CONHEÇA os bastidores da ocupação das escolas de SP.
EBC, 14 dez. 2015.
Disponível em:
reportagem-traz-bastidores-da-ocupacao-das-escolas-em-sp-assista>. Acesso
em: 20 dez. 2015.
LEGENDA: A Escola Estadual Diadema, na cidade homônima, na região
metropolitana de São Paulo (SP), uma das unidades ocupadas por estudantes
durante os protestos realizados em 2015.
FONTE: Erick Florio/Futura Press
As notícias acima exemplificam a reação, em 2015, de jovens das escolas
públicas estaduais de São Paulo a uma proposta do governo de reorganizar as
escolas por ciclo de ensino. Eles se sentiram prejudicados porque não foram
consultados a respeito do processo que resultaria, entre outras coisas, no
fechamento de escolas. O movimento organizado por estudantes do Ensino
Médio realizou diversas manifestações e ocupou as escolas, substituindo as
aulas regulares por atividades extracurriculares e aulas abertas, a fim de
pressionar para que a proposta não se concretizasse. Esse pode ser
considerado um exemplo de ação política em prol de direitos da juventude.
Do ponto de vista sociológico, portanto, conflitos de diversas ordens
vivenciados pela juventude refletem as contradições presentes na vida pública
das sociedades. Por ser uma força social, a juventude tem o potencial de
abraçar causas que lhe chamam a atenção e com as quais se identifica, como
as de muitos movimentos sociais evidenciados no Capítulo 9.
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Também à juventude se atribui a condição de ser precursora da contracultura,
fenômeno contemporâneo que congrega manifestações de grupos que
questionam e rejeitam valores e práticas de uma cultura dominante. Exemplo
marcante de mobilização nesse sentido foram as manifestações estudantis de
maio de 1968, na França, que deflagraram uma série de protestos e revoltas.
Surgido em reação à política educacional do governo francês, o movimento
acabou questionando todas as demais esferas da ordem instituída na época.
LEGENDA: Estudantes entoam cantos de protesto durante manifestação em
Paris, França, em maio de 1968.
FONTE: Reg Lancaster/Daily Express/Hulton Archive/Getty Images
De fato, o Maio francês significará uma crítica radical à fusão do indivíduo na
totalidade, quer seja esta entendida como partido ou Estado. [...]
De onde a luta
contra o "individualismo pequeno-burguês", a negação dos direitos individuais e
a ética da abnegação e do sacrifício.
Em 1968 - essa "segunda Revolução Francesa" - constitui-se um princípio de
realidade outro, diferente do industrial-produtivista, no qual o poder [...]
do
capital impõe formas determinadas de pensar e agir. Em 1968, o próprio
movimento de jovens operários e estudantes praticou a espontaneidade
consciente e criadora. Não se considerou o sistema de partidos ou grupos de
pressão a qualquer nível; não se participou nem do sistema nem de seus
métodos. Desde o início o movimento não tem dirigentes, nem hierarquia, nem
disciplina partidária ou outra; ele contesta os profissionais da contestação, viola
as regras do jogo que as oposições dominam. [...]
Com a crítica ao mundo
burocratizado e desencantado, colocou como lema a verdade triunfante do
desejo.
MATOS, Olgária C. F. Paris 1968: as barricadas do desejo. São Paulo:
Brasiliense, 1981. p. 12-13.
Apesar de sua repercussão - que chegou ao Brasil, influenciando jovens que
contestavam o regime militar então vigente -, o movimento de maio de 1968 foi
efêmero, sufocado pela repressão aos protestos. Movimentos contraculturais
posteriores trouxeram novos métodos para garantir sua longevidade, criando
uma identidade forte no campo da expressão e, de modo geral, evitando partir
para um enfrentamento físico e direto às instituições. Exemplos disso são os
movimentos punk e hip-hop, formados a partir da segunda metade dos anos
1970.
O movimento punk desenvolveu-se nos Estados Unidos e na Inglaterra,
contrapondo-se não só a um tipo de cultura dominante, mas também à ideia de
não violência e ao otimismo hippie, outro movimento de contracultura, surgido
alguns anos antes. Os jovens punks acreditavam que o sistema estava, em
geral, errado, e era preciso não depender dele. O enfrentamento a tudo o que
era visto como estabelecido aparecia também na imagem, com cortes de
cabelo como o moicano, tatuagens e
piercings. O mote "faça você mesmo" se
expressava na música, com letras sucintas e impactantes acompanhadas de
melodia e harmonia extremamente simples, que poderiam ser tocadas e
cantadas por qualquer um.
No Brasil, esse movimento chegou por meio de jovens da periferia das grandes
cidades, sobretudo São Paulo e Brasília, tornando-se também uma forma de
expressão e luta contra a ditadura militar, que ainda vigorava no país na
década de 1970 e na primeira metade da década de 1980.
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LEGENDA: A banda punk Inocentes, durante o festival Começo do Fim do
Mundo, realizado em 1982 em São Paulo (SP).
FONTE: Cícero de O. Neto/Folhapress
LEGENDA: Jovens punks participam de parada em memória de Sid Vicious
(1957-1979), baixista do grupo Sex Pistols, em Londres, capital do Reino
Unido, em 1979.
FONTE: Janette Beckman/Getty Images
Enquanto ao punk aderiam principalmente jovens brancos de classe média e
média baixa, formava-se na mesma época, entre jovens afrodescendentes nos
Estados Unidos, o hip-hop. O movimento hip-hop fundava-se no rap como
expressão musical, no break como dança e no grafite como expressão visual.
Sentindo-se excluídos da cidade, discriminados e pouco representados, os
membros desse movimento tinham, por meio dessas expressões artísticas, o
objetivo de se apropriar da cidade: o rap pode ser feito em qualquer espaço e
frequentemente era feito nas ruas; o break é uma dança de rua; o grafite é uma
marca de existência e visibilidade em meio a uma cidade que marginaliza e
exclui os jovens negros e de baixa renda.
No Brasil, o hip-hop ganhou força nos anos 1980, sobretudo na cidade de São
Paulo. Enquanto nos Estados Unidos o rap foi em grande parte incorporado
pela indústria cultural a partir do final dos anos 1990, até hoje o rap nacional
mantém-se associado às letras de protesto e à denúncia de desigualdades
sociais, tendo dificuldades de inserção nos meios de comunicação de massa.
O ato de reagir às condições dadas faz da juventude uma potencial pioneira de
qualquer mudança social.
LEGENDA: Jovem faz grafite no viaduto Santa Tereza, em Belo Horizonte
(MG). Foto de 2012.
FONTE: Casa Fora do Eixo Minas/Creative Commons
LEGENDA: Reunião do grupo de street dance Sob Humanos em Brasília (DF).
Foto de 2011.
FONTE: Daniel Ferreira/CB/D.A Press
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