Esta palavra crise é dita todos os dias, quer pelas pessoas humil-
des, ao falarem do seu cotidiano, da falta de dinheiro, do desem-
prego, quer por economistas, sociólogos, psicanalistas, professo-
res universitários, teóricos da arte, etc. Freud já falava da tensão
inevitável entre o homem e a civilização, denominando-a de mal-
estar. Lacan profetizou a escalada do racismo e da religião, anun-
ciando o fracasso da inserção da psicanálise na cultura. Conside-
ro que esta conjectura lacaniana deve ser entendida no sentido de
que a sociedade contemporânea caminha para manter o homem
adormecido e de boca fechada, usufruindo de um gozo que o lança
na mais profunda apatia e que rompe com os enlaces sociais. Sem
despertar, incapacitado de começar viagem, renunciando ao dese-
jo, o homem vai buscar na religião ou nos achados da ciência um
alento para esquecer e sonhar.
dades para continuar sonhando com a Felicidade, cuja versão con-
temporânea poderia ser resumida na promessa de um gozo-a-mais.
Sem querer saber da castração, marca de sua humanidade, que não
tem nada de sombrio e de trágico, o homem insiste em ignorar a
impossibilidade de um gozo absoluto, dando as costas para o dese-
jo. É porque não há a Completude que se abre um leque de opções,
onde cada um deve seguir a trilha de suas singularidades, arranjan-
do-se com as falhas do gozo e com seu desejo de descobrir os cami-
nhos a serem percorridos durante sua existência no mundo.