esta questão, principalmente, em dois seminários: A Relação de
Objeto, 1956-1957, e As Formações do Inconsciente, 1957-1958,
ambos publicados pela Jorge Zahar. Deixo o primeiro em suspenso,
aguçando a curiosidade do leitor — para, quem sabe, se interessar
por sua leitura — e vou me deter no segundo. Neste, o pai adquire
o valor de metáfora e, como tal, encarna a lei. O que é uma me-
táfora? É a produção de um sentido novo, realizado pela substitui-
ção de uma palavra por outra palavra, a partir de uma identificação
associativa. Por exemplo, aterrado, inicialmente, significava cober-
to por terra. O horror, associado ao fato de ser enterrado vivo, tão
explorado pelos filmes de terror, produz a substituição da expres-
são “ser enterrado vivo” por “aterrado” que passa, então, a signifi-
car um medo domesticado. Nesse sentido, a função do pai, como
representante da Lei, é transmitida pelo desejo da mãe, cujo signifi-
cado é sempre um enigma sem decifração. Vários sentidos serão
produzidos para serem colocados no lugar desse enigma. Estes sen-
tidos se articulam com a versão de uma história familiar, onde a
criança ocupa um lugar determinado na subjetividade materna.
podem ser apontadas. A relação da criança com o pai se organiza
em torno da palavra da mãe. Ou seja, como a mãe se posiciona
subjetivamente em relação à Lei e, conseqüentemente, ao homem,
que reconhece como pai de seu filho. É isto que, em última instân-
cia, determina a constituição do lugar de um filho. Quanto à fun-
ção paterna, dando origem à imagem do pai, tudo dependerá de
como o pai irá encarnar essa função simbólica, dando ou não pro-
vas do vigor da Lei. A imagem de um pai potente ou impotente —
eis a questão. Um pai que tem ou não alguma coisa preciosa para
doar à mãe. Um pai a quem a mãe, como uma mulher, irá ou não
dirigir seu desejo. Enfim, um pai, portador de bens, com quem o
filho poderá se identificar e a filha desejar.