Quanto vale uma sessão de análise
Nadiá Paulo Ferreira
— “Psicanálise é um tratamento muito caro.” Já escutei isto inú-
meras vezes. Não há dúvida de que essa crença tem suas origens. Na
década de sessenta, a maioria dos psicanalistas cobrava um preço
alto e prefixado, estabelecendo, no mínimo, três sessões semanais,
tendo cada uma a duração de cinqüenta minutos. Tanto fazia o paci-
ente estar tagarelando, falando de si mesmo e do seu sofrimento, ou
ficar no mais absoluto silêncio, o que contava era o andamento do
ponteiro do relógio.
Este panorama se modificou, radicalmente, em função do ensi-
no do francês Jacques Lacan (1901- 1981). Ao retomar a leitura
dos textos de Freud, privilegiando uns em relação a outros, Lacan
apontou uma série de desvios, realizados pelos pós-freudianos,
introduzindo novos conceitos e uma outra forma de operar com o
tempo que possibilita a abertura do inconsciente.
Se a psicanálise é uma prática clínica que leva em conta a
singularidade de cada ser falante, como explicar e sustentar o exer-
cício desta prática, adotando procedimentos dogmáticos, basea-
dos em um modelo para todos? Não sem muita confusão e dissen-
sões, a influência de Lacan foi produzindo efeitos. Hoje, já temos
um grande número de psicanalistas admitindo que, para cada su-
jeito, há um contrato a ser feito em relação ao preço, até porque o
que é muito caro para um se torna uma bagatela para outro. O
número de sessões é variável, dependendo de múltiplas situações,
e o tempo de duração de uma sessão não pode e não deve
corresponder ao tempo cronológico. Há outro tempo em jogo quan-
do se trata de escutar uma fala.
Quem nunca viveu a experiência de que alguns minutos foram
vividos como se fossem longas horas e vice-versa? Um grande amor
subverte a cronologia do tempo. Os amantes sabem disto mais do
que ninguém. E o que é uma análise senão uma história de amor? Só
que se trata de um amor específico: o amor de transferência.
Nadiá P. Ferreira & Marina M. Rodrigues
22
Dostları ilə paylaş: |