Identificação com o desejo da Xuxa
Nadiá Paulo Ferreira
O desejo do homem é o desejo do Outro. Este aforismo lacaniano
pode parecer à primeira vista incompreensível. Vamos destrinchá-
lo. A existência de discursos, produzindo interpretações sobre o
mundo, antecede o nascimento. O primeiro contacto com este uni-
verso de palavras é dado pelo discurso familiar e, principalmente,
pelo desejo de quem exerce a função materna. Sonhos e esperan-
ças são construídos, enquanto uma vida está se formando e se
desenvolvendo no ventre materno. O futuro bebê já é amado ou
odiado, desejado ou recusado. O recém-nascido chega ao mundo
em estado precário, tornando-se absolutamente dependente de cui-
dados para sobreviver. A “maternagem” é permeada pelo amor e
pelo desejo de quem a pratica.
Vamos, agora, imaginar um lugar para situar esses discursos e
lhe dar um nome: lugar do Outro. Assim definido, o Outro não
tem face nem corpo. Entretanto, este lugar pode ser encarnado por
qualquer um que seja tomado como seu representante. Quem exerce
a função materna é seu primeiro representante. E já disse que o
exercício desta função coloca em cena o desejo da mãe.
Que melhor exemplo poderíamos citar do que o nascimento de
Sasha? Seu destino é anunciado por sua mãe e conclamado aos sete
ventos pelos meios de comunicação: será a “Princesa do Brasil”.
Xuxa, seu séquito, médicos e um hospital transformam um parto
em espetáculo nacional. E todos que aspiram ao desejo da máxima
do capitalismo se identificam com o desejo de Xuxa (Outro), fanta-
siando para Sasha o mito da mais completa Felicidade...
Nadiá P. Ferreira & Marina M. Rodrigues
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