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Crônicas de uma atenta viajante
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səhifə | 65/88 | tarix | 03.01.2022 | ölçüsü | 1,42 Mb. | | #47502 |
| Crônicas de uma atenta viajante
Leodegário A. de Azevedo Filho
As Crônicas de Viagem, de Cecília Meireles, em edição da Nova
Fronteira, são um ponto alto não só da sua obra em prosa, mas tam-
bém do conjunto de sua produção literária. Há aqui unidade na diver-
sidade, entendendo-se por unidade o que decorre do ponto-de-vista da
autora, sempre poético e presente em tudo o que escreveu.
E, por diversidade, a variedade dos artifícios e artimanhas do
literário, surpreendendo-nos, nos textos, a crônica propriamente dita
– por si só é um gênero compósito – ao lado de pequenas narrativas
ou quase contos, além do fascinante relato de eventos e passeios até
descrições de paisagens, ou mesmo, ao poema em prosa.
Em tudo transparece ainda o seu gosto pelo folclore, com len-
das, pregões, mitos e costumes variados e cosmopolitas, partindo
quase sempre do cotidiano, para dele extrair o sentido poético e
transcendente que põe nas crônicas.
Temas vários transparecem ou se interpenetram sem esquecer as
diferentes formas de educação dos povos, a música, a pintura, a ar-
quitetura, a escultura, a poesia e a dança. Por isso mesmo é que afir-
ma que “a arte de viajar é uma arte de admirar, uma arte de amar”.
Distinguindo sempre o simples “turista” do verdadeiro “viajan-
te”, ela sabe que “todos os dias são novos e antigos e todas as ruas são
de hoje e da eternidade: e o viajante imóvel é uma pessoa sem data e
sem nome, na qual repercutem todos os nomes e datas que clamam
por amor, compreensão, ressurreição”.
Quando a ficção penetra nos interstícios do texto, Cecília é
sempre guiada por sua imaginação e por suas mãos de fada.
Assim, em forma de crônicas de viagem, nesses textos se revela
toda a rica experiência humana da Poeta em seu contato com pesso-
as e coisas. Viajar, para ela – lendo-se as crônicas reunidas – é
conhecer o mundo, deliciar-se com magníficos instantâneos, visitar
grandes universidades européias ou americanas, participar de con-
gressos internacionais, estabelecer relações com seres humanos re-
presentativos de várias culturas, saborear pratos exóticos, valori-
zando sempre o tempo humano, em sua grandeza e precariedade.
Psicanálise e Nosso Tempo
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