por mais alguns minutos, ignorando por completo a presença de Clara.

— Não entendo por que tanta empolgação.

— Ora, teremos um aumento incrível na audiência, Gabriel!

— Concordo. Mas valerá a pena tanto sacrifício?

— Quem o visse falando pensaria até que está com ciúme de Freeman, por ele estar interessado em mim. — Olhando-o de soslaio, acrescentou: — Não estou interessada nele.

— Não mesmo? Conheço muitas mulheres que ficariam radiantes em se casar com um bilionário — falou Gabriel, enquanto entravam no carro.

— Sei disso, mas não sou uma delas. A única pessoa com quem eu aceitaria ir para a cama seria um homem por quem eu estivesse apaixonada.

— E você já o encontrou ou ainda está à procura dele?

Clara abaixou a vista para colocar o cinto, disfarçando a surpresa pela. pergunta.

— Deve haver alguém por quem eu ainda consiga me apaixonar. Mas a maioria dos homens que conheci não têm nada a ver comigo.

— Eu estou incluído nessa lista?

— Na verdade, não. Estranho, não acha? Em vários as­pectos, você me atrai muito.

— Você também é interessante — disse ele.

"Só isso?", pensou Clara. Gabriel a considerava apenas "interessante"? De fato, conversar com Christopher Freeman fora muito fácil quando comparado à apreensão de se lidar com Gabriel. Nunca tinha idéia de qual seria a reação dele em certos momentos.

Quando ele parou o carro diante da casa dela, Clara pen­sou em oferecer um café, mas logo desistiu da idéia. Gabriel estava preocupado com Freeman, mas a companhia dele também não parecia nem um pouco segura para ela.

— Obrigada pela carona — foi tudo que disse. — O que pretende fazer amanhã?

Clara respirou fundo.

— Tenho várias coisas para arrumar em casa. Depois irei visitar minha mãe.

Ele assentiu.

— Você a ama muito, não?

— Sim.

Sentindo que ela não queria tocar naquele assunto, Ga­briel achou melhor mudar o rumo da conversa.



— Deixe que eu lide com Freeman, Clara.

— E para mim que ele quer dar a entrevista.

— Eu sei. O interesse dele ficou mais do que evidente. Bem, boa noite então.

— Boa noite, Gabriel — respondeu com um sorriso. Clara fitou-o por um momento, sentindo-se invadida por uma súbita onda de desejo. O que estava acontecendo com ela?

— É tão raro vê-la sorrir desse jeito para mim — falou ele.

Segurou o queixo dela com delicadeza, observando os belos olhos azuis por um instante que pareceu infinito para Clara. Quando o rosto dele foi ficando cada vez mais próximo, ela não tentou se afastar. Ou melhor, não quis se afastar.

O beijo foi breve, mas tão intenso que a deixou sem fôlego. Quando Gabriel se afastou um pouco, ela continuou olhando-o, sem saber o que dizer.

— Durma bem, Clara. E, se precisar, não esqueça de pedir ajuda ao seu anjo da guarda — brincou.

Gabriel partiu em seguida, como se nada diferente hou­vesse acontecido. Para Clara, porém, foi como se todo seu mundo tivesse mudado por causa de um único beijo.

Então aquele era o beijo que as mulheres da empresa sonhavam em receber? Bem, elas tinham toda razão. Os lábios de Gabriel McGuire eram mesmo arrasadores.

Algo lhe dizia que mais cedo ou mais tarde aquilo acabaria acontecendo. Entretanto, o perigo de se aproximar dele con­tinuava tão evidente quanto antes. Dali em diante, sua cau­tela teria de ser redobrada. Triplicada!

CAPÍTULO V

No domingo de manhã, Clara acordou com um sobressalto. A campainha estava tocan­do. Ao olhar para o relógio sobre a mesinha-de-cabeceira, surpreendeu-se ao ver que já passava das dez e meia. Dera-se ao luxo de dormir até mais tarde.

Saiu logo da cama e vestiu o robe. Passando as mãos pelos cabelos, foi direto até a porta.

Deparou-se com um jovem na varanda, segurando um imenso arranjo de flores. Dezenas de rosas, margaridas, cravos, orquídeas, crisântemos e verdadeiras nuvens de miosótis, além de uma exótica folhagem.

— Srta. Clara Cavanagh? — perguntou o rapaz. Ela arregalou os olhos, surpresa.

— Alguém deve ter cometido algum engano...

— Não creio. — O rapaz sorriu. Tirando um cartão do bolso, leu: — Número vinte e um da Sunderland Avenue.

— Não pensei que fizessem entregas assim aos domingos. Teve de pegar a cesta com as duas mãos para agüentar o peso.

— Fazemos quando se trata de uma encomenda especial - explicou ele. — É um arranjo e tanto, não? — Ele sorriu.

— Sim.


Depois que o entregador partiu, Clara carregou a enorme costa para a sala. Conseguiu colocá-la sobre a mesinha, mas não sem certo esforço. Curiosa, pegou o cartão preso no laço branco.

"Obrigado pela noite agradável. Christopher."

— Ah, meu Deus...

Por mais que as flores fossem lindas, aquilo significava "perigo". Toda aquela extravagância implicava em uma men­sagem que ela preferiria não entender. Detestava ter de ad­mitir, mas, em algumas questões, Gabriel sempre tinha razão.

Na manhã de segunda-feira, Gabriel chamou-a na sala dele, voltando a adquirir o mesmo tom profissional de sem­pre. Pelo visto, o beijo que haviam trocado só havia signi­ficado algo para ela.

— Marquei aquele almoço com Freeman para a quarta-feira — avisou ele, fazendo um sinal para ela se sentar. — Portanto, não marque nada para esse dia a uma hora da tarde. Fiz as reservas no Michaels.

Clara sabia que aquele era um dos restaurantes mais caros da cidade, mas não fez nenhum comentário.

— Também falei com o sr. Llew, que ficou empolgado com a idéia da entrevista. Depois conversei com Graham.

Graham Hewett era o principal apresentador do progra­ma de entrevistas do canal. Clara tomaria o lugar dele para realizar a entrevista com Freeman.

— Nem é preciso dizer que você vai acabar se deparando com alguns "inimigos" nos próximos dias — avisou Gabriel.

— Estou preparada para isso — garantiu Clara.

— Subiu muito em pouco tempo, srta. Cavanagh.

Clara não soube se ele voltara a usar seu sobrenome por causa do acordo que haviam feito ou por estar sendo irônico no comentário.

— Não se sente feliz por mim?

— Sim, muito. Tanto que estava pensando até em lhe oferecer um aumento.

— É mesmo? — Ela se animou. —Vejo que comecei a semana com o pé direito. Posso saber de quanto será o aumento?

— Ainda não sei ao certo, mas não ficará desapontada;

— É muita generosidade sua, chefe.

— Apenas profissionalismo — salientou ele. — Será mais lucrativo mantê-la por aqui, isto é, se ninguém acabar co­locando sua cabeça a prêmio.

Clara deu de ombros.

— Todo jornalista corre esse risco quando se envolve em assuntos mais sérios.

— Eu sei. O problema é que a cada dia aparecem mais pessoas malucas, querendo culpar a mídia e o governo por tudo de ruim que lhes acontece. Não entendem que a res­ponsabilidade de ser feliz pertence a cada um. Agora, quero que prometa que vai tomar mais cuidado com suas matérias. Já falei com Bob. — Tornou-se pensativo. — Pensando bem, acho que seria melhor trocarmos seu cameraman...

— Não, chefe! Bob e eu formamos uma equipe.

— É bom mudar o time de vez em quando. Para ser sincero, não acho que Bob esteja preparado para acompa­nhar seu ritmo. Vou deixá-lo com outro repórter e escalar Giles Stockwell para trabalhar com você.

— Por favor, chefe, não faça isso. Prometo que tomarei cuidado. Bob sempre foi muito cuidadoso, querendo evitar que eu me metesse em confusão. Admito que a culpa foi minha daquela vez em que a câmara foi quebrada.

Gabriel suspirou.

— Está bem. Deixarei vocês dois juntos por enquanto, mas quero que fique bem claro que vocês devem ficar longe de encrencas.

Clara assentiu.

— A propósito, no próximo domingo, os De Haviland vão oferecer uma pequena festa para Freeman, no chalé que eles têm na montanha. O próprio Freeman pediu para que você comparecesse, a menos que tenha outro compromisso...?

Clara não respondeu de imediato. Quando olhou para Gabriel, notou que ele a estava observando com atenção.

— Não vai acreditar, mas Freeman me mandou uma Imensa cesta de flores ontem pela manhã.

— Por que eu não acreditaria? — Gabriel arqueou uma sobrancelha.

— Ora, pensei que não o considerasse como um romântico.

— Espero que não esteja pensando que ele é. Acabará se decepcionando.

— Se quer saber a verdade — disse Clara —, levei-as para a casa de repouso onde minha mãe se encontra.

— E não ficou nem com uma rosinha? — provocou Gabriel.

— O único motivo que me levou a conversar com Christopher Freeman foi obter uma matéria, uma entrevista ou algo do gênero — explicou ela: — Como sabe, consegui o que queria. Você, por outro lado, não obteve nada de promissor.

— A única coisa que quero obter de Freeman é distância.

— Quero deixar claro que meu interesse por ele é pro­fissional — enfatizou ela.

— Eu insinuei alguma outra coisa?

— Acho que sim. De qualquer maneira, visito minha mãe todos os domingos e não sei se poderei ir a essa festa. A que horas será?

— Não terá um horário fixo. O bufe vai funcionar durante o dia inteiro.

— Você vai?

— Sim. Mas isso faz alguma diferença para você? — Indagou Gabriel, com ar curioso.

— Faz sim — admitiu Clara. — Preciso do benefício de sua presença para manter Freeman a distância.

Ele sorriu com charme.

— Agradeço por sua sinceridade. Então não é porque deseja passar o dia comigo?

— De maneira alguma — respondeu ela, também com um sorriso. — Depois de conhecer Tara Williams, sei que ela já se considera sua dona.

— Não diga tolices — protestou ele, como que ofendido,

— Estou apenas seguindo minha intuição, nada mais

— "Intuição feminina", como costumava dizer minha avó irlandesa — salientou ele.

— Isso mesmo. Não ficarei aborrecida se você precisar sair mais cedo para dar uma carona a Tara.

— Nem pensar! Prefiro usar a desculpa de que terei de esperar por você. A que horas pretende sair?

— Meio-dia, mais ou menos. Isso nos daria tempo de subir a montanha com tranqüilidade.

— Combinado. — Gabriel hesitou. — Clara? Não quero pa­recer intrometido, mas eu gostaria muito de conhecer sua mãe.

— Oh, eu... — Ela não soube o que dizer.

— Eu poderia apanhá-la por volta das dez horas, iríamos visitar sua mãe e depois partiríamos direto para a casa dos De Haviland.

— Gabriel, você sabe que minha mãe se encontra em uma espécie de coma?

— Sim, eu sei. Mas tenho certeza de que ela não vai rejeitar receber um novo amigo.

Clara sorriu.

— Com certeza não.

Na quarta-feira, Gabriel teve de avisar na última hora que não poderia comparecer ao almoço com Christopher Freeman, devido a alguns problemas profissionais que ele teria de resolver.

— Explique o motivo a ele, sim? — pediu a Clara. Olhou-a com um ar preocupado, sem deixar de admirar o tailleur cor-de-rosa que a deixara com uma aparência ir­resistivelmente feminina.

— Pode deixar. Sinto muito que não possa ir — lamentou ela, com sinceridade.

— Falou como se realmente fosse lamentar a minha ausência.

— E vou.


Gabriel sorriu. Adorava a sinceridade quase ingênua cio Clara.

—Tem certeza de que saberá lidar sozinha com aquela "fera"?

— Acho que sim — ela respondeu. — Para uma pessoa tão bem-sucedida, Freeman não é tão autoritário assim.

— E que você ainda não o viu fazendo negócios. Ele tem fuma de ser um verdadeiro tirano.

— Comigo ele foi bastante gentil.

— Não se iluda com as aparências. Pode deixar.

— Oh, sinto muito que McGuire não tenha podido vir — disse Freeman, negando com o olhar o que seus lábios haviam dito. — Fiquei impressionado com a personalidade dele. Não creio que demorará muito tempo para ele chegar ao topo. — Sorriu. — Talvez acabe até roubando o lugar de Llew.

Clara não gostou doar de malícia com que ele dissera àquilo.

— McGuire não é do tipo que rouba o lugar de alguém. O sorriso de Freeman se desvaneceu um pouco.

— Ah, já entendi. A eterna lealdade ao chefe...

— Ele merece a minha lealdade. McGuire trabalha tão duro quanto os demais funcionários da empresa. Além disso, sabe respeitar todos e colocar cada um no seu devido lugar. Eu tinha uma certa liberdade profissional com meu antigo chefe, mas somente depois de trabalhar com McGuire foi que percebi que aquele método de trabalho não é produtivo.

— Então você o chama de McGuire?

— McGuire, chefe... Ele não se importa.

— Pensei que o estivesse chamando de Gabriel na festa. Clara sorriu.

— Oh, aquilo foi um acordo de que nos trataríamos pelo primeiro nome durante aquela noite.

— Existe algum romance entre vocês?

— O que o levou a pensar isso? — Clara se espantou.

— McGuire me pareceu protetor demais com relação a você.

— Não quero acabar tendo um inimigo, em vez de um amigo do mesmo ramo de trabalho.

— Não acha que está exagerando um pouco?

— Não no que diz respeito a Gabriel McGuire. Ele pode se tornar um inimigo perigoso.

— Então é bom que estejamos todos do mesmo lado. — Ela sorriu.

Clara acabou voltando para o escritório bem mais tarde do que pretendia. Ao entrar, encontrou Jennifer Bourne, uma talentosa jornalista da empresa, que acabara de chegar de uma entrevista política com o primeiro-ministro.

Clara não esperava receber nenhum cumprimento amigável. Jennifer se tornara hostil com ela, depois de saber que Clara estava se destacando no trabalho.

— Olá, Jen! — cumprimentou-a com animação, sem se importar com a reação que a outra poderia ter.

Jennifer, uma morena alta, no início da casa dos trinta unos, virou-se para ela.

— Ah, nossa impetuosa Clara, impecável como sempre. Onde esteve?

— Eu estava almoçando.

— Incrível... — ironizou a outra, olhando para o relógio. — Como pretende explicar a McGuire que chegou do almoço às quatro horas da tarde?

Clara sorriu.

— Oh, já tive de me explicar tantas vezes para ele que acabei adquirindo prática.

Jennifer estreitou o olhar.

— Gosta de viver perigosamente, não? Deveria ter dei­xado um repórter especializado ir entrevistar aquele crimi­noso, Ed Cleaver. O sr. Llew não deve ter ficado nem um pouco satisfeito com as ameaças que ele fez.

— Aquilo foram apenas ameaças, Jen. Ed Cleaver não Imitará fazer nada.

— Mas ele quebrou a câmara de Bob. Alguns centímetros para o lado, e ele teria acertado seu queixo, Clara. Seria seu fim, minha cara.

— Jennifer, qual é o problema? — indagou ela, com gen­tileza. — Pensei que fôssemos amigas.

Jennifer ficou em silêncio por alguns segundos, parecendo embaraçada. Então explodiu:

— Deve estar gostando muito de ser a mais nova prote­gida de McGuire, não?

Clara não conteve o riso.

— Como pode dizer isso?

— Não se finja de inocente! Vi muito bem como estavam conversando na festa do sr. Llew.

— Você estava lá? — Clara se surpreendeu. — Por que não foi falar comigo?

— Porque você estava ocupada demais, dividindo sua atenção entre McGuire e Freeman.

— Não é nada disso, Jennifer... Eu queria apenas con­seguir uma entrevista com Christopher Freeman. Não é esse um dos papéis que todo jornalista almeja? Conseguir entrevistar pessoas famosas?

— Infames, você quer dizer — replicou Jennifer. — Ele pode ser bilionário, mas muitas pessoas não gostam dele.

— Isso é normal. Você consegue imaginar alguém que tenha chegado ao topo, como ele, sem fazer inimigos pelo caminho?

"Eu que o diga!", pensou Clara.

— Eu tomaria cuidado, se fosse você — avisou Jennifer. — Às vezes, o preço que se tem de pagar para chegar ao topo não é tão compensador assim.

Dizendo isso, seguiu em direção à sala de edição.

Clara foi para sua sala, dizendo a si mesma que não deveria se importar com aquelas pressões. A competitivi­dade fazia parte do mercado de trabalho e isso não poderia prejudicar sua carreira.

Fazia dez minutos que estava à mesa quando o te­lefone tocou.

— Importa-se de explicar por que diabos chegou tão tarde? Gabriel estava furioso.

— Com prazer, chefe.

— Quero vê-la no meu escritório dentro de um minuto.

— Já estou indo.

Vinte segundos depois, Clara já estava na sala dele.

— E então? Como foi o almoço? — Gabriel foi direto ao assunto.

— Sabia que Freeman sofre de insônia? — inquiriu ela, sentando-se com graciosidade diante dele.

A expressão impassível de Gabriel indicou que a brinca­deira não fora bem-aceita.

— É verdade, chefe.

— Ele deve ter exagerado no termo. Também não durmo muito e nem por isso me considero um insone.

— Anda pensando muito em seus problemas?

— Meu maior problema é você, srta. Cavanagh. Descobriu mais alguma coisa "interessante", ou preferiu deixar tudo para a entrevista? Aliás, desculpe-me por interferir no seu estilo de entrevistas, mas quero ler com antecedência as perguntas que fará a Freeman.

— Não pretendo insultá-lo, se é disso que está com medo.

— Não tenho motivos para isso, mas ainda confio no seu bom senso — declarou Gabriel.

— Muito obrigada pelo voto de confiança — ela ironizou.

— Espero que tenha aproveitado o almoço. Eu, particu­larmente, não pude me dar a esse luxo.

— Gabriel, você não almoçou?

— Grande novidade.

— Espere um pouco aqui que eu irei ao Spiro's Deli, mandar fazer alguns sanduíches — Clara se ofereceu. — Também trarei café.

— Faria isso por mim? — Os lábios dele se curvaram ligeiramente.

— Sim, a menos que prefira mandar alguma outra pessoa. Mas acho melhor aproveitar meu espírito de boa samarita­na. Isso é muito raro de acontecer. O que você quer?

— Ouça, eu não...

— Deixe-me fazer isso por você — pediu ela. — Aposto que não comeu nada desde o desjejum.

— Bem, se comer uma maçã pode ser considerado um desjejum... Mas não precisa ter todo esse trabalho, Clara.

— Já estou a caminho — insistiu ela. — Trarei sanduíches de queijo e presunto — avisou, antes de sair.

Porém, assim que chegou ao saguão do prédio um homem com aparência estranha se dirigiu à recepção.

— Olá, moça.

Amanda, a recepcionista, ficou de pé no mesmo instante, parecendo apreensiva.

— O senhor deseja falar com alguém?

O homem a ignorou e concentrou a atenção em Clara.

— Ah, então essa é aquela repórter — disse, com um ar de quem acabara de descobrir algo notável. — Não tenho nada para falar com você — avisou a Amanda. — Não é a grande felizarda.

— Com quem deseja falar, por favor? — insistiu a re­cepcionista. — Talvez eu possa ajudá-lo.

Clara disfarçou bem o próprio pânico. Colocando uma mão nas costas, tentou fazer um sinal para Amanda "apertar o botão de emergência que havia debaixo da mesa dela.

O homem se dirigiu a Clara.

— Um amigo seu, aquele tal de Bart Taylor, andou fa­lando coisas que não devia a respeito de algumas pessoas.

Clara manteve uma expressão tranqüila. Bart mostrara uma ótima matéria sobre drogas na semana anterior.

— Qual é seu nome? — perguntou ao desconhecido.

— Isso é o que todos vocês, repórteres, fazem — continuou ele, ignorando a pergunta. — Vivem metendo o nariz onde não devem!

— Cumprimos apenas nossos papéis de jornalistas — Clara se justificou. — Não quer se sentar um pouco? Pro­videnciarei alguém que possa registrar sua reclamação. Veio até aqui para isso, não?

— Exatamente, moça. Por que você mesma não faz isso? Eu sempre a vejo na televisão.

— Não tenho autoridade para falar pela diretoria. Deus, onde estava a equipe de segurança? Em qualquer outro horário era preciso brigar para passar por eles. —Espere aqui que eu conseguirei alguém — disse ao homem. Fez menção de se retirar, mas ele a segurou pelo braço.

— Fique onde está, moça.

Clara se tornou tensa. Aquele "moça" era de fazer qual­quer uma tremer de medo. Amanda, que nunca se vira dian­te de uma situação como aquela, continuava no mesmo lu­gar, paralisada pelo pânico.

De súbito, o homem agarrou Clara e segurou-a diante de si, como um escudo.

— Calados! — gritou ele, indicando que somente ele teria o direito de gritar dali em diante.

Ouviu-se uma agitação no corredor e uma mulher deu um grito que foi logo abafado pela mão de um colega.

Em questão de segundo, Gabriel apareceu no saguão, não parecendo nem um pouco satisfeito com o que estava vendo.

— O que diabos está acontecendo aqui? Amanda, pare de choramingar. Você... — Olhou para o desconhecido. — Solte minha funcionária — mandou, com firmeza. — Clara, venha já para cá!

Um dos funcionários começou a engatinhar de mansinho por trás da mesa de Amanda, para apertar o botão de emer­gência. Porém, o criminoso o avistou.

— Pare aí, idiota! — gritou ele.

— Faça o que ele está pedindo, Terry — mandou Gabriel. — Tudo ficará bem.

— Onde está Taylor? — o homem perguntou a Gabriel, perdendo o interesse em Terry.

— Qual é o problema afinal? — Gabriel perguntou.

— Não sabe o que vai acontecer se aquele idiota continuar fazendo perguntas demais — respondeu o criminoso com uma expressão angustiada, mantendo Clara junto de si. — Eles virão em cima de mim! — Ele olhou para Terry, ainda afetado por um ataque de heroísmo. — Já disse para sair daí! Estou armado!

"Ah, meu Deus", pensou Gabriel, olhando para Clara. Aquele maluco podia muito bem ser um desses terroristas que andam com bombas pelo corpo.

— Por que usaria sua arma? — Gabriel disse a ele, man­tendo ò tom firme. — Há homens da segurança na área, e a polícia já deve estar chegando.

Aquilo não passava de um blefe, claro. Aquela altura, os seguranças deviam era estar tomando o "chá da tarde", como na Inglaterra.

— Não tenho nada a perder — falou o criminoso. — A maldita investigação do seu repórter me transformou em um fugitivo.

Gabriel tentou se manter calmo. Pelo visto, teria de agir sozinho, já que o pessoal da segurança não parecia muito interessado em trabalhar. Não acreditava que o homem es­tivesse realmente armado, mas, pelo modo como estava falando, devia estar sob o efeito de drogas. E uma pessoa naquela condição era capaz de fazer qualquer loucura. Decidindo mudar de tática, falou:

— Eu gostaria de poder ajudá-lo. Investigações são real­mente desagradáveis para qualquer pessoa. Mas não farei nada se você não largar essa arma.

— Minha vida se transformou em um inferno!

— Por que não pede proteção à polícia? — Eles me encontrariam mesmo assim.

— Já esteve preso alguma vez?

— Muitas!

Por mais estranho que pudesse parecer, o homem sorriu com orgulho ao dizer aquilo. Enquanto falava, Gabriel es­perava o momento certo para agir e salvar Clara das mãos daquele lunático.

Porém, em uma fração de segundo, Clara pareceu tomada por uma força descomunal. Com um golpe certeiro, usou o cotovelo para atingir o criminoso no estômago. Quando ele se encolheu de dor, ela o chutou entre as pernas. O golpe foi tão forte que o fez cair no chão, desmaiado.

Gabriel ficou boquiaberto. De onde ela tirara tanta força para se livrar de um homem tão corpulento?

Terry pôde finalmente apertar o botão de segurança.

— Ei, esse é meu trabalho! — protestou Amanda.

Pelo amor de Deus, Clara — falou Gabriel, olhando-a com ar incrédulo. — Andou fazendo musculação?

— Usei apenas o elemento da surpresa, chefe.

Clara tentou sorrir com naturalidade, mas nem ela en­tendera muito bem o que acontecera. Aquela mesma força que a dominara para salvar o garoto parecera surgir nova­mente, deixando-a com uma energia estranha.

Quando o pessoal da segurança finalmente chegou, exi­bindo posições de alerta quase teatrais, Gabriel ficou furioso.

— Onde diabos vocês estavam?

— Mil perdões, sr. McGuire — foi tudo que o chefe da segurança conseguiu dizer.

Os homens correram até o criminoso, que começara a ficar consciente de novo.

— É melhor verificarem se ele está armado — avisou Gabriel.

— Ele não está — falou Clara.

— Como sabe?

— Não sei explicar por quê, mas tenho certeza.

— Ele está desarmado, sr. McGuire — avisou um dos seguranças.

Ouviram as sirenes da polícia se aproximando, do lado de fora do prédio. Gabriel se aproximou de Clara e a abraçou.

— Você é maluca, sabia?

— As vezes, é preciso ser —- respondeu ela, deixando-se ficar nos braços dele.

Depois de levarem o criminoso para o carro da polícia, um policial pediu o depoimento de Gabriel e de Clara.

Quando ela contou que derrubara o homem com apenas dois golpes, o policial arqueou as sobrancelhas e olhou-a de alto a baixo, incrédulo.

— Sei que pode não parecer, mas foi isso o que aconteceu — disse ela.

— É mesmo? — Ele sorriu para Gabriel.— Ela deve ser muito mais forte do que parece.

— Estudei balé durante oito anos — afirmou Clara, como se aquilo justificasse alguma coisa.

"Se começar a falar sobre meus 'poderes', acabarei indo parar em um manicômio", pensou ela. Dez minutos depois, o policial partiu, com a promessa de notificá-los sobre o andamento da investigação.

— A essa altura, em vez de lanche, acho que prefiro jantar. E você? — perguntou Gabriel.

— Está me convidando para jantar?

— Mais ou menos. — Ele deu de ombros. — Só nós dois, sem testemunhas. Sei que estarei correndo risco, mas não me importo.

— Acha que pode correr risco estando perto de mim?

— O perigo parece fazer parte do seu dia-a-dia.

— Estou viva, não estou?

— Sim, mas às vezes acho que está tendo uma ajudazinha extra. — Ele sorriu.

— Aonde iremos?

— Prefiro que seja surpresa. Vá para casa e se arrume. Passarei para apanhá-la às oito horas.

— Já posso ir para casa? -—Clara se surpreendeu.

— Sim. Também vou dispensar Amanda. Ela ficou muito abalada.

— Acho que ela está mesmo precisando descansar — anuiu Clara, olhando para o rosto abalado da recepcionista. — Até mais tarde então.

Gabriel assentiu e ficou olhando ela se afastar. Incrível que alguém aparentemente tão frágil pudesse ter aqueles "surtos" de força.




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