Diferenças entre o psicólogo e o psicanalista
Nadiá Paulo Ferreira
A psicanálise se diferencia da psicologia tanto em relação à práti-
ca clínica, quanto em relação à teoria. No Brasil, ao contrário de
outros países, o ofício de psicanalista não é reconhecido como profis-
são. Isto não acontece com a prática do psicólogo, que é regulamen-
tada por leis, que vão desde a exigência de fazer o curso de Psicologia
até o registro do Conselho Regional de Psicologia — CRP.
O fato de não haver uma legislação para a prática da psicanálise
não significa que não haja uma formação do psicanalista. Esta é feita
por instituições que, visando a essa finalidade, estabelecem não só as
condições de ingresso mas também o desenvolvimento de um ensino.
Ao psicólogo, para abrir um consultório, basta ter o diploma
do curso de Psicologia e o registro do CRP. Um psicanalista só
deve começar sua prática clínica depois de ter ocupado o lugar de
analisando. Ou seja, depois de ter passado pela experiência de
conviver com o saber produzido pelo inconsciente. Um saber que
não se sabe, um saber que comparece nos sonhos e em todas as
formas de tropeços com o dizer. Quantas vezes não escutamos o
que dizemos? Quantas vezes, em nossas falas, somos surpreendi-
dos, dizendo coisas que não queríamos e nem tínhamos a mínima
intenção de dizer? Sem essa experiência, a teoria que a psicanálise
construiu sobre o homem fica reduzida ao discurso universitário.
Isto é, fica reduzida a um conhecimento dessubjetivado, que está
sempre demandando mais saber.
A diferença entre essas práticas não se restringe a uma questão
jurídica. É fundamentalmente uma questão de formação que, por sua
vez, está diretamente articulada com a direção do tratamento. Paro
por aqui. Nos próximos artigos, continuarei desenvolvendo esse tema.
Nadiá P. Ferreira & Marina M. Rodrigues
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