Organização e seleção


O teatro popular no circo



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O teatro popular no circo

Iremar Maciel de Brito

Do mamulengo nordestino à majestosa encenação da Paixão

de Cristo, o teatro popular abre-se como um leque de gêneros e

estilos. Nele, estão contidas representações folclóricas como o

Bumba-meu-boi ou a Nau Catarineta, mas também o teatro de rua,

feito por artistas anônimos em qualquer praça da cidade.



Entre as estruturas tradicionais do teatro popular, o drama de

circo gozou de grande prestígio na época anterior ao domínio da

televisão. Era ele que enchia de poesia as noites das pequenas cida-

des onde os circos chegavam.

Quando o apresentador anunciava o “drama” uma deliciosa

expectativa tomava conta da platéia. Todos já haviam visto aquela

encenação no ano anterior, com o mesmo elenco, usando o mesmo

surrado figurino e movimentando-se em antigas marcações que há
muito haviam perdido o frescor criativo. Mas mesmo assim o espe-

táculo dominava o público, fazendo-o mergulhar por um momento

num sonho diferente do sonho da realidade.

Quando um ator retorcia o rosto numa careta que lembrava medo,

isso era o suficiente para representar a emoção. Não se exigia dele

nenhum aprofundamento do personagem nem mesmo um certo capri-

cho na composição do tipo. Nesse teatro, o realismo não tinha impor-

tância, pois ele trabalhava mais com índices das ações humanas do

que com a busca de uma perfeição mimética. Assim, as regras da

representação pautavam-se no melodrama romântico, mas eram mui-

to livres e estavam sobretudo relacionadas à reação da platéia: os

momentos que emocionavam o público eram esticados a tal ponto

que parecia criar uma outra escritura dramatúrgica, pautada no exagero

dos traços melodramáticos. Os argumentos que davam origem a es-

ses espetáculos variavam pouco: quase sempre era a história de um

triângulo amoroso, onde a vítima era a ingênua mocinha. No entanto

isso encantava o público e o fazia sonhar.

Qual o seu segredo e a sua magia, se tudo nesse teatro era apa-

rentemente óbvio, pouco criativo e sem vida? Talvez fosse exata-

mente na rusticidade de sua linguagem que residisse o seu encanto,

a sua maneira de criar a magia, uma arte cada vez mais rarefeita no

universo do teatro.




Psicanálise e Nosso Tempo

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