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Colonizados e colonizadores – 500 anos



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Colonizados e colonizadores – 500 anos

Robson Lacerda Dutra

Os meios de comunicação vêm apregoando já há bastante tem-

po as comemorações dos 500 anos de descobrimento do Brasil. Pa-

inéis, relógios, programas de festivais nos mais diversos níveis dão

conta do tempo em que as naus de Pedro Álvares Cabral deixaram

o Tejo em busca de um caminho marítimo que culminaria na desco-

berta do Novo Mundo.

Contudo, a ótica dos festejos se resume tão somente à visão

de brasileiros e portugueses, sem que se observe a dos que já esta-

vam aqui quando as naus aportaram: os índios e as conseqüências

da colonização.

O Romantismo, estilo que buscou resgatar as origens e as cores

do Brasil, em seu primeiro momento, deu voz ao índio. Vemos em

José de Alencar a tentativa de aproximá-lo do homem branco, do

português, através do amor de Peri e Ceci. No entanto, é na lírica de

Gonçalves Dias que vamos deter nosso ponto de vista sobre o que

realmente representou a chegada dos lusitanos no solo brasileiro.

No poema “O Canto do Piaga”, publicado nos Primeiros Can-

tos, o piaga, ou seja, o sacerdote, médico, cantor, aquele que traduzia

os sinais dos deuses, reúne os guerreiros da tribo Tupi para narrar,

com riqueza de detalhes etnográficos, a visão indecifrável e ameaça-

dora. O eclipse, o pio da coruja, a fogueira que se acende sozinha são

apenas alguns destes sinais de agouro que o piaga não compreende.

A visão ameaçadora toma, então, a palavra e traduz seus

vaticínios:

“Pelas ondas do mar sem limites

Basta selva, sem folhas, i vem;

Hartos troncos, robustos gigante;

Vossas matas tais monstros contêm.

/.../

Vem trazer-vos algemas pesadas,

Com que a tribo Tupi vai gemer;

Hão de os velhos servirem de escravos,

Mesmo o Piaga inda escravo há de ser.

Ao contrário do aparente progresso conseguido após 500 anos,


Nadiá P. Ferreira & Marina M. Rodrigues

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a voz do índio se calou. Não apenas no Brasil, mas nas demais colô-

nias portuguesas. Em Angola e Moçambique, por exemplo, a voz

dos nativos tem sido negada e em muitas delas os efeitos negativos da

colônia se fazem presentes através de guerras e lutas territoriais.



Será necessário que se passem mais 500 anos para que a história

seja assumida em sua totalidade e seu desenrolar plenamente escrito?


Psicanálise e Nosso Tempo

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