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Teatro vivo

Iremar Maciel de Brito

O teatro é uma medusa que aponta suas cabeças em várias dire-

ções. Cada uma delas, porém, tem uma cara própria. Sorrindo ou

revelando tristeza, atrai e assusta ao mesmo tempo, trazendo a possi-

bilidade do prazer e a ameaça do perigo. Todas, no entanto, preten-

dem atingir um mesmo alvo. Mas, nem sempre isso é possível.



O espectador, esse alvo fixo, parece esperar tudo, sentado em

sua poltrona. Mas isso é apenas uma aparência, pois em sua via-

gem mental tem a mobilidade do vento. Por isso é difícil para o

espetáculo cravar nele seus dentes e inocular o veneno. Quando isso

acontece, rompe-se, definitivamente, a barreira entre o palco e a

platéia, criando a celebração teatral, uma viagem com o encanto da

vida. É nesse momento que a arte do espetáculo atinge sua plenitu-

de, criando o teatro vivo, um jogo do homem com as forças criado-

ras da vida. Assim, acaba o faz-de-conta e instaura-se a verdade.



De acordo com seus propósitos artísticos, o teatro vivo pode ter

sua ênfase na emoção, como prediz a estética aristotélica; na razão,

criando um distanciamento crítico, caminho seguido por Brecht; ou,

ainda, no puro ludismo das técnicas teatrais. Portanto, não depende

do estilo estético a criação do teatro vivo, mas de um relacionamento

verdadeiro entre o oficiante da cerimônia e o crente. Mas, para que

haja verdade nesse relacionamento, é necessário que ele aconteça no

presente, pois o teatro é uma arte que se inscreve no tempo. Infeliz-

mente, num grande número de espetáculos, esse relacionamento é


cristalizado no passado, impedindo sua realização no presente.

No entanto, outros espetáculos conseguem esse relacionamento

vital entre palco e platéia. E, apenas para citar um exemplo recente,

entre outros que conseguiram atingir esse objetivo, apontamos o

espetáculo “Desobediência civil”, de Denise Stoklos, apresentado

em dezembro de 1997, no Teatro Nelson Rodrigues, onde a parceria

entre o palco e a platéia se estabelece a partir de um relacionamento

no tempo presente. Quebra-se a ilusão do tempo passado e tudo

acontece aqui e agora. Uma elaborada criação artística e um relaci-

onamento verdadeiro com o público criam um teatro vivo, contrário

a tudo aquilo que é morto na arte teatral que não persegue esses

objetivos. Assim, a medusa acerta seu alvo.




Nadiá P. Ferreira & Marina M. Rodrigues

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