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O choro das almas aflitas



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O choro das almas aflitas

Nadiá Paulo Ferreira

Falei das muletas, usadas pelos homens, para aliviar o senti-

mento de culpa, isentando a responsabilidade de cada um com

seus sintomas. Vou me deter, precisamente, na contribuição da

ciência para a desculpabilização do sujeito.

Freud, antes de descobrir a psicanálise, usou a hipnose para li-

vrar seus pacientes dos sofrimentos, que se localizavam tanto no

corpo quanto na alma, provocando paralisias, dificuldades respira-

tórias, taquicardias, angústias, insônias e incapacidades, como é o

caso da mãe que não conseguia amamentar seus filhos recém-nasci-

dos. Aliás, esta mãe confessou sua vergonha a Freud, porque ape-

sar de sua “força de vontade”, só conseguiu amamentar seus filhos

submetendo-se à hipnose.

Estamos diante de uma questão ética: o sujeito, além de per-

manecer na ignorância, não é responsável pela superação do seu

sintoma. Aqui, o que está em jogo, é um tratamento terapêutico

que, ao domesticar o gozo extraído do sintoma, deixa a verdade

no esquecimento. Mas o que é esquecido retorna, repetindo o mes-

mo sintoma ou substituindo-o por outro. É por estas e outras es-

cutas que Freud, por ter insistido, tenazmente, na verdade, aban-

dona a hipnose (método catártico), descobre o inconsciente e in-

venta a psicanálise, cuja regra é a associação livre. É preciso dei-

xar o sujeito falar livremente, para que o analista possa intervir

em sua fala, fazendo com que o saber produzido pelo inconscien-

te seja incorporado pelo sujeito.

O que faz a ciência? Ignora todas as singularidades que consti-

tuem um sujeito, reduzindo-o a um corpo que, em determinado

momento, apresenta defeitos de funcionamento. A tendência, cada

vez mais, é identificar esses “defeitos” de fabricação na genética. A

descoberta de um gene no cromossomo permitirá a correção ou o

alívio do sofrimento. Do assassinato da ética do desejo advém a

inocência da vítima. Belas almas aflitas choram, sussurram, lamen-

tam o mal que o Outro cruel e impune espalha por esse mundo...


Psicanálise e Nosso Tempo

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