Por que o Diabo tenta?
Nadiá Paulo Ferreira
Vou retomar o tema da existência do inconsciente e da prática
da psicanálise. Esta prática se sustenta na aposta de que há o
sujeito do inconsciente e que este haver afeta o corpo do homem.
Se o sujeito deseja, independente de sua vontade e de sua moral, é
preciso decifrar o que é desejado, não para que este desejo seja
realizado em toda a sua plenitude — até porque isto é o que é
verdadeiramente impossível — mas para tirar um “tasco” dessa
tal felicidade, para poder experimentar momentos evanescentes de
alegria. Enfim, correr o risco de estar vivo e passar seu tempo no
mundo, colocando-se na posição de sujeito desejante.
Mas para isso é preciso uma aprendizagem de dizer e de escu-
tar o que se diz. Este é o caminho a ser percorrido por uma análi-
se, não para encontrar a FELICIDADE, mas para experimentar o
próprio dizer do inconsciente. E, a partir daí, se libertar do peso
de uma cruz e se lançar ao mundo que, apesar dos dissabores e
das armadilhas, oferece também surpresas, às vezes, tecidas pelo
acaso, que podem ser deliciosamente experimentadas.
O poeta tem sempre lições a nos ensinar sobre o desejo e as
fantasias que o sustentam. Este é o tema do texto inédito de
Fernando Pessoa que se encontra na Biblioteca Nacional de Lis-
boa, publicado com o título A hora do Diabo.
Termino por aqui, deixando para os leitores alguns trechos da
fala do Diabo: Corrompo, é certo, porque faço imaginar.(...) Nun-
ca pensou no Príncipe Encantado, no homem perfeito, no amante
interminável? (...) O que se deseja e se não pode obter, o que se
sonha porque não pode existir - nisso está meu reino nulo e aí está
assente o trono que me não foi dado.
Nadiá P. Ferreira & Marina M. Rodrigues
28
Dostları ilə paylaş: |