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As mulheres e a violência I



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As mulheres e a violência I

Nadiá Paulo Ferreira

Não há dúvida de que as mulheres se destacam entre as vítimas

preferidas, tanto na história da humanidade, quanto neste final de

milênio.


No Afeganistão, uma das primeiras medidas dos revolucionários,

que tomaram o poder, foi o trancafiamento das mulheres. Elas estão

proibidas de trabalhar, de freqüentar escolas e só podem sair à rua

com o corpo praticamente coberto.

Ainda hoje, em algumas tribos africanas e em alguns países

mulçumanos, pratica-se a extirpação do clitóris das mulheres. Às

vezes, este ato é praticado a sangue frio com qualquer instrumento

cortante, provocando infecções que levam à morte.

Cenas de horror fazem parte das páginas que se dedicam a

falar das mulheres na história. Mas só as mulheres são vítimas de

atos truculentos e sanguinários? E os índios, os negros, os judeus,

os marginalizados do capitalismo, os estigmatizados como homos-

sexuais? O que há de comum a todos eles senão o que escapa ao

império da igualdade? Basta uma marca como índice da diferen-

ça: tanto faz que seja a cor da pele ou uma escolha de sexo para

que o semelhante se transforme em perigo ameaçador. Eis a face

do Mal, exigindo para o Bem-de-todos um combate sem tréguas.

Elege-se o ódio como antídoto do próprio amor. Diz o preceito

cristão: “Amarás ao próximo como a ti mesmo”. Mas se o próxi-

mo não se apresenta como idêntico, em vez de amado, deve ser

odiado, submetido às normas ou destruído.



Nesta concepção, ama-se porque se imagina que o outro é o

que se gostaria de ser ou possuiria o que se deseja ter. Da mesma

forma que se odeia porque se acredita que o outro é um ser despre-

zível ou tem o que não merece. Aqui estamos na ordem da igual-

dade e do excesso, onde o que conta é sempre a suposição de que




Nadiá P. Ferreira & Marina M. Rodrigues

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o que falta a um o outro tem. O ódio com que se cultivam os inimi-

gos não traz à tona a diferença e sim as desavenças entre semelhan-

tes. A estes o cristianismo nos ensina a dar a outra face. Porém, se

partimos do pressuposto de que existem seres que, apesar da apa-

rência, não são humanos, encontramos neste argumento a justifica-

tiva da violência. A história nos oferece vários exemplos.



Na época dos descobrimentos, onde reinava de forma

hegemônica o discurso religioso, os índios foram vistos como se-

res sem alma ou como bárbaros gentios. No primeiro caso, podi-

am ser caçados e mortos como animais e, no segundo caso, devi-

am ser cristianizados. Assim foram dizimados por extermínio ou

por assassinato cultural.

Sem a ajuda da ciência e da estética, como fica muito bem

demonstrado no filme Arquitetura da destruição, de Peter Cohen,

Hitler não teria convencido a maioria dos alemães de que os ju-

deus eram a degenerescência da raça humana e, justamente por

isto, comportavam-se como um conjunto de ratos. Animais com

aparência humana são ervas daninhas que devem ser dizimadas.

Os negros, aproximadamente a partir do século XVIII, foram

“domesticados” para servir aos humanos. A isto se chamou escra-

vidão. Em praças públicas, ele eram expostos para serem vendi-

dos, como até hoje se faz com os animais domésticos, cujos pre-

ços de mercado variam de acordo com o pedigree e com a raça.



As mulheres, como representantes do Outro-sexo, represen-

tam um enigma sem decifração e, justamente por isto, se tornam

ameaçadoras e perigosas. Uma das soluções encontradas pelas

leis dos homens foi a dominação que, às vezes, se exerce com

requintes de crueldade.




Psicanálise e Nosso Tempo

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