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Boxe complementar:
Encontro com cientistas sociais
Marx é considerado um autor clássico, de grande importância nas Ciências
Sociais por ter desenvolvido a concepção do trabalho como um processo
subjetivo que se concretiza materialmente. Leia o texto a seguir e responda à
pergunta no caderno.
Antes de tudo, o trabalho é um processo de que participam o homem e a
natureza, processo em que o ser humano, com sua própria ação, impulsiona,
regula e controla seu intercâmbio material com a natureza. [...] Pressupomos o
trabalho sob forma exclusivamente humana. Uma aranha executa operações
semelhantes às do tecelão, e a abelha supera mais de um arquiteto ao
construir sua colmeia. Mas o que distingue o pior arquiteto da melhor abelha é
que ele figura na mente sua construção antes de transformá-la em realidade.
No fim do processo do trabalho aparece um resultado que já existia antes
idealmente na imaginação do trabalhador.
MARX, Karl. O capital: crítica da economia política. 3ª ed. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 1975. Livro 1, v. I, p. 202. (Texto publicado originalmente
em 1867.)
· Nesse trecho, Marx reflete sobre o que existe de específico no trabalho
humano que o diferencia de operações realizadas por outros animais. Se, por
um lado, o trabalho é imaginado e planejado pelo trabalhador, por outro, Marx
também afirma, em outros textos, que o trabalho pós-Revolução Industrial é
"alienado", ou seja, o trabalhador deixaria de ter total controle sobre o próprio
trabalho. Considerando as explicações neste capítulo e que grande parte do
trabalho realizado atualmente é alienada, você pensa em outras características
do trabalho em nossa sociedade? Quais são?
Fim do complemento.
Já os principais líderes da Reforma protestante não acreditavam que isso podia
garantir a salvação da alma - para eles, a alma já estaria predestinada a ser
salva ou não. Porém, algumas correntes pregavam que era possível ter um
sinal dessa predestinação, que seria a dedicação obstinada ao trabalho. Assim,
a riqueza conquistada por meio do trabalho e reinvestida em mais trabalho não
poderia ser condenada, pois seria um indício da salvação. Essa mudança de
valores convergiu com a luta da burguesia para se firmar na sociedade, o que
favoreceu a aceitação da ascensão social pelo trabalho e pelo acúmulo de
capital. Essa ideologia do trabalho contribuiu e ainda contribui para que os
detentores do capital ganhem e mantenham privilégios sociais.
A sociedade moderna ficou conhecida como a sociedade do trabalho, ou seja,
que se institui e se organiza pelo e para o trabalho.
Por esse motivo, alguns cientistas sociais e outros estudiosos do tema
discutem atualmente se a verdadeira emancipação dos indivíduos não estaria
mais ligada ao ócio, ao lazer e ao tempo livre do que a um domínio maior do
próprio trabalho ("desalienação") e à realização social pelo trabalho. No livro O
direito à preguiça (1883), o francês Paul Lafargue (1842-1911), que
curiosamente era genro de Marx, criticou justamente o que chamava de "culto
ao trabalho" por parte dos trabalhadores e de alguns filósofos socialistas, como
seu sogro.
Quase um século mais tarde, o antropólogo político francês Pierre Clastres
(1934-1977) publicou a famosa obra A Sociedade contra o Estado. Analisando
sociedades de pequeno porte, como as indígenas da bacia do rio Paraná, ele
recusa a ideia de que seja "natural" e se aplique à humanidade como um todo
o caminho tomado pelas sociedades europeias de concentrar bens,
propriedades privadas e poder econômico e político. Clastres ressalta que, em
diversas sociedades estudadas por etnógrafos na Antropologia, o entendimento
do "trabalho" e da "produção" não passa pelo trabalho individual nem pelo
trabalhar
FONTE: Filipe Rocha/Arquivo da editora
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por si mesmo. Nessas sociedades, trabalha-se coletivamente para suprir as
necessidades do grupo e, tão logo a necessidade seja atendida, o trabalho
cessa. Esse foi, segundo ele, um dos pontos de conflito entre sociedades
indígenas e colonizadores europeus nos territórios que hoje chamamos
América.
Na mesma época, o filósofo austríaco André Gorz (1923-2007) propunha que a
verdadeira emancipação e autonomia dos indivíduos em nossa sociedade só
poderiam ser alcançadas diminuindo-se o tempo de trabalho e aumentando-se
o tempo de ócio, lazer e afazeres não relacionados ao trabalho. Considerando
a grande imersão nas tarefas que as tecnologias trouxeram para uma parte da
população e que há também muitas pessoas que dependem de ocupações
informais no setor de serviços, muitas vezes também realizando trabalho no
que deveriam ser "horas livres", percebemos que esse ideal ainda está longe
de ser alcançado.
No século XX, ocorreram muitas modificações no mundo do trabalho -
designação ampla que engloba a organização do trabalho, as relações
laborais, as inovações tecnológicas, o ambiente de trabalho, as organizações
dos trabalhadores, entre outros. O significado do trabalho e o processo a ele
relacionado alteraram-se consideravelmente, embora o trabalho continue
sendo um dos pilares sobre o qual se sustenta a nossa sociedade, outros
fatores têm contribuído para o desenvolvimento das relações sociais e para a
manutenção e integração das pessoas, como o conhecimento, o lazer, etc.
Cabe uma indagação: qual é o sentido do trabalho? Será que o trabalho
sempre teve o estatuto que tem hoje: o de ser um passaporte para a
cidadania? Quais mudanças levaram o trabalho a essa condição?
LEGENDA: Cartaz de 1919 da campanha na França pela jornada de 8 horas
diárias, dividindo as 24 horas do dia em 8 horas de trabalho, 8 de sono e 8 de
lazer.
FONTE: Félix Doumenq/Biblioteca de Documentação Internacional
Contemporânea/MHC, Paris, França.
LEGENDA: Atualmente, muitos setores reivindicam a redução da jornada de
trabalho, que hoje é de no máximo 44 horas semanais, para 30 horas
semanais. Ao lado, cartaz de 2015 reivindicando jornada de 30 horas semanais
para os funcionários da saúde.
FONTE: Reprodução/http://www.sindifes.org.br
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