Melanie Klein II
Golpe de mestre de Klein
Nadiá Paulo Ferreira
O caso Dick, como ficou conhecido na literatura analítica, apon-
ta para a diferença radical entre as teorias kleiniana e lacaniana,
em relação à precedência simbólica. Para Melanie Klein, o imagi-
nário é a fonte das primeiras identificações simbólicas, determi-
nando a primeira relação do homem com o mundo exterior e com
a realidade. Já para Jacques Lacan, o simbólico, identificado com
a linguagem e suas leis, é quem possibilita a estruturação do ima-
ginário. É a entrada no simbólico que humaniza um corpo vivo
recém-chegado ao mundo. Só depois dessa inscrição simbólica é
que se constitui o eu, onde irão se organizar as relações do sujeito
com a sua imagem. Um bebê, quando se diverte com sua imagem
no espelho, só identificará esta imagem como sendo a sua e não a
de um outro semelhante, porque quem o segura diz, insistente-
mente — “Olha lá o Pedro”. É a repetição desta cena, cercada por
palavras, que possibilitará o reconhecimento de uma imagem cor-
poral como sendo a própria imagem.
Exemplifiquemos com o caso Dick. Trata-se de um menino de
quatro anos de idade, que é levado por seus pais a Melanie Klein,
com os seguintes sintomas: pobreza de vocabulário; ausência de
reações emocionais à presença da mãe e da babá; pronúncia de sons
ininteligíveis e repetição de certos ruídos; insensibilidade à dor; au-
sência de angústia; indiferença à maioria dos brinquedos e jogos;
preferência em suas brincadeiras por trens, estações rodoviárias e
maçanetas de portas.
Melanie Klein escolherá os trens para começar seu tratamento,
equacionando que o imaginário dessa criança estava estagnado, o
que a impossibilitava de desenvolver a formação de símbolos. Vere-
mos, no próximo artigo, a intervenção genial desta psicanalista,
fazendo com que esse menino, pela primeira vez, saísse de sua indi-
ferença e fizesse um apelo, perguntando pela babá e, depois, cha-
masse Melanie Klein pelo nome. Veremos, também, como este ato
será interpretado de forma radicalmente diferente por Lacan.
Nadiá P. Ferreira & Marina M. Rodrigues
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