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Debate
Leia o trecho abaixo, escrito em 1937 pelo jornalista e escritor inglês George
Orwell (1903-1950), e observe a descrição de um indivíduo desempregado
daquela época. Depois, reunidos em grupos, discutam e respondam às
questões propostas.
Tomei consciência do problema do desemprego em 1928. [...] As classes
médias ainda falavam "desses preguiçosos que vivem de subsídios", dizendo
que "todos esses homens podiam encontrar trabalho se quisessem"; e,
naturalmente, essas opiniões infiltravam-se na própria classe operária. Lembro-
me do choque e do espanto que senti quando convivi pela primeira vez com
vagabundos e mendigos, ao descobrir que uma proporção razoável, talvez um
quarto, desses seres, que me haviam ensinado a considerar como parasitas
desavergonhados, eram afinal jovens mineiros e operários têxteis respeitáveis
que encaravam o seu destino com a expressão perdida de um animal
apanhado numa armadilha. Simplesmente não compreendiam o que lhes
acontecera. Tinham sido trazidos ao mundo para trabalhar e, de repente, tudo
se passava como se nunca mais viessem a ter a mínima hipótese de encontrar
trabalho. Nestas condições, era inevitável sentirem-se, numa primeira fase,
perseguidos por um sentimento de fracasso pessoal. Era a atitude que
prevalecia entre os desempregados [...] . Era um desastre que acontecia a você
como indivíduo e a culpa era sempre sua [...]. Quando um quarto de milhão de
mineiros estão desempregados, faz parte da ordem das coisas que Alf Smith,
mineiro a viver nas ruelas esconsas [da cidade inglesa] de Newcastle, fique
sem trabalho. Não passa de um indivíduo entre um quarto de milhão, um dado
estatístico. Enquanto Bert Jones, que mora na casa em frente, estiver
empregado, Alf Smith será irremediavelmente levado a sentir-se desonrado, a
considerar-se um falhado. Daí o terrível sentimento de impotência e de
desespero, talvez um dos piores males do desemprego - muito pior do que
qualquer privação, pior do que a desmoralização causada pela ociosidade
forçada, e pouco melhor do que o lamentável estado de degenerescência física
dos filhos de Alf Smith, nascidos quando ele já era subsidiado pelo PAC [sigla
em inglês para Comitê de Assistência Pública].
ORWELL, George. O caminho para Wigan Pier. Lisboa: Antígona, 2003. p.
116-118.
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