Socialização e educação: o papel social da família e da escola
A família vem mudando seu papel social, atribuindo algumas funções a outras
instâncias, como a escola. Nesse contexto, essas instituições disputam ou
compartilham a socialização da criança.
A escola é um espaço, por excelência, de transmissão cultural e de aquisição
de conhecimentos, capacidades e hábitos, afirma o sociólogo francês Jean-
Claude Forquin (1939-2009). Educar nesse espaço é uma ação política, e não
um trabalho meramente técnico, pois exige um projeto de sociedade. O pouco
tempo que os pais e responsáveis têm para educar os filhos faz com que,
atualmente, as famílias esperem mais da escola em seu papel social: ela
precisa considerar a diversidade cultural e fornecer padrões de
comportamento, uma vez que a educação deve assegurar a aquisição de uma
experiência social acumulada e culturalmente organizada.
A relação entre família e escola diferencia-se sociologicamente conforme suas
origens sociais, pensa Pierre Bourdieu, para quem a manutenção do status
social das elites, por exemplo, não ocorre mais exclusivamente pela herança.
Hoje, é necessária sua legitimação por meio de diplomas, daí a necessidade de
investimento na escolarização. Já nas classes populares, a relação com a
escola é ambígua, pois, embora mantenham certo distanciamento, aceitam-na
como fonte legítima de aquisição de conhecimento e como uma das poucas
possibilidades de ascensão social.
Segundo a socióloga Maria Alice Nogueira, as classes médias, por sua vez,
contêm gastos e limitam o número de filhos para oferecer-lhes uma educação
de qualidade. Por isso aderem aos valores, normas e exigências escolares.
LEGENDA: A escola ganha espaço cada vez maior na formação dos jovens na
atualidade. Na imagem de 2015, alunos de uma escola em Iranduba (AM).
FONTE: Bruno Kelly/Reuters/Latinstock
Fim do complemento.
O fato de os pais se ausentarem de casa para trabalhar e precisarem delegar
parte da educação de seus filhos a creches, escolas, familiares, vizinhos ou
profissionais tende a mudar a forma de transmitir valores e a troca de afeto
entre pais e filhos. Por outro lado, diante das novas necessidades e valores,
alteram-se as maneiras de criar, educar e socializar os filhos. Entre as
mudanças, a abertura ao diálogo e às relações mais democráticas dá à criança
e ao jovem a oportunidade de expor suas ideias e explicitar suas escolhas no
âmbito da família.
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Outras mudanças de atitudes revelam a conscientização das mulheres com
relação aos seus direitos. O amparo de novas leis e o fato de as pessoas
poderem permanecer juntas apenas enquanto desejarem reduzem a
vulnerabilidade das mulheres no grupo doméstico como um todo. Nesse
contexto, hoje as famílias são mais complexas, pois os papéis sociais, as
regras e as responsabilidades estão sendo renegociados entre seus membros.
A reconstrução da família em condições de igualdade e a responsabilidade das
instituições públicas em assegurar apoio material e psicológico às crianças são
as medidas capazes de alterar o curso da destruição total da psique humana,
implícita na vida instável de milhões de crianças.
CASTELLS, Manuel. O poder da identidade. São Paulo: Paz e Terra, 2003. p.
167-292.
Cada vez mais as relações familiares se constituem em parcerias econômicas
e afetivas nas quais o trabalho doméstico e a responsabilidade pelos filhos são
compartilhados integralmente, como sugere a poesia 8 de março, apresentada
neste capítulo: "mulher é homem que volta do trabalho e alimenta os filhos /
homem é mulher que põe pra dormir e conta história".
LEGENDA: "O Pintinho", de Alexandra Moraes. Charge publicada em 26 de
outubro de 2012 no caderno especial Eleições, do jornal Folha de S.Paulo.
FONTE: Alexandra Moraes/Folhapress
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