Para que serve um pai?
Nadiá Paulo Ferreira
Retomando a questão da paternidade, lanço a pergunta: Qual
é a função do pai, no núcleo familiar, neste final do século? Não
há dúvida de que esta posição está cada vez mais em declínio, em
virtude da intervenção do Estado. Em Nome-do-bem, criam-se leis
que visam à proteção da criança, o que possibilita, em alguns
casos, o seu encaminhamento a instituições governamentais, fa-
zendo com que os maus tratos familiares sejam substituídos pela
brutalidade dos funcionários. Este contra-senso deixo em suspenso
para que vocês, leitores, reflitam sobre isto.
O avanço das pesquisas genéticas tem contribuído bastante não
só para a aplicação de leis, no que diz respeito ao reconhecimento
da paternidade, mas também para a “produção independente”.
Não existem mais, ao nível jurídico, filhos bastardos. Existem,
sim, filhos sem o nome do pai, na certidão de nascimento, até que
alguém resolva recorrer a análises do DNA. Comprovada a pater-
nidade real, a lei exige a inclusão numa linhagem familiar, sem
levar em conta uma escolha subjetiva desejante. Filhos do
espermatozóide são criações deste final do século. Além disto, a
causa desses processos coloca em cena, quase sempre, a reivindi-
cação de ser incluído numa grande herança. Quanto à “produção
independente”, existiria melhor exemplo para indicar o enfraque-
cimento da função do pai nas relações de parentesco?
O grande desafio é que quanto mais esta função entra em declínio,
mais se reivindica que alguém seja investido desta função. Não é por
obra do Acaso que estamos assistindo ao crescimento espantoso de
seitas religiosas, encabeçadas por gurus carismáticos, verdadeiros pais
imaginários. Se Ele deixar, todos vão cair na folia, que é o Carnaval.
Se não, vão para o Retiro pedir a bênção ao Pai espiritual de todos os
homens de fé...
Psicanálise e Nosso Tempo
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