Otto maria carpeaux



Yüklə 3,26 Mb.
səhifə30/55
tarix01.03.2018
ölçüsü3,26 Mb.
#43594
1   ...   26   27   28   29   30   31   32   33   ...   55

"La verdura del prado, Ia olor de Ias flores,

Las sombras de los árboles de temprados sabores

Refrescáronme todo, e perdi los sudores...";

e depois ficamos sabendo que é a paisagem mística aos pés da Virgem entronizada (Miraclo XIV). Berceo é, nas vidas de santos e na poesia mariológica, de uma ingenuidade

encantadora: um monge angélico, fazendo versos de frescura pagã. A crítica espanhola moderna considera-o como tipo do espanhol autêntico, antes da invasão do classicismo

italianizante.

Essa ingenuidade já não é qualidade das classes cultas. O sábio rei Don Alfonso X (3), gênio enciclopédico, astrônomo e historiador, codificador do Direito espanhol,

e, também, o poeta devoto das Cantigas de Santa Maria em língua galega, é um intelectual consumado. A lenda lhe atribui, em face das complicações do sistema ptolemaico

do Universo, as palavras : "Se eu tivesse criado o mundo, o resultado teria sido mais simples"; e nas suas sátiras encontram-se obscenidades inesperadas. Essas ambigüidades

acentuam-se na figura mais fascinante da Idade Média espanhola: Juan Ruiz, o Arcipreste de Hita (4). O

3) Alfonso X el Sabio, 1221-1284.

Las Partidas; Lapidario; Libros del saber de astronomia; Libro del acedrez e dados e tablas; Grande e General Estona; Crónica General; Cantigas de Santa Maria. Edição:

Alfonso X. Antologia de suas obras, edit. por A. G. Solalinde (com introdução), 2 vols., Madrid, 1922.

E. S. Procter: Alfonso X of Castile, Patron of Literature and

Learning. Oxford, 1951.

4) Juan Ruiz, arcipreste de Hita, c. 1283 - c. 135O.

Libro de buen amor.

Edição por J. Cejador, Clássicos Castellanos, vol. XIII, Madrid, 1913.

J. Puyol y Alonso: El Arcipreste de Hita. Estudio crítico. Madrid, 19O6.

HISTÓRIA DA LITERATURA OCIDENTAL

367


i

que im


#368 . OTTO MARIA CARPEAUX

HISTÓRIA DA LITERATURA OCIDENTAL 369

Livro de buen amor do digno sacerdote tem, em parte, fei

ção edificante: baseia-se em coleções de exemplos para ser

mões, sátiras bem medievais contra as mulheres; mas uti

liza também poesias burlescas dos joglares, a escanda

losa comédia latina Pamphilus de aurore, e a Ars amandi,

de Ovídio. Ruiz é um velho vigário alegre que gosta de

contar, nas tardes de domingo, anedotas obscenas; sabe

apreciá-las, porque tem suas experiências, confessando que

".... yo como soy honre como otro pecator

hobe de Ias mujeres a Ias veces grand amor."

É um goliardo que encontrou paz e estabilidade numa paróquia gorda. Com a consciência tranqüila pode rezar à Virgem, "gloriosa madre de pecadores", com a mesma vos

com que cantou serranillas para as môças da aldeia; e uma festa de Igreja toma aspecto alegre:

"Dia de Cuasimodo, iglesias e altares,

vi llenos de alegrias, de bodas e cantares;

todos habíen grau fiesta, facíen grandes yantares.

Andam de boda en boda clérigos y juglares." Valbuena Prat opõe a êstes versos do Arcipreste outros, menos alegres - as aventuras com a alcoviteira Trotacon

ventos levaram, enfim, a lamentos amargos e gritos de "Muerte, matas Ia vida, el mundo aborreces". - O Arcipreste acabou como asceta, porque tinha dispensado a alegoria.

O documento principal daquela transformação da alegoria, de instrumento teológico em instrumento "laicista",

M. Menéndez y Pelayo: Historia de Ia poesia castellana en Ia Idad Media. Vol. I. Madrid, 1913.

F. Lecoy: Recherches sur le Libro de Buen Amor. Paris, 1938.

Benito y Durán: La filosofia deI Arcipreste de Hita. Madrid, 1946.

é o Roman de Ia Rose (5); a primeira parte, obra de Guillaume de Lorris, é a primeira alegoria inteiramente profana da Idade Média; a segunda parte, meio século

depois, tirará conclusões revolucionárias. A primeira parte é uma Ars amandi medieval:
"C:"est ici le Roman de Ia Rose,

Oú l:"art d:"amour est tout enclose."


Os obstáculos do amor e os conselhos que Ovídio dá para vencê-los, aparecem todos personificados: o poeta, guiado por "dame Oiseuse" e "Bel-Accueil", penetra no

jardim de Rose, lutando contra Honte, Peur, Danger e Malebouche. Mas antes de conquistar Rose, êle acorda; tudo foi apenas um sonho, descrito aliás com a precisão

realista dos sonhos - a descrição de dama Vieillesse e dame Pauvreté é pavorosa. O sonho de Guillaume de Lorris é o pendant alegórico das tardes em Fiesole, quando

os amigos e amigas de Boccaccio contavam as histórias do Decamerone.

O Roman de Ia Rose foi o livro mais lido da época, objeto até de comentários eruditos com o fim de alegorizar a alegoria, e nem em tôda parte foi interpretado da

mesma maneira. O holandês Jacob van Maerlant (e), com a feição sêca da sua gente, só vê o lado didático: havia trans

5) Le Roman de Ia Rose.

O autor da primeira parte é Guillaume de Lorris, c. 1225/123O. O autor da segunda parte é Jehan de Meung, (Jean Clopinel), c. 127O.

Edições por E. Langlois, 4 vols., Paris, 1914/1915, e por M. Gorce, Paris, 1933.

E. Langlois: Origines et sources du Roman de Ia Rose. Paris, 189O.

L. Thuasne: Le Roman de Ia Rose. Paris, 1929.

G. Paré: Le Roman de Ia Rose et Ia scholastique courtoise. Pa

ris, 1941.

6) Jacob van Maerlant, c. 123O -

Alexander:"s Yeesten; Historie van Troyen; Rymbijbel; Spieghel Historiael; Wapene Martijn.

Edições: Alexander s Yeesten, por J. Franck, Groningem, 1882; Histoire van Troyen por N. Pauw e E. Gaillard, 4 vols., Gent, 1889; Spieghel Historiael, por M. de

Vries e E. Verwijs, 3 vols., Leiden,

c. 13OO.


#37O

formado os romances de Alexandre e de Tróia em fastidiosas narrações didáticas, foi capaz de versificar a Bíblia inteira e, em mais de 1OO.OOO versos, a crônica

de Vincenzio de Beauvais; nos diálogos satíricos de Wapene Martijn já aparecem as perguntas perigosas sôbre a origem dos podêres estabelecidos e a corrução do clero,

características da segunda parte do Roman de Ia Rose. Os inglêses só se interessam pelo lado da fábula. John Gower (7) aproveita-se da ficção do sonho para apresentar

as histórias mais diversas; Shakespeare encontrará, ainda um enrêdo nesse contador popular. E Gower é o mestre de Chaucer.

Se não fôsse Dante, Geoffrey Chaucer (8) seria o maior poeta no intervalo entre a Antiguidade e os tempos moder


1858/1863; Wapene Martijn por P. Leendertz e J. Verdam, 3 voas.,
Haarlem, 1918.

J. Van Beers: Jacob van Maerlant. Gent, 186O.

J. Te Winkel: Maerlant:"s werken, beschouwd als spiegel van de XIII eeuw. 2.a ed. Haag, 1892.

J. Von Mierlo: Jacob van Maerlant. Hertogenbosch, 1946. 7) John Gower, c. 1325-14O8.

Confessio amantis; Vox clamantis; etc.

Edição por G. C. Macaulay, 4 vols., Oxford, 1899/19O2.

W. P. Ker: Essays on Medieval Literatura. London, 19O5.

8) Geoffrey Chaucer, c. 134O-14OO.

Romaunt o/ the Rose; The House of Fame; Troilus and Criseyde (c. 1375-1384) ; The Parliament of Fowls (c. 1377-1382) ; Canterbury Tales (c. 1387-14OO).

Edições: W. W. Skeat, 6 vols., Oxford, 1894/1897. F. N. Robinson, Boston, 1933.

G. Saintsbury: "Chaucer". (In: The Cambridge History of English Literatura. 3.a ed. Vol. II. Cambridge, 193O.) E. Legouis: Chaucer. Paris, 191O.

G. L. Kittredge: Chaucer and His Poetry. Cambridge, Mass., 1915. R. K. Root: The Poetry of Chaucer. 2.a ed. Boston, 1922. R. D. French: A Chaucer Handbook. New York,

1927.

J. L. Lowes: Chaucer and the Development of His Genius. London, 1934.



V. Mac Nabb: Geoffrey Chaucer. A Study Genius and Ethics. London, 1934.

P. Van Dyke She11y: The Living Chaucer. Philadelphia, 184O. M. Praz: Chaucer. Roma, 1947. E. Rickert: Chaucer s World. New York, 1948.

W. W. Lawrence: Chaucer and the Canterbury Tales. London, 195O.

R. Prestou: Chaucer. London, 1952.

HISTÓRIA DA LITERATURA OCIDENTAL 371

aos. A leitores estrangeiros parecerá exagêro a comparação do grande humorista com o exilado de Florença. Mas os inglêses, todos, estarão de acôrdo. Porque Chaucer

é

- Dante inglês, o pai da literatura inglêsa. Criou-a, rompendo a tradição insular dos anglo-saxões, realizando aquela fusão de elementos germânicos e elementos latinos



que é o traço característico da literatura inglêsa. Chaucer é

- europeizadór da Inglaterra. É também o primeiro a revelar a prodigiosa capacidade dos inglêses de assimilar tão perfeitamente os modos estrangeiros que êstes se

transformam, da maneira mais inconfundível, em modos inglêses. Assim, ficou inglêsa a tradução-versão que Chaucer fêz do Romaunt of the Rose, e a novela boccacciana

de Filostrato produziu uma Troilus and Criseyde tão indígena que nenhum inglês se pode lembrar dela sem que venha à sua mente a figura do alcoviteiro Pandarus, que

Chaucer criou

- legou ao Shakespeare de Troilus and Crescida.

Chaucer estêve na Itália. A Boccaccio deve muitos enredos e a maneira de encará-los. Os Canterbury Tales são uma coleção de contos medievais, versificados com muita

graça e humor. O espírito que os vivifica.e os conserva modernos, sopra do Prólogo, em que o poeta apresenta os contadores: membros de uma companhia de romeiros,

partindo da Tabard Inn, em Southwark, Londres, para visitar

- túmulo do arcebispo-mártir Thomas Becket em Canterbury. É uma galeria impressionante: o knight, o cavaleiro de armadura enferrujada; o moleiro burlesco; o cozinheiro

que conhece tôdas as boas coisas; o jurisconsulto perigosamente esperto; o marujo bonachão e grande larápio; a abadêssa, fina e elegante, leitora assídua de romances

de amor; o monge gordo; o médico que se interessa pela situação financeira dos doentes; o vendedor de indulgências, que precisa mais da sua mercadoria do que os

outros; a "Wife of Bath", viúva que já enterrou vários maridos, mas que tem um coração tão bom que não pode resistir a nenhuma aproximação masculina; o frade

OTTO MARIA CAI;PEAUX

#372 OTTO MARIA CARPEAUX

HISTÓRIA DA LITERATURA OCIDENTAL 373

hipócrita que só pensa em vinho e mulheres; o clero, sonhador, carregando tratados de filosofia; o comerciante que só fala de renda e de juros; o bom vigário, coração

evangélico e aspecto muito magro - e, entre êles, aparece o próprio Chaucer, que os sabe caracterizar a todos, o primeiro grande retratista da literatura universal

e criador de uma "comédie humaine" perfeita: segundo o dizer de Blake, Chaucer deu nomes às pessoas como Lineu às plantas; ou como Adão aos bichos. Cada um dos romeiros

conta uma história, revelando na escolha do assunto e na maneira de tratá-lo o seu próprio caráter, inspirando os aplausos, censuras e ciúmes dos companheiros, que,

dêste modo, se caracterizam também: Chaucer é um grande dramaturgo, o primeiro em língua inglêsa, e não igualado até Shakespeare, nem depois dêste.

Entre todos os poetas inglêses, Chaucer é o mais natural, o mais ingênuo. A sua poesia começa como que uma "vita nuova"; é muito significativo o verso inicial dos

Canterbury Tales:

"When that aprille with his schowres swoote".


É a primavera da literatura inglêsa. Mas Chaucer - é preciso revogar o adjetivo - não é ingênuo. Por um lado, é homem medieval, cínico, humorista algo grosseiro;

por outro, é literato formado na escola dos franceses e italianos, grande artista do verso inglês, que também lhe serve para exprimir o lirismo mais meigo, emoções

religiosas e de tragédia psicológica. É popular, elegante, cômico e sério ao mesmo tempo. Homem que conheceu profundamente o mundo, e aprendeu um sorriso superior

e uma leve melancolia. É apenas um burguês; e isso não é posição elevada na sua sociedade; mas é um burguês que sobreviveu a todos os lordes, seus patrões, pela

sabedoria humana. Os inglêses imaginam sempre Chaucer como homem muito velho; contudo, êle é o poeta inglês mais môço.

A mística, seja ortodoxa, seja heterodoxa, é uma das formas de emoção e pensamento religiosos: podemos defini-la sumàriamente e sem pretensão de ser exato, como

tentativa emocional ou filosófica de aproximação à divindade por um caminho mais direto ou mais pessoal do que o prescrito pela doutrina oficial da Igreja. Pode

ser um caminho ao lado do caminho da vida sacramental ; então a mística fica impecàvelmente ortodoxa; há muitos e grandes místicos entre os santos da Igreja. Mas

também pode acentuar-se tanto o "direto" e o "pessoal" que se atravessam as fronteiras da heresia. A história dos movimentos místicos faz parte da história da Igreja

e das religiões. A historiografia literária caberia apenas ocupar-se daqueles poucos místicos que souberam dar às suas experiências uma expressão de valor literário,

independente do valor como documentos religiosos. Mas não é tanto assim. Na história espiritual dos tempos modernos, a mística desempenhava um papel importantíssimo,

e tanto mais importante quanto se conservou quase sempre subterrâneo. São raros os momentos em que a mística sobe à superfície, e então tratase sempre de momentos

decisivos, com conseqüências incalculáveis para a história espiritual literária. Antigamente, os historiadores da literatura tomavam conhecimento apenas de alguns

daqueles momentos: Bernard de Clairvaux e a hinografia medieval, a mística franciscana e o "dolos stil novo", a mística neoplatônica da Renascença e a ressurreição

da lírica petrarquesca; e, no século XVI, S. Teresa de Ávila e S. Juan de Ia Cruz. Hoje, já não é preciso

chamar a atenção para as relações entre a mística francesa do século XVII e o classicismo, estudados por Bremond, nem para a relação entre os movimentos pietistas

e metodistas do século XVIII e o pré-romantismo. Mas estas são apenas as influências manifestas. Onde ficou a mística durante os períodos de intermitência? A resposta

revela mais outros fatos. Não é justo imaginar a mística como contem

plação evasiva, fora do mundo, ou como exaltação meio pa-

374 OTTO MARIA CARPEAUX

tológica. Em certos casos, a mística era um meio de afrou

xar o rigor dos dogmas, declarando-os supérfluos ou até

obstáculos à união direta com Deus; nesse o místico ini

ciava o caminho para seu sucessor, o livre-pensador. É

assim que se encontram movimentos místicos nas origens da física moderna e da exegese crítica da Bíblia. Em outros casos, a mística é a mediadora subterrânea entre

movimentos filosóficos e literários que, aparentemente, não têm_ ligação alguma. Pode-se considerar a mística como missing link entre a religiosidade medieval e

os movimentos religiosos revolucionários do século XVI: erasmismo, anabatistas, sectários de tôda a espécie; a Reforma não serve para explicar êsses movimentos,

que se dirigiram, enfim, contra a própria Reforma. Uma lacuna encontra-se nos séculos XIV e XV, na mesma época que também apresenta uma lacuna sensível na história

literária: a falta de pendant da poesia pessoal do "Trecento" nos países ao Norte dos Alpes. A solução do problema seria: a mesma intensificação da vida psicológica

que na Itália se manifestou na poesia, manifestou-se no resto da Europa pelo misticismo psicológico, transformando a aproximação com Deus em exploração da vida íntima

da alma. Mais uma vez, revela-se a importância do estado da língua na evolução literária. O movimento do Norte não levou, como na Itália, lingüisticamente mais avançada,

à grande arte, e sim ao sectarismo e ao livre-pensamento.

O conceito da vida mística como "caminho" é de origem neoplatônica. Aparece entre os vitorinos, está no Itinerarium mentis ira Deum, de S. Bonaventura, nas Revelationes

coelestes, da mística sueca Birgitta (t 1373), nas Revelations of Divine Love (c. 1373), da mística inglêsa Juliana de Norwich. Já é lugar-comum entre os grandes

místicos alemães (O), Heinrich Seuse (t 1366), Johannes

HISTÓRIA DA LITERATURA OCIDENTAL

Tauler (j:" 1361), e no maior entre êles, o Meister Eckhart (c.126O-1327). É um caminho de exploração filosófica da alma, de psicologia mística. O que Eckhart encontra

nesse caminhá, é inefável; só pode ser expresso em metáforas como "resposta silenciosa% "vigilância que dorme", "embriaguez sóbria", antíteses que se parecem em

outro nível - com as antíteses líricas do seu contemporâneo Petrarca.

O maior entre os místicos é Jan van Ruusbroec (1O), o

holandês a quem os estrangeiros chamam Ruysbroeck e os franceses "1:"Admirable". O Ornamento do Casamento Espiritual é sua obra mais importante; e o Livro das Sete

Escadas para o Cume do Amor Espiritual, um dos muitos suplementos. É um dos grandes neoplatônicos da história da filosofia. Mas à gente fora dos muros do convento

o monge de Bruxelas só parecia um grande asceta. Escreveu, em vez de no latim dos outros místicos, na língua do povo para ser entendido; e só não foi entendido porque

era um


grande poeta. Maeterlinck lhe atribui "Ia gaité de 1:"enfant et Ia clairvoyance du vieillard"; atrás da ingenuidade das suas expressões e do pêso dos seus períodos

complicados, revelam-se belezas inefáveis, celestes. Ruusbroec é como

os quadros de altar de Roger van der Weyden ou Memlinc,

nas silenciosas igrejas góticas da Bélgica: a Virgem, môça,

1O) Jan van Ruusbroec (Ruysbroeck), 1293-1381.

De chierheit der gheesteliker brulocht (c. 135O) ; Vingherline of het blickende steentie; Spieghel der ewiger salichheit; Tractaet van dera rike der ghelieven; Boec

der hoechster waerheit; Boec van severa trappen ira dera graet der gheesteliker minnen; Boec van den gheesteliker tabernacule, etc. Edições: Obras, Gent, 1869; De

chierheit der gheesteliker Brulocht, Amsterdam, 1917.

V. A. Vara Otterloo: Johannes Ruysbroeck. 2.a ed. Amsterdam,

1896.


M. Maeterlinck: L:"ornement des notes spirituelles de Ruysbroeck l:"Admirable. Bruxelles, 19O8.

A. Wautier d:"Aygalhers: Ruysbroeck l:"Admirable. Paris, 1923. M. d:"Asbeck: La mystique de Ruysbroeck l:"Admirable. Paris, 193O.

375

9) M. Preger: Geschichte der deutschen Mystik im Mittelalter.



3 vols. Leipzig, 1874/1893. (Não existe obra definitiva sôbre Meister Eckhart.)

#376 OTTO MARIA CARPEAUX

quase criança, com o menino divino no colo, no trono celeste; anjos servem e tocam harpa, e ao fundo, pelas janelas, vê-se a paisagem flamenga, com campos e prados,

cidades e castelos, e o horizonte infinito dos céus.

Ruusbroec foi grande mestre. Em Groenendael, os seus discípulos fundaram um centro de vida religiosa sem compromissos formais com qualquer regra monástica, e Geert

de Groote van Deventer (t 1384), o maior daqueles discípulos, é considerado o fundador da congregação livre dos "Irmãos da vida comum", que estabeleceu as suas casas

e béguinages em tôda a parte, nos Países-Baixos e na Renãonia. Entre êsses adeptos da "devotio moderna" nasceu aquêle livro latino, a Imitatio Christi, que a tradição

atribui a Thomas Hamerken van Kempen ou Thomas a Kempis (t 1471), e ao qual Matthew Arnold chamou "the most exquisite document after those of the New Testament,

of ali the documenta the Christian spirit has ever inspired - the Imitatio Christi". Entre os irmãos da "devotio moderna" criou-se, naquele mesmo tempo, aquêle que

devia reunir a independência religiosa de um místico holandês à emoção lírica e erudição clássica de um Petrarca nórdico do século XVI: Erasmo.

O expressionismo fantástico do "gótico decadente" sabe fazer os seus compromissos com o mundo real; os contemporâneos de Jan van Ruusbroec têm todos "grand amor

de Ias mujeres" e "facíen grandes yantares", como o seu antípoda entre os padres, o Arcipreste de Hita. Mas não souberam dominar essa realidade. Chaucer é um caso

excepcional. Quando os góticos pretenderam fazer arte realista, caíram em grosserias enormes ou em fantasmagorias diabólicas, à maneira de Hieronymus Bosch. O máximo

de realismo possível era o relata, sem intervenção intencional da imaginação; ao conto de Boccaccio corresponde, no Norte, a crônica. Na historiografia, embora primitiva,

acaba o domínio da alegoria.

Mesmo assim, o realismo da crônica "gótica" permite intervenções fantásticas que o realismo dos cronistas da

HISTÓRIA DA LITERATURA OCIDENTAL 377

própria Idade Média ainda não admitira. O realismo "sansphrase", medieval, é o ponto de partida. Um Joselyn de


Brakelond (11), monge de Bury St. Edmunds, descreve a

história dos frades laboriosos do seu convento com realismo tão ingênuo e minucioso que a gente acredita ler um tratado de economia doméstica medieval; Carlyle ficou

impressionado, citando Joselyn, em Past and Present, como testemunha dos benefícios da organização patriarcal da sociedade. Um dos senhores dessa sociedade patriarcal

é Villehardouin (1% cavaleiro feudal e salteador nas estradas reais; é muito diferente do monge inglês, mas descreve da mesma maneira a conquista traidora de Bizâncio

pelos "cruzados": homem prático, devoto como os outros e cruel como êles. Villehardouin encarna um aspecto do feudalismo; o outro está encarnado em Sire de Joinvile

(13), biógrafo do santo rei Luís de França: o patriarca

11) Joselyn de Brakelond, c. 12OO.

Chronica.

Edições por T. Arnold, London, 189O, e por H. E. Butler, Oxford,

1949.


T. E. Tomlin: Monastic and Social Life in the Twelfth Century in the Chronicle of Jocelyn de Brakelond. London, 1844. (Fonte

de Carlyle.)

T. Arnold: Memoriais of St. Edmund:"s Abbey. London, 189O.

12) Geoffroy de Villehardouin, c. 1165 - c. 1213.

Edição da Conquête de Constantinopla por Bouchet, Paris, 1895. Ch.-A. Sainte-Beuve: Causeries du lundi. Vol. IX. A. Debidour: Les chroniqueurs: Villehardouin, Joinville.

Paris, 1888.

E. Faral: "Geoffroy de Villehardouin". (In: Reme Historique,

177, 1936.)

13) Jean, Sire de Joinville, 1224-1317.

Vie de saint Louis: comment saint Louis gouverna tout sou temes selou Dieu et selou l:"Eglise, et ses grandes chevaleries ot ses grands faits.

Edição por H. Longnon, Paris, 1928.

Ch.-A. Sainte-Beuve: Causeries du lundi. Vol. VIII.

A. Debidour: Les chroniqueurs: Villehardouin, Joinville. Paris, 1888.

G. Paris: "Étude sur Joinville". (In: Histoire littéraire

Franca. Vol. XXXII.)

A. Foulet "Notes sur Ia `Vie de Saint Louis":". (In: Romania,

58, 1932.)

de Ia


#$78 OTTO MARIA CARPEAUX

lismo benevolente dos costumes, a religiosidade sincera, sem exaltação mística, e a simplicidade do homem dos campos, deslocado entre as maravilhas estranhas do

Oriente, dão como resultado a imagem perfeita do cavaleiro cristão tal como o romantismo o irá sonhar. Mas nada é inventado, idealizado. Reflete-se na realidade

o idealismo dessa alma simples, sem pretensões literárias, e que se caracterizou a si mesma pelas palavras finais da sua obra - a citação é um achado de Sainte-Beuve:

"Et ainsi que 1:"écrivain qui a fait son livre et qui 1:"enlumine d:"or et d:"azur, enlumina ledit roi (saint Luis) son royaume de belles abbayes qu:"il y fit."

E Sainte-Beuve

conclui que, então, "Dieu était physiquement présent, le monde semé d:"obscurités, le ciel au-dessus ouvert et peuplé de figures vivantes", porque a fé em Deus era

muito concreta, mesmo realista.

A intervenção da imaginação fantástica começa com o catalão Ramón Muntaner (14), cronista das grandes conquistas da casa de Aragão, de Maiorca até Atenas. É como


Yüklə 3,26 Mb.

Dostları ilə paylaş:
1   ...   26   27   28   29   30   31   32   33   ...   55




Verilənlər bazası müəlliflik hüququ ilə müdafiə olunur ©muhaz.org 2024
rəhbərliyinə müraciət

gir | qeydiyyatdan keç
    Ana səhifə


yükləyin