Discriminação ou preconceito social?
Marina Machado Rodrigues
Afirmações do tipo “aqui não há discriminação racial, o que
há é preconceito social” são expedientes utilizados pelo discurso da
burguesia para mascarar a desigualdade racial, deixando transparecer
a atitude hipócrita assumida no Brasil diante da questão.
A discriminação é um dado real, refletida na criação de leis que
garantem a igualdade de tratamento aos negros. Uma importante con-
quista política foi alcançada com a Constituição de 88, que torna o
racismo crime inafiançável. Também a Lei Afonso Arinos constituiu
um considerável avanço, punindo o tratamento discriminatório com
pena de prisão.
No entanto, estas medidas não têm sido suficientes. O precon-
ceito racial é reafirmado a cada momento no imaginário popular, atra-
vés de um grande número de frases que a cultura branca cunhou e
dissemina, revelando-se de forma velada, mas efetiva, no corpo soci-
al. Uma de suas conseqüências é a flagrante marginalização profissi-
onal de uma população de negros e mestiços num país em que afinal
“são todos quase brancos”.
Em nosso século, os primeiros movimentos de resgate da
conciência negra surgiram na América do Norte, com a indiscutível
liderança de Martin Luther King, que pregava a afirmação da raça
por meios pacíficos; ou de Malcom X, que lutou em defesa dos
direitos do negro, propondo inclusive o confronto com a sociedade
americana majoritariamente branca e racista. Na década de 70, sur-
giu o Black Power, que ganhou repercussão internacional, reafir-
mando o orgulho negro e fundando um novo conceito estético, ao
recusar os padrões impostos pela cultura branca, quando procurou
conscientizar os negros de que “Black is beautiful”.
No Brasil, muito antes disso, a luta de libertação se iniciou com
Zumbi dos Palmares, herói negro que, ao se insurgir contra a opres-
são dos senhores brancos e fundar o mais importante dos quilombos,
assumiu uma postura política em defesa da liberdade da raça, tornan-
do-se referência obrigatória na história da cultura negra.
Contemporaneamente, a consciência negra tem alargado seu espa-
ço de forma significativa. Um exemplo disso é a criação de centros e
instituições, em âmbito universitário, que têm por objetivo aprofundar
a discussão sobre a cultura e importância da raça negra na sociedade
Nadiá P. Ferreira & Marina M. Rodrigues
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brasileira. Este é um dos caminhos possíveis para o reconhecimento e
reafirmação da contribuição trazida pelos negros a este país miscigenado.
Outro é enfrentar o problema do preconceito racial sem hipocrisia, por-
que a remissão do erro só será possível a partir de sua assunção.
Psicanálise e Nosso Tempo
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