Por que esquecemos os nomes?
Nadiá Paulo Ferreira
Domingo é um dia sem muitas opções na tv. Os programas de
auditório dominam a programação da tarde. À noite, além do Fantás-
tico, temos alguns filmes ruins e entrevistas. No programa De frente
com Gabi, a entrevistada é a cantora Vanderléia. Depois de muito
blá, blá, blá, vem o bate-bola. Marília Gabriela diz: — Palavrão? E
Vanderléia responde: — Psicopatologia do Cotidiano, acrescentan-
do que este título do texto de Freud bateu em seus ouvidos como se
fosse um palavrão.
Além do significado mais conhecido, isto é, palavra obscena e
grosseira, palavrão tem o sentido de pachouchada: dito disparatado,
tolice, asneira. Imediatamente, pensei: a entrevistada só pode estar se
referindo ao termo psicopatologia. Se ela tivesse consultado o Auré-
lio, aprenderia que é o estudo das doenças mentais no tocante à sua
descrição, classificação, mecanismos de produção e evolução.
Trata-se de um texto que Freud escreveu entre 1900 e 1901,
com o objetivo de mostrar que o esquecimento, em nosso dia a dia,
é uma das formas de manifestação do inconsciente. Por exemplo:
estou falando de um filme e esqueço o nome do ator principal.
Então, vem a minha cabeça uma série de outros nomes que reco-
nheço como errados. Se, por acaso, alguém diz o nome certo, ime-
diatamente eu reconheço que este é o nome esquecido. Alguma
coisa que foi recusada por mim entrou em conexão com esse nome,
fazendo com que tenha esquecido o que não queria esquecer.
O inconsciente é um trabalhador incansável, ele não pára de
trabalhar, nem quando estamos dormindo. É justamente por isto
que sonhamos e esquecemos o que não queremos. Mesmo que se
faça força para esquecer o que não se quer lembrar, de uma forma
ou de outra, o que é esquecido reaparece sob a forma de enigma.
Psicanálise e Nosso Tempo
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