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Por que o filho quer matar o pai?
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səhifə | 29/88 | tarix | 03.01.2022 | ölçüsü | 1,42 Mb. | | #47502 |
| Por que o filho quer matar o pai?
Nadiá Paulo Ferreira
É preciso marcar as diferenças fundamentais entre Freud e
Lacan, em torno da questão da paternidade, tema sobre o qual
venho insistindo nesta coluna. Em primeiro lugar, a palavra pai e
o nome de Freud, provavelmente, levam o leitor a uma associação
imediata: o complexo de Édipo. Em segundo lugar, já foi muito
divulgado que o ensino do psicanalista francês, Jacques Lacan,
visava a um retorno aos textos freudianos. Permanecem, ainda,
encobertas por névoas, as diferenças que começam a surgir na
trajetória de Lacan, na medida em que ele continua insistindo na
questão colocada por Freud: o que é um pai?
Em Freud, vamos encontrar três abordagens sobre o Édipo: a
tragédia de Sófocles, Édipo rei, o mito darwiniano do pai da horda
primitiva e a versão judaica sobre a história de Moisés. Aqui, só me
interessa destacar a teoria que Freud constrói sobre o complexo
edipiano, a partir de sua leitura do texto trágico: a trama se consti-
tui em torno do ciúme do filho em relação ao pai, na medida em que
este intervém para privar o filho do objeto de seu desejo, que é a
mãe. Daí surgiria o desejo do assassinato do pai, o recalcamento e o
retorno desse desejo, gerando o sentimento de culpa.
Lacan, a partir de 1969, avançando em suas reflexões, começa
a se diferenciar de Freud, o que faz com que no Seminário XVII,
O Avesso da Psicanálise (1969-70), considere o complexo de Édipo
como “sendo um sonho de Freud”. De discípulo a autor de uma
nova teoria sobre o pai, Lacan caminha em direção à construção
do conceito do Nome-do-Pai, percurso que não poderia ter sido
realizado sem Freud.
Não se trata de colocar Lacan contra Freud, oposição bem ao
gosto da mídia, onde tudo tem que virar um grande espetáculo,
mas sim de apontar as distinções entre eles. Neste caminho, nos
próximos artigos, vou falar da ligação entre o pai e a lei e da
importância que a palavra da mãe adquire, ratificando ou tornan-
do sem efeito a palavra do pai.
Nadiá P. Ferreira & Marina M. Rodrigues
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