|
João do Rio - entre a fama e o preconceito
|
səhifə | 74/88 | tarix | 03.01.2022 | ölçüsü | 1,42 Mb. | | #47502 |
| João do Rio - entre a fama e o preconceito
Mariângela Monsores Furtado Capuano
João Paulo Emílio Cristóvão dos Santos Coelho Barreto (1881-
1921), jornalista e escritor do início do século XX, adotou o pseu-
dônimo de João do Rio, entre outros (em torno de 12 ou 13), e com
ele tornou-se conhecido.
Sua “vida vertiginosa”, no dizer de Raimundo Magalhães
Júnior, seu biógrafo, foi marcada pelo preconceito. Cedo, tornou-se
um jornalista respeitado e famoso, porém essa fama custou-lhe muito.
Mulato, obeso e homossexual, João do Rio, em vida, enfrentou um
grande preconceito, fato este que praticamente o impediu de chegar
à ascensão social que desejava. Mesmo assim, foi membro da Aca-
demia Brasileira de Letras e conhecido internacionalmente, princi-
palmente em Portugal, onde era muito lido e querido.
Este escritor, com uma grande força de trabalho, retratou de
forma apaixonada a vida cotidiana carioca da Belle-Époque, atra-
vés de seu estilo eclético. Foi crítico, cronista, contista; autor de
novelas, romances, peças teatrais e tradutor, sendo a sua paixão
pelas ruas o elemento detonador de toda sua obra.
Figura controvertida, durante sua vida e principalmente nos seus
últimos anos, recebeu numerosos ataques à sua imagem de homem,
jornalista e escritor, através da imprensa. Até mesmo um atentado à
sua casa ele sofreu. Todos estes fatos possivelmente o abalaram, cul-
minando num ataque cardíaco que o levou à morte em junho de 1921,
no auge de sua popularidade.
João do Rio foi mais uma vítima de uma sociedade conservado-
ra e hipócrita, que não consegue conviver e aceitar o outro, ainda
mais em se tratando do diferente, nem tampouco confirmar seu va-
lor. Durante sua vida contraiu grandes afetos e inúmeros desafetos.
Ao mesmo tempo que por uns era muito amado, por outros era
mortalmente odiado. Talvez a razão pela rápida obscuridade que se
formou em torno de seu nome, logo após sua morte, tenha sido fruto
de inveja e desagrado por parte de jornalistas não tão bem sucedi-
dos; de inimigos políticos, contrários às suas idéias de reformas
sociais e, principalmente, pelo preconceito que girava em torno de
sua cor e de sua condição de homossexual.
João do Rio, recentemente despertado de seu silêncio, revela-
nos, através de sua obra, a paixão que sentia por sua Frívola City,
Nadiá P. Ferreira & Marina M. Rodrigues
108
como ele mesmo intitulava a cidade do Rio de Janeiro, a mesma que
o escondeu e o silenciou por muitos anos.
Psicanálise e Nosso Tempo
109
Dostları ilə paylaş: |
|
|