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A importância da palavra da mãe



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A importância da palavra da mãe

Nadiá Paulo Ferreira

Qual a função do pai para uma criança? Lacan desenvolve

esta questão, principalmente, em dois seminários: A Relação de

Objeto, 1956-1957, e As Formações do Inconsciente, 1957-1958,

ambos publicados pela Jorge Zahar. Deixo o primeiro em suspenso,

aguçando a curiosidade do leitor — para, quem sabe, se interessar

por sua leitura — e vou me deter no segundo. Neste, o pai adquire

o valor de metáfora e, como tal, encarna a lei. O que é uma me-

táfora? É a produção de um sentido novo, realizado pela substitui-

ção de uma palavra por outra palavra, a partir de uma identificação

associativa. Por exemplo, aterrado, inicialmente, significava cober-

to por terra. O horror, associado ao fato de ser enterrado vivo, tão

explorado pelos filmes de terror, produz a substituição da expres-

são “ser enterrado vivo” por “aterrado” que passa, então, a signifi-

car um medo domesticado. Nesse sentido, a função do pai, como

representante da Lei, é transmitida pelo desejo da mãe, cujo signifi-

cado é sempre um enigma sem decifração. Vários sentidos serão

produzidos para serem colocados no lugar desse enigma. Estes sen-

tidos se articulam com a versão de uma história familiar, onde a

criança ocupa um lugar determinado na subjetividade materna.



Nesta abordagem, algumas diferenças em relação a Freud já

podem ser apontadas. A relação da criança com o pai se organiza

em torno da palavra da mãe. Ou seja, como a mãe se posiciona

subjetivamente em relação à Lei e, conseqüentemente, ao homem,

que reconhece como pai de seu filho. É isto que, em última instân-

cia, determina a constituição do lugar de um filho. Quanto à fun-

ção paterna, dando origem à imagem do pai, tudo dependerá de

como o pai irá encarnar essa função simbólica, dando ou não pro-

vas do vigor da Lei. A imagem de um pai potente ou impotente —


eis a questão. Um pai que tem ou não alguma coisa preciosa para

doar à mãe. Um pai a quem a mãe, como uma mulher, irá ou não

dirigir seu desejo. Enfim, um pai, portador de bens, com quem o

filho poderá se identificar e a filha desejar.




Psicanálise e Nosso Tempo

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