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Mal-estar na escola

Sérgio Nazar David

Atlanta, subúrbio de classe média... Numa escola, no dia da ce-

rimônia de formatura, um adolescente chega atirando e fere seis

pessoas. Os jornais se perguntam sobre a natureza das feridas

sociais que transformam adolescentes em assassinos.

Também aqui no Brasil, os adolescentes produzem dentro e

fora da escola uma fatia da violência nossa de cada dia. Não são

poucos os sinais que temos de que estamos todos vivendo uma

crise. E que esta crise não deixa de abrir suas feridas e de produzir

seus sintomas, transformando muitas vezes jovens em delinqüen-

tes. O que mais se ouve por aí é que saímos de uma sociedade que

não permitia nada para uma sociedade que permite tudo. Para o

senso comum, é preciso voltar aos velhos limites. Tal solução é,

além de ilusória, hipócrita. Trata-se de uma visão conservadora,

que quer fazer tudo voltar ao que era antes, ao que acabou.

Por acaso a escola antiga não fazia violência? Por acaso os

professores todo-poderosos, com os conteúdos inflexíveis, com

sistemas de avaliação rígidos não faziam violência? Por acaso, a

escola dita tradicional, que ensina que bom é sempre aquele que

tira boas notas, que vencedor é sempre aquele que se sobressai

nos critérios mensuráveis de avaliação, que menina é aquela que

usa esmalte rosa, que menino é quem não usa brinco e nem deixa

o cabelo crescer, e que manda quem pode, para que os ajuizados

obedeçam, esta escola também não faz violência?



Trata-se então de substituir novamente a violência dos adoles-

centes que hoje insultam os professores diariamente por muito pou-

co ou quase nada, ou entram atirando dentro da escola, ou picham

as paredes da sala de aula, pela velha violência que na maior parte

das vezes deixava suas marcas escondidas na subjetividade sem

assumir formas evidentes de um mal praticado contra o outro? E

por acaso nesta escola antiga também muitos adultos não paga-

vam pela posição que assumiam? Nesta escola, que dizem que era

boa, professores também não eram humilhados, incapazes que eram

tantas vezes de pôr em prática o credo de fronteiras tão absolutas

a que pareciam querer servir?



Esta defesa do passado me faz lembrar a cordialidade idílica

pela qual a família tradicional não primava e que estas viúvas e


Nadiá P. Ferreira & Marina M. Rodrigues

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viúvos do passado, vivendo no presente, insistem em mitificar.

Neste ponto, eu fico com o meu pai, que dizia sempre: “Meu filho,

Deus me livre de antigamente.”


Psicanálise e Nosso Tempo

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