O grupo Galpão comemora 15 anos
Sérgio Nazar David
O grupo Galpão esteve no Rio comemorando quinze anos de
estrada. No programa da peça Um Moliére Imaginário, Cacá
Brandão escreve que não se trata apenas de um grupo de teatro,
mas “sobretudo de um comprometimento de vida de cada ator com
um ideal comum, ao qual propunham consagrar a própria vida”.
Este ideal, completa Cacá, incluiu, desde o início, três objetivos:
“ampliar a linguagem teatral, resgatar a cultura popular e atingir
um público menos restrito do que aquele que freqüentava as tradici-
onais casas de espetáculo”. O Galpão já passou pelo Rio com: Romeu
e Julieta, Vem buscar-me que ainda sou teu, Rua da amargura... E
em todos estes trabalhos estão presentes a paixão pelos valores po-
pulares e pelo teatro. E digo isto em contraposição ao que a indús-
tria cultural hoje impõe e vende como popular. Digo isto em
contraposição àqueles que usam o teatro só como meio de acesso à
Rede Globo, o que significa dizer que, neste caso, teatro se transfor-
ma unicamente em tudo aquilo que, sobre um palco armado, pode
ser reduzido a dinheiro.
Um Molière imaginário conta a estória da última peça escrita por
Molière, intitulada Um doente imaginário. Molière morreu em 1673,
após uma das apresentações, quando fazia o papel de Argan, o prota-
gonista da referida peça. Por ser um “ator”, é-lhe negado o sacramento
e é enterrado numa vala comum.
Molière foi o comediante favorito da corte de Luís XIV. No
entanto, parece não ter-se furtado a criticá-la. Em Um doente imagi-
nário estão presentes o ataque à lógica do capital, aos casamentos de
conveniência, ao saber vazio coberto pelo manto da retórica, ao mun-
do de aparente bem-estar onde desejar é sinônimo de esperar sentado.
Saí do teatro pensando se Moliére teve a oportunidade de, antes
de morrer, abjurar de seu ofício, arrepender-se das muitas vidas
vividas e morridas numa só vida, em nome da promessa de vida
eterna. Se teve, então, escolheu o teatro, sustentando até o fim o
desejo que o levara por ruas, circos, festas populares e feiras do
interior da França, mambembando, dentro do precário e sempre
provisório mundo da representação.
Nadiá P. Ferreira & Marina M. Rodrigues
132
Dostları ilə paylaş: |