parte algum a poder encontrá-la a não ser no Hades, haverá de insurgir-se contra
a m orte, em vez de partir contente para lá? Sim , é o que terem os de adm itir, m eu
caro, se se tratar de um verdadeiro am ante da sabedoria. Pois este há de estar
firm em ente convencido de que a não ser lá, em parte algum a poderá encontrar a
verdade em toda a sua pureza. Se as coisas se passam realm ente com o acabo de
dizer, não seria dar prova de insensatez tem er a m orte sem elhante indivíduo?
Sem dúvida, por Zeus, foi a sua resposta.
XIII - Por consequência, continuou, ao vires um hom em revoltar-se no
instante de m orrer, não será isso prova suficiente de que não trata de um am ante
da sabedoria, porém am ante do corpo? Um indivíduo nessas condições, tam bém
será, possivelm ente, am ante do dinheiro ou da fam a, se não o for de am bos ao
m esm o tem po.
É exatam ente com o dizes, respondeu.
E a virtude denom inada coragem , Sím ias, prosseguiu, não assenta
m aravilhosam ente bem nos indivíduos com essa disposição?
Sem dúvida, respondeu.
E a tem perança, o que todo o m undo cham a tem perança: não deixar-se
dom inar pelos apetites, porém desprezá-los e revelar m oderação, não será
qualidade apenas das pessoas que em grau em inentíssim o desdenham do corpo e
vivem para a Filosofia?
Necessariam ente, foi a resposta.
Se considerares, prosseguiu, nos outros hom ens a coragem e a tem perança,
hás de achá-las m ais do que absurdas.
Com o assim , Sócrates?
Ignoras porventura, lhe disse, que na opinião de toda a gente a m orte se inclui
entre os denom inados m ales?
Sei disso, respondeu.
E não é pelo m edo de um m al ainda m aior que enfrentam a m orte esses
indivíduos coraj osos, quando a enfrentam .
Certo.
Logo, é por m edo e tem or que os hom ens são coraj osos, com exceção dos
filósofos, m uito em bora se nos afigure paradoxal ser alguém coraj oso por tem or
e pusilanim idade.
Perfeitam ente.
E com os m oderados desse tipo, não se passará a m esm a coisa, isto é, serem
m oderados por algum desregram ento? E conquanto asseverem os não ser isso
possível, é o que se dá, realm ente, com a tem perança balofa dessa gente. De
m edo, apenas, de se privarem de certos prazeres por eles cobiçados, quando se
abstêm de alguns é porque outros o dom inam . E em bora cham em intem perança
o ser vencido pelos prazeres, o que se dá com todos é que o dom ínio sobre alguns
prazeres se faz à custa de servirem a outros, o que vem a ser m uito parecido com
o que há pouco declarei, de ser, de algum m odo, a intem perança que os deixa
tem perantes.
Parece que é assim m esm o.
Mas, m eu bem aventurado Sím ias, essa não é a m aneira de alcançar a
virtude, trocar uns prazeres por outros, tristezas, ou tem ores por tem ores de outras
espécie, com o trocam os em m iúdos m oeda de m aior valor. Só há um a m oeda
verdadeira, pela qual tudo isso deva ser trocado: a sabedoria. E só por troca com
ela, ou com ela m esm a, é que em verdade se com pra ou se vende tudo isto:
coragem , tem perança e j ustiça, num a palavra, a verdadeira virtude, a par da
sabedoria, pouco im portando que se lhe associem ou dela se afastem prazeres ou
tem ores e tudo o m ais da m esm a natureza. Separadas da sabedoria e perm utadas
entre si, todas elas não são m ais do que som bra de virtude, servis em toda a linha
e sem nada possuírem de verdadeiro nem são. A verdade em si consiste,
precisam ente, na purificação de tudo isso, não passando a tem perança, a j ustiça,
a coragem e a própria sabedoria de um a espécie de purificação. É m uito
provável que os instituidores de nossos m istérios não fossem falhos de
m erecim ento e que desde m uitos nos quisessem dar a entender por m eio de sua
linguagem obscura que a pessoa não iniciada nem purificada, ao chegar ao
Hades vai para um lam açal, ao passo que o iniciado e puro, ao chegar lá passa a
m orar com os deuses. Porque, com o dizem os que tratam dos m istérios: m uitos
são os portadores de tirso, porém pouquíssim os os verdadeiros inspirados. E no
m eu m odo de entender, são estes, apenas, os que se ocuparam com a filosofia,
em sua verdadeira acepção, no núm ero dos quais procurei incluir-m e,
esforçando-m e nesse sentido, por todos os m odos, a vida inteira e na m edida do
possível sem nada negligenciar. Se trabalhei com o seria preciso e tirei disso
algum proveito, é o que com segurança ficarem os sabendo no instante de lá
chegarm os, se Deus quiser, e dentro de pouco tem po, segundo creio. Eis aí,
Sím ias e Cebete, m inha defesa, a razão de apartar-m e nem revoltar-m e, por
estar convencido de que tanto lá com o aqui encontrarei com panheiros e m estres
excelentes. O vulgo não m e dará crédito; porém se a m inha defesa vos pareceu
m ais convincente do que aos m eus j uízes atenienses, é tudo o que posso desej ar.
XIV - Depois de haver Sócrates assim falado Cebete tom ou a palavra e disse:
Sócrates, tudo o que à alm a, dificilm ente os hom ens poderão acreditar que, um a
vez separada do corpo, venha ela a subsistir em algum a parte, por destruir-se e
desaparecer no m esm o dia em que o hom em fenece. No próprio instante em que
ele sai do corpo e dele sai, dispersa-se com o sopro ou fum aça, evola-se,
deixando, em conseqüência de existir em qualquer parte. Porque, se ela se
recolhesse algures a si m esm a, livre dos m ales que há pouco enum eraste,
haveria grande e doce esperança de ser verdade, Sócrates, tudo o que disseste.
Mas o fato é que se faz m ister de não pequeno poder de persuasão e de m uitos
argum entos para dem onstrar que a alm a subsista depois da m orte do hom em e
que conserva algum a atividade e pensam ento.
Tens razão, Cebete, respondeu Sócrates. Mas que podem os fazer? Não queres
exam inar m ais de espaço essa questão, para ver se as coisas, realm ente, se
passam desse m odo?
Eu, pelo m enos, respondeu Cebete, ouvirei de m uito bom grado o que disseres
a esse respeito.
Estou certo de que desta vez, continuou Sócrates, quem nos ouvir, m as que
sej a algum com ediógrafo, não poderá dizer que só digo baboseiras e nunca m e
ocupo com coisa de interesse. Se estiveres de acordo, investigarem os esse ponto.
XV- Estudem o-lo, pois, sob o seguinte aspecto: se as alm as dos m ortos se
encontram ou não se encontram no Hades? Conform e antiga tradição, que ora
m e ocorre, as alm as lá existentes foram daqui m esm o e para cá deverão voltar,
renascendo os m ortos. A ser assim , e se os vivos nascem dos m ortos, não terão
de estar lá m esm o nossas alm as? Pois não poderiam renascer se não existissem ,
vindo a ser essa, j ustam ente a prova decisiva, no caso de ser possível deixar
m anifesto que os vivos de outra parte não procedem senão dos m ortos. Se isso
não for verdade, terem os de procurar outro argum ento.
Isso m esm o, disse Cebete.
Para deixar a questão m ais fácil de entender, observou, não te lim ites a
considerá-la com relação aos hom ens, porém estende-a ao conj unto dos anim ais
e das plantas, num a palavra, a tudo o que nasce, a fim de verm os se cada coisa
não se origina exclusivam ente do seu contrário, onde quer que se verifique essa
relação, tal com o no caso do belo, que tem com o contrário o feio, no do j usto e
do inj usto e em m il outro exem plos que se poderiam enum erar. Investiguem os,
então, se é forçoso que tudo o que tenha algum contrário de nada m ais possa
originar-se a não ser desse m esm o contrário. Por exem plo: para ficar grande
algum a coisa, é preciso que antes fosse pequena, sem o que não poderia
aum entar.
Certo.
E para dim inuir, não é preciso ser m aior, para depois vir a ficar pequena?
Exatam ente, respondeu.
Assim , do m ais forte nasce o m ais fraco e do m oroso, o rápido.
Sem dúvida.
E então? Se algum a coisa piora, é porque antes era m elhor, com o terá sido
antes inj usta para poder tornar-se j usta?
Com o não?
E agora? Não é próprio dessa oposição universal haver dois processos de
nascim ento: o que vai de um contrário para o outro, e o de sentido inverso: deste
últim o para aquele? Entre a coisa m aior e a m enor há crescim ento e dim inuição,
razão por que dizem os que um a delas cresce e a outra dim inui.
É certo, respondeu.
Vale o m esm o para a com binação e a decom posição, o resfriam ento e o
aquecim ento, e para as dem ais oposições do m esm o tipo. E em bora nem sem pre
tenham os para todas elas designação apropriada, é forçoso nesses casos ser
idêntico o processo, de form a que cada coisa cresce à custa de outra, sendo
recíproca a geração entre elas.
Sem dúvida, observou.
XVI - E então? Prosseguiu: viver não com porta um contrário, tal com o se dá
com a vigília e o sono?
Perfeitam ente, respondeu.
Qual é?
Estar m orto, foi a resposta.
Sendo assim , cada um desses estados provém do outro, visto serem
contrários, havendo entre am bos um processo recíproco de geração.
Com o não?
Vou falar de um dos pares de contrários a que m e referi há pouco, disse
Sócrates, e de suas respectivas gerações; tu te m anifestarás a respeito do outro.
Denom ino o prim eiro, vigília e sono; da vigília nasce o sono, e vice-versa: do
sono, a vigília, tendo um dos processos o nom e de acordar e o outro o de dorm ir.
Isso te basta, perguntou, ou não?
Perfeitam ente.
É tua agora a vez, prosseguiu, de falar a respeito da vida e da m orte. Não
disseste que estar vivo é o contrário de estar m orto.
Disse.
E que um é gerado do outro?
Tam bém .
Que é, então, o que provém do vivo?
O m orto, respondeu.
E do m orto, voltou a falar, o que se origina?
Será forçoso convir que é o vivo.
Sendo assim , Cebete, do que está m orto provêm os hom ens e tudo o que tem
vida?
É evidente, respondeu.
Logo, continuou, nossas alm as estão no Hades.
Parece que sim .
E desses dois processos correlativos, um não nos é m anifesto? Pois o ato de
m orrer é bem visível, não é isso m esm o?
Sem dúvida, respondeu.
Que farem os, então? Continuou; não atribuirem os a esse processo de geração
o seu contrário, ou adm itirem os que nesse ponto a natureza é m anca? Não será
preciso aceitarm os um processo gerador oposto ao de m orrer?
Sem dúvida nenhum a, respondeu.
Qual?
Reviver.
Logo, continuou, se o reviver é um fato, terá de ser um a geração no sentido
dos m ortos para os vivos: a revivescência.
Perfeitam ente.
Desse m odo, ficam os tam bém de acordo que tanto os vivos provêm dos
m ortos com o os m ortos dos vivos. Sendo assim , quer parecerm e que
apresentam os um argum ento bastante forte para afirm ar que as alm as dos
m ortos terão necessariam ente de estar em algum a parte, de onde voltam a viver.
A m eu parecer, Sócrates, replicou, é a conclusão forçosa de tudo o que
adm itim os até aqui.
XVII - Observa tam bém , Cebete, continuou, que não chegam os a esse
acordo aeream ente, segundo m e parece. Porque se um desses processos não
fosse com pensado pelo seu contrário, girando, por assim dizer, em círculo, m as
sem pre se fizesse a geração em linha reta, de um dos contrários para o seu
oposto, sem nunca voltar desta para aquele, nem andar em sentido inverso: fica
sabendo que tudo acabaria num a form a única e ficaria num só estado, cessando,
por isso m esm o, a geração.
Com o assim ? Perguntou.
Não é difícil, continuou, com preender o sentido de m inhas palavras. No caso,
por exem plo, de existir o sono, porém sem haver o correspondente despertar do
que estiver dorm indo, bem sabes que acabaria por transform ar em banalidade a
fábula de Eudim ião, a qual não seria percebida em parte algum a, porque tudo o
m ais ficaria com o ele, num sono universal. E se todas as coisas se m isturassem ,
sem virem a separar-se, dentro de pouco tem po seria um fato aquilo de
Anaxógaras: a confusão geral. A m esm a coisa se daria, am igo Cebete, se viesse
a perecer quanto participa da vida, e, depois de m orto, se conservasse sem pre no
m esm o estado, sem nunca renascer; não seria inevitável vir tudo a ficar m orto e
nada m ais viver? Se o que é vivo provém de algo diferente da m orte e acaba por
m orrer: com o evitar que tudo acabe por desaparecer na m orte?
Não há m eio, Sócrates, respondeu Cebete, segundo penso; quer parecer-m e
que te assiste toda a razão.
A m im tam bém , Cebete, continuou, se m e afigura m uito certo, não havendo
possibilidade de engano da nossa parte, pois ficam os de acordo nesse ponto. Sim ,
o reviver é um fato, os vivos provêm dos m ortos, as alm as dos m ortos existem ,
sendo m elhor a sorte das boas e pior a das m ás.
XVIII - É tam bém , Sócrates, voltou Cebete a falar, o que se conclui daquele
outro argum ento - se for verdadeiro - que costum as apresentar, sobre ser
rem iniscência o conhecim ento, conform e o qual nós devem os forçosam ente ter
aprendido num tem po anterior o de que nos recordam os agora, o que seria
im possível, se nossa alm a não preexistisse algures, antes de assum ir a form a
hum ana. Isso vem provar que a alm a deve ser algo im ortal
Porém Cebete, interrom peu-o Sím ias, que provas há sobre isso? Aviva-m e a
m em ória, pois não m e lem bro agora quais sej am .
Bastará um a, respondeu Cebete, eloquentíssim a: interrogando os hom ens, se
as perguntas forem bem conduzidas, eles darão por si m esm os respostas
acertadas, o de que não seriam capazes se j á não possuíssem o conhecim ento e a
razão reta. Depois disso, se os puserm os diante de figuras geom étricas ou coisas
do m esm o gênero, ficará dem onstrado a saciedade que tudo realm ente se passa
desse m odo.
Se isso não basta, Sím ias, interveio Sócrates, para convencer-te, vê se
considerando a questão por outro prism a, chegarás a concordar conosco. Duvidas
que sej a apenas recordar o que denom inam os aprender?
Não direi que duvide, respondeu Sím ias. O que eu quero é j ustam ente isso
sobre discutim os: recordar-m e. Com a exposição de Cebete cheguei quase a
relem brar- m e e convencer-m e. Não obstante, gostaria de saber com o vais
desenvolver o tem a.
Eu? Deste m odo, replicou. Num ponto estam os de acordo: que para recordar-
se alguém de algum a coisa, é preciso ter tido antes o conhecim ento dessa coisa.
Perfeitam ente, respondeu.
E não poderem os declarar-nos tam bém de acordo a respeito de m ais outro
ponto, que o conhecim ento alcançado em certas condições tem o nom e de
rem iniscência? Refiro-m e ao seguinte: quando alguém vê ou ouve algum a coisa,
ou a percebe de outra m aneira, e não apenas adquire o conhecim ento dessa coisa
com o lhe ocorre a idéia de outra que não é obj eto do m esm o conhecim ento,
porém de outro, não terem os o direito de dizer que essa pessoa se recordou do
que lhe veio ao pensam ento?
Com o assim ?
É o seguinte: um a coisa é conhecim ento do hom em , e outra o da lira.
Sem dúvida.
E não sabes o que se passa com os am antes, quando vêem a lira, a roupa, ou
qualquer outro obj eto de uso de seus am ados? Reconhecem a lira e form am no
espírito a im agem do m ancebo a quem a lira pertence. Rem iniscência é isso: ver
alguém freqüentem ente a Sím ias e recordar-se de Cebete. Há m il outros
exem plos do m esm o tipo.
Milhares, por Zeus, respondeu Sím ias.
Não constitui isso, perguntou, um a espécie de rem iniscência? Principalm ente
quando se dá com relação a coisa de que poderíam os estar esquecidos, pela ação
do tem po ou por falta de atenção.
Perfeitam ente, respondeu.
E então? Continuou: não é possível lem brar-se alguém de um hom em , ao ver
a pintura de um cavalo ou de um a lira, ou então, ao ver o retrato de Sím ias,
recordar-se de Cebete?
Muito possível.
E diante do retrato de Sím ias, lem brar-se do próprio Sím ias?
Isso tam bém , foi a resposta.
XIX - E não é certo que em todos esses casos a rem iniscência tanto provém
dos sem elhantes com o dos dessem elhantes?
Provém , de fato.
E no caso de lem brar-se alguém de algum a coisa à vista de seu sem elhante,
não será forçosos perceber essa pessoa se a sem elhança é perfeita ou se
apresenta algum a falha?
Forçosam ente, respondeu.
Considera, então, se tudo não se passa deste m odo. Afirm am os que há
algum a coisa a que dam os o nom e de igual; não im agino a hipótese de que um
pedaço de pau ser igual a outro, nem um a pedra a outra pedra, nem nada
sem elhante; refiro-m e ao que se acha acim a de tudo isso; a igualdade em si.
Direm os que existe ou que não existe?
Existe, por Zeus, exclam ou Sím ias; à m aravilha.
E que tam bém saberem os o que sej a?
Sem dúvida, respondeu.
E onde form os buscar esse conhecim ento? Não foi naquilo a que nos
referim os há pouco, à vista de um pau ou de um a pedra e de outras coisas iguais,
que nos surgiu a idéia de igualdade, que difere delas? Ou não te parece diferir?
Considera tam bém o seguinte: por vezes, a m esm a pedra ou o m esm o lenho, sem
se m odificarem , não te afiguram ora iguais, ora desiguais?
Sem dúvida.
E então? O igual j á se te apresentou algum a vez com o desigual, e a igualdade
com o desigualdade?
Nunca, Sócrates.
Por conseguinte, continuou, não são a m esm a coisa esses obj eto iguais e a
igualdade em si.
De j eito nenhum , Sócrates.
Não obstante, disse, foi desses iguais, diferentes da igualdade, que concebeste
e adquiriste o conhecim ento desta últim a.
Está m uito certo o que afirm aste, disse.
Que pode ser sem elhante àqueles ou dessem elhantes?
Perfeitam ente.
Isso, aliás, continuou, é indiferente. Desde que, à vista de um obj eto, pensas
em outro, sej a ou não sej a sem elhante ao prim eiro, necessariam ente o que se dá
nesse caso é rem iniscência.
Perfeitam ente.
E então? Prosseguiu: que se passa conosco, com relação aos pedaços de pau
iguais e a tudo o m ais a que nos referim os há pouco? Afiguram -se-nos iguais à
igualdade em si, ou lhes falta algum a coisa para serem com o a igualdade? Ou
não falta nada?
Falta m uito, respondeu.
Estam os, por conseguinte, de acordo, que quando alguém vê um determ inado
obj eto e diz: O obj eto que tenho neste m om ento diante dos olhos aspira a ser
com o outro obj eto real, porém fica m uito aquém dele, sem conseguir alcançá-lo,
visto lhe ser inferior: essa pessoa, dizia, ao fazer sem elhante observação, tinha
necessariam ente o conhecim ento do obj eto com o qual ela disse que o outro se
assem elhava, porém era inferior.
Forçosam ente. E então? Não se passará a m esm a coisa conosco, em relação
às coisas iguais e à igualdade em si m esm a?
Sem dúvida nenhum a.
É preciso, portanto, que tenham os conhecido a igualdade antes do tem po em
que, vendo pela prim eira vez obj etos iguais, observam os que todos eles se
esforçavam por alcançá-Ia porém lhe eram inferiores.
Certo.
Com o tam bém nos declaram os de acordo em que não poderíam os fazer
sem elhante observação nem ficar em condições de fazê-la, a não ser por m eio
da vista ou do tato, ou de qualquer outro sentido. Não estabeleço diferenças.
De fato, Sócrates, são equivalentes; pelo m enos no que respeita ao tem a em
discussão.
De qualquer form a, é por m eio dos sentidos que observam os tenderem para a
igualdade em si todas as coisas percebidas com o iguais, porém sem j am ais
alcançá-la. Ou que direm os?
Isso m esm o.
Logo, antes de com eçarm os a ver, a ouvir, ou a em pregar os dem ais sentidos,
j á devem os ter adquirido em algum a parte o conhecim ento do que sej a a
igualdade em si, para ficarm os em condições de relacionar com ela as
igualdades que os sentidos nos dão a conhecer e afirm ar que estas se esforçam
por alcançá-la, porém lhe são inferiores.
É a consequência necessária, Sócrates, do que foi dito antes.
E não é certo que vem os e ouvim os e fazem os uso dos dem ais sentidos logo
após o nascim ento?
Perfeitam ente.
Será preciso, então, é o que afirm am os, j á term os antes disso o conhecim ento
da igualdade.
Certo.
Antes do nascim ento, por conseguinte, ao que parece, é que necessariam ente
o adquirim os.
Parece, m esm o.
XX - Logo, se o adquirim os antes do nascim ento e nascem os com ele, é
porque conhecem os antes do nascim ento e ao nascer tanto o igual, o m aior e o
m enor, com o as dem ais noções da m esm a natureza. Pois tanto é válido nosso
argum ento para a igualdade com o para o belo em si m esm o e o bem em si
m esm o, a j ustiça, a piedade e tudo o m ais, com o disse, a que pusem os a m arca
de O próprio que é, assim nas perguntas que form ulam os com o nas respostas
apresentadas. A esse m odo, adquirim os necessariam ente antes de nascer o
conhecim ento de tudo isso.
Certo.
E se, depois de adquirido tal conhecim ento não o esquecêssem os, desde o
nascim ento o possuiríam os e o conservaríam os toda a vida. Pois conhecer, de
fato, consiste apenas no seguinte: conservar o conhecim ento adquirido, sem vir
nunca a perdê-lo. 0 que denom inam os esquecer, Sím ias, não será precisam ente a
perda do conhecim ento?
Não será outra coisa, Sócrates, respondeu.
Se, em verdade, segundo penso, antes de nascer j á tínham os tal
conhecim ento e o perdem os ao nascer, e depois, aplicando nossos sentidos a
esses obj etos, voltam os a adquirir o conhecim ento que j á possuíram os num
tem po anterior: o que denom inam os aprender não será a recuperação de um
conhecim ento m uito nosso? E não estarem os em pregando a expressão correta, se
derm os a esse processo o nom e de rem iniscência/?
Perfeitam ente.
Pois j á se nos revelou com o possível, ao percebem os algum a coisa, pela vista
ou pelo ouvido, ou por qualquer outro sentido, pensar em outra de que nos
havíam os esquecido, m as que se associa com a prim eira por parecer-se com ela
ou por lhe ser dessem elhante. Desse m odo, com o disse, um a das duas há de ser,
por força: ou nascem os com tal conhecim ento e o conservam os durante toda a
vida, ou então as pessoas das quais dizem os que aprendem posteriorm ente, o que
fazem é recordar, vindo a ser o conhecim ento rem iniscência.
Tudo se passa realm ente desse m odo, Sócrates.
XXI - Então, que escolhes, Sím ias? Nascem os com o conhecim ento ou nos
recordam os ulteriorm ente do que conhecem os ante?
Assim de pronto, Sócrates, não sei com o decidir-m e.
Com o? Sobre isto podes perfeitam ente decidir-te e dizer o que pensas: quem
sabe, está em condições de dar as razões do que sabe, ou não?
Necessariam ente, Sócrates, respondeu.
E és de parecer que todo o m undo possa dar as razões das questões que
acabam os de tratar?
Tom ara que o pudessem ! Porém receio m uito que am anhã a estas horas não
haj a aqui um a só pessoa em condições de fazê-lo.
Decerto, Sím ias, continuou, não és de opinião que todos os hom ens entendam
dessa questões.
De form a algum a.
Nesse caso, recordam -se do que aprenderam antes?
Necessariam ente.
E quando é que nossas alm as adquirem esses conhecim ento? Não há de ser a
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