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participaram dessa barbaridade sem limites se apresentam como

belas almas inocentes. Hannah Arendt fica perplexa diante de

Eichmann, quando diz que nada tem contra os judeus e que sim-

plesmente estava cumprindo a lei. A fala de Eichmann inaugura a

nova postura ética do final do século XX e início do século XXI.

Hannah, tentando dar conta dessa transformação ética, cria a teo-

ria da banalização do mal. Hoje, a lei do Outro, encarnada na

pessoa do Führer, despersonalizou-se nos liames burocráticos que

rondam a nova face das corporações econômicas, universitárias e

de serviços de informações. Hoje, sem o Führer, oferece-se o anoni-

mato em Nome-da-Lei. Aprimoraram-se os meios de proteção à
implicação do sujeito com seus atos. A ética do desejo é jogada no

lixo. Quem não ouviu o dizer das belas almas: — Eu também não

concordo, mas esta é a lei”? Alienado na lei (Outro), o não concor-

dante tomará todas as medidas necessárias para a sua aplicação...




Nadiá P. Ferreira & Marina M. Rodrigues

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1 Os nomes são fictícios.

2 Agalma em grego significa ornamento, enfeite. Jacques Lacan, no

Seminário 8, A transferência, publicado por Jorge Zahar, em 1992,

comentando um dos episódios de O Banquete de Platão, que é a chega-

da inesperada de Alcebíades, define agalma como jóia, objeto precio-

so, ou seja, como alguma coisa que remete para uma riqueza interior.

É exatamente neste sentido que uso o termo agalma.


Psicanálise e Nosso Tempo

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NOSSO TEMPO


Psicanálise e Nosso Tempo

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Nosso tempo ...

É preciso acreditar nele

Mário Bruno

De certo, é preciso encontrar instrumentos para compreender

este fim de século, com sua materialidade, seu espírito e seus dis-

cursos. Por que não afirmar que precisamos acreditar no nosso

tempo? Talvez, necessitemos de crenças legítimas para o próximo

milênio. Dir-se-ia que temos, na artéria do povo brasileiro, a nos-

sa memória e a do primeiro mundo – com seus erros e acertos. E,

em meio a tantas crises, idas e retornos, é fundamental acreditar

no instante em que vivemos. Urge que re-inventemos nossas uto-

pias, o nosso modo de pensar, viver e sentir. Re-criemos o nosso

povo, na sua alegria e beleza.

Há que ter sonhos. É nesse clima de apostas no porvir que

situaremos alguns dos textos de Marina Machado Rodrigues. Ela

nos fala de uma sentença de morte para a demagogia, para o cinis-

mo e vê no espírito do carnaval a oxigenação da capacidade de

sonhar. Marina reflete com elegância, humor e leveza sobre ques-

tões sérias como a perda da fantasia, a discriminação social, a

repressão e a misoginia.



Num tom crítico e grave, Cláudia Amorim, em seus artigos,

conduz as matrizes e os desenvolvimentos de suas formulações.

Ora percebendo a situação daqueles que perderam o direito à voz

e à vida; ora, localizando, entre o real e o fingimento, a intolerân-

cia que “existe de fato”. Assim, com clareza, procura possibilida-

des de espaços, em meio à razão cínica hodierna, para o desejo e

para a invenção do outro: direito à diferença e à dignidade.



O leitor mais atento perceberá a fina abordagem de As Crôni-

cas de Viagem, de Cecília Meireles. Leodegário Amarante de Aze-

vedo Filho vai direto aos interstícios do texto, dando maior visibi-

lidade à experiência poética da autora para quem “todos os dias


Nadiá P. Ferreira & Marina M. Rodrigues

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são novos e antigos e todas as ruas são de hoje e da eternidade”.

Talvez não seja excessivo declarar que Iremar Maciel de Brito

vê no teatro e na arte popular a grande celebração da vida. É isso

que nos encanta em seus artigos: o entusiasmo pela beleza da rusti-

cidade no aparentemente óbvio e simples. Iremar nos conduz a

viajar atravessando mundos mágicos, habitados por poéticos ato-

res de circo e cantores de embolada.

Saliento ainda o que nos diz Cláudio Cézar Henriques, ao ana-

lisar criticamente o uso abusivo, nos dias de hoje, da língua oral

em contextos diferenciados. Cláudio defende, sem dogmatismo,

um conhecimento maior da língua não coloquial e da materialidade

dada às palavras pelos grandes autores.



O que há de fascinante nos textos de Maria do Amparo Tavares

Maleval é a facilidade com que nos reconduz a períodos tão re-

motos e nos mostra o quanto são atuais. Por outras palavras, traz

para a ordem do saber formulável, em nosso tempo, valores, hábi-

tos, poesias, “cousas de folgar”, ... pertencentes a épocas distan-

tes e próximas.

Dois grandes temas são abordados com nitidez e estilo por Ma-

ria Helena Sansão Fontes: o leitor e a história. Sublinhando os im-

perativos do mundo atual, Maria Helena aponta falsos e verdadeiros

dilemas com os quais nos deparamos em nosso cotidiano. Muito

oportunamente, seus textos falam de uma compreensão après coup



da história e da paixão pela escritura como marcha na contramão.

O texto de Darcília Simões é com certeza instigante: ao anali-

sar a comercialização (fast food) do ensino, percebe, como fenô-

meno convergente, o descaso do poder em relação à pesquisa

universitária. Darcília encontra um fio bem humorado para fazer

entrar, no tratamento desses temas, problemáticas fundamentais

em nossos dias.

São diversas as questões apontadas por Cláudio de Sá Capuano,

assim como o âmbito de suas irradiações: a divulgação da literatura

lusófona, o risco de estar vivo, o choque entre o velho e o novo,

erros de interpretação que podem modificar uma vida ... Sublinhe-

se à clareza de seus argumentos e a poeticidade de sua escrita.



Entre tantas coisas que povoam a cultura dos anos 60 aos 90,

tem razão Ceila Ferreira Brandão em ressaltar a importância do

Sabadoyle. Quase um enigma: – como, durante anos, Plínio Doyle

conseguiu congregar tão diversas tendências? Evidentemente, este

artigo nos convida a uma laboriosa pesquisa.




Psicanálise e Nosso Tempo

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A partir de uma referência à peça Arte, de Yasmine Reza,

Robson Lacerda Dutra aborda dois temas controversos: as difi-

culdades de valoração da arte e a definição dos limites de interferên-

cia na prática interpretativa.

Torna-se sugestivo verificar que, no início do século XX, um

mulato, homossexual, tenha conquistado, numa vida vertiginosa,

popularidade ( acompanhada, é claro, de muitos desafetos) . Mari-

ângela Monsores Furtado Capuano ressalta com justiça a impor-

tância de João do Rio, que despertado agora de seu silêncio, reve-

la-nos faces pouco conhecida de nossa “frívola city” .

É impossível refazer aqui o percurso apaixonante a que Marco

Antônio Coutinho Jorge nos convida. Poder-se-á dizer que nos

deu um belo artigo de crítica aos ideais imediatistas que recalcam,

no mundo moderno, o que há de virtual numa criança. Partindo de

duas obras, Amor, ódio e separação, de Maud Mannoni, e Cen-

tral do Brasil, filme de Walter Salles Jr., Marco Antônio, na abor-

dagem de seu tema, fala da beleza que pode surgir de um simples

encontro ao acaso.

Por fim, informaremos que os artigos, aos quais já nos referi-

mos, foram publicados anteriormente na coluna “Nosso Tempo”,

do jornal O Correio. Desejamos que estes escritos venham a ser,

dentro da diversidade de itinerários e abordagens, portadores de

mudanças e que, em toda a sua vitalidade mobilizadora, inspirem

novos sentimentos e idéias.


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