gozando ainda dos privilégios políticos, mas já privada dos privilégios econômicos, mudou-se com freqüência para as cidades, chegando-se a relações íntimas entre
as duas classes dirigen
.. tes. Nasceu o patriciado urbano. Os burgueses italianos preferiram a mobilização dos seus capitais; tornaram-se banqueiros. As famílias florentinas dos Bardis,
e Peruzzis, grandes comerciantes de lã inglêsa, no século XIV, chegaram. a conceder vultosos empréstimos aos reis da In
glatèrra; criaram a bôlsa de valores. De ambos os lados dos Alpes havia o fenômeno ao qual Veblen chamou "conspicuous consumption": a ostentação da riqueza ociosa.
No
Norte, porém, o luxo era aristocrático no sentido feudal,
enquanto no Sul se manifestou a atitude típica dos tempos
do capital financeiro dominante: interêsses culturais, mudanças rápidas de modas literárias e artísticas, formação de elites de literatos profissionais e diletantes
abastados. A .burguesia setentrional imitava o estilo de viver dos feudais; o clero perdeu a consideração e proletarizou-se em grande parte, formando as massas dos
"vagantes", vagabundos latinos; entre os escritores aparecem com fregüên
4) J. Luchaire: Les d~craties italiennes. Paris, 192O. H. Pirenne: Les villes du Moyen Age. Bruxelles, 1927.
cia aristocratas aburguesados. Na Itália, isto é, no Norte e no Centro da península, o feudalismo está pràticamente abolido. A literatura manifesta a tendência caracteristicamente
burguesa para o realismo, com inclinação para a sátira, esta última uma feição bem medieval. A literatura italiana do "Trecento" seria só isso, se não houvesse mais
duas outras classes literárias: os "ascetas" e os "clérigos". Os "ascetas" escrevem a literatura popular, religiosa e às vêzes revolucionária; são os monges de S.
Francisco e de S. Domingos. Os "clérigos", assumindo o papel do clero na civilização eclesiástica, são os jurisconsultos e outros eruditos nas universidades, ocupando-se,
nas horas livres, com estudos latinos e imitação da poesia provençal. No "Trecentd", êstes "clérigos" estão ainda ligados ao movimento religioso. No " Quattrocento",
tornam-se independentes, já são "humanistas" - só então a "tese clássica" . de Carducci se justifica.
Neste sentido limitado, o "Trecentd" italiano é essencialmente medieval, preparando, porém, a Renascença do século XV. A evolução está mais adiantada onde o capital
financeiro já é mais poderoso do que em outra parte; assim acontece em Florença. Mas o pórtico do "Trecento fica em Bolonha, sede da Universidade e dos intelectuais
uriversitários. Se isso é "Renascença", é então renascença sóbre os fundamentos populares da religiosidade franciscana.
A Itália do século XIV é espiritualista. Foi êsse espiritua-:"o lismo que transformou a poesia erótica dos provençais em
"dolce stil novo", e o intelectualismo dos escolásticos em . universalismo de Dante.
"Trecentd" significa "século XIV"; mas o sentido literário da palavra não coincide completamente com o cronológico. O "Trecentd" literário (") começou em pleno sé=
culo XIII e terminou antes do século XIV. É um têrmo literário, que significa determinado estilo, ao qual os pró
b) N. Sapegno: Il Trecento. 2" ed. Milano, 1938.
#332 OTTO MARIA CARPEAUX
HISTÓRIA DA LITERATURA OCIDENTAL
333
prios italianos da época chamaram "dolce stil novo". Com Guinizelli e Cavalcanti, os mestres de Dante, começa a poesia amorosa em Molce stil novo"; Dante e Petrarca
a continuam, e Boccaccio fornece, dêsse "dolce stil novo", o requintamento psicológico, na Fiammetta, e no Decamerone a paródia inspirada num sexualismo algo grosseiro.
"Trecento" é quase sinônimo de "poesia de amor" (5-A).
As expressões nas quais os trovadores provençais envolviam os seus sentimentos foram gastas pelo uso multissecular e tornaram-se lugares-comuns. Essa circunstância
esconde o fato essencial: o amor, na poesia provençal, é um sentimento novo. Tôda a nossa poesia amorosa teria sido incompreensível aos gregos, que não conheciam
nada disso, mas tão-sómente o casamento utilitário, as heteras e a pederastia. Mesmo nos elegíacos romanos, o amor é exclusivamente paixão sexual, acompanhada de
sentimentalismos e frustrações. Depois, a moral cristã exclui o erotismo, e o cristianismo dos feudais tem, do amor, a noção utilitarista de todos os proprietários
de terrenos; as filhas dos senhores feudais da Provença ainda eram dadas em casamento sem vontade própria e sem amor, assim como se vendem terrenos. Mas o trovador
Peire Vidal já tem outro conceito do amor, como de um "élan vital":
"Amors mi ten jauzent e deleitos, Amors mi ten en son dons recaliu, Amors mi ten galhart et esforsiu."
Essa transformação extraordinária baseia-se em motivos psicológicos e motivos sociais (6). Os vassalos que se encontravam nas côrtes dos grandes senhores feudais
da Provença dependiam do apoio econômico do senhor e da benevolência humana da senhora. Esta, vendida ao marido como um pedaço de carne, encontrou nas relações com
os vassalos novos sentimentos de amizade, daquela amizade que é tão difícil manter entre mulher e homem. Mas o erotismo das relações era limitado pelo rigor da dependência
feudal. O amor dos trovadores provençais, dirigindose sempre a uma dama de categoria social superior, tomou a feição de um código jurídico ou de um cerimonial áulico;
só nos maiores entre os troubadours acontece que uma palavra de paixão sincera quebre o formalismo das expressões. Nas famosas "côrtes de amor" discutiam-se problemas
da etiquêta erótica - os resultados codificaram-se, em 1324, nas "Leys d:"Amors" de Tolosa, - assim como se discutiam, nos tribunais feudais, os artigos e parágrafos
complicados das "Assises du royaume de Jérusalem", código modelar do feudalismo. Nas poesias do "dolce stil novo" tampouco se revela paixão erótica; ao contrário,
tudo é mais espiritualizado, a jurisprudência é substituída pela filosofia escolástica e pela teologia. A alegoria é mais freqüente, a forma artística mais rigorosa;
aparecem novas formas estróficas e, finalmente, o sonêto.
As origens do "dolce stil novo" continuam discutidíssimas (:"). As opiniões diferem, conforme se dá mais relêvo
Não muito depois, na Itália, o amor é sentimento religioso 6) L. F. Mott: The System of Courtly Love. 2.a ed. New York, 1924.
e pensamento filosófico simultâneamente, e Dante termina 7) G. Dolci: L:"umano e il divino nella concezione dantesca dell:"amo
o seu poema cósmico com o credo:
re. Milano, 1939.
F. Torraca: Le donne italiane nella poesia provenzale. Firenze,
19O1.
"Amor L. Azzolina: Il Dolce Stil Nuovo. Palermo, 19O3.
che muove il sole e 1:"altre stelle". K. Vossler: Die philosophischen Grundagen zum Suessen Neuen
5A) V. De Bartholomaeis: Primordi delta Zinca d:"arte in Italia. Stil. Heidelberg, 19O4.
Torino, 1943. G. A. Cesareo: "Amor m:"inspira". (In: Miscellanea Arturo Graf.
Bergamo, 19O4.)
#334 OTTO MARIA CARPEAUX
à "novidade do conteúdo- filosófico ou à novidade da forma artística. Antigamente, a crítica italiana sustentava a tese da transformação puramente literária do estilo
provençal pelos poetas italianos, que teriam sido menos formalistas e mais pessoais. Vossler acentuou, ao contrário; a importância do conteúdo filosófico; os poetas
do "dolce stil novo" eram burgueses eruditos, professôres ou alunos de Bolonha, scholars. Contra essas teses levanta-se uma terceira, que pretende negar a origem
erudita da literatura italiana, chamando a atenção para as expressões de amor na poesia popular e na poesia franciscana e considerando o "dolce stil novo" como expressão
da alma italiana, renascida no franciscanismo. Por enquanto, parece vitoriosa essa tese "nacionalista".
O fundamento do "dolce stil novo" é, sem dúvida, filosófico; os seus representantes principais são scholars. O espiritualismo filosófico já estava, em germe, no
dualismo religioso da heresia provençal: entre as duas fôrçás -do maniqueísmo, o homem medieval só pôde tomar o partido do espírito. Na Itália, a heresia religiosa
foi substituída pela heresia filosófica, o aristotelismo averroísta: a identificação entre a "Donna" e a "Intelligenza", tão típica do "dolce stil novo", explica-se
pela significação da Inteligência, como Alma do Universo, no averroismo. A vivificação poética dêsses conceitos abstratos pode ter raízes neoplatônicas. O neoplatonismo
estava presente na mística medieval, e a idéia neoplatônica da Escada do Amor, cara aos Victorinos e a Bonaventura, também aparece na filosofia do amor dos poetas.
Mas tampouco é possível ignorar o ímpeto da mística popular franciscana, penetrando a alma italiana. "Amor, amor, amor!", gritou Jacopone:" da T.odi; e certas cartas
da mística Santa Cata
V. Cian: 1 contatti litterari ítalo-provenzali e Ia prima rivoluzione poetica italiana. Messina, 19O6. F. Figurelli: Il Dolce Stil Novo. Napoli. 1936. N. Sapegno:
"Dolce stil novo". (In: Cultura. I. 193O)
I ISTÓiUA DA LITERATúitA OCIDENTAL
rins de Siena são, poemas em prosa do "dolce stil novo". Jacopone e Catarina, porém, são gente do povo, escritores sem intuitos artísticos. É preciso atribuir à
consciência . formal dos eruditos a revolução da métrica: a nova música da canzone com as suas variações ilimitadas de combinações de versos e rimas e com a condensação
da idéia central do poema, no congedo (envoi); a transformação do strambotto siciliano, acrescentando-lhe dois tercetos, em sonêto; enfim, a teria rima de Dante.
Os poetas do "dolce stil novo" são burgueses eruditos. Mas essa definição não deve ser tomada ao pé da letra. Na Idade Média, o número dos letrados e até dos que
sabem ler e escrever é reduzido, reunindo-se, assim, autores de proveniência diferente na classe dos que escrevem. Na Itália do "Trecento" há três "classes literárias":
os "intelectuais", os "burgueses" e os "ascetas". São membros da
"Intelligentzia" os fundadores do "dolce stil novo": Guinizelli e Guido Cavalcanti. É burguês oo realista e satírico Cecco Angiolieri. E o ascetismo místico será
representado
por Catarina de Siena.
Guido Guinizelli (S), embora não tivesse sido grande poeta, não merece o desprêzo que resulta fatalmente da comparação com os seus sucessores. Era um erudito juiz
em Bolonha, e a inspiração não o freqüentava muito; mas a idéia central da revolução literária, a elevação espiritual do homem pela contemplação da beleza, encarnada
na
"Donna", já se encontra em Guinizelli. O amor era "a luz interior" da sua poesia. Da nova literatura Guinizelli foi %1 padre mio, e degli altri miei miglior" ("Purgatório:",
XXVI, 97-98).
8) Guido Guinizelli, c. 123O-1276.
T. Casini: Rime dei poeta bolognesí del secolo XIII. Bologna, 1881. G. Salvadora: "Guido Guinizelli". (In: Rassegna nazionale. I.%VI. 1892).
335:"
#336 OTTO MARIA CARPEAUX
HISTÓRIA DA LITERATURA OCIDENTAL 337
r
i
t
Guido Cavalcanti (9) é o grande poeta. É pensador rigoroso, escolástico, partindo do subjetivismo céptico, atra
vessando um espiritualismo meio herético, chegando à compreensão religiosa das suas angústias: o têrmo final do seu
amor é - coisa bastante paradoxal para nós - a morte. O tom da sua poesia é diferente, musical, quase celeste, e às vêzes fresco, popular; o verso "piacente primavera,
per prata e per rivera", vemos o florentino em excursão pela paisagem em tôrno da sua cidade. Cavalcanti é "1a gloria delia língua" ("Purgatório", XI, 98), o pai
da literatura italiana. Mas foi um espírito sombrio com ares de "poète maudit". Em nossos dias, o poeta e crítico americano Ezra Pound chamou novamente a atenção
para essa grande figura.
São numerosos os nomes de poetas que Dance eternizou nos três reinos, mas o de Cecco Angiolieri (1O) não aparece entre êles. Dance, no entanto, conheceu-o bem; até
trocou com êle sonetos polêmicos, de azedume inesperado. Angiolieri não tem lugar no Inferno, nem no Purgatório, nem no Paraíso; êsse burguês pertence a um outro
mundo, fora do Cosmo de Dance. Cecco era negociante de couros em Siena, e passou a vida esperando e desejando ardentemente a morte e a herança do pai. Entretanto
consolava-se da sua miséria com a trindade de "Ia dorna, Ia taverna e il dado", sofrendo muito por causa dos caprichos
9) Guido Cavalcanti, c. 1255-13OO.
Edição das poesias por L. Di Benedetto, Torino, 1925.
E. Rho: "I1 dolce stil nuvvo e Guido Cavalcanti". (In: Pagine critiche. Arezzo, 1922.)
J. E. Shaw: Guido Cavalcanti:"s Theory of Love. Toronto, 1949.
1O) Cecco Angiolieri, 126O-1311 ou 1313.
Canzionere; edição por C. Steiner, Torino, 1925.
L. Pirandeilo: "Un preteso poeta umorista dei secolo XIII". (In: Arte e Scienza. Roma, 19O8.)
A. D:"Ancona: Studi di critica e storia letteraria. Vol. I. 2.a ed. Bologna, 1912.
Bruno Maier: La personalità e la poesia di Cecco Angiolieri. Bologna, 1947.
F. Figurelli: La musa bUzarra di Cecco Angiolieri. Napoli, 1951.
da bela Becchina, filha de um sapateiro. Cecco é como é o seu ambiente: vulgar e ordinário. Começa com expressões quase românticas de melancolia:
"La mia malinconia é tanta e tale,
Ch:"io non discredo che:" s:"egli :"1:"sapesse Un, che mi fosse nemico mortale Che di me di pietade non piangesse."
mas seguem-se sempre as mesmas queixas sôbre mulheres baratas e dinheiro custoso. Contudo, não convém exagerar a modernidade das suas expressões. É bem medieval
a sua sinceridade em dizer tudo isso com a maior franqueza, na forma musical de sonetos em "dolce stil novo". Não dissimula "il pessimo e 1 crudele odio, ch:"i:"porto";
e só quando, após tantas grosserias de humorista medieval, chega ao seu refrão: "coo grand malinconia sempre istó", então revela-se Cecco Angiolieri como homem "moderno"
do século XIII; não encontrou lugar no Cosmo místico de Dance, mas está vivo, entre nós. E bem se compreende a riquíssima variedade dêsse mundo, medieval e moderno
ao mesmo tempo, quando pensamos na multiplicidade de aspectos dessa pequena cidade de Siena: ao lado de um Cecco Angiolieri, a "noiva mística de Cristo", Santa Ca
tarina de Siena (11), escrevendo ao papa corrompido e lan
çando-lhe as mesmas expressões, sem consideração e respeito, de um Cecco Angiolieri, e invocando o céu com a energia poética de Dance. A santa foi quem melhor escreveu
em prosa no "dolce stil novo".
Os caracteres mais diferentes e as classes inimigas viveram juntos nessas cidades minúsculas, em ruas estreitíssimas, todos êles amargurados e apaixonados pelo furor
das lutas partidárias, pelo ardor dos sentimentos religiosos
11) Caterina da Siena, 1347-138O.
C. Pigorini Beri: Santa Caterina da Siena. Firenze, 19OO.
G. Getto: Saggio letterario su Santa Caterina da Siena. Firenze, 1939.
#338
OTTO MARIA CARPEAUX
e o ciúme das competições comerciais, pelas invejas e ódios pessoais -e individualismo inato da raça. Cada pedra nas ruas daquelas cidadezinhas tem significação
histórica, e deve isso não só ao gênio dos habitantes, mas também à tragédia que era a sua vida. O testemunho dessa tragédia
é a Cronica de Dino Compagni (12). É florentino, cidadão
de "la piú nobile città dal mondo". Florentino típico que era, deixou % livro todo pessoal e, ao mesmo tempo, todo objetivo, ardente de paixão de partidário político
e sem digressões subjetivas, da maior concisão, e no qual cada palavra é cheia de sentido e de ação trágica. Pois trata-se de uma tragédia: os "malvagi cittadini",
como chama o gibelino aos inimigos guelfos, apoderaram-se da cidade. E entre os exilados da catástrofe estava o poeta, o poeta "sans phrase". No quadro de Domenico
di Michelino, na catedral de Santa Maria dei Fiore, em Florença, está êle ao lado do Palazto Vecchio e do Duomo, mas "fuori le mura", como exilado, com o seu livro
na mão, apontando com o dedo os reinos do Purgatório e do Inferno, que os "malvagi cittadini:" mereceram; parece pronunciar as palavras que Dino Compagni disse a
respeito dos seus patrícios "Adunque piahgete sopra voi e Ia vostra città!" Eram os patrícios de Dino Compagni e de Dance Alighieri (13)
HISTÓRIA DA LITERATURA OCIDENTAL 339
Epopéias são leitura difícil. O gênero morreu há muito, deixando inúmeras, falhas e uns poucos monumentos grandiosos que representam épocas passadas da humanidade;
por isso, é indispensável conhecer Homero e Virgílio, Ariosto e Spenser, Camões, Tasso e Milton. Mas é mais fácil admirá-los do que gostar dêles. Se desaparecessem
tôdas as imposições da escola e da convenção de uma "cultura geral", teríamos de confessar que as grandes epopéias são hoje pouco legíveis. É preciso estudá-las;
teremos de admirar inúmeros pormenores geniais e o plano grandioso; mas é impossível lê-las assim como se lê uma obra de literatura viva. Dance é a única exceção.
_
T. Casini e S. A. Barbi, Firenze, 1922.
Fr. De Sanctis: Storia delia letteratura italiana. Napoli, 187O. (Muitas reedições.)
Fr. De Sanctis: Nuovi saggi critici. Napoli, 1872. (Muitas reedições.)
J. Klaczko: Causarias Florentines. Paris, 188O. F. X. Kraus: Dante. Berlin, 1897.
G. A. Scartazzini: Enciclopedia dantesca. 2 vols. Milano, 1896/ 1898.
F. d:"Ovidio: Studi sulla Divina Commedia. Palermo, 19O1.
F. D:"Ovidio: Nuovi studi danteschi. 2 vols. Milano, 19O6/19O7. F. Torraca: Studi danteschi. Napoli, 1912. E. Moore: Studies in Dante. 4 vols. Oxford, 1896/1917.
G. E. Parodia Poesia e storia nella Divina Commedia. Napoli. 192O.
P. Toynbee: Dante Studies. London, 1921. B. Croce: La poesia di Dante. Bari, 1921.
F. Torraca: Nuovi studi danteschi. 2.a ed. Napoli, 1924.
K. Vossler: Die Goettliche Komoedie. 2.a ed. 2 vols. Heidelberg, 1925.
T.S. Eliot: Dance. London, 1929.
N. Zingarelli: La vita, i temei e le opere di Dante. 2 vols. Milano, 1931.
S. Breglia: Poesia e struttura nella Divina Commedia. Genova, 1935.
L. Gillet: Dante. Paris, 1941.
B. Nardi: Dance e Ia cultura medievale. Bari, 1942. A. Chiaria Letture dantesche. Firenze, 1946.
A. Momigliano: La Divina Commedia commentata. Firenze, 1947.
A. Renaudet: Dance humanista. Paris, 1952.
A. P. d:"Entrèves: Dante as a Political Thinker. Oxford, 1952.
12) Dino Compagnic. 126O-1324.
J. Dei Lungo: Dino Compagni e Ia sua cronica. 3 vols. Firenze, 1879/1887. (p 2.O volume é a edição crítica da Crônica.) (2.a ed. abreviada, 2 vols., Roma, 1917/1918).
13) Dante AlighIeri, 1265-1321.
Vita Nuova (c. 1294) ; Divina Commedia (c. 1313/132O); De vulgari eloquentia (c. 13O4/13O6) ; Il convívio (c. 13O4/13O8) ; De Monarchia (c. 13O8/131O).
Edições das obras: Società Dantesca Italiana, Firenze, 1921; E. Moore, 2-O ed., Oxford, 1924.
Edição da Vita Nuova por M. Barbi, Firenze, 19O7.
Edições da divina Commedia: G. L. Passerini, Firenze, 1911. G. A. Scartagzini e G. Vandelli, Milano, 192O. C. Ricci, Milano, 1921.
C. Steiner, Torino, 1921.
L. O1schki, Heidelberg, 1921.
#K.
34O OTTO MARIA CARPEAUR
É possível ler a Divina Comédia assim como se fôsse
uma obra de hoje, apesar das mil dificuldades criadas pelas
alusões eruditas e políticas. É uma obra viva, capaz de despertar paixão e entusiasmo; porque não é uma epopéia.
Entre as grandes obras da literatura universal às quais a
convenção chama "epopéia", a Divina Comédia é a única que não tem nada que ver com os modelos antigos. Nem sequer com a Eneida, apesar de o autor desta ser um dos
personagens principais da obra de Dance. A Itália, herdeira imediata da civilização latina, nunca foi "primitiva"; por isso, não produziu "epopéia nacional" à maneira
da Chanson de Roland, do Poema del Cid ou do Nibelungenlied; e a Itália burguesa do "Trecento" já não pôde criar uma epopéia heróica. O primeiro herói da Divina
Comédia é Virgílio, que aparece como encarnação da Razão; o último ]herói da Comédia é "La Somma Sapienza", inspirada pelo "primo aurore". São antes, ambos, os pólos
- homem e Deus - entre os quais a ação se desenvolve. Mas a Divina Comédia não tem ação; não tem enrêdo. O único elemento que liga os versos, reúne os cantos, junta
as três partes, é a pessoa do próprio poeta, constantemente presente. Do comêço do Inferno até o fim do Paraíso, é Dance que fala. É uma obra de expressão pessoal,
uma obra lírica, no sentido da estética crociana: o lirismo é o centro vital da obra de arte. Por isso, a Divina Comédia
vive.
O título, algo estranho, corresponde a uma estética desaparecida: a "comédia", segundo Dance, seria um poema que começa por coisas penosas para terminar em felicidade,
assim como a história sacra da Humanidade começa com o pecado original e termina com a redenção. Neste sentido, Dance pode chamar "comédia" à sua obra cósmica,
" il poema sacro
Al quale ha posto mano e cielo e terra."
HISTÓRIA DA LITERATURA OCIDENTAL 341
Dance é o construtor de um Cosmo. O julgamento unãonime dos leitores de todos os séculos concorda em um ponto: que a parte mais "interessante% mais humana, do Cosmo
dantesco, é o "Inferno"; e nesta afirmação se esconde um dos julgamentos mais graves que já se pronunciaram contra a humanidade. A viagem de Dance pelo Inferno é
o seu "cammin di nostra vita"; da porta pela qual todos entramos - "Lasciate ogni speranza, voi che entrate!" - através do pré-inferno dos covardes e indecisos,
que são os marginais da sociedade cósmica - "Non ragioniam di lor, ma guarda e passa!" - através das tempestades vertiginosas da sensualidade, através das florestas
dos avarentos, irascíveis, traidores, suicidas, sodomitas, prostitutas, até àquelas paisagens terríveis que nunca existiram e que, desde Dance, passaram a existir
para sempre "Loco é in inferno detto Malebolge". E até ao círculo mais profundo, em que os diabos parodiam o cântico celeste: "Vexilla regis prodeunt...." A Giudecca
de Dance, o lugar da punição de Judas, é o último abismo possível da perversidade humana. Mas não é menos real a paisagem úmida do Purgatório, úmida de lágrimas
de arrependimento. E as vozes da emoção humana tampouco silenciam no Paraíso, nos discursos apaixonados dos santos contra a corrução na Igreja e na confissão humilde
do poeta perante o último mistério. O "Paraíso", em que Dance conseguiu tornar visível o invisível e dizível o inefável, é o mais alto cume que a expressão humana
jamais atingiu: talvez seja o cume da literatura universal.
No mais, a arquitetura do poema, com a sua simetria total nas partes e no todo, não permite qualquer decomposição analítica. Tudo está, nessa obra implacável, implacàvelmente
ligado. Ligado também pela arquitetura do verso, pelo metro incomparável da teria rima que Dance inventou: em que a primeira linha rima com a terceira e a segunda
com as linhas 1 e 3 do tercêto seguinte, e assim por diante, de modo que - era esta a vontade ex-
#-OTTO MARIA CARPEAUX
HISTÓRIA. DA LITERATURA OCIDENTAL
343
pressa de Dante - nenhum verso pode ser tirado ou interpolado sem que as rimas revelem o crime: a Comédia é um todo, um mundo só.
A crítica anglo-americana moderna tem, por isso mes
mo, considerado Dance o maior "arquiteto" poético de todos os tempos, o autor em quem melhor se pode estudar a "estrutura" poética. Mas nem sempre tem sido esta
Dostları ilə paylaş: |